Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 181.3: Má Primeira Impressão

A maioria dos jovens guardas e dos orcs seguiu para o oeste, a parte das terras de Sophiette comandada por Elizer Sophiette. 

Lá havia muitas acomodações para eles, pois Sophia recebeu de Nova Canaan, além de guerreiros, mão de obra e materiais para construção. A influência de Eliezer naquele reino era notável.

O Arquifeiticeiro acompanhou a marquesa para o interior da grande mansão à frente, ele teria que ficar a par de tudo o que acontecia naquele momento para criar suas estratégias.

Seria uma reunião entediante, então Amélia deixou a tarefa apenas para Sophia e Rhyan Gotjail. Ao separar-se de Edgar no jardim, ela decidiu ir ao oeste para apreciar aquelas carruagens do Continente Oriental.

A jovem mestiça viveu por muito tempo trabalhando como cocheira, e esse tempo foi o suficiente para ela desenvolver um interesse incomum por veículos. 

No Japão, quando viva como Luna Nakano, sempre achou incompreensível o interesse dos homens por carros velozes, mas começou a repensar sobre enquanto corria de um lado para o outro, transportando visitantes da mansão Soul Za ou mensageiros.

Ela não se sentiu incomodada com a presença dos orcs trazidos pelo Arquifeiticeiro, diferente de várias pessoas dali, na verdade não ligava para quem fossem seus aliados, só precisava ter certeza que confiaria neles.

A vila oeste era um pouco distante, para chegar a ela era necessário passar por uma enorme floresta. Até pouco tempo, aquele lugar era realmente uma mata fechada repleta de árvores altas, mas um caminho foi aberto ali quando o controle do ocidente das terras de Sophiette foi dado a Eliezer.

Amélia achou aquilo uma boa ideia. 

Quando chegou ali, sentiu-se presa, pois todos os arredores da mansão Sophiette eram cercados por muros altos e, passando dos muros, havia floresta por toda a extensão das terras.

No entanto, naquele momento, bastava olhar ao redor para ver pequenas fazendas criadas para o cultivo, campos de pastos para animais e a figura de casinhas das vilas espalhadas pelos quatro ventos. 

Após poucos minutos em sua carruagem pessoal, a cocheira chegou ao portão da vila oeste. 

A segurança ali aumentava a cada dia. A grande muralha ao redor de todas as terras de Sophiette era erguida lentamente, pois era impossível cercar toda aquela área em poucos meses, então as vilas tinham muros próprios que ajudariam se houvesse um ataque surpresa.

Porém, isso era uma ideia paranoica, pois havia guardas espalhados por todos os cantos daquelas terras, desde os campos às florestas. As chances de haver um ataque surpresa eram as mais baixas possíveis, mas Amélia sabia que as chances do Titanic ser atingido por um iceberg também eram baixas.

Um país em guerra não era isento de ataque, assim como um navio em alto mar não estava livre de ser atingido por icebergs, por melhor que fossem seus radares.

A cocheira passou pela entrada quando os guardas a reconheceram e estacionou a carruagem ao lado do muro, saltando no chão repleto de grama em seguida.

Apesar de as pessoas não dizerem, ela sabia que, mesmo após tantos meses, todos a encaravam e pensavam: “Ah, é a garota que apanhou do Demônio do Oriente”.

Ela arrastou o pé pelo chão para controlar sua raiva e seguiu em direção a uma das maiores construções do local. 

Aquela vila ainda estava no início da sua construção. O foco, naquele momento, era ter o máximo de acomodações possíveis, por isso o chão não fora calçado.

Assim como o muro que as circundavam, as casas da vila oeste era todas feitas de madeira. Havia muitas pousadas de cinco andares espalhadas por aquele local. 

O contraste criado pelas construções marrons-alaranjadas e a grama verde no chão faziam qualquer um suspirar, aquele lugar lembrava as cidades do interior do Japão.

Finalmente, Amélia chegou ao seu objetivo e começou a averiguar os veículos estacionados. Àquela altura, todos os jovens guardas e orcs deviam estar descansando da longa viagem que tiveram até ali. 

“Tem algumas que são feitas de metal”, pensou Amélia ao tocar no material sólido e quente de uma carruagem. 

Os orientais sabiam realmente como fazer aqueles veículos, havia um que chamou muita a atenção da cocheira, afinal ele tinha uma besta em sua parte superior, era como aqueles carros blindados com uma torreta. 

“Com certeza foi algum reencarnado que teve essa ideia, parece muito aquelas coisas de filmes de ação.”

Pensar em reencarnados a fez lembrar sobre o anúncio da Voz do Mundo há alguns meses. 

Ela achava que Kawaii Kyuto não apareceria mais tão cedo, mas enganou-se, a meio-humana retornou de maneira súbita e espalhou desordem por Niflheim.

Amélia percebeu que havia reencarnados entre alguns dos jovens que se juntaram a eles na luta contra Azazel van Elsie, mas eles preferiram não dizer a verdade, talvez com medo do que pudesse acontecer.

O medo deles não era irracional, afinal alguns reinos decretaram que os “reencarnados” eram proibidos e que daria dinheiro a quem matasse um. 

Se muitos reinos aderissem àquele decreto, uma caçada aos reencarnados se iniciaria e, sabendo que eles não aceitariam isso, uma guerra de verdade começaria, e era exatamente isso o que Kawaii Kyuto queria.

— O que você faz aqui? — perguntou uma voz grave. 

O corpo de Amélia estremeceu por um momento, ela passou muito tempo para encarar o dono da voz por conta da vergonha, afinal ela estava se esfregando contra o material das carruagens. 

