Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 187: Invocadora Inconveniente

[Um reencarnado? Você quer dizer, alguém como você?… Acho que pode ser mesmo, mas por qual motivo um reencarnado faria isso?] 

“Não faço ideia, você escutou o anúncio da Voz do Mundo, não foi? Talvez eles já tenham começado a agir.”

Após alguns minutos, os aventureiros começaram a mover os corpos sem cabeças e cobri-los com um tecido negro. Os jovens dariam pelo menos um enterro digno aos dois aventureiros assassinados.

— Eu tô caindo fora, isso é o suficiente pra mim. Vocês podem me chamar de covarde e caga nas calças, mas nem fodendo que vou arriscar minha vida por um negócio que ninguém tem certeza que existe — protestou um dos aventureiros. Era um homem moreno e corpulento, alguém que poderia ser facilmente imaginado matando inimigos sem piedade, mas ele provou ser racional com sua fala.

Nenhum dos outros aventureiros questionou a decisão dele. Na verdade, houve outros que se uniram a ele e concordaram em desistir de procurar à vila de Hyze.

Ao ver os aventureiros que desistiram da aventura conversando, Kurone lançou um olhar questionador para o jovem pálido ao seu lado.

Estava claro que Eulides al Mare não conseguia lidar com situações como aquelas. Ele apenas vomitou e ficou pálido ao ver corpos mortos, se acabasse envolvido em um combate real, morreria rapidamente.

— Você também vai voltar com eles? — questionou Kurone.

Com dificuldade, Eulides ficou de pé e olhou bem para o rosto do jovem com o sobretudo branco à sua frente. 

Por mais que ele tentasse fazer uma expressão séria, seu rosto de aspecto afeminado não lhe permitia.

— Eu posso ter entendido errado, senhor Cordielyte, mas você acabou de me chamar de covarde? Acha mesmo que vou correr só por que encontramos corpos?! Eu estou ofendido.

— Na verdade, tô querendo saber se você tem os neurônios no lugar. Na sua visão, quem são os inteligentes aqui?

Eulides ficou em silêncio ao escutar o questionamento, mas seus punhos delicados cerrados provavam que ele ficou verdadeiramente irritado com as palavras de Kurone (Iolite Cordielyte). O jovem virou o rosto e seguiu em direção à carruagem, sem responder mais nada.

[Você parece não gostar dele, não é mesmo, Kurone?]

“Não é isso… é que ele me lembra de como eu era antes…”

[Sabe, eu acho que agora você tem o rosto mais afeminado que antes.]

“Não é sobre isso, Nie. E para de falar sobre a aparência do meu rosto, eu tô realmente preocupado que eu acabe virando uma garota por sua culpa, meu rosto tá cada dia mais bonito mesmo…”

[Eu estou apenas brincando, sei o que você quis dizer, e não se preocupe, é impossível você virar uma garota, afinal nós fundimos apenas nossas almas, nosso corpo tem 25% de características de Annie e 75% de Kurone.]

“Bem, com você falando assim eu fico mais confortável.”

[Espera! Você está tentando fugir do tópico. Você está preocupado de que o Eulides termine como você, não é mesmo?]

Ahh… ele parece ter pouco mais de quinze anos e não é habituado a isso. Seria realmente triste ver aquele rosto inocente se tornar uma carranca sombria. Olha pra mim, Nie, eu tô parecendo o Frankenstein.”

O braço de Kurone era artificial, seu coração fora cedido por Dora, a Besta Negra, devido ao pacto que tinham. O Tipo Elemental Escuridão provinha do Vassalo da Morte conectado ao seu corpo e a sua aparência estava mesclada à de Annie.

Quase não havia mais nada do antigo Kurone Nakano — nem esse nome era usado mais —, até sua franja que cobria seus olhos fora cortada por Lou Xhien Li.

O antigo Kurone que fora reencarnado próximo à vila Grain era idiota, pervertido, inútil e fraco. Ele ainda era isso tudo, no entanto em uma dose menor. 

Mesmo tendo chegando ao ápice humano com o treinamento de Lao Shi, ainda era muito fraco.

E provavelmente nunca seria forte, por mais que se cobrasse e sofresse para se fortalecer, afinal seus inimigos tinham uma vantagem: muita experiência.

Como alguém que conhecia tudo aquilo, ele não queria que outra pessoa terminasse daquela maneira, ainda mais alguém tão jovem. 

A busca incansável pelo poder, o desejo de melhorar para proteger aqueles que estavam ao seu lado e a vontade de vingar os que foram mortos corroía lentamente a alma de qualquer homem.

Kurone era acostumado à insanidade e tinha Annie ao seu lado, por isso resistia aos danos psicológicos que sofria a todo momento, no entanto outro humano não suportaria nem um terço daquilo. Por isso o Vassalo da Morte sucumbiu à loucura…

[Mas ele não vai desistir.]

“Eu sei…”

Suspirou fundo antes de esfregar os olhos e voltar a analisar o cenário. 

“Porque ele é como eu…”

Os aventureiros que retornariam para Dart terminaram sua conversa e começavam a distribuir seus mantimentos com aqueles que continuariam a jornada.

A viagem de volta para casa era mais fácil, então eles não precisariam de tudo aquilo. O grupo que se juntou a Kurone possuía quinze carruagens no total, e naquele momento, duas delas retornariam, o que era algo bom para o jovem que pretendia se separar deles em breve.

