Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 180.1: (IF) Rota da Princesa [1/3]

“O bater das asas de uma borboleta, num extremo do globo terrestre, pode provocar uma tormenta no outro extremo no espaço de tempo de semanas.” ~~ Edward Lorenz.

Não existia nada mais instável que o tempo. 

Poderia a paz temporária ser apenas o prelúdio de um caos iminente? Ou esta paz foi gerada devido a um simples bater de asas de uma borboleta?

Os cenários possíveis para o seguinte minuto são infinitos, apesar de ser um espaço de tempo tão curto. A humanidade teme o caos, por isso tentar prevê-lo. 

Mas e se o futuro, seja o próximo segundo ou cem anos, não for apenas um cenário já predefinido que acontece segundo os parâmetros do presente? Isto seria o que as pessoas chamavam de destino? Um mundo pré-definido?

Mesmo o destino sendo algo pré-definido, ele poderia ser mutável, afinal os cenários disponíveis para o segundo seguinte são tão vastos quanto aqueles para mil anos, qualquer pessoa poderia alterar o futuro com apenas um piscar de olhos.

E, por mais que fosse evitado em uma linha temporal, um cenário pré-definido poderia estar ligado ao outro, sendo assim, o resultado do presente de uma linha temporal não seria o mesmo de outro, gerando uma linha paralela, com um mundo totalmente diferente do seu vizinho mais próximo.

E isso as pessoas chamavam de universos paralelos.

A linha temporal de Kurone Nakano poderia ser alterada com um simples piscar de olhos? 

***

Ahhhhh! — a menina acordou com um grito. 

Seus olhos esverdeados estavam arregalados e algumas gotículas de água desciam por suas extremidades.  

Ao tocar a mão fina no peito, a qual estava adornada por um anel dourado, ela sentiu o seu coração palpitando em uma velocidade violenta, o suor também escorria da sua testa e a respiração estava pesada.

— Qual foi o problema, Lou Xhien? Teve um pesadelo? — perguntou a outra menina acordando de repente.

Lou Xhien balançou a cabeça dizendo que não, mas a menina esfregando os olhos achou estranho como ela segurava o pescoço com força, como se tivesse medo dele descolar.

— O que foram esses gritos?! Tem alguém tentando assaltar a casa?! — gritou um jovem adentrando o quarto de repente, assim como as meninas ali dentro, ele estava apenas de pijama.

Kyaaa!! Irmão, não seja pervertido! — gritou outra garota, levantando-se do seu futon estirado logo ao lado da cama e jogando um travesseiro no garoto na porta.

O jovem, Kurone Nakano, colocou a mão no rosto para se proteger do travesseiro arremessado e correu para fora do quarto, batendo a porta com força ao sair.

— Mas o que foi o grito? A Rin tentou fazer coisas assanhadas com você? — perguntou a garota levantando do futon, os cabelos negros dela estavam totalmente despenteados e seus olhos eram cobertos por uma venda para dormir com desenhos de gatinhos.

— Eu não tentei fazer nada! — gritou Rin, apontando o dedo para a irmã mais velha, Raika.

— Do que vocês estão falando… Ahhhh! — perguntou a mais nova espreguiçando-se. Aquela menina, Eriko, tinha uma habilidade incomum de dormir em um futon e acordar com os cabelos ainda arrumados.

— Nada, não, Erikozinha, é só a Raika falando de coisas desnecessárias. Ah! E a Lou Xhien teve um pesadelo, não foi?!

— Si-sim, mas já estou melhor — respondeu Lou Xhien ao levantar da cama e seguir em direção à porta do quarto. Apesar de falar que estava tudo bem, seu rosto tinha uma expressão de preocupação.

Lou Xhien Li, após chegar ao Japão acompanhada de Kurone Nakano, começou a dormir no quarto das irmãs do jovem. Fazia quase duas semanas que ela estava ali e já estava bem adaptada ao local, apesar de quase não ter contato com o exterior.

Após Kurone matar o Arquiduque Asmodeus di Laplace, ambos saíram das ilhas Lou Xhien e seguiram para Dart, onde o jovem conseguiu oficialmente o seu título como membro do Conselho do Inferno. 

Ter o título deu muitas oportunidades e, após quase dois anos vagando pelos reinos de Niflheim, eles conseguiram uma maneira de retornar ao Japão. 

As irmãs de Kurone ficaram em choque ao ver o jovem que devia estar morto chegando acompanhado de uma garota estranha em casa, demorou muito para elas aceitarem que aquilo era a realidade.

Naquele mundo, apesar de fraca, a mana existia e tanto ela quanto o jovem ainda podiam usar algumas de suas habilidades, mas decidiram não usar muito para não se lembrar de tudo que aconteceu no outro mundo.

Lou Xhien ainda ficava triste ao saber que obrigou Lou Souen a assassinar Lothus, a irmã do Arquiduque, mas ela não teve culpa, se não fizesse isso, Lothus mataria a Lou Xhien.

