Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 188: Perdão Divino

Kurone franziu o cenho, aquela garota mercenária poderia estragar todos os seus planos, porém também tinha interesse em saber quem estaria pagando setenta mil moedas para quem o capturasse vivo. 

Desde quando ficou tão importante?

— Não precisa ficar tão assutado, você vale mais vivo do que morto. Na verdade, você e suas amigas… o que são vocês afinal? Terroristas? Contrabandistas? Homicidas? — comentou Law Zhen, ela parecia se divertir com aquela situação, todavia estava um pouco nervosa por algum motivo. — Sei também que posso ganhar mais que reles setenta mil moedas se tiver do lado de vocês, sou uma negociadora profissional. Então, que tal sermos aliados, hmm?

Aquela mão estendida fez Kurone colocar uma expressão feia no seu rosto. 

Era a sua experiência alertando-lhe que aquela era outra pessoa como aqueles que conhecera durante a sua jornada. Edward Soul Za, Kawaii Kyuto, Azazel van Elsie e Lao Shi também lhe estenderam a mão e o chamaram de aliado.

Mas todos o enganaram no fim.

A expressão presunçosa de Law Zhen demonstrava que ela tinha certeza que faria aliança com Kurone, ela provavelmente tinha mais informações sobre ele do que podia imaginar, afinal como alguém poderia ir exatamente onde estava tão rápido?

Kurone não perdeu tempo e sacou sua Boito .20, mas Law Zhen estalou os dedos e seus dois capangas surgiram, ambos segurando arcos, carregados com flechas mortais, e prontos para atacar após a ordem da sua chefe.

— Bem, também podemos resolver na base da violência se você quiser, apesar de eu achar isso algo deselegante.

“Berthran, Ayshla, apareçam!” 

Após o comando via telepatia, os orcs surgiram logo atrás do jovem. 

Kurone pediu para que eles sempre estivessem em alerta, então era natural que o seguissem quando ele fosse para um local como aquele… apesar de ser um pouco incômodo pensar que eles o seguiam quando ia para um lugar reservado com uma garota.

Os dois capangas ficaram surpresos com a aparição da dupla de monstros com todo o corpo coberto pelas roupas de proteção contra o frio, porém não tiveram chance para reagir, o cutelo de Ayshla adiantou-se e cortou a dupla com um único golpe rápido, sem piedade ou hesitação, como esperado da orc fêmea.

— Vo-você já sabia que estava sendo seguido?! — balbuciou a garota surpresa, ela parecia do tipo que se irritava quando seu plano meticulosamente preparado não seguia conforme o esperado.

Kurone não respondeu e apenas se aproximou dela, com a sua espingarda de canos serrados pronta para disparar. 

Claro que ele não sabia, apenas confiou que os seus orcs de confiança estariam pelas redondezas, garantindo a segurança do seu mestre, mas Law Zhen não precisava ter ciência disso.

Na verdade, o foco da jovem eram os olhos de Kurone, a veia brilhante que provinha do Sigilo de Azrael pulsava, e ele tinha uma expressão de quem não estava brincando com o fato de disparar contra a testa dela e explodir todos os seus miolos.

Law Zhen sacou a espada média que trazia nas costas e preparou-se para avançar. Seu corpo esguio permitia-a correr rápido pela neve e, em instantes, já estava bem próximo do seu oponente, pronta para feri-lo com a espada. 

Sem dúvidas, aquela jovem era habituada ao combate, mas será que já teria enfrentado alguém no ápice da força física como Kurone?

Ele não tinha valor nenhum morto, mas era fato que o cartaz de procurado não tinha a informação se ele precisava ser entregue sem arranhões, talvez arrancar um braço ou dois dele não faria diferença.

A Invocadora fez uma expressão de vitória ao perceber que realmente conseguiria cortá-lo, pois o jovem apenas levantou a mão para se defender — ou atacar. Mas o instinto dela pareceu ativar-se na última hora e a garota parou o avanço, jogando-se na neve em seguida.

No mesmo instante que ela saiu da trajetória, um raio de fogo saiu da mão do jovem e perdeu-se pelo ar, aquilo poderia carbonizá-la se tivesse continuado com a ideia de cortar o braço dele.

A mercenária olhou um pouco atordoada para os lados, mas antes que pudesse levantar, foi surpreendida por um chute do jovem e rolou pela neve, parando apenas ao atingir uma pedra média. 

Kurone era tão rápido que poderia competir contra um demônio idaten em uma corrida.

Com as mãos trêmulas, a jovem de nariz quebrado apoiou-se na neve fria e ficou de pé, pronta para continuar sua luta, porém seu corpo voltou ao chão após um barulho alto ecoar pelo ar. 

Pow! 

A escopeta de canos serrados rugiu e o ombro de Law Zhen foi ferido.

Ahhh! — ela berrou segurando o local atingido e largando sua espada média. — Eu acho… que subestimei você…

Ele não respondeu e aproximou-se em silêncio. Após estar próximo o suficiente, perguntou em um tom frio:

— Quem é o desgraçado que tá pagando setenta mil para quem me pegar vivo?

Law Zhen olhou um pouco hesitante, mas decidiu responder com sinceridade, provavelmente pensando que poderia morrer caso mentisse.

