Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 180.2: (IF) Rota da Princesa [2/3]

— Ótimo, minha comida perdeu o gosto — comentou Raika ao ver o pai adentrando a casa. De todas as garotas, ela era a que mais detestava o senhor Nakano. 

O homem simplesmente fechou os olhos com um suspiro e aceitou as palavras duras da filha. Kurone ficou realmente surpreso ao ver que ele mudou pelo menos um pouco depois de tantos anos, antes ele nem sequer se atentava às palavras de desprezo de Raika.

— Desculpem por interromper a refeição de vocês, acontece que eu estava passando aqui por perto e resolvi dar uma um oi, já que eu iria encontrar o Kurone de qualquer jeito hoje — explicou o senhor Nakano tomando um lugar à mesa sem nem mesmo ser convidado.

A senhora Nakano mantinha o seu sorriso gentil no rosto pálido, apesar de tudo o que aconteceu, ela, por algum motivo, ainda amava aquele homem. Kurone não falou nada, mas mantinha seus olhos fixos no homem.

— Está gostando daqui, Lou Xhien? — o patriarca, se assim podia ser chamado, perguntou à menina no lado oposta da mesa, logo à sua frente.

— Sim, obrigado por toda a hospitalidade — respondeu Lou Xhien um pouco confusa. Ela conhecia as terríveis histórias contadas por Kurone sobre aquele homem, mas não conseguia vê-lo como alguém mal, afinal foi ele quem a ajudou com os documentos e tudo mais.

— Eu vi sua mensagem, — começou Kurone — você colocou seu número no meu celular sem eu saber, não foi? Mas não importa, o que você queria discutir?

— É um assunto de pai e filho, e o clima aqui não é o melhor para isso, mas veja, hoje está quente e tudo mais, então por que não vamos à praia? Lá podemos conversar melhor — falou o homem pondo a sacola que tinha em mãos em cima da mesa.

Curioso, Kurone olhou de cima e analisou todo o conteúdo da sacola. Eram protetores solares, chapéus de palha, roupas de banho, óculos de sol e diversas outras coisas. 

— O que me dizem? — ele olhou para o rosto de todos os Nakano e de Lou Xhien com um sorriso, buscando a confirmação de pelo menos um deles.

— Eu não vejo problema nisso — respondeu a senhora Nakano. 

O sol forte da praia era um veneno para a pele pálida da mulher frágil, mas ela concordou com um sorriso que Kurone não conseguiria dizer que não a acompanharia.

— Aqui tem praias?! — questionou Lou Xhien, entusiasmada. Praias lembravam-na das ilhas Lou Souen.

— Sim, Lou Xhien, o Japão tem muitas praias, está em questão é uma praia na região de Edogawa — falou o senhor Nakano, em uma voz animada.

As meninas ao redor da mesa não demonstraram muita animação, mas ao notarem que Kurone não estava reclamando, decidiram ficar em silêncio.

— Bem, já que todos concordam, vou pegar a minha van e voltarei para buscar vocês. — Ele levantou-se da mesa sem ter tocado em nenhuma comida. — Comecem a se aprontar, logo, logo, estarei de volta. 

O homem seguiu em direção à porta e saiu rapidamente da casa. 

Aquele era realmente o senhor Nakano, um dos maiores criminosos do Japão? Kurone só podia estreitar os olhos e pensar sobre o que fez aquele homem, que teve coragem de drogar o próprio filho, mudar tanto.

— Vocês ouviram ele, vão se arrumar — disse a senhora Nakano batendo palmas.

Ahhh… Acho que a praia pode ajudar você a relaxar, Lou Xhien — falou Kurone passando a mão pelos cabelos tingidos da menina.

— Sim… não sei o porquê, mas seu pai me passa muita confiança.

Humm, olha, não aconselho você a confiar nele.

— Cer-certo, se você diz… mas… não seja muito duro com ele, certo? Ele parece ter olhos de quem busca redenção.

— Vou tentar não tratar ele como cachorro. Vai ser difícil, mas vou me esforçar.

— Seu sem graça.

