Volume 4
Capítulo 191.2: Missão Da Besta Negra
— Então, por que nos convocou para uma reunião de emergência, humana? — O’Blood falou um pouco irritada, ela ainda não gostava de Sophia.
Na sala, estavam reunidos as principais peças do lado inimigo ao de Azazel van Elsie.
Sophia, Lao Shi, Eliezer e Rhyan estavam à esquerda, enquanto Dora e O’Blood Renfield tomavam o sofá direito. Diferente da primeira reunião oficial deles, dessa vez havia mais humanos que demônios.
Nakano, o Demônio do Oriente, partira para Dart acompanhada dos companheiros de Ana, isso enfraquecia ainda mais o lado de O’Blood, pois Nakano era inclinada a apoiar a vampira.
Na porta da sala de reuniões, Amélia e Baltazhar, o grande orc, montavam guarda para que ninguém atrapalhasse as pessoas lá dentro.
— Também estou interessado em saber qual notícia tem para nós, minha cara — apesar das palavras, Lao Shi parecia desinteressado com aquilo. Tudo o que importava para aquele homem naquele momento parecia ser a bruxa Rank B.
Nos últimos dias, o Arquifeiticeiro focou em tornar Ana sua aprendiz, no entanto a bruxa recusava a proposta dele. O homem era insistente, mas Ana era cabeça dura, aquilo tornou-se um jogo de resistência para saber quem cederia primeiro.
— Orcus esteve infiltrado em alguns bares ilegais recentemente, principalmente aqueles onde os criminosos foram comprados por Azazel van Elsie.
— Não me diga que isso é uma reunião para discutir sobre o quão prestativo é aquele humano? — disse O’Blood com o cenho franzido, ela não gostava de perder seu tempo, apesar de passar a maior parte do tempo trancada em seu quarto, na companhia de Dora.
Sophia apenas suspirou para as palavras da vampira e pegou alguns papéis de cima da mesa. Rhyan olhava com atenção para ela, aparentemente nem ele sabia do que se tratava tudo aquilo.
— No último bar ilegal que esteve, Orcus encontrou pessoas muito perigosas, por sorte ninguém o reconheceu, o disfarce de vagabundo serviu perfeitamente para ele.
— Você enrola demais. Quem eram as pessoas que o humano encontrou?
— Clay Alysson, conhecido por crimes cruéis e sem motivos… e Kawaii Kyuto.
Rhyan levantou-se inconsciente, a raiva era nítida em seu semblante. O jovem ruivo não conseguia escutar o nome daquela garotinha sem ficar irritado.
— E o Orcus não meteu a faca na garganta dessa desgraçada?! Ele deixou ela fugir sem fazer nada?!!
— Acalme-se, Rhyan. Orcus não pode fazer essas coisas, ele tinha a missão apenas de averiguar o local disfarçado. Não era uma boa ideia arriscar lutar em um bar repleto de criminosos perigosos.
O nobre ruivo parecia ter se recuperado um pouco do acesso de raiva após as palavras da marquesa. Ele sentou-se no sofá novamente, mas ainda tinha uma expressão de raiva.
— Kawaii Kyuto? Você diz a menina que usou a Voz do Mundo recentemente? Que interessante, mas não vejo como isso pode nos ser útil por enquanto, humana — O’Blood comentou, parecendo um pouco mais interessada no assunto.
— O que nos interessa é o conteúdo da conversa entre Kawaii Kyuto e Clay Alysson. Orcus me contou cada detalhe, mas penso que uma magifotografia vale mais que mil palavras.
Sophia colocou os papéis em mãos sobre a mesinha entre eles e deixou que todos verificassem com os próprios olhos.
O primeiro papel era, na verdade, um cartaz de procurado, a pessoa na foto era uma garota de cabelos castanhos e sorriso gentil, algo que não condizia com a recompensa de quinze mil moedas de ouro para quem a capturasse viva. O nome dela era Lothus.
Apenas Lao Shi esboçou uma reação de surpresa ao ver aquele cartaz. Sophia pensou em questionar o Arquifeiticeiro, mas antes que tivesse tempo, Rhyan moveu os papéis para verificar os outros cartazes.
O Arquifeiticeiro engoliu em seco ao ver o cartaz seguinte.
Loright al Mare. Setenta mil moedas de ouro para quem o capturasse vivo. Aquele era o nome do jovem que matou o Arquiduque Asmodeus.
— Não acredito… há infiltrados entre as pessoas de confiança do Monarca do Oriente… ninguém deveria saber da existência de Loright tão rápido — comentou Lao Shi.
— Esse cara me parece familiar — Rhyan falou pegando o cartaz para ver mais de perto. — Esse aqui não parece o…
— Hã?!
— Uh… eu conheço essa daí!
Quando o jovem ruivo retirou o cartaz da mesa, outro pôde ser visto, e esse fez O’Blood Renfield e Dora esboçarem reações de surpresa.
Não era para menos, afinal a magifotografia era a da garotinha que andava ao lado de Kurone, Rory. Porém, o nome no cartaz era “Luminus streix Astaroth”.
