Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 180.3: (IF) Rota da Princesa [3/3]

— Você está nervoso com o casamento, irmão? — perguntou Raika.

A menina trajava um vestido branco e o seu cabelo negro matinha-se preso em um rabo de cavalo, ela estava linda como uma princesa. O olhar preocupado da garota estava fixo no irmão.

Kurone vestia um terno negro. As mechas brancas adquiridas enquanto estava em Niflheim, por meio do pacto com a deusa Annie, destacavam-se em seu semblante. O jovem respirava com dificuldade devido à ansiedade.

— S-só um pouco — ele respondeu ofegante enquanto ficava de pé. Aquele nem parecia ser o homem que outrora tivera o título de Arquiduque do Inferno.

Em breve seria o seu casamento com Lou Xhien, mas apesar de tudo que enfrentou tanto naquele quanto no outro mundo, jamais sentiu uma ansiedade tão forte como aquela. Suas mãos suavam e o coração palpitava em ritmo desordenado.

— Acho que é melhor você dar uma volta para se acalmar, se você chegar lá assim, vão pensar que é um maluco querendo invadir o casamento — sugeriu Raika, com uma provocação.

— Você tem razão, pode ligar para mim quado o nosso pai chegar com o carro?

— Sim. Quando seu pai chegar eu ligo.

Ahhh… você chama a minha mãe de “mãe”, mesmo não tendo relação sanguínea com ela, mas não consegue chamar o homem de terno de “pai”… você não mudou em nada. — Ele passou a mão na cabeça da menina e dirigiu-se à porta. Antes de sair, disse: — Mas aconselho que você dê uma última chance a ele, vai ver que o senhor Nakano tá diferente.

Rapidamente, o jovem deixou a casa e seguiu por uma rua pouco movimentada, tão pacata que seu terno caro chamava a atenção dos transeuntes. 

Tudo aquilo era bom demais para ser verdade.

Ele estava aflito e, ao mesmo tempo, alegre, o misto de emoções fazia todo o seu corpo tremer. 

Talvez fosse o sentimento de realização. 

Ele quase desistiu de procurar uma maneira de voltar para casa, lutou muito e teve vezes que quase morreu, mas finalmente rumava para o seu final feliz. Annie, Inari, Lou Souen e até mesmo Hime estavam felizes em Niflheim, Kurone cuidou para que elas tivessem o necessário para viver bem de sua própria maneira, então só restava ele e Lou Xhien para chegarem ao felizes para sempre.

O jovem tinha ciência que só conseguiu se manter firme por todo aquele tempo devido a Lou Xhien, ela sempre segurava a sua mão nos momentos mais difíceis.

Após Annie recuperar o seu Seol, ela retornou ao Plano Celestial para resolver assuntos pendentes. Kurone quase pensou que ficaria desamparado sem a mulher que o salvou de sucumbir à insanidade, mas Lou Xhien Li segurou a sua mão e disse que tudo ficaria bem.

O jovem imerso em pensamentos nostálgicos viu um beco familiar e entrou por ele, o movimento ali era quase inexistente, porém não teve medo e atravessou o local, saindo em um parque abandonado no outro lado.

Aquele parque fora muito popular antes, Kurone brincara lá uma vez com Teruhashi, sua irmã mais velha falecida, mas naquele momento, aquele não passava de um local esquecido por todos.

Os brinquedos eram poucos, havia apenas dois balanços velhos, um escorregador sujo e duas gangorras enferrujadas. 

Ele sentou-se em um dos balanços e respirou devagar por alguns momentos.

Não pensava tanto desde que conseguiu livrar-se da sua “Síndrome do Pensamento Acelerado”, após o pacto com Annie no Hangar dos Mortos.

— Ku-Kurone? É você mesmo?! — uma voz feminina passando pelo parque o chamou.

Olhando em direção à origem da voz, Kurone arregalou os olhos em surpresa ao avistar uma jovem de cabelos negros. 

Ela estava na faixa de seus vinte e sete anos e vestia roupas negras sobrepostas por um jaleco branco.

— Senhorita Kanade?!

Aquela jovem era Kanade Toshiro, a ex-psicóloga de Kurone. 

Provavelmente foi um choque para ela ver alguém declarado morto ali, em um local quase deserto e sentado em um brinquedo infantil. Era uma cena perfeita de filmes de terror. 

Mas Kanade era mais racional que tudo.

Kurone pensou em contatá-la quando voltou ao Japão, mas a correria do dia a dia não o permitiu, porém ele pediu para que seu pai convidasse a psicóloga para o seu casamento.

— Eu achei que era uma piada de mau gosto quando vi o bosta do senhor Nakano chegando na minha casa e me convidando para o casamento do filho dele… mas parece que muita coisa aconteceu com você, não?

