Volume 4
Capítulo 181.2: Chegada Dos Novos Aliados
Mais uma vez, Sophia estava ali.
Aquele era o pequeno quarto onde Noah dormia em seu sono profundo.
O peito modesto da pessoa que considerava como uma filha subia e descia, mas ela não dava nenhum sinal de despertar. Ver aquela cena fazia o coração da marquesa apertar.
— Não se preocupe, Noah, com certeza o Arquifeiticeiro sabe alguma maneira de te ajudar — murmurou passando suas mãos macias pela testa da menina, os seus dedos afastaram os fios castanhos caindo sobre o rosto dela.
Apesar de treinar diariamente com a sua espada, Sophia não tinha sequer um calo na mão, o corpo de um Sophitte era algo realmente intrigante.
Os olhos também mantinham-se saudáveis, mesmo ela passando alguns dias em claro, assinando pilhas intermináveis de papéis.
A marquesa suspirou antes de levantar e deixar a sala. Ela precisava se preparar, pois o comboio vindo do Continente Oriental chegaria em breve.
Devagar, quase relutante, deixou a sala secreta e subiu as escadas escuras até sair em uma porta discreta do corredor. Aquele era um local que, mesmo após tanto tempo, poucos sabiam da existência.
Sophia olhou para uma das grandes janelas de vidro do corredor e observou algumas empregadas da mansão Soul Za treinando com moradores da vila de mestiços.
Naquele momento, o exército era composto pelos dois grupos citados anteriormente, havia a ajuda que conseguiram de Nova Canaan, os reforços vindos do Continente Oriental e pequenos exércitos de nobres aliados.
Parecia ser um bom número, talvez um número suficiente para ganhar a guerra, mas ela sabia, por meio dos seus espiões, que Azazel van Elsie também não estivera parada por esse tempo.
A Presidenta do Inferno formava seu próprio exército aos poucos e, recentemente, Sophia teve acesso a notícias perturbadoras.
Não era nada confirmado, no entanto, ao que tudo indicava, Azazel começou a fazer experimentos bizarros em humanos, seu objetivo era modificá-los, transformá-los em monstros com uma sede de sangue insaciável, para dobrar a força do seu exército.
Aquela informação tinha quase oitenta porcento de chance de ser verdade, pois Sophia sabia que havia drogas na cidade de Fallen que conseguiam fazer uma barbaridade como aquelas.
Bastava pagar, ou ameaçar, um dos traficantes para ter acesso às drogas.
Eles precisavam ficar mais fortes se quisessem vencer e, após o anúncio da Voz do Mundo, a situação só piorava.
Pessoas de diversos países e continentes começaram a matar inocentes sem motivos. Eles diziam serem “reencarnados”, a suposta raça de humanos especiais citada por Kawaii Kyuto na transmissão.
Não levaria muito tempo para esses reencarnados começarem a causar danos reais ao mundo, pois sua força era notável, eles portavam armas estranhas, como aquela de Rory, e matavam qualquer um sem piedade.
Havia pessoas ali que pareciam saber a verdade sobre eles, como o Demônio do Oriente e O’Blood Renfield, no entanto elas recusavam-se a compartilhar estas informações, diziam que ainda não era hora. Rhyan Gotjail também sabia algo, mas tudo o que disse a Sophia foi “quando eu sentir que estou pronto, lhe contarei”.
Ao sair da mansão, a marquesa encontrou a figura de Amélia e Edgar. Eles eram as duas pessoas que ela mais confiava, apesar de outrora terem sido serviçais de Edward Soul Za.
Edgar continuava igual mesmo após tantos meses, seu físico melhorou um pouco devido ao seu treinamento razoável, mas foi apenas isto. O mordomo era alguém na administração da economia das terras de Sophiette.
Sim, ela finalmente decidiu fazer aquilo com suas terras.
O número de pessoas vivendo ali só aumentava e não podia deixá-los para sempre acampados no jardim da sua mansão, por isso começou a edificar suas próprias vilas.
As terras de Sophiette eram ainda maiores que as de Soul Za. Sophia construiu quatro vilas ao redor da mansão e nomeou líderes para elas: Linda, no sul, gerenciava os aventureiros refugiados de Grain e outros vindos de países aliados. A maioria dos habitantes no sul eram humanos.
Brain, no norte, ajudava com a agricultura. As pessoas que residiam lá eram os mestiços e as empregadas demônias.
A liderança do leste, local especializado na cura dos doentes, foi dividida para o ex-Santo Avios Bishop e a sacerdotisa-chefe Inri. Após ser rejeitado pela sua deusa, o antigo líder religioso deixou de implicar com os “hereges” da igreja de Cecily.
Por fim, o comando do oeste foi dado a Eliezer Sophiette, as construções de lá eram mais luxuosas e direcionadas aos nobres aliados, como aqueles de Nova Canaan.
Apenas para garantir a segurança, uma muralha enorme era construída em volta das quatro vilas, o que aumentava a proteção da mansão Sophiette, que já tinha um grande muro.