Aquela com certeza foi uma batalha intensa em que quase todos perderam a vida, mas, por sorte, Lao Shi conseguiu usar um feitiço para selar a Duquesa Mamon von Faucher, ele lutou bravamente contra a demônia enquanto Kurone enfrentava o Arquiduque.

Com certeza sem a força de Lao Shi eles teriam perdido para a Duquesa, pois toda vez que ela conseguia fugir de um selo do Arquifeiticeiro, era presa em outro mais forte.

— Tá tudo bem contigo, Lou Li? — perguntou o garoto encostado na parede do quarto.

— Sim… eu só tive um pesadelo e acordei um pouco assustada.

— Sério? Dizem que falar sobre o pesadelo pode ajudar, por que você não me conta sobre ele?

— Te certeza? Você pode ficar um pouco incomodado…

— Quantas coisas nós não passamos juntos? Você pode sempre contar comigo.

— Tu-tudo bem… era um sonho sobre a sua luta contra o Arquiduque Asmodeus, eu sonhei que, quando nós finalmente estávamos terminando a batalha… — ela apertou os punhos antes de continuar — a Duquesa Mamon cortou minha cabeça e eu morri.

— Caraca! Foi um sonho tenso mesmo. Mas você não precisa se preocupar, foi apenas um sonho, nós conseguimos vencer aquelas monstruosidades e estamos bem — disse o jovem aproximando-se da menina.  

Eles ficaram próximos e fizeram menção de se abraçarem, no entanto…

— Mãe! O maninho tá namorando a Lou Xhien no corredor de novo! — gritou Rin, com um sorriso travesso no rosto.

— Sua dedo duro!

Rin apenas colocou o dedo no olho e mostrou a língua para o irmão, um dos seus passatempos favoritos nos últimos dias era provocar o casal.

Após quase dois anos andando por Niflheim, Lou Xhien tornou-se uma linda jovem de quase dezenove anos, enquanto Kurone estava em seus vinte e dois. 

Eles eram teoricamente um casal, mas o jovem não ousou fazer qualquer coisa com ela, pois ele sugeriu que eles se casassem no Japão, e só aí teriam a sua lua de mel.

Kurone era considerado alguém morto, afinal seu corpo estava realmente enterrado em um cemitério da cidade, mas conseguir mudar seu status para “vivo” e conseguir documentos para Lou Souen era fácil quando se tinha um pai que manipulava muitas pessoas influentes.

Nos documentos de Lou Xhien, constavam que ela era uma cidadã chinesa que se mudou para o Japão recentemente, isso foi bem conveniente, pois ela não precisou alterar o próprio nome, a única mudança na menina foi que ela tingiu o cabelo de preto para não chamar a atenção.

As vizinhas fofoqueiras ficaram horrorizadas quando souberam que o demônio dos Nakano “voltou do inferno”, mas logo foram convencidas que a morte de Kurone foi um engano e que ele tinha ido passar um tempo na China, e lá conheceu Lou Xhien.

— Eu acho que você tá muito assustada, então vou te levar para um local divertido depois do nosso café da manhã — falou o jovem descendo as escadas para o segundo andar.

A casa dos Nakano era média, com três quartos, um para a senhora Nakano, um para Kurone e outro para as irmãs do jovem, apesar de que elas saíam às vezes no meio da noite para dormir no quarto do irmão.

Ao chegarem à cozinha da sala, avistaram a senhora Nakano, ela era uma mulher bonita, apesar da pele pálida por conta da saúde frágil. A mulher recebeu Lou Xhien com um sorriso gentil no rosto, a menina ficou realmente impressionada como a mãe de Kurone recebeu-a sem reclamar.

— Por favor, não fiquem demonstrando tanto afeto na frente das meninas, elas ainda são muito novas para ver isso. Eu não gostaria de vê-las trazendo um namorado para casa por enquanto — comentou a senhora Nakano, fazendo o rosto dos dois jovens tomando um lugar na mesa ficarem corados.

— Se for por mim, elas não terão namorados tão cedo! — gritou Kurone.

— Você quer ter um harém de irmãzinhas por acaso? Hmm… eu não acharia ruim… — brincou Raika, a menina descia as escadas quando escutou o comentário do irmão.

— Você ficou muito assanhada enquanto eu tava fora!

Apesar de todo aquele tempo, Kurone Nakano continuava sendo Kurone Nakano.

Em minutos, as outras duas meninas se juntaram à mesa e iniciaram o café da manhã, aquele deveria ser um momento tranquilo que Kurone tanto apreciava, pois lhe lembrava dos “jantares em família” que teve na ilha Lou Souen com os orcs e todos os outros, mas o som da companhia interrompeu seu sorriso de felicidade.

— Eu atendo — disse o jovem indo em direção à porta. 

Lou Xhien olhou para a porta com curiosidade e, assim que foi aberta, ela avistou a figura de um homem em terno preto e com o rosto oculto de um chapéu de mesma cor, deixando apenas seu queixo com um cavanhaque à mostra.

— Ah, é você, pai — suspirou Kurone sem entusiasmo.

Aquele era o senhor Nakano, o pai de Kurone que os ajudou a conseguir documentos falsos.



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