Rapidamente, a psicóloga recuperou-se do choque e ficou mais próxima do jovem, sentando no balanço ao lado dele. Ela carregava duas sacolas nas mãos, e pelo local que ela vinha, Kurone podia supor que a garota voltava das compras.

— Você não mudou, não foi? — comentou Kurone com um sorriso, seu peito ficou quente por ter encontrado sua velha amiga. — Ainda lembro de como você me fazia comprar seus cigarros nesses mercados mais baratos, cheios de coisas fora do prazo de validade.

— Infelizmente, não, eu sou daquelas cabeças duras que mantém a mesma ideologia até a morte… mas você amadureceu, hein. Pintou as pontas do cabelo e não tá mais olhando pras minhas coxas enquanto conversamos, parece até um homem de verdade.

— Ou talvez eu só tenha aprendido a encarar as coxas sem levantar suspeitas.

Ambos trocaram sorrisos discretos após a última piada de Kurone. 

O relacionamento deles continuava igual, mesmo após tanto tempo, a psicóloga sempre falava o que queria e o paciente fazia piada com isso.

— E aí, qual das suas irmãs é sua esposa? Eu jurava que a Raika era a melhor candidata… 

— Desculpe te decepcionar, mas nada de final incesto. Eu encontrei uma maluca para se casar comigo.

Tsc, sem graça… Toma, — Kanade levantou uma das mãos de repente, mostrando uma das sacolas para o jovem — é o meu presente de aniversário de casamento para você, Kurone.

— Isso não são suas compras? Você é muito fodida, sabia?

— Eu te falei, não foi? Achei que o tal casamento era uma brincadeira do bandido lá, então nem tava cogitando participar, tô até trabalhando no consultório hoje, mas quero te dar pelo menos uma lembrança, mesmo que seja um negócio improvisado.

— Obrigado?

— Agradece se quiser, mas provavelmente só tem absorvente, cigarro e alvejante aí.

— Você é uma fodida mesmo!

A psicóloga levantou de um dos balanços e começou a andar em direção à saída do parque em silêncio, mas virou-se e falou:

— É uma pena, achei que a gente podia ter se casado, mas parece que alguém passou na minha frente… Quem sabe em outra linha temporal isso não aconteceu, né? Bem, não tô lamentando pelo que aconteceu, é que você era o menos pior dessa cidade… espero que você faça sua noiva feliz, Kurone Nakano, meu ex-paciente favorito.

— Eu… — o jovem ficou de pé também, sabendo o que aquele tom dela significava — também espero que você encontre alguém legal, Kanade Toshiro, minha ex-psicóloga favorita.

— Cafajeste, então você tinha outra psicóloga?

Ambos se encaram uma última vez, trocaram risos e seguiram caminhos diferentes. 

O primeiro amor de Kurone se encerrou de maneira digna pelo menos, apesar de ele não ter conseguido se declarar para ela. Aquele olhar de despedida foi o suficiente.

O jovem apressou o passo, pois, quando estava no beco, sentiu o celular vibrando em seu bolso. Era o sinal de Raika para avisar que o senhor Nakano chegou com o carro.

Ao chegar em seu bairro, ele suspirou lentamente ao ver a van estacionada em frente à sua casa. 

A hora estava próxima, não sentiu tanto pavor assim nem quando esteve prestes a morrer na batalha contra o Necromante de Cascos Fendidos, na masmorra de nível baixo da ilha Lou Souen.

“Tá na hora de chegar no clímax da história, então… Espero que você esteja vendo, Nie. Eu prometi a você que conseguiria, não foi?”

Suas memórias sobre Rory foram completamente seladas.

***

“As empresas Nakano tiveram um lucro de 12,5% no último ano, o chefe do negócio, Kurone Nakano, esteve no Canadá nos últimos dias para uma reunião com…”

Lou Xhien desligou a TV com um sorriso no rosto. 

Em breve, seu marido estaria de volta em casa. Passaram-se vinte anos desde quando se conheceram, aquela menina emocionalmente instável tornou-se uma mulher bonita.

Os cabelos dela estavam longos e ainda tingidos de preto, seu corpo desenvolveu-se bem, assim como seu psicológico.

— Kusuri, o seu pai vai estar de volta em breve! — ela gritou em direção ao quarto.

— O papai!?

Rapidamente, a porta do quarto foi aberta e um garotinho saltou de lá. Assim como o pai, o cabelo dele era negro com mechas brancas, no entanto Kusuri Nakano herdou os olhos verdes e brilhantes de Lou Xhien.

— Kusuri, não corra assim! — gritou uma jovem saindo do quarto do menino. 