— A Presidenta do Inferno… atualmente a líder de Andeavor… você é considerado um criminoso em todos os reinos aliados à nova Andeavor… E-ei! E-eu lhe disse a verdade, você ainda pretende me matar?! — ela encarou-o com uma expressão de medo, o jovem estava pronto para puxar o gatilho.

[Kurone… você não está indo longe demais?]

Hã? Se fosse ela no nosso lugar, com certeza ela ia matar todo mundo sem hesitar!”

[Mas Kurone Nakano não é um assassino… será que você está sendo influenciado pelo Vassalo da Morte de novo?...]

Kurone tremeu por um momento. 

Annie teria razão? Será que ele estava sob influência daquele ser das trevas conectado à sua mente? Havia o fato dele ter ficado um pouco diferente devido à morte de Lou Xhien Li, mas talvez havia algo a mais ali…

— E-eu posso ser bem útil você se você me deixar viva!… — disse Law Zhen, desesperada, ela parecia estar confusa ao ver a expressão de Kurone, talvez pensasse que poderia enganá-lo para matá-lo em seguida.

— Eu não tenho nenhum interesse em sua ajuda, não há garantia que você vai fazer o que tá prometendo.

Nos olhos da garota, podia ser visto suas esperanças de continuar viva apagando-se, sua expressão de arrogância e presunção desapareceu, dando lugar ao medo. Seu corpo tremendo não conseguia mais se mover e ela lançou um olhar de piedade ao jovem levantando a espingarda de canos serrados.

— P-por favor! Eu sou jovem demais para morrer! M-me perdoe!

— Peça perdão às pessoas que você já matou, no inferno. — Kurone segurou a escopeta na direção da testa da garota desesperada. 

Olhando ao redor, analisou a expressão no rosto das pessoas ali: Berthran e Ayshla vislumbravam-no com excitação enquanto Inari era indiferente, talvez se Lothus tivesse lá ela seria contra a morte da Invocadora, mas tirando ela, nenhum ali ligava para a vida de alguém fora do grupo.

Porém, havia outra garota gentil naquele local.

[Hmm…]

“Eu sei exatamente o que você tá pensando, Nie.”

[Ela não mentiu sobre nunca ter matado inocentes sem motivo, e também sobre as outras informações, podemos chegar a um acordo com ela, não?]

“Faça o que você quiser, Nie.”

[Sério? Então, se me dá licença…]

Todos arregalaram os olhos ao verem o corpo de Kurone tendo espasmos, era como da vez na ilha Lou Xhien Pi’yan, os olhos dele mudaram para um roxo brilhante e o cabelo médio cresceu, adquirindo um tom esbranquiçado.

Annie, a benevolente, havia tomado o corpo do seu companheiro por alguns momentos.

Law Zhen lançou seu olhar suplicante para a figura à sua frente ao sentir o seu ar divino, como se ela notasse que aquele não era mais Kurone Nakano. 

A menina ficou de joelhos e suplicou:

— Por favor, não me mate! E-eu nem queria fazer isso… nunca quis ser caçadora de recompensas! Mas me obrigaram a pegar esse trabalho… e se souberem que eu falhei, vão me matar, isso se eu não for morta aqui!

Annie, no corpo de Kurone, olhou para a menina ajoelhada com pena e abaixou-se, ficando na mesma altura dela e olhando-a fixamente nos olhos. 

— Não precisa chorar mais… eu perdoo todos os seus pecados, querida. Você é livre agora para viver da maneira que desejar.

— M-mas e se eles descobrirem que eu fugi?!

— Eles não descobrirão… — Annie passou a mão na testa da menina, com carinho, como se aquela fosse uma das suas precisas filhas — porque, a partir de hoje, você não existe mais nas memórias dele, você é livre para recomeçar a vida como quiser.

— O-o que você fez?...

— Apaguei a sua existência até aqui, é como se você tivesse renascido neste exato momento, ninguém tem mais memórias sobre você.

— Nem meus pais…? E-eu só aceitei viver nesse trabalho sujo para dar uma vida melhor a eles…

— Infelizmente não. 

Law Zhen olhou para Annie com a expressão de choro, porém logo suspirou e, após limpar as lágrimas do rosto, agradeceu ainda soluçante:

— Talvez seja melhor assim… eles não terão mais que se preocupar comigo… e poderão seguir a vida em paz e talvez ter um outro filho… dessa vez um menino, como sempre desejaram…

Annie passou a mão uma última vez pelos cabelos de Law Zhen. Ao virar as costas, ela encarou o olhar curioso de Inari.

— Então você e o Kurone podem trocar de lugar mesmo, não é? O que foi isso agora? Você acabou de perdoar alguém que tentou nos matar. E essa magia?

A deusa-raposa e a deusa gentil encontraram-se frente a frente na masmorra de alto nível, elas pareciam manter uma relação amistosa, apesar de Annie não gostar da relação física que Inari mantinha com o seu companheiro.

— Não sei… as palavras vieram automaticamente, como se eu tivesse feito isso sempre… — Annie comentou um pouco confusa, ao que Inari ficou ainda mais interessada e falou:

— Você acha que podem ser… suas memórias, aquelas que Astarte apagou, voltando?



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