— A Nie gostava das minhas piadas!... Desculpa, eu disse que não ia falar mais da Nie... — Kurone olhou para o teto um pouco triste. 

Apesar de Annie estar bem em Niflheim, com seu Seol recuperado, ele ainda não havia superado a separação, aquela deusa e ele viveram como um só corpo por muito tempo. A restrição de falar sobre ela era exatamente para o jovem não ficar triste.

— Bem, vamos nos arrumar ou ficaremos para trás… mas não entenda errado, não é para nos trocarmos no mesmo quarto! — brincou Lou Xien para tentar quebrar o clima de tristeza. Kurone sorriu discretamente e ambos seguiram para o segundo andar.

***

A viagem à praia de Edogawa demorou menos de trinta minutos. 

Dentro da van, Raika era a única com uma expressão hostil direcionada ao homem no volante. Apesar de ter muitos empregados, o senhor Nakano resolveu dirigir naquele dia.

Rin e Eriko estavam ocupadas tomando sorvete enquanto Kurone passava seu tempo conversando com Lou Xhien, ver eles tão perto e íntimos fez Raika ter uma ponta de ciúmes por alguém ter tomado o seu irmão.

Assim que passaram por uma floresta de árvores verdes e frondosas, chegaram à praia, não estava muito movimentada apesar de ser um sábado. 

Quando desceram, Kurone ajudou o pai a pegar algumas cestas com lanches enquanto as meninas foram se trocar no banheiro mais próximo.

O sol da manhã obrigou Lou Xhien a colocar uma camisa de mangas longas para não queimar sua pele delicada, ela ficou receosa em usar o protetor solar, era uma “tecnologia” muito avançada para quem vivia em um mundo ao estilo da era medieval chinesa.

Nos primeiros dias, ela ficou maravilhada com todas a coisas que existiam na casa de Kurone, principalmente a TV e o smartphone, tudo naquele mundo era realmente diferente do que existia em Niflheim, as praias também eram diferentes.

O cheiro de comida boa, vindo de algumas barracas, pairava pelo ar e alguns jovens corriam de um lado para o outro, mas o foco da maioria era no mar logo à frente, onde os banhistas se divertiam de várias maneiras diferentes.

Lou Xhien suspirou por um momento, aquela vista lhe lembrou das ilhas Lou Xhien, um lugar ao qual ela jamais retornaria. Sua única lembrança de lá agora era a espada dada pelo pai, Lou Xhien Xhian, deixada na casa de Kurone.

— Ei, Lou Xhien! Vamos nadar um pouco! — gritou Eriko, por ser a irmã mais nova, ela tinha muita energia e adorava brincar com Lou Xhien.

Assim que saiu do banheiro, Rin correu para uma barraca próxima para comprar comida. Raika pegou um livro e decidiu ler com calma na sombra de um guarda-sol, ao lado da senhora Nakano.

— Ela costumava ser como você quando era mais pequena — Kurone comentou, fazendo menção à irmã mais nova correndo para a água com uma boia na cintura.

— Como eu?

— Sim, era muito tsundere.

— Eu não sei o que você quis dizer, mas não parece ser algo bom.

Lou Xhien ficou irritada ao ver o jovem rindo discretamente. 

Ela conseguia se comunicar devido a uma magia de tradução, por isso algumas palavras “intraduzíveis” chamavam sua atenção. A garota começou a estudar japonês, mas ainda não estava nem no N5, porém queria aprender tudo para não ficar dependente da magia.

— Dizem que tem um local muito bonito por aqui para realizar casamentos — Kurone falou de repente. — Quer dar uma olhada nele antes de irmos embora?

O rosto da menina corou ao escutar sobre o casamento com o jovem. Ela demorou alguns minutos para assentir. Casar-se com Kurone era algo que almeja desde que saiu das ilhas Lou Xhien e deixou o trono para a sua irmã, Lou Souen Eiai.

— Kurone! — o senhor Nakano gritou. 