Eriko gostava de brincar com o sobrinho, sempre estava na casa de Lou Xhien e era vista com o rosto sujo de tinta, e assim como o menino quando aprontava, ela também era repreendida.

Mesmo depois de tanto tempo, Eriko Nakano ainda era uma criança por dentro.

— Vocês dois sempre se dão tão bem, mas gostaria que não fizessem tanta bagunça — repreendeu Lou Xhien, apontando para o interior do quarto com a porta aberta. Havia mangás, roupas, brinquedos e jogos de tabuleiro espalhados por todo o local.

— Você não deixa eu queimar a bagunça, mãe! — protestou Kusuri, materializando chamas em suas mãos.

Aquilo era algo que incomodava os pais dele. 

Kurone e Lou Xhien tinham a esperança de que seu filho não herdasse nenhum dos seus poderes, mas ele nasceu logo com o Tipo Elemental Fogo, e o pior era que ele tinha um armazenamento de mana infinito, como o pai.

A atenção de todos foi direcionada à porta após um toque da campainha, um sorriso formou-se no rosto deles, pois sabiam quem era.

Kusuri correu rapidamente e abriu a porta, abraçando o homem que apareceu em seguida. O homem, Kurone Nakano, soltou a mala carregada em mãos e pegou o menino nos braços.

— Senti muita falta sua, papai!

— Eu também, mas acho que agora só vou precisar viajar de novo no próximo ano — respondeu Kurone.

A voz daquele homem ficou mais firme conforme o passar do tempo, seu cabelo era sempre cortado por Lou Xhien e, naquele momento, ele usava um terno.

— Bem-vindo de volta, querido — falou Lou Xhien, mas ela voltou um olhar de suspeita ao marido.

— Puxa, você demorou dessa vez, irmão — murmurou Eriko.

— Eu sei, eu sei, tive muita coisa pra fazer no Canadá, mas agora tá tudo resolvido e…

— Querido, eu ouvi falar que você saiu ontem, como você chegou tão rápido?…. — Lou Xhien cerrou os olhos e Kurone tremeu — Kurone… você usou magia! 

— Foi só um pouquinho, ninguém nem notou nada.

— Você está dando mau exemplo ao seu filho.

— Magia! — gritou Kusuri, fazendo malabarismo com pequenas bolas de fogo.

— Viu só? Na próxima vez que ele queimar o jardim da escola, eu vou mandar você explicar aos professores sobre o fluxo de mana e tudo mais que você ensinou ao Kusuri!...

Kurone, segurando o filho nos braços, aproximou-se da Lou Xhien irritada e um beijo na testa dela, aquilo foi o suficiente para acalmá-la.

— Eu trouxe peixe do Canadá! — ele gritou seguindo para a cozinha.

— Eu amo peixe! — disse Raika.

— Eca, peixe… — comentou Kusuri.

Lou Xhien apenas encarou os três seguindo para a cozinha. 

Seu peito encheu-se de calor quando Kurone tocou seus lábios em sua testa, como nos velhos tempos. Ela vivia dias felizes, e acabava sempre irritada quando o seu marido ficava fora por muito tempo, mas no fundo era apenas o egoísmo da jovem princesa das garotas artificiais que continuou com o tempo.

Ela correu rapidamente para a porta e abriu-a ao escutar a campainha tocando novamente.

— Cunhada! Kyaaa, você tá mais linda toda vez que te vejo! — gritou Rin, abraçando a mulher de repente e apalpando os peitos dela.

— Pa-para com isso! — Lou Xhien afastou a cunhada pervertida e olhou para os outros que a acompanhavam.

— Ficamos sabendo que o Kurone voltou, então viemos dar um oi… ele devia ser mais discreto ao usar magia…

— E aí!

— Olá, Lou Xhien.

No outro lado da porta estavam Raika, Rin, Kanade Toshiro e seu noivo, a senhora Nakano, o senhor Nakano, que começou a levar seu relacionamento a sério há alguns anos, e os filhos de Raika e Rin, assim como seus maridos.

Entre todas as irmãs, Eriko foi a única que não casou, ela decidiu trabalhar na empresa do irmão — atualmente era a CEO da empresa, e vivia na casa de Kurone.

“Ver uma cena como está me lembra o quanto minha vida é feliz… e pensar que o início dessa felicidade foi aquele caos nas ilhas Lou Souen.”

— Entrem, o Kurone trouxe peixe! — falou Lou Xhien convidando a família que adquiriu naquele mundo para sua casa. — Kurone! Kusuri! Usem o fogão! — gritou irritada ao ver o marido e o filho tentando colocar fogo na casa com magia.

Após o grito, todos ao redor riram da cena de praxe em que Lou Xhien impedia o marido e o filho de fazerem loucuras.

***

Fim da Rota da Princesa.



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