Volume 4
Capítulo 181.4: Especulações Do Demônio
— Entendo… então é uma situação realmente complicada — comentou Lao Shi após escutar o resumo de Sophia.
O homem mantinha um sorriso sereno em seu rosto, o que dava a entender que ele conseguia manter-se calmo na pior das situações.
Para chegar ao título de Arquifeiticeiro, ele provavelmente enfrentou muitas dificuldades em seu caminho, e isto fortaleceu seus nervos, tornando-o naquilo. No entanto todos tinham de admitir: era bizarro ver aquele sorriso calmo em seu rosto.
— Ah, Amélia, que bom que chegou, — a marquesa olhou para a garota na porta — terminamos agora o resumo da situação e o Lao Shi… Nossa, que cheiro é esse? Achei que você não gostava de álcool…
— Aconteceram muitas coisas, senhorita Sophia, e acho que não estou bem para participar da reunião… só vim avisar…
— A-ah, sem problemas, pode ir descansar — disse Sophia com um sorriso amarelo. — Me desculpe por isso, senhor Lao Shi, parece que a minha assistente não é muito resistente ao álcool.
— Não tem problema, meu discípulo também não era muito fã de álcool, ele quase morreu no dia que pegou e tomou a minha bebida sem querer — falou o Arquifeiticeiro com um suspiro nostálgico.
— Então, o senhor também tem discípulos?
— Raros. De fato, são raros os casos que acolho um jovem determinado, mas já acolhi muitas crianças como meus discípulos, certo, senhorita Nakano? — ele olhou para o Demônio do Oriente. — Mas este discípulo em questão é um dos mais incomuns que tive. Loright al Mare o nome dele, e ele foi o responsável por matar o Arquiduque Asmodeus.
A última sentença do Arquifeiticeiro fez com que os olhos de todos se arregalassem.
Sophia engoliu em seco, quase incrédula.
Seria verdade? Ela não escutara nenhuma notícia sobre a morte de um Arquiduque do Inferno.
— Entendo vossas surpresas, foi um acontecimento recente. Foi algo bem trágico, perdemos muitos naquela batalha, mas agora o título de Arquiduque do Inferno pertence ao jovem Loright.
De todos os presentes ali, a pessoa mais incomodada com aquela notícia era Nakano, ela cerrou os olhos e tinha o semblante de quem queria fazer perguntas ao homem que soltou aquela bomba como se não fosse nada.
— Um jovem da casa al Mare, é? — Sophia comentou após se recompor. — Minha mãe… quero dizer, a senhora Sophys vive nas proximidades do condado de al Mare, ela diz que é um local realmente grande, mas não sabia que eles tinham um jovem mestre tão poderoso assim.
— Loright é uma pérola rara, minha cara, ele não podia ser apresentado ao mundo de maneira descuidada. Em breve o nome dele será temido entre os demônios. Me pergunto a qual Casas do Inferno ele irá se filiar…
— Espero que possamos ter ajuda desse jovem na guerra — comentou Sophia. — Mas do jeito que você falou antes deu a entender que Nakano é um discípulo seu, certo?
O Demônio do Oriente lançou um olhar indiferente para a marquesa.
Antes que o Arquifeiticeiro pudesse pronunciar algo, ela adiantou-se:
— Lao Shi me ensinou muito sobre artes mágicas.
— Então, todos os discípulos do Arquifeiticeiro são guerreiros realmente poderosos — Sophia falou, depositando a xícara de chá em mãos na mesa ao centro da sala.
— Sim, são apenas três até o momento, mas são muito habilidosos. Quem sabe talvez eu não encontro um jovem interessante aqui que eu possa adotar como quarto discípulo.
— Três? Qual seria o terceiro jovem?
— É uma criança peculiar que atende pelo título de Dama da Lâmina Cega.
— A Ádvena?! — gritou Rhyan.
O jovem esteve calado até aquele momento, apenas apreciando o gosto do peculiar “chá de Camélia” trazido pelo Arquifeiticeiro.
— Ela mesma, a jovem Hime treinou há algum tempo comigo, mas infelizmente tenho o azar de fazer todos os meus discípulos me odiarem no fim — ele murmurou, olhando para Nakano.
— Azar? Achei que você fazia por onde, não é de impressionar que seu novo discípulo também te odeie.
— Certo, certo, acho que terminamos nossa reunião por aqui — a marquesa Sophiette tentou acalmar os ânimos. — Rhyan, você mostra ao senhor Lao Shi aonde ficam os aposentos dele?
Como alguém importante, o Arquifeiticeiro permaneceria na mansão, diferente dos jovens guardas e orc que foram para a vila do oeste. Quando o jovem líder da família Gotjail fez menção para levantar, Nakano fez um sinal com a mão e anunciou:
— Eu levo o Lao Shi ao quarto dele.
As palavras do Demônio do Oriente fizeram Rhyan e Sophia entreolharem-se, mas logo suspiraram e assentiram para a garota.
De qualquer forma, aquele era o Arquifeiticeiro, Nakano se machucaria feio se tentasse atacá-lo.
— Tudo bem, tudo bem… ahh, não arrume encrencas, por favor — suspirou a marquesa.
***
Lao Shi e Nakano andavam devagar pelo corredor do segundo andar da mansão Sophiette.
Ambos permaneceram em silêncio até que não houvesse mais nenhum empregado nos arredores.
— É verdade a história sobre a morte do Arquiduque? — o Demônio do Oriente perguntou de repente em um tom seco.
— Desde quando eu conto mentiras, minha cara? Sim, a afirmação é verídica, Asmodeus di Laplace foi morto por Loright al Mare.
Nakano suspirou.
