Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 192: Armadilha Do Psicopata

— Ouviu isso, senhor Cordielyte?! — gritou Eulides, assombrado.

Pareciam tiros e vinham de um local próximo da floresta. 

Kurone tentou focar naquele barulho e supôs que aquilo provavelmente eram disparos de revólveres.

Os outros aventureiros ao redor da fogueira também ficaram com expressões de surpresa e pavor no rosto, todos sabiam que outro som além do vento impiedoso era um sinal de problemas. Seus amigos ainda estavam em sua jornada para Dart, todos deviam estar preocupados com eles, esse era o espírito de companheirismo dos aventureiros.

Kurone especulou que fora um reencarnado quem matou os dois aventureiros de forma brutal, com tiros na cabeça, mas para fazer um estrago daquele, o reencarnado precisaria de uma escopeta, não de revólveres.

A luz da lua vermelha começava a tomar o céu, apesar de ser pouco visível devido à nevasca. Como Eulides explicara, todos consideravam aquilo um sinal de agouro, viajar sob a luz de Jarnsasha era a pior coisa que poderia acontecer a um aventureiro.

“Mestre, devemos averiguar isso?”

“Não, Berthran, continua aqui, tá cheio de maluco nessa floresta.”

“Certo, como o senhor desejar.”

Eles estavam ficando cercados. 

Havia outros grupos de aventureiros, também buscando pela vila de Hyze, espalhados pela floresta. Dificilmente eles seriam hostis e o mais provável era que se unissem ao grupo de Kurone caso se encontrassem.

Porém, o estranho encapuzado que carregava três armas nas costas, o assassino dos dois aventureiros com a escopeta e, naquele momento, o dono dos revólveres, julgando que todos eram pessoas diferentes, seriam um problema.

[Mas os disparos podem ser um sinal que eles estão lutando entre si, não?]

“Ou uma armadilha pra matar curiosos.”

[É um bom ponto. Considerando que é alguém como você, ele não agiria de maneira tão descuidada.]

“Eu gostaria que você não dissesse ‘alguém como você’, me faz sentir como se eu fosse um E.T. mesmo, como a Elisabella disse uma vez.”

[Desculpe, desculpe, não quis ofender!]

Ahhhh… não tem como ficar com raiva quando a Nie é tão fofa. Enfim, vamos amassar a palha, amanhã começamos o dia cedo.”

Apesar do número de aventureiros e carruagens reduzido, os veículos ainda eram suficientes para fazer um semicírculo, que era complementado com os troncos e galhos secos para formar o círculo para protegê-los do frio.

Kurone providenciava o fogo e todos os aventureiros elogiavam-no. 

Na hora de comer, Law Zhen tentava discretamente aproximar-se do jovem, ela teve coragem para oferecer uma colher de sopa na boca do garoto, porém a Invocadora foi intimidada por Inari.

Se Kurone tivesse reencarnado inicialmente em Dart, e não próximo à vila de Grain, certamente ele teria se tornado um aventureiro popular, mesmo não sendo forte como era atualmente.

— Senhor Cordielyte! Senhor Cordielyte, espere! — gritou Eulides. Kurone foi parado próximo à sua carruagem, onde ele dormia, compartilhando o local com Inari e Lothus.

Lothus não ligava em dormir ao lado de um garoto, apesar dela ter se queixado de como Inari assediava Kurone à noite. 

O plano inicial era dividir as duas carruagens, uma para os garotos, Berthran e Kurone, e outra para as garota, porém Ayshla não ligava em dividir a carruagem com o companheiro de tapa-olhos.

— O que você quer? — Kurone lançou seu olhar sonolento para o jovem nobre. Eles estavam indiferentes há algum tempo e nenhum tomava a iniciativa de pedir desculpas.

— Eu… eu… — ele evitou fazer contato visual com o jovem à frente — queria pedir desculpas. A maneira como agi foi bem idiota e imatura, eu sei que você estava apenas preocupado comigo. Então, por favor, me perdoe! — O jovem nobre baixou a cabeça.

Hã? O que foi essa mudança de ideia de repente? 

— Eu comecei a refletir sobre isso quando vi a interação do senhor com seus companheiros. O senhor, na verdade, tem um jeito diferente de mostrar sua preocupação com os outros, certo?

— Eu não sei do que você tá falando, mas tá perdoado. — Kurone suspirou e virou as costas, mas antes de adentrar sua carruagem, disse: — Apenas não exagere. Você não precisa fingir que é forte. 

Eulides levantou a cabeça rapidamente, contudo Kurone já estava dentro da sua carruagem. 

O nobre colocou um sorriso gentil no rosto, sua aparência afeminada misturada ao vermelho no rosto sensível ao frio davam a ele a aparência de uma verdadeira garota bonita, apesar dele ser um cara.

*****

Novamente, partiram logo cedo. 

Os aventureiros estavam cansados, isso era notável no seu rosto. Seu desânimo era compreensível, afinal estavam andando há tanto tempo e não viam sinal de vila de Hyze.

