Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 181.1: Previsão Do Arquifeiticeiro

Assim que se despediu de Kurone e seu grupo, Lao Shi seguiu em direção a um enorme palácio. As ruas da capital estavam bem movimentadas, diversas carruagens com jovens comerciantes eram vistas a todo momento.

Os vendedores de roupas ganhavam dinheiro como nunca ao vender suas roupas para o frio, seus principais clientes eram aventureiros que sairiam da cidade em breve. 

Conforme o tempo passava, a quantidade de flocos de neve caindo do céu acinzentado aumentava.

A carruagem do Arquifeiticeiro seguiu a toda velocidade, mas era algo quase inútil devido à movimentação das ruas. Havia carruagens de todos os modelos, desde os tradicionais de madeira aos de metal, a nova moda em Zhongu, o Continente Oriental.

Foram pelo menos vinte minutos de caminhada até chegar ao palácio, a grande construção era protegida por um muro de igual tamanho. 

No caminho até ali, avistou muitos dos refugiados das ilhas Lou Xhien, eles pareciam estar felizes com a notícia que o Arquiduque do Inferno foi derrotado.

Lao Shi desceu da carruagem e seguiu a pé em direção à entrada. Os guardas no portão não disseram nada ao avistá-lo, apenas baixaram a cabeça em reverência e abriram passagem para ele.

No interior, as folhas do jardim da entrada do palácio do Monarca do Oriente mudaram de verdes para brancas. 

O inverno era rigoroso com a vegetação dali. Em breve, as águas da grande fonte ao centro do jardim tornar-se-ia nada mais que gelo.

Todos os empregados que avistavam a figura do Arquifeiticeiro simplesmente ignoravam-na, eles eram habituados a vê-la constantemente, nem faziam menção de oferecerem-se como guias do homem pelo local. 

Ao entrar na grande construção, Lao Shi seguiu para sala do trono. 

Seu corpo magro, mas com músculos, o cabelo negro longo e o rosto bonito era alvo do olhar das empregadas mais jovens. Apesar de ser alguém popular entre as mulheres, todo o seu foco era no aperfeiçoamento do seu corpo, o seu objetivo era claro: tornar-se um Buda e avançar para a posição de Deus Humano.

Ele ficou realmente com inveja ao ver alguém tão peculiar como Kurone, o corpo daquele jovem tinha todos os requisitos para seguir a vida do treinamento intenso e ascender aos céus. 

Se ele tivesse um corpo como o do seu discípulo, teria certamente chegado à posição de divindade há muitos anos.

Suspirou ao chegar em frente à porta da sala que poucos tinha a permissão de entrar. Após três toque na madeira, escutou um “pode entrar” e empurrou a porta.

A sala em questão era tão grande quanto o jardim do palácio, um tapete vermelho estendia-se desde a entrada ao grande trono luxuoso no fim do cômodo.

O homem naquele assento dourado estava cercado por três mulheres de beleza inigualável, e aquelas nem eram as concubinas mais bonitas do Monarca. 

O harém do homem ficava em uma sala próxima ao lado, lá era um local sagrado que apenas aquele homem poderia entrar, apesar dele ter oferecido certa vez o privilégio de Lao Shi ter um vislumbre do local. 

Mesmo após tanta insistência, o Arquifeiticeiro negou a oferta de escolher uma das virgens para tê-la como sua esposa.

— Lao Shi! — saudou o Monarca do Oriente, feliz. O corpo do homem estava totalmente oculto pelas sombras da sala, apenas a figura das mulheres disputando pelo toque no seu corpo podiam ser vistas claramente. — Eu ouvi as notícias, que coisa tensa, não foi?

O Arquifeiticeiro ficou de joelhos na metade do cômodo, ali era o mais próximo que um humano que não era uma das concubinas poderia chegar do Monarca.

Apesar da demonstração de extremo respeito de Lao Shi, o homem sentado no trono parecia ser indiferente e dispensava toda aquela coisa. Claro, aquilo era apenas com Lao Shi, um conhecido de longa data e único amigo de confiança.

— A criança que matou o Arquiduque ainda está com você? Queria vê-lo. Como era o nome dele mesmo?... 

— Loright, Loright al Mare. Infelizmente não, Soberano, ele agora está indo em direção a Dart para revindicar seu título de Arquiduque do Inferno.

— É uma pena, queria ver o tal garoto que você falou tão bem nas cartas… alguém que carrega a alma de um Vassalo da Morte.

— Creio que em breve saberemos notícias dele, Meu Soberano, ainda não era hora dele se juntar a nós. Apesar de ser alguém interessante, ele ainda é imaturo, precisa de mais experiência, assim ele entenderá como o mundo funciona de verdade.

— Então, que seja como você quiser, confio no seu julgamento, meu amigo…

— Fico lisonjeado, Meu Soberano.

— Agora… — o homem fez um sinal para as mulheres saírem da sala — pode parecer meio incômodo, mas preciso te mandar para o Continente Ocidental, a Sophiette da geração precisa de nossa ajuda. Você escutou, certo?