Ela vira o jovem do clã Asmodeus nas poucas reuniões do Conselho que frequentou. Ele era normalmente reservado, apesar de ter um ar delinquente, e não concordava com a maioria das ideias malucas propostas pelos outros demônios.
Se seus atos fossem postos em uma balança, os de Asmodeus com certeza penderiam para o bem, enquanto a balança com os atos de Nakano penderia com força para o lado oposto.
[O mundo é injusto, mesmo com tantos demônios malignos no Conselho do Inferno, justo o bonzinho foi morto.]
Ela normalmente ignorava as palavras de Kastella Andeavor, a garota com a qual dividia seu corpo, mas dessa vez ela tinha razão, Asmodeus não merecia ser morto.
— Por que seu discípulo o matou? — Inconscientemente, Nakano falou com um pouco de fúria. — Eu ouvi rumores sobre o que Asmodeus fez no Continente Oriental, mas conhecendo ele, eu tenho certeza que tudo seria resolvido com diálogo.
— É uma longa história, — Lao Shi suspirou — mas a verdade é que o verdadeiro culpado pela morte do Arquiduque foi a Duquesa Mamon von Faucher.
Arrepios atravessaram o corpo do Demônio do Oriente quando escutou aquele nome.
A Duquesa Mamon era um ser a ser temido, alguém tão louco, ou talvez ainda mais, que Azazel van Elsie.
[O Arquiduque e a Duquesa juntos… deve ter acontecido uma luta catastrófica no oriente… coitados dos inocentes.]
“Inocentes morrem em todas as batalhas, Kastella, não adianta se lamentar pelas mortes deles ou você viverá em uma eterna depressão.”
[Você só diz isso por que a única pessoa que importa para você é o seu irmão.]
Não era mentira, Nakano viveu até aquele momento buscando métodos de retornar ao Japão, de preferência para antes de todos aqueles problemas atingirem sua família. Não era apenas Kurone, ela também se importava com a senhora Nakano e as suas meias-irmãs.
Saber que um Kurone de vinte anos estava naquele mundo foi um choque para o Demônio do Oriente.
A julgar pelas informações obtidas, aquele devia ser o Kurone da sua linha temporal, ou alguém de uma linha temporal semelhante àquela que vivera quando era Teruhashi Nakano.
— Sua mente continua barulhenta como sempre, não é, minha cara? Me lembra um pouco do Loright — comentou Lao Shi, ele sabia sobre a divisão de consciência entre Teruhashi Nakano e Kastella Andeavor, provavelmente aquela garota era um caso raro daquele mundo.
— Você viu a Hime no oriente?
— Hmm… vi ela, sim, mas não tivemos chance de conversar.
Teruhashi confiou a Hime, a Heroína Ádvena, o trabalho de tentar encontrar uma maneira de curar o corpo de Kurone.
O jovem estava morto, era fato, mas não totalmente, ela pensou que a medicina das ilhas Lou Xhien pudessem ajudar, por isso, com relutância, separou-se do seu irmão após o seu breve reencontro.
Porém, ela também não era idiota, por mais que Hime estivesse do seu lado, aquela sacerdotisa era uma mulher obcecada por vingança, e faria de tudo para atingir seus objetivos e destruir os Heróis Ádvenas.
[Não está pensando que o tal “Loright” é, na verdade, o seu irmão, está? Por mais que ele fosse um jovem incomum, não teria maneira dele se recuperar tão rápido e ainda conseguir lutar contra um Arquiduque.]
“Eu estou viva até hoje porque fui paranoica, Kastella. As chances podem ser as menores possíveis, mas não quero descartar nenhuma possibilidade.”
[Me desculpe te falar, mas a verdade é que você quer acreditar que seu irmão está vivo.]
— Seu quarto é logo ali, Arquifeiticeiro. — Nakano apontou para uma porta do corredor.
[Vai me ignorar agora? Você sempre faz isso quando eu digo a verdade.]
— Muito obrigado, senhorita Demônio do Oriente. A propósito, parece que não acreditou em minhas palavras, mas estou sério quando falo que não tive oportunidade de conversar com senhorita Hime, mas sei que ela está indo agora para Dart.
— Para Dart?! — gritou Teruhashi de repente. — Por que ela está indo para Dart?!
— Como eu disse, conversamos pouco, então não faço ideia — falou Lao Shi, dando de ombros para a reação de Nakano e adentrando o seu quarto. — Não devia se preocupar tanto com uma mulher como Hime quando se tem uma guerra para lutar…
Teruhashi suspirou e voltou pelo corredor, seguindo em direção à saída da mansão.
Por que Hime estaria indo para Dart, a cidade que demarcava a fronteira do Continente Oriental e o Ocidental?
[Me escuta, Teruhashi, estamos na mesma situação, não adianta querer ser a dona da razão. Você acha que eu também não tento manter as esperanças que minha irmã, a Elisabella, está viva? Eu penso nisso a todo momento, mas também tenho que encarar a realidade!]
“Quanto mais eu olho para a realidade, Kastella, mais eu penso que o Kurone está vivo… porque ele não é alguém comum, você sabe muito bem disso.”
[Você e esse seu fetiche estranho com o seu irmão, mas o que você quer dizer com esse último comentário?]
“Não notou que… ele é um Irregular? Ele mantém o mesmo corpo de quando vivia no Japão, isso significa que ele não foi reencarnado de maneira convencional, ou seja, não se encaixa em nenhuma das Três Gerações, e também duvido que ele seja um dos Heróis Ádvenas de Karllos Sophiette.”
[Ai, ai, eu sempre esquento a cabeça para entender sobre isso de reencarnados, outros mundos e linhas temporais que você tanto fala! Mas… se eu não me engano, os “Irregulares” são invocados pela…]
“Deusa Cecily, a deusa que matou Astarte, também conhecida como a Primogênita Deserdada.”