— Vamos acampar aqui hoje — falou uma aventureira de cabelos negros. Ela parecia ser uma daquelas pessoas desonestas que matariam seus dois capangas parra sobreviver. A garota cruzou os braços e encarou Kurone. — O que foi? Você tem algo contra a minha sugestão?

— Não passou pela sua cabeça que algumas pessoas aqui não são monstros como você? — respondeu um jovem de cabelos loiros, ele parecia ter um semblante arrogante e olhava para todos os outros com desprezo.

— Eu chamo isso de estratégia, o assassino jamais voltaria para a cena do crime, é mais arriscado se sairmos daqui por um sentimentalismo idiota. Eu nem sabia quem eram aqueles dois, por que teria empatia por eles? — protestou a garota. Ela usava um uniforme negro que cobria quase todo o seu corpo magro.

[Law Zhen. Humana, 20 anos, Invocadora.]

“Uma Invocadora… lembro da Sophia ter dito que alguém da família dela era um desses…” Kurone olhou atentamente para a garota que atendia pelo nome de Law Zhen, mas logo encarou o jovem de cabelos loiros e aguardou a análise de Annie.

[Willian Zackarias. Humano, 18 anos, Espadachim.]

“Um nome oriental e outro ocidental… parece que Dart é uma mistura das duas culturas mesmo…”

— Eu também não tenho empatia, mas falo dos aventureiros que ficarão incomodados de dormir no local que duas pessoas morreram recentemente, não concorda comigo? — Willian questionou, apontando para Kurone.

— Façam o que vocês quiseram, mas decidam logo, em breve a nevasca vai ficar mais forte.

Willian franziu o cenho ao escutar a resposta seca do jovem com o sobretudo branco e Law Zen fez uma expressão presunçosa, como se indiretamente Kurone tivesse concordado com ela. 

Ele tinha realmente alguma influência, afinal todos só tinham comida devido ao seu Fogo Infernal.

Mas a mente do jovem estava focada na possibilidade de haver um reencarnado naquela floresta matando outras pessoas. 

Poderia ser algum tipo de maníaco?

Devagar, retornou à sua carruagem, onde Inari e Lothus o aguardavam com olhares curiosos. Eulides já estava no seu veículo, mas virou o rosto ao ver o garoto e não falou mais nada.

— Provavelmente vamos acampar aqui hoje…

— Ouvimos as pessoas murmurando que encontraram cadáveres na neve, que coisa terrível — comentou Lothus com uma expressão triste. — Mas não é perigoso ficarmos aqui?

— Não, acho que agora esse o lugar mais seguro que temos no momento, Lothus. E se alguém tentar machucar vocês, eu dou uns chutes na bunda dessa pessoa.

Darling, eu quero conversar com você — falou Inari saltando da carruagem. Lothus pensou em segui-los, mas decidiu ficar na carruagem ao ver que era algo sério.

Na verdade, ela já tinha a confiança de Kurone, então não havia nenhum problema escutar a conversa, porém o jovem não insistiu naquilo e apenas seguiu Inari, na forma de Rory, para um local mais remoto.

Ah, é mesmo… você disse que tinha uma coisa importante pra me falar…

— Sim, é sobre ontem, quando eu me perdi — a deusa olhou para os lados antes de prosseguir: — um homem tentou me matar na floresta. Eu só estou aqui porque os seus orcs me salvaram.

Kurone franziu o cenho. 

Inari teria encontrado o reencarnado louco que matava os aventureiros sem motivos e sequestrava as garotas?

— Ina… quero dizer, Saphyr, você viu se ele tinha alguma arma como a minha?

— Não, mas as armas dele eram preocupantes… uma delas era uma espada chamada de “Matadora de Imortais”... é, você já deve ter percebido que um bandido normal jamais teria acesso a uma arma como essa… na verdade, é algo que só poderia estar em posse de um membro do Conselho do Inferno.

O nome da arma lhe era familiar.

[Vimos sobre essa arma em um dos livros da biblioteca de Lou Xhien. Em resumo, é como o nome sugere, ela pode matar seres imortais como deuses, assim como a Falx do Ceifador.]

“Ainda bem que sempre posso contar com a boa memória da Nie!” 

— Você acha que pode ser… — Inari murmurou.

— Não, meu chute é que o assassino dos dois aventureiros seja um reencarnado, e também acho que ele não é alguém de fazer ameaças, se fosse a mesma pessoa ele teria estourado a sua cabeça ou tentado alguma maneira de te incapacitar para fazer coisa errada com você…

— Nossa, darling, sua capacidade de análise melhorou muito, não foi?

— Acho que é porque minha mente tá mais limpa agora… Mas, enfim, vamo ficar em alerta. Se forem pessoas diferentes, então é um problema em dobro.

O som de passos na neve invadiu as orelhas da dupla por um instante.

— Não, não são a mesma pessoa — disse uma terceira pessoa, intrometendo-se no diálogo restrito. Kurone e Inari olharam com raiva para a dona da voz que os seguiu até ali e escutou tudo. — Calma, não quero prejudicar vocês, Luminus streix Astaroth e Loright al Mare.

A garota fez um sorriso maligno ao terminar sua frase. 

Era Law Zhen, a Invocadora, e ela parecia saber do que não devia. Kurone estava prestes a sacar sua Boito .20 quando a mulher tirou algo de sua cintura: dois cartazes de procura-se, com os rostos de Kurone e Inari — na verdade, no caso da última era o de Rory.

Porém, o que mais lhe assustou foi a recompensa para quem capturasse “Loright al Mare” vivo.

“Setenta mil moedas de ouro?!”



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