Uma pessoa passando por ali pensaria que a cocheira era algum tipo de pervertida com tara em veículos.

Ao virar o rosto corado, ela viu a figura de um grande orc com uma armadura de samurai pesada. Ele carregava um grande escudo nas costas e possuía olhos amarelados afiados. 

— E-eu… só estava checando a qualidade das carruagens, não pense errado… Ei! — ela gritou ao perceber que o monstro simplesmente ignorou seu pânico e foi embora.

Ele parecia não se importar com o que a jovem fazia ali, só devia ter ido verificar se ela não estava tentando sabotar as carruagens. Porém, Amélia não podia deixar que ele fosse embora com uma má impressão sua.

— É-é sério, eu só estava verificando a qualidade dos materiais usados nas carruagens, sou uma verdadeira apreciadora de veículos, principalmente esses vindos da capital!

A cocheira falava sem parar, mas o grande orc parecia não dar ouvidos, ele simplesmente continuava andando em frente, com sua expressão imutável e os olhos que nunca se focavam na jovem.

O monstro era totalmente diferente daquele tipo de orc que atacou a vila Grain certa vez. 

Aqueles eram irracionais e deixavam-se ser guiados por seu instinto de saciar sua luxúria, no entanto aquela grande criatura parecia ter seus próprios objetivos ali e nem sequer ligava para a presença de uma jovem bonita.

Mas o que mais irritou Amélia foi ser ignorada por ele. “Maldito! Ele se acha um daqueles protagonistas fodões dos mangás que o Kurone costumava ler?!”

O grandalhão adentrou um bar próximo, naquela hora não havia quase ninguém ali, pois os jovens soldados de outros reinos estavam treinando em algum lugar com Eliezer Sophiette. 

Os poucos jovens ali eram aqueles vindos do Zhongu que resolveram experimentar a cerveja do ocidente.

Assim como as paredes e o teto da construção, as mesas e cadeiras do bar eram feitas de madeira. O orc acomodou seu corpo com mais de dois metros em um assento com dificuldade.

Amélia olhou por um momento para o local, mas decidiu adentrar. Ela odiava o fedor de álcool, no entanto sua honra fora ferida ao ser ignorada pelo monstro esverdeado.

Ela tomou uma cadeira e sentou-se logo à frente do grande orc que olhava fixamente para suas mãos.

— O que os senhores desejam? — perguntou o jovem garçom do bar.

Hmm… eu vou querer a melhor bebida não alcoólica que tiver… — falou Amélia um pouco sem jeito, entrar em um bar e não tomar cerveja era algo que chamava a atenção de qualquer um, a cocheira simplesmente baixou a cabeça ao notar os olhares dos poucos jovens ao redor.

— E o… senhor? — o garçom olhou para o grande orc, no entanto ele não respondeu, seus olhos estavam fixos em sua mãos grandes e esverdeadas.

— Traz um hidromel para ele, por minha conta — disse Amélia após alguns segundos de silêncio. 

Apesar de tudo, eles ainda tinham que pagar tudo o que consumiam, isso era necessário para manter a economia das terras de Sophiette, e justo nesse dia ela esqueceu seu voucher dado por Sophia.

Infelizmente teria que pagar com seu dinheiro tudo aquilo, sabia que o orc não faria a gentileza de se oferecer para dividir a conta, mesmo uma das bebidas sendo para ele.

— Então… o que você tem aí? — Amélia tentou puxar assunto, mas apenas depois de alguns minutos, quando ela estava prestes a xingar o monstro, ele respondeu:

— Nada de interessante — o orc mostrou, com relutância, o objeto em mãos.

Era uma concha. 

A cocheira franziu o cenho ao ver que aquilo que ele encarava com tanto afinco era simplesmente uma concha que podia ser quebrada facilmente por suas grandes mãos.

Ela bufou e pôs a mão no rosto em desistência, aquele monstro era como uma pedra sem graça.

— Aqui estão seus pedidos — disse o garçom colocando dois copos grandes na mesa. Amélia engoliu em seco ao ver o conteúdo da sua bebida, não parecia ter álcool, mas o odor era desagradável.

— Você é uma mulher irritante — apontou o orc sem piedade, ele não tocou no hidromel. — Não desejo tomar álcool, meu corpo é feito para a batalha e não pode ser contaminado. 

— Eu sou o quê?!

— Uma mulher irritante e barulhenta, me lembra um pouco o meu mestre… Mas este mesmo mestre pediu para que eu fosse amigável com os humanos daqui, então… — o orc ficou de pé — espero que possamos nos dar bem.

Apesar do tom sombrio e sem interesse, ele parecia ser sincero em suas palavras. O orc seguiu em direção à porta, mas quando estava prestes a deixar o bar, Amélia gritou:

— Ei, calma aí, você não falou qual é seu nome!

— O nome de um orc é interessante para a senhorita?

— Para de lenga-lenga e fala logo!

— O meu nome, dado por meu honorável mestre, é Baltazhar. 

— O meu é Amélia!

Baltzhar pareceu ignorar as últimas palavras de Amélia e deixou o bar. A jovem suspirou e sentou-se novamente, encarando as bebidas em cima da mesa.

Ela olhou como se suplicasse ao garçom. 

Pediu duas bebidas, uma tinha um aroma horrível e o orc não bebeu a outra, no entanto o jovem garçom deu de ombros, dando a entender que ela teria que pagar por aquilo.

Aquela foi a primeira vez que Amélia tomou bebida alcoólica, afinal não poderia desperdiçar seu precioso dinheiro daquela maneira. 

“Maldito orc!”



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