— Isso está ficando sem graça — Inari comentou. A aparência de Rory a deixava a adorável quando estava com a bochecha inflada. — Ei, menina, ainda falta muito até a vila de Hyze?

Lothus olhou para os lados antes de responder. As carruagens mais próximas eram a de Berthran e Eulides. O jovem nobre não conseguiria escutar nada dali e ambos os orcs no outro veículo eram aliados.

— Na verdade, nós já estamos no território da vila, mas não podemos nos aproximar com os aventureiros, então…

— Nós já chegamos?!

Shhhhhh! Se-senhorita Inari! Os outros podem escutar!

— Ei, Inari, para de ser boca aberta — Kurone repreendeu. O jovem e Lothus estavam nos assentos de condutor, enquanto a deusa na forma da loli de cabelos brancos protegia-se do frio no interior da carruagem.

Conduzir o veículo até aquele momento era algo fácil, no entanto os cavalos começaram a ficar agitados de repente. 

Aqueles eram animais nobres da casa al Mare, pedidos por Lao Shi exclusivamente para as pessoas que seguiriam até Dart. Olhando bem, eles tinham semelhanças com os cavalos de Eulides.

— Ei, tudo bem? Parece que seus cavalos caros não querem mais andar, hahaha!! — falou um dos aventureiros passando pelo jovem. Era um homem musculoso e careca. — Você vai ficar para trás se não fizer esses garanhões andarem!

Apesar de soar rude, aquele homem era alguém bom. Kurone teve a oportunidade de conversar um pouco com ele durante algumas das vezes que pararam para jantar.

Ele se chamava Jaquan e tornou-se aventureiro para pagar os estudos de sua filha. 

Apesar de serem pessoas humildes, ele queria que a sua única garotinha tivesse uma educação de qualidade para não precisar virar uma aventureira quando ficasse mais velha.

A carruagem de Jaquan e outras passaram pela de Kurone, porém a de Berthran e Ayshla pararam para verificar o que aconteceu.

— O que deu nesses bichos hoje? A do outro ali também parou agora — Ayshla apontou na direção de Eulides, o jovem nobre parecia tentar negociar com os animais por meio do diálogo.

Kurone franziu o cenho ao ver aquilo. 

Os cavalos eram todos da casa al Mare, ou seja, provavelmente possuíam o mesmo sangue. Por que apenas eles parariam?

O jovem saltou da sua carruagem e caminhou, com dificuldade, pela neve, em direção ao nobre.

— Ei, Eulides, tem alguma ideia do que pode ter acontecido com os seus cavalos?

— Não faço ideia, senhor Cordielyte. Normalmente eles só param assim quando encontram algum perigo, mas eu não vejo nada por aqui que possa fazer mal a eles… talvez seja alguns animais pequenos que se escondem na neve?

Aquilo ficava cada vez mais estranho, o sentido de Kurone apitava, por isso ele decidiu olhar com atenção para todo o cenário, respirando o ar gelado devagar.

Ele podia ver o chão coberto por toda a neve branca, troncos secos e desfolhados, alguns tendo estalactites no local que ficavam as folhas. O céu que tinha um misto de branco e cinza…

A princípio, não parecia haver nada errado, porém ele abriu os olhos de repente ao perceber algo tão óbvio.

— Uma armadilha! Os cavalos tão detectando uma armadilha! Precisamos voltar e…  

Ele mal terminou de falar quando um estalo seco reverberou pelo céu. 

Parecia que a carruagem de Jaquan passou por cima de um graveto e o quebrou, porém isto foi desmentido no segundo seguinte.

Boooooom! 

A carruagem do aventureiro que sonhava em dar um bom futuro à sua filha, junto a outros jovens com futuros brilhantes e uma longa vida a ser aproveitada, desintegrou-se no ar após a explosão.

Tudo que restou no foi uma grande cratera, demonstrando que tudo aquilo foi real.

Kurone ficou sem palavras por um instante. 

Se não fossem por seus cavalos treinados para aquele tipo de situação, talvez o desenrolar dos acontecimentos fosse outro.

Todas as outras carruagens pararam bruscamente, os cavalos empinaram e relincharam. A atenção de todos dobrou e o silêncio reinou em todo o local.

— Ninguém se move… — falou Kurone, analisando o rosto com uma expressão de horror de cada pessoa ali. Havia carruagens mais distantes, porém ninguém sabia se aquele território era realmente seguro.

Antes que o jovem pudesse se pronunciar novamente, o som de passos chamou a atenção de todos. O condutor de uma carruagem mais distante sacou o seu arco, mas mal teve tempo para levantá-lo, pois sua cabeça foi explodida por um tiro.

Após o disparo, o som de uma escopeta recarregando ecoou, junto à risada de um psicopata. 

— Você é mais fujão que um rato, Iolite Cordielyte… ou devo chamá-lo de Loright al Mare?!



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