Volume 4
Capítulo 181.5: Candidata A Quarto Discípulo
— Ir a Dart? Por que isso de repente? — questionou Sophia.
— Tenho assuntos pendentes em Dart, e lá podemos conseguir o apoio de nobres locais, como o próprio conde al Mare, que vive em um condado próximo — respondeu Nakano.
Apesar de Teruhashi ser uma das pessoas na liderança da rebelião contra o governo tirano de Azazel van Elsie, ela não podia tomar escolhas sozinha.
O’Blood Renfield, Sophia Sophiette Sophys III, Rhyan Gotjail e a Besta Negra formavam um pequeno conselho que tomava as decisões importantes.
— Hmm… o que você me diz, Rhyan? — A marquesa buscou a ajuda do jovem assinando uma pilha de papéis.
Após a divisão de tarefas, os montes de documentos que eles normalmente assinavam diminuiu. Selena, a esposa de Orcus, tinha menos trabalho, e por conta disso, foi promovida ao cargo de contadora assistente.
— Não podemos impedi-la de ir a Dart, de qualquer maneira, e talvez seja bom para nós ter apoio de pessoas influentes de lá… na verdade, podemos até obter muitos recursos lá, já que a cidade-fronteira tem uma concentração de mercadores — elucidou o jovem ruivo.
Olhando para ele naquele momento, parecia que os rumores anteriores sobre o “herói Gotjail” eram todos falsos, quem acreditaria que aquele já foi um jovem narcisista e egocêntrico?
— Sendo assim, eu também não vejo problema… porém, quero que você leve dois aventureiros com você.
— Não confia em mim, Sophia? Tem minha palavra que não vou fugir e também voltarei o mais breve possível — Nakano falou com um pouco de irritação em seu tom.
— Não, não é nada disso, os aventureiros em questão são Ari e Alan.
— Quem?
— Os dois companheiros de Ana, a aventureira Rank B que está ajudando a senhorita Linda — explicou Rhyan.
— Você diz o espadachim loiro e a meio-elfa arqueira? — Teruhashi olhou com estranheza para a marquesa Sophiette.
Aqueles dois foram proibidos de lutar por Ana, que se preocupava com a segurança deles.
“Eles nem fazem falta, são tão inúteis que não servem nem para coletar ervas.”
[Que coisa rude de se dizer, Teruhashi.]
“Silêncio, Kastella, você sabe que é verdade. A bruxa Ana também sabe, por isso não quer ver eles no campo de batalha.”
— Sei que você pode achar que eles são inúteis, — continuou Sophia — mas odeio vê-los daquela maneira. Sei que eles querem ajudar e se tornarem mais fortes, mas aqui, sob a supervisão de Ana, não vou conseguir fazer nada.
— Você está com pena deles?
— Não, Nakano, eu vejo potencial naqueles dois…. Na verdade, sinto algo estranho quando olho os olhos deles. Ana diz que se preocupa com eles, ela é como um pai superprotetor que não entende que os filhos precisam de independência. Em Dart, com certeza eles conseguirão ficar mais fortes, por menor que seja o tempo que eles fiquem lá.
— Ahhhh… sem problemas, mas espero não ter problema com a meio-elfa, você sabe o que as pessoas acham deles, certo?
— Basta ela esconder as orelhas como sempre fez. Dart anda muito movimentada com a caçada à vila de Hyze, então duvido que ela seja notada na multidão — a marquesa Sophiette disse enquanto escrevia uma lista de compras para Nakano.
Foi mais fácil do que ela pensou.
Pelo menos, Rhyan e Sophia eram pessoas que não desconfiavam dos seus companheiros.
Nakano seria breve.
O único objetivo dela era encontrar Hime em Dart e tirar satisfações.
Ir a um lugar tão movimentado assim com Kurone era perigoso, isso se ela não tivesse vendido o jovem para pessoas mal intencionadas ou pior: ela podia ter vendido o jovem a um membro do Conselho do Inferno.
Kurone Nakano fora tema de uma das reuniões do Conselho, todos o conheciam como “o Santo dos Hereges que domou a Besta Negra”.
Eles com certeza ficaram decepcionados quando souberam que Azazel o encontrou primeiro e tirou sua vida em Eragon, mas qualquer um demônio pagaria, ou mataria, milhões para ter em suas mãos um humano tão peculiar.
Se Hime tivesse feito qualquer coisa com ele, com certeza a amizade delas estaria acabada, e a vida daquela sacerdotisa também. Talvez tivesse sido um erro confiar seu precioso irmão a àquela mulher maluca que só pensava em vingança.
“Mas só saberemos quando chegarmos lá”, pensou Teruhashi ao deixar a sala e seguir em direção ao jardim da mansão, à procura de Ari e Alan.
Enquanto andava pelo corredor próximo à saída do escritório de Sophia, Teruhashi esbarrou em uma pessoa cambaleando.
Ela fez menção de desculpar-se, mas torceu o rosto ao reconhecer a pessoa: Amélia, que em outra vida fora Luna Nakano.
— Não devia beber se não é resistente ao álcool — repreendeu o Demônio do Oriente.