— A Voz do Mundo, foi algo inesperado. Parece que este mundo caminha para o seu colapso… no entanto não será nenhum incômodo, eu estava supondo que o Senhor pediria isso e me preparei.

Além de um pequeno grupo de guardas do Continente Oriental, Lao Shi teria à sua disposição metade dos orcs convocados por Kurone e, entre eles, estava Baltazhar, um monstro muito poderoso.

— Neste caso, você deve partir o mais rápido possível, lembre-se que ainda tenho o objetivo de ter um Sophiette do nosso lado, sem falar que esta guerra parece nos afetar diretamente.

— Certamente, Meu Soberano, Azazel van Elsie não vai parar enquanto não tiver o mundo sob o seu controle, o objetivo dela parece algo além da ressurreição de Astarte, é algo totalmente desconhecido.

— Aquela coisa é um verdadeiro demônio, ninguém consegue matar aquilo.

— Por enquanto, Meu Senhor, por enquanto ninguém consegue matá-la, mas quem sabe no futuro… talvez até mesmo em um futuro próximo.

— Que os deuses escutem suas palavras, meu amigo.

— … Ou os diabos, Meu Soberano.

Ambos trocaram sorrisos discretos após os últimos comentários. 

As próximas horas foram gastas com assuntos triviais, os favoritos do Monarca do Oriente. Lao Shi aproveitou aquele tempo para descansar, pois, assim que deixasse o palácio, seu destino era o Continente Ocidental.

Ele viveu por muitos anos se escondendo enquanto treinava, então não achava tão ruim ter que viajar muito. 

O Continente Ocidental, especialmente as terras de Sophiette, era um lugar que sempre quis visitar.

— Então, se me dá licença, estou indo, Soberano.

— Que a sorte lhe acompanhe, meu amigo.

— Obrigado.

Ele precisaria organizar os jovens guardas e os orcs antes de sair, mas provavelmente estaria na estrada até à noite. Com o auxílio de cocheiros com o Tipo Elemental Vento, sua viagem seria reduzida em muitos dias, o ideal era tomar um atalho, não fazer toda a volta por Dart.

Por sorte, ser amigo do Monarca do Oriente dava-lhe direito a muito privilégios, e usar portais de masmorras para encurtar as viagens era um deles. 

Era algo que quase ninguém conhecia, mas era útil em momentos como aqueles.

Assim que deixou o palácio, o homem entrou na carruagem que lhe deixara ali e seguiu para o local que orientara para os jovens guardas levarem os orcs. A viagem até lá levaria menos de vinte minutos.

Quando observou o cenário novamente pela janela, notou que a quantidade de neve nas ruas aumentou em uma velocidade impressionante, aquilo era sinal que teriam outras daquelas grandes nevascas. 

Lao Shi desceu da carruagem ao chegar em um pátio repleto de jovens guardas e orcs. O primeiro monstro a aproximar-se foi um orc com o cabelo raspado de lado, ele portava um machado nas costas e exalava um ar de autoridade.

— Nós vamos partir agora?

— Em breve, meu caro, em breve partiremos.

Assim como Kurone, as criaturas mantinham um olhar de desconfiança direcionado ao Arquifeiticeiro, principalmente o grande orc chamado Baltazhar, o verdadeiro líder daqueles monstros ali.

Lao Shi ficou decepcionado por não ter Berthran ao seu lado, aquele orc tornou-se um verdadeiro estrategista após estudar duro na ilha Lou Souen, mas pelo menos tinha aquele brutamontes verde, alguém que conseguiu resistir aos ataques poderosos da Duquesa Mamon von Faucher.

— Provavelmente a guerra ainda está em seu início nas terras da marquesa Sophiette, mas em breve veremos os sinais que servirão como prelúdio da verdadeira batalha, por isso precisamos estar sempre atentos — explicou Lao Shi.

Diferente dos orcs selvagens que tanto ouvira histórias quando era mais novo, aqueles sabiam se comportar. Eles uivavam como loucos na batalha, mas ouviam como atenção as instruções. 

Em contrapartida, os jovens humanos estavam ansiosos para partir para o campo de batalha.

Aqueles guardas saíram do quartel de treinamento recentemente e o máximo que fizeram foi trabalharem de guardas na cidade, um trabalho que não exigia quase esforço, considerando que a capital era conhecida por ser um local pacífico.

Em breve, aquele brilho e alegria seriam transformados em trevas e tristeza, pois assim era a guerra, apenas os mais loucos deles sobreviveriam, e aqueles normais que saíssem com vida jamais seriam os mesmos. 

Lao Shi sabia, pois viu a cena diversas vezes, inclusive há pouco tempo, com Kurone.

O jovem de cabelos negros com mechas brancas podia não demonstrar, talvez ele nem se desse conta, mas estava mudado, e continuaria mudando conforme fosse descobrindo o quão cruel aquele mundo poderia ser. 

E, no fim…

“Eu e meu caro discípulo nos encontraremos no campo de batalha daqui a alguns anos, e com certeza aquele não será nem de longe o Kurone Nakano que vi nas ilhas Lou Xhien.”



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