— Me-mestra Astarte… — O’Blood pegou o papel e o encarou por alguns segundos, seus olhos avermelhados pareciam não acreditar no que viam.
Segundo o que fora contado, Rory tirou a própria vida em Eragon, com um tiro na cabeça, logo após a morte de Kurone Nakano. A cabeça dela explodiu, todos viram isso, até mesmo Azazel van Elsie, porém ali estava um cartaz de procurado com a magifotografia daquela garotinha.
— Ei… galera, vocês não perceberam que esse tal de Loright parece com o…
— Isto é um grande problema — Lao Shi cortou a fala de Rhyan Gotjail, parecia que o Arquifeiticeiro sabia o que o jovem ruivo diria, por isso direcionou um olhar de repreensão para ele.
Rhyan não era do tipo que se intimidaria apenas com aquilo, mas o foco de todos naquele momento era no cartaz daquela garotinha de cabelos brancos e olhos vermelhos.
— Azazel van Elsie é quem está pagando tantas moedas pela captura desses três, então ela deve saber de algo realmente — comentou Sophia. — Rory está viva.
Um silêncio mortal tomou conta da sala por alguns momentos, o foco de todos era voltado aos três cartazes em cima da mesa: Loright al Mare, Lothus e Luminus streix Astaroth.
— Ah, já ia me esquecendo, tem esse aqui também. — A marquesa Sophiette pôs outro cartaz sobre a mesa, porém não era de procurado, a estética entregava que ele provinha de um lugar diferente dos outros cartazes de procurado.
Era um cartaz de desaparecido.
Havia uma magifotografia de um jovem nobre no centro e o valor de trinta mil moedas era oferecido para quem o levasse de volta para casa.
Novamente, Lao Shi foi o primeiro a reagir. Não tinha sentido o cartaz de um nobre desaparecido em outras circunstâncias, mas o nome daquele jovem era intrigante: Eulides al Mare. O sobrenome em comum com o jovem que matou o Arquiduque não podia ser mera coincidência.
— Lao Shi, você conhece ele também? — Sophia olhou para o Arquifeiticeiro confusa.
— Eulides… é o filho mais novo do falecido senhor al Mare… e também é meu irmão. Ele é alguém com talentos especiais, então suspeito que isso não seja um desaparecimento, mas sim um sequestro.
Aquilo queria dizer, indiretamente, que Lao Shi era também um membro da casa al Mare, então ele usava um nome falso.
A marquesa ficou tentada a perguntar sobre aquilo, no entanto decidiu que ainda não era hora de falar sobre aquilo.
— O’Blood, aonde você vai? — a marquesa perguntou ao ver a vampira dirigindo-se à porta.
— Atrás da mestra Astarte! Minha mestra é mais importante que a guerra com essa tal de Azazel van Elsie. Vai tentar me impedir?
— Na verdade, eu ia sugerir que alguém de confiança procurasse por ela, você pode ir…
— Uh! Você não pode ir, não é mesmo? — Dora falou de repente e, por algum motivo, O’Blood Renfield parou. — Tem aquele negócio…
— Você fala demais, Besta Negra! — A vampira suspirou e parecia ter desistido da ideia de sair para buscar a garotinha de cabelos brancos que andava com Kurone. — Há algumas coisas que me impedem de ir até lá, então… você irá. — Ela apontou para Dora.
A relação delas parecia ser um pouco estranha, mas era fato que a garotinha parda sabia de coisas que nenhum outro ali tinha conhecimento sobre O’Blood Renfiled. E talvez aquilo fosse uma fraqueza da vampira, pois ela reconhecia que não poderia seguir com a missão de resgatar Rory.
Dar a Dora aquela tarefa mostrava que a Condessa confiava pelo menos um pouco nela.
— Uh, eu posso ir, Sophia? — Dora lançou um olhar questionador para a marquesa.
— Não seja tola, você não faz nada aqui e certamente é a mais indicada a ir, já que sua forma bestial permite que você viaje o mais rápido possível. Em questão de poder, eu tenho certeza que você também sobreviveria em uma luta contra Azazel van Elsie.
Dora olhou confusa, como alguém que tentava processar uma grande expressão aritmética.
— Pera aí… você me elogiou? Ou me xingou? Fiquei confusa agora…
— Criatura ignorante, pense o que você quiser das minhas palavras, mas não perca seu tempo aqui. A mestra Astarte está fraca e pode ser alvo de caçadores de recompensas a qualquer momento, você precisa partir o mais breve possível!
— Mas eu nem comi ainda!
— Quem liga com comida?
— Eu ligo!
Sophia soltou um sorriso discreto ao ver a interação daquelas duas.
Ninguém conseguia se manter sério quando conversava com Dora, ela aprendeu muito do jeito engraçado de Kurone, quando ele era vivo.
Porém, a marquesa logo assumiu uma expressão séria ao encarar o rosto de Lao Shi. O Arquifeiticeiro parecia estar pensando em algo muito importante, e nem percebia que deixava isso transparecer.