— E você não devia se importar com a minha vida — respondeu a cocheira, em um tom agressivo.
No Japão, Teruhashi e Luna quase nunca conversaram realmente, o elo que as unia era Kurone Nakano. Sua relação era de parcialidade, mas isso mudou.
As duas, naquele momento, eram como inimigas mortais que começariam uma briga pelo menor dos motivos.
Amélia podia não ter certeza, mas ela desconfiava que o Demônio do Oriente tinha algo a ver com o desaparecimento do corpo de Kurone em Eragon.
E ela de fato tinha, mas não pretendia contar nada a ninguém.
Ambas se separaram silenciosamente e seguiram direções opostas.
***
— Para onde eles foram, Sophia?! — quem rugiu foi Ana, a aventureira Rank B com trabalho de bruxa.
Foi mais rápido do que esperavam.
Ao ver a menina adentrando o seu escritório, Sophia trocou um olhar de quem já esperava aquele acontecimento com Rhyan e suspirou profundamente.
— Fale mais baixo, por favor, temos um convidado aqui — Rhyan apontou para o Arquifeiticeiro sentado no canto do escritório, ele lia alguns documentos com afinco, nem mesmo se importou com a menina barulhenta.
Era manhã do dia seguinte à chegada de Lao Shi nas terras de Sophiette.
Nakano, o Demônio do Oriente, que assumiu o corpo de Kastella Andeavor, saiu logo cedo em uma carruagem, acompanhada de dois aventureiros da vila Grain: Alan e Ari.
— Calado, ruivinho! Eu quero saber o motivo de Alan e Ari terem saído daqui com Nakano!
— Escute, Ana, sei que você quer protegê-los, mas você estava sendo muito extrema… Não vai acontecer nada com eles, será uma viagem rápida para comprar algumas coisas e visitar um ou dois nobres influentes. Eu pedi para o Edgar avisar aos familiares deles sobre isso, inclusive — Sophia explicou em um tom calmo, ela já sabia que a bruxa ficaria irritada ao descobrir a verdade.
Ana era uma das pessoas que quase não mudou ao decorrer dos meses, tanto física quanto psicologicamente.
O cabelo negro dela continuava médio, a única mudança desde que a marquesa a viu pela primeira vez em Grain foi as roupas. Ela parecia uma bruxa de elite com aquele uniforme.
— Eles não têm família, marquesa Sophia! Eu sou a única família deles!
— Ehh?! Sério… — a marquesa ficou desconsertada com a resposta e buscou ajuda em Rhyan, mas o jovem estava igualmente surpreso. — Eu realmente não sabia…
— O que você acha que sabe sobre eles?! Fui eu que encontrei e acolhi Alan e Ari quando eles não tinham para onde ir, e se algo acontecer com eles, eu juro que eu não vou te perdoar, marquesa!
Cada palavra da menina deixava Sophia cada vez mais surpresa e culpada.
Ela imaginou que aqueles dois eram apenas dois aventureiros comuns, que seguiam a liderança de Ana, no entanto a verdade era que a bruxa Rank B era a guardiã deles.
— Não dá para manter todos sobre as suas asas para sempre, minha cara — Lao Shi disse de repente em seu tom calmo, ainda com os olhos focados no documento em mãos. — Um dia eles precisarão sair da proteção da grande ave mãe, mas como irão sobreviver se não sabem voar?
— Te perguntei alguma coisa? — Ana olhou com desdém para o Arquifeiticeiro e sua tentativa de pregar a sua filosofia.
— Mais respeito, por favor, ele é o Arquifeiticeiro do Continente Oriental — Rhyan disse com um suspiro, sabendo que a bruxa não respeitava ninguém.
— Esse cara? Ele parece tudo, menos um guerreiro.
— Julgar pela aparência nunca é uma boa ideia em um campo de batalha, minha cara. Você sabia que alguns membros do Conselho do Inferno tem a aparência de garotinhas como você?
— Quem você tá chamando de garotinha?!
— Ana! — Sophia interveio. — Sei que você está irritada, mas brigar com qualquer um não vai resolver o seu problema. Queira ou não queira, eles já foram com Nakano, então agora só precisamos esperar o seu retorno.
— É melhor para você que nada aconteça com eles, principalmente com a Ari. — O olhar da bruxa dessa vez continha o pouco de súplica em seu interior. — Eu… eu os encontrei um dia, quando eles eram mais novos, estavam sujos e confusos… eles não têm memórias e podem estar sendo perseguidos por alguém.
— Me desculpe realmente, e-eu não sabia disso… — Sophia só pôde se desculpar ao ver a menina irritada deixando a sala.
— Que garotinha esquentada… — comentou Lao Shi — Qual o nome dela?
— Ana. Não sei se ela tem sobrenome… — respondeu a marquesa.
— Ana, é?… Sabe, marquesa Sophia, creio que encontrei um possível candidato a ocupar a cadeira de “quarto discípulo do Arquifeiticeiro”. Ela parece ser um prodígio se possuí o Rank B mesmo sendo tão nova… Sim, será interessante transformá-la em “Ana, a Mestra Bruxa”.