Uma inquietação percorria o peito de Sophia, pois ela sabia que as vidas de todas aquelas pessoas estavam em suas mãos.
Não dava para defender todos quando a guerra de verdade começasse, então só podia tentar fortalecer todos para que pudessem sobreviver.
— Dona Sophia, o comboio com o reforço do oriente deverá chegar em breve. Sir Rhyan foi encontrar eles parar que tivessem uma viagem segura — explicou Edgar.
— Finalmente vamos saber se o tal Arquifeiticeiro existe de verdade ou eles vão inventar outra desculpa — zombou Amélia.
A cocheira, que fora promovida ao cargo de assistente pessoal da marquesa Sophiette, mudou em alguns aspectos nos últimos meses, uma das mudanças mais notáveis era o seu cabelo castanho, os fios cresceram, mudando o status dele de curto para médio.
O corpo anteriormente semelhante ao de um homem magro ganhou mais massa muscular após o treinamento com a Condessa vampira e Brain.
A grande espada montante estava nas costas da jovem, Amélia carregava-a para todo o lugar que ia. Apesar de grande e pesada, ela tornou-se uma extensão do corpo da cocheira.
Sophia tinha uma admiração especial por Amélia e Orcus, o líder dos guardas que, naquele momento, era encarregado dos jovens espiões e todas as operações secretas.
Eles não deixaram que a depressão os dominasse mesmo após perderem uma pessoa importante como Kurone Nakano. Pelo contrário, eles fortaleciam seus corpos diariamente.
O esforço de Orcus transformou-o em um guerreiro ao nível de um cavaleiro da Guarda Real de Andeavor.
O homem, que naquele momento planejava algumas estratégias com o Demônio do Oriente na sala de reuniões da mansão Sophiette, ficou irreconhecível.
Sua barba rasa cresceu, dando-lhe um aspecto mais rude. O físico de bêbado gordo tornou-se o de um soldado que enfrentava os mais diversos treinos infernais diariamente. As roupas do antigo Orcus não serviam mais para o novo.
Sophia não precisou esperar mais de vinte minutos ali para avistar o comboio. As carruagens do oriente destacavam-se entre aquelas usadas por Rhyan para escoltar os novos aliados.
— Ah, então eles já estão chegando — comentou Nakano saindo da mansão. Ao lado do Demônio do Oriente estava o irreconhecível Orcus.
A marquesa suspirou ao notar que O’Blood Renfield não estaria ali. A Condessa só era vista nas sessões de treinamento avançado, ela passava a maior parte do dia trancada em seu quarto, na companhia da Besta Negra.
Quando todo o comboio parou no jardim da mansão, o grupo de Sophia dirigiu-se em direção a Rhyan. O jovem fora na missão montado em um cavalo e carregando a arma a qual ele chamava “sniper” nas costas. Ele saltou da sua montaria e apontou para uma das carruagens do centro.
Sophia engoliu em seco.
O suposto Arquifeiticeiro Grau 10 estaria ali?
Ela aproximou-se, mas quase sacou sua espada ao ver vários orcs saltando dos veículos ao redor. Eram monstros nunca vistos antes, usavam armaduras como aquelas dos guerreiros do oriente e armas de todos os tipos.
Todos pareciam lançar olhares de respeito a duas criaturas notáveis: um era um jovem orc com um corte de cabelo incomum, as laterais da cabeça não tinham cabelo e o que restou foi preso em um rabo de cavalo extravagante.
O outro monstro em questão era enorme, beirava quase os dois metros e meio e portava um escudo de igual tamanho em suas costas. Ele mantinha um olhar hostil em relação a todos os humanos desconhecidos.
Sophia percebeu na hora: eram criaturas conscientes.
O Continente Oriental era realmente peculiar.
Finalmente, a porta da carruagem no centro foi aberta e um homem incomum desceu dela. Como a maioria das pessoas daquele continente, ele possuía cabelos negros longos e um rosto meio pálido, com alguns tons amarelados.
— Marquesa Sophiette, eu suponho — falou o homem com uma grande reverência. Ao levantar a cabeça, seus olhos focaram-se na figura de Nakano. — É um prazer revê-la, senhorita Nakano.
— Olá, Lao Shi — respondeu o Demônio do Oriente em um tom indiferente.
Sophia simplesmente suspirou ao ver aquela interação.
Nakano sabia sobre o Arquifeiticeiro Grau 10 e não contou nada, era algo esperado da parte dela, mesmo assim a marquesa não deixou de ficar chateada com a ocultação da informação.
— Sim, você está certo, eu sou Sophia, Sophia Sophiette Sophys III. — A nobre estendeu a mão.
— É um prazer, minha cara, — ele apertou a mão estendida — como dito por senhorita Nakano, meu nome é Lao Shi, e sou o Arquifeiticeiro Grau 10 do Continente Oriental.
Ele era real!
Sophia aumentou um pouco do aperto de mãos e formou um sorriso discreto em seu rosto, talvez a cura de Noah estava ali, a marquesa não podia perder aquela oportunidade.