Ah, nosso passeio vai ficar para mais tarde, acho que ele quer conversar algo sério comigo. Você fica de olho na Eriko enquanto eu bato um papo com ele? Se a gente der sorte, eu posso até convencer o coroa a financiar todo o nosso casamento, é o mínimo que esse desgraçado pode fazer.

— Cer-certo! Apenas… pegue leve.

Kurone levantou-se e acompanhou o pai que se dirigia a uma barraca de lanches. Assim como a praia pacata, o interior do local não estava muito movimentado, permitindo que os dois tivessem muita escolha na mesa que sentariam.

— Desculpe por separar você da Lou Xhien, sei que trouxe vocês aqui para se divertirem, mas queria falar algo com você — disse o senhor Nakano.

— Não parece ser coisa boa.

— Eu garanto que é sim. Sei que você não confia em mim por tudo o que aconteceu, mas depois que eu recebi a notícia da sua morte, muitos pensamentos vieram à minha cabeça e eu andei repensando sobre os meus atos…

— E aí você decidiu que vai parar de ser um criminoso para se dedicar à família que você ignorou por tantos anos? Ao filho que você transformou em um monstro e à mulher de saúde frágil que largou tudo para virar sua prisioneira? Começou a ver eles como algo além de efeitos colaterais de suas aventuras? Tá, conta outra que essa não cola.

— Eu reconheço que você não está certo… filho. Não é isso tudo, e mesmo se quisesse, eu não conseguiria mais sair do crime, mas eu quero de verdade que você e Lou Xhien Li sejam felizes. Com certeza você será um pai mil vezes melhor que eu, afinal é você que vinha cuidando das meninas por todo esse tempo.

— Onde você quer chegar exatamente?

— Não vou me desculpar, pois isso não altera todo o mal que fiz a vocês. Mas quero te dar um algo, considere isso como um presente de casamento ou pelos vinte e dois anos que te negligenciei, sei lá, apenas aceite ele. 

— E o que seria? Um bastão pra eu espancar outro médico ou tio? Talvez um revólver para matar um ministro? — Kurone falou com desdém, fazia muito tempo que ele não lembrava do que fizera ao pai de Luna, sua prima que reencarnou como Amélia.

O senhor Nakano apenas baixou a cabeça e respondeu:

— É uma empresa. — O homem sorriu ao ver a surpresa no rosto do filho. — Ela é uma empresa totalmente legal, foi um dos meus primeiros investimentos, muito antes de eu me envolver com o crime. Se você souber administrá-la, nunca mais vai precisar trabalhar em outra coisa. Você poderá sustentar sua família, e seus filhos, netos e tataranetos viverão bem para sempre. O que acha?

Kurone lançou um olhar sério para o pai, era normal que ele suspeitasse, afinal já foi enganado muitas vezes por aquele homem, mas ele lembrou-se de Lou Xhien e em como ela deu um voto de confiança ao senhor Nakano.

Quando esteve no outro mundo, julgou muitas pessoas errado por se basear apenas na aparência e nas ações que eles faziam em público, mas descobriu que nem todos eram boas pessoas, da mesma forma que havia pessoas aparentemente maus que eram boas.

O jovem suspirou antes de falar:

— Muito bem, eu vou aceitar o seu presente, pai — ele falou em um sorriso.

— Obrigado, filho. Desejo que você tenha muito sucesso e que nunca se torne um desgraçado como eu.

— Eu também espero isso.

***

— E aí, o que seu pai disse? — perguntou Lou Xhien um pouco curiosa ao jovem que acabava de chegar com dois cocos verdes com canudos.

— Nada de mais. Quer nadar?

— Si-sim… está tudo bem mesmo?

— Sim, por que pergunta?

— É que você está com uma expressão mais alegre, notei que seu pai também estava feliz…

— É que acho que nós finalmente resolvemos um assunto inacabado do passado, mas não é hora de perder tempo, vamos nadar!... Ah! Lou Xhien!

Lou Xhien parou e olhou de repente para o garoto que a chamou.

— Meu pai disse que consegue marcar nosso casamente para o próximo mês!

Ehhh?! Q-que notícia boa!



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