Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 180: Despedindo-se Das Ilhas

Todo o cenário ainda estava bagunçado, até mesmo o templo principal estava repleto de poeira, afinal ninguém teve tempo de limpar nada após a batalha.

Kurone viu logo ao amanhecer uma grande embarcação de madeira — vários homens e mulheres acenaram ao avistarem a figura de Lao Shi na praia da ilha Lou Souen.

As pessoas em cima do barco usavam roupas vermelhas com ornamentos pretos, eram como quimonos de guerreiros chineses. 

Havia tantos soldados, mas nenhum pôde ajudar na batalha contra o Arquiduque, saber daquilo deixou o jovem um pouco incomodado.

Em poucos minutos, o navio de madeira ancorou na encosta da ilha e vários dos homens e mulheres desceram para olhar o lugar, como se estivessem em uma excursão escolar, o sorriso no rosto deles indicavam que não faziam ideia de tudo o que aconteceu ali.

Um homem vestido como os outros, mas com ombreiras de ouro e uma cicatriz atravessando o rosto, foi em direção ao Arquifeiticeiro e o jovem de cabelos negros com mechas brancas. Ele sorriu e falou em um tom meio rouco:

— Lao! Você andou se metendo em confusão de novo, meu caro!?

Kurone franziu o cenho ao escutar “meu caro”. Todos falavam assim no Continente Oriental?

— Chefe da guarda Huang, você devia ter tomado coragem e pulado os paredões de pedra para nos ajudar, meu caro — respondeu Lao Shi.

“Você também devia ter coragem, desgraçado.”

Após a explosão do Orbe Amarelo, o muro emergindo do mar afundou de vez, o que provocou um grande tremor por todo o continente, pois já estava de um tamanho que seria difícil até mesmo escalar.

Oh, onde estão meus modos, perdoe-me. Meu nome é Yong Huang, é um prazer, garoto — apresentou-se o homem a Kurone, ao que ele replicou:

— Sou Loright, Loright al Mare.

Heh?! Um jovem mestre da casa al Mare?! Então não é de se impressionar que tenha matado o Arquiduque Asmodeus, já estava suspeitando quando recebi a mensagem dizendo que um zé-ninguém matou o demônio, mas o Lao gosta de fazer um mistério, ele podia ter dito o nome logo — comentou Huang.

Kurone evitava fazer contato visual com o Arquifeiticeiro, mas abriu uma exceção dessa vez apenas para mostrar uma expressão de impaciência. 

Yong Huang falava demais.

 — Eu vou lá avisar às meninas que já é hora de da gente ir, e também me despedir da Lou Souen.

— Vá, meu caro, eu vou tomar uma xícara de Camélia com o chefe Huang por enquanto.

— Camélia?! Não tem álcool por aqui? — perguntou Yong Huang em um tom de desapontamento.

Kurone rapidamente subiu a encosta da ilha e seguiu para o templo de meditação, na parte superior. 

Ele atravessou em instantes a pequena vila formada pelos templos que serviam de dormitório, passou pelo laguinho e subiu as escadarias.

No caminho até o templo de meditação, várias garotas artificiais com vassouras e pás fizeram reverência ao garoto. 

Apesar de muitas das sacerdotisas terem morrido afogadas, um bom número sobreviveu e, naquele momento, limpavam a ilha.

Na parte superior da ilha ainda havia mais garotas artificiais, porém a raça dominante ali era a de orcs. 

Muitos deles não concordaram com a ideia, mas Kurone decidiu que metade ficaria ali para dar suporte a Lou Souen e a outra metade iria com Lao Shi para as terras de Sophiette, ajudar na guerra contra Azazel van Elsie.

Darling, já é hora de irmos? — questionou Inari ao ver o jovem com roupas aos trapos. A deusa, próxima à sua Besta Divina, estava com a aparência de Rory para não chamar a atenção das pessoas da capital. 

Ser chamado de “darling” por ela naquela forma era um pouco incômodo.

— Si-sim, a galera da capital já chegou… Acho que vai dar pra levar todo mundo no barco.

— Chefe, ainda não concordo com isso — reclamou Bhor, ele e Bramman estavam entre os que ficariam na ilha para ajudar Lou Souen, apesar de ter muitos outros orcs, o jovem tinha mais confiança nas suas cinco primeiras convocações.

— Não se preocupe, mano, quando eu voltar, você pode vir comigo.

Relutantemente, Bhor decidiu não reclamar mais. 

Para ajudar Lao Shi nas terras de Sophiette, foram designados Baltazhar e o novo orc com um topete estranho, com certeza eles seriam muito úteis nas batalhas, também havia outros monstros que ajudaram na batalha quando o mar foi aberto, mas estes serviriam apenas de suporte. 

E quanto a Berthran e Ayshla…

— Estamos prontos, mestre — falou a orc fêmea, ao lado dela estava o monstro de tapa-olho. 

Ambos iriam ajudar Kurone em sua jornada, muitas das outras criaturas também queriam ir, mas um grupo maior só atrasaria, e o garoto tinha certeza que apenas eles eram o suficiente.

— Não esqueçam de garantir a segurança de Lou Souen enquanto eu tiver fora, tô contando com vocês! — gritou Kurone e todos os orcs fizeram reverência em seguida.

— Estamos prontas! — falou Lothus.

Kurone estreitou os olhos ao ver Hime, ela disse que iria para Dart, a cidade-fronteira entre o Continente Oriental e o Ocidental, na frente, pois Lothus não concordou com a ideia de levá-la para a floresta de Hyze. 

O jovem não sabia qual eram os objetivos daquela mulher, mas enquanto ela estivesse do lado deles, não teria problema.

— Então chegou a hora, Kurone — falou Lou Souen com uma voz triste, os olhos dela revelavam que seu verdadeiro desejo era que o garoto ficasse naquela ilha, ao seu lado, mas ele tinha muitas coisas a fazer. — Não esqueça da nossa promessa, viu?

— Não esqueça da sua também — ele respondeu passando a mão sobre o anel adornando seu dedo anelar esquerdo. — Quero ouvir boas notícias sobre as ilhas Lou Xhien por aí, princesa Lou Xhien Eiai.

— Conte com isso, Arquiduque do Inferno Loright al Mare. 

Após as últimas palavras, ambos fizeram uma reverência baixando a cabeça, escondendo um riso discreto, e seguiram em direção ao navio ancorado na encosta da ilha. 

Ao verem a grande multidão de orcs, os jovens guardas brincando na areia da praia da ilha tomaram suas posições de batalha, mas relaxarem ao verem humanos ao lado dos monstros.

Enquanto caminhava para o barco, Kurone apreciou todo o cenário uma última vez. Certamente o mais memorável ali eram as árvores de flores rosas que se mantinham frondosas por todo o ano, elas eram o símbolo da imortalidade.

Dali, o jovem também podia ver um mar de arbustos, atrás deles estavam os portais para as masmorras de níveis baixos, ele também sentiria saudade de se aventurar dentro delas para o seu treinamento.

Era fato que, de todos os locais que esteve desde que chegou a Niflheim, as ilhas das garotas artificiais foram onde ele mais evoluiu, tanto física quanto psicologicamente. 

Uma prova do seu amadurecimento era o fato de conseguir manter sua sanidade em meio ao sofrimento por ter perdido Lou Xhien Li.

Sua vida era feita de aprendizado. 

Ele sentiu pequenas lágrimas escorrendo do rosto ao encarar uma última vez aqueles que ficariam na ilha, se a situação fosse outra, Lou Xhien Li poderia estar ao seu lado naquele momento, segurando sua mão e feliz por ter a oportunidade de conhecer o mundo.

A garotinha dissera que queria conhecer o Japão.

Kurone passou a mão no rosto ao notar que os jovens guardas o encaravam com uma expressão confusa. 

A hora da despedida era sempre a mais triste, mas o fim de um ato sinalizava apenas o começou de outro. Ele cerrou os punhos quando pensou nisso.

Ainda havia muito o que fazer, pois sua lista de objetivos só aumentou ali.

Ele despediu-se de todos aqueles que acenavam da praia. 

— Vá com cuidado! — falou Lou Souen.

— … Tsc… Pode deixar! 

“O irmãozão aqui sabe se cuidar!”, foi isso a última coisa que ele dissera às suas irmãs antes de sair de casa naquele dia fatídico, ser atropelado e mandado para aquele mundo. 

De fato, a despedida era mais triste quando se tinha ciência de que poderia nunca mais retornar àquele lugar.

***

“Querida mamãe, Rin, Eriko, Raika, Teruhashi… e Rory, pergunto-me se vocês estão me observando, se estão torcendo por mim…”

“Se há algo que aprendi neste mundo, é que as coisas nem sempre e acontecem da maneira que queremos, mas o importante é não desistir e seguir em frente. Se algo realmente não acontece segundo nossa vontade naquele momento, então só precisamos ficar mais fortes para fazer aquilo acontecer, por isso…”

“Por isso talvez eu possa me redimir. Neste mundo a magia não tem limites, e, nem que se passe mil anos, eu vou encontrar uma maneira de me reunir com vocês. Imagino como seria cômico uma conversa da Raika com a Rory.”

“O fato é que, ao ver as maravilhas proporcionadas pela mana, eu me decidi que ainda conseguirei reunir minha família, seja na Terra, em Niflheim ou em um mundo que talvez eu tenha que criar com as minhas próprias mãos — e, se eu fizer isso, este será um mundo em que Kurone Nakano cumprirá todas as suas promessas e não deixará ninguém morrer!”

[Só não esqueça que eu também faço parte da sua família, certo?]

— Sim, Nie, você é minha esposa-irmã-conselheira-melhor-amiga que eu não tenho nenhuma má intenção ou desejo esquisito! — gritei sem perceber que todos os jovens guardas da capital olhavam para mim. 

Falar sozinho daquela maneira não era uma boa ideia.

[Vo-você também… é me-meu marido-irmão-conselheiro-melhor-amigo, Kurone… E não importa onde você for, eu vou estar sempre com você!]

“Eu sei.”

[S-só queria deixar isso claro!]

Suspirei lentamente com o último comentário reconfortante da Nie. 

Meu estômago estava meio embrulhado, não por conta do mar, pois eu sabia que minha jornada ainda estava apenas no início. 

— Fiquem só olhando do céu, Rory, Frederika e Lou Xhien, eu ainda vou derrotar esse maldito Vassalo da Morte antes dele devorar minha alma e realizar os sonhos de vocês… — murmurei olhando uma última vez para as ilhas das garotas artificiais, desvanecendo conforme me afastava.

***

 

Fim do Volume 03, “Ilhas Das Garotas Artificiais”.

Próximo Volume: Volume 4, “Inverno de Hyze”.



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