Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 178: Ellohim

O olhar de Azrael alternativa entre Kurone e o Vassalo da Morte. Se o garoto continuasse com o seu corte de cabelos que cobria os olhos, ele não teria nenhuma diferença daquele ser envolto por trevas.

— Tu tens a chance de livrar-te de teu destino e mudá-lo, mas este é o máximo que posso fazer, agora depende apenas de ti — falou o Suserano da Morte para Kurone. — É bom ver que estás bem, minha querida companheira de cela. — Ele apontou para Annie, ao lado do jovem.

Tanto Azrael quanto Annie passaram os últimos anos trancados no Hangar dos Mortos, apesar de nunca terem se encontrado devido ao selo no portão para o centésimo piso, mas ainda assim, o Suserano parecia ter ciência sobre a identidade de quem estava no outro lado do corredor guardado pelo esqueleto de uma Besta Divina.

— Ei, Azrael, eu quero explicações! — gritou Kurone. — Por que diabos esse tal de Vassalo da Morte tava dentro do meu corpo e por que ele parece tanto comigo?!

— Tudo em seu devido tempo será explicado, pois agora tu segues a corrente proposta pelo destino, tu precisas lutar para escapar deste fluxo ou a calamidade se repetirá, resultando em mais uma volta do ciclo.

Ao terminar de falar, o Anjo da Morte abriu suas asas negras e levantou voo novamente, pronto para sair da mente de Kurone. 

Por todo aquele momento, o Vassalo permaneceu ajoelhado, em respeito ao seu mestre.

— Continue cuidando dele, minha querida deusa! — disse Azrael antes de desaparecer novamente.

O Vassalo demorou mais alguns minutos até ficar de pé e encarar a dupla logo à sua frente. Aquele ser emanava uma aura esmagadora, sua fisionomia entregava que ele era alguém que odiava tudo e todos e só queria ver o mundo em pedaços.

Mas Kurone não podia culpá-lo, afinal ele estava furioso por Rory, ou Luminus, ter morrido. Se o jovem tivesse tanto poder, talvez ele também tivesse destruído o mundo sem pensar duas vezes ao ver Lou Xhien Li morrendo de maneira tão brutal.

Mas o tempo que passou com Annie o acalmou e, quando a tragédia aconteceu, ele não entrou no estágio de loucura de praxe. 

Olhando por esse lado, o garoto ficou contente por ver que estava conseguindo controlar seus instintos.

— Aproveite o tempo que ainda lhe resta — disse o Vassalo de repente. — Quando eu despertar de verdade, não restará mais nada neste mundo.

— Não precisa fazer isso, também existem pessoas boas nesse mundo! — gritou Annie.

— Um mundo sem a Luminus não vale a pena viver. Eu vivo para protegê-la. Se a Luminus não existe neste mundo, então terei que recomeçá-lo, fiz e farei isto até o dia que eu conseguir salvá-la do destino.

Destino para lá e destino para cá, ele e Azrael só falavam disso, Kurone já estava ficando irritado, mas, no fundo, ele entendia aquele sentimento do Vassalo, afinal ele disse algo parecido para Rory antes de morrer em Eragon.

Porém, existiam, sim, motivos para viver naquele mundo, mesmo que Rory não estivesse lá, era egoísmo querer destruí-lo. 

Kurone sabia que havia muitos segredos espalhados por ele e, se havia uma chance de trazer Rory de volta à vida como ele certa vez retornara da morte, esta chance tinha algo a ver com a deusa Astarte.

— Só me diz uma coisa, por que a Rory… quero dizer, a Luminus, tem que sofrer assim? — perguntou o jovem ao Vassalo.

— Você não precisa saber, não faz sentido contar algo a alguém que, em breve, desaparecerá e dará lugar à minha existência. Apenas aguarde.

Quando terminou de falar, o Vassalo da Morte flutuou e seguiu em direção às rachaduras do céu, a origem das trevas, toda a escuridão repleta de labaredas roxas o seguiam conforme ele se afastava de Kurone e Annie, como se fossem subordinadas a ele.

Ahhh, caraca, ainda tô meio confuso com tudo que aconteceu aqui — comentou o jovem quando o Vassalo finalmente foi embora. 

Vassalo da Morte, morte de Rory, aparição de Azrael e destino, tudo isso era demais para o garoto assimilar, sem falar que seu estado psicológico não estava bom, afinal perdeu Lou Xhien há pouco tempo.

— Nie, você tá bem?

— S-sim, estou… desculpa por falar aquelas coisas naquela hora… acho que foi a primeira vez que eu fiquei com raiva de verdade… Ma-mas eu prometo! Isso nunca mais vai acontecer! — afirmou a deusa.

Annie gostava muito de Lou Xhien, por isso Kurone não podia culpá-la por desejar a morte de Lao Shi. 

Ver a princesa das garotas artificias morrendo de uma maneira tão grotesca por conta da covardia do Arquifeiticeiro era algo realmente revoltante. 

Mas não podiam deixar que o ódio e a vingança consumissem suas almas, senão acabariam como aquele Vassalo da Morte, alguém que vivia com o único objetivo de matar e destruir.

Claro, Kurone jamais perdoaria Lao Shi, ainda sentia uma grande vontade de espancá-lo e matar cada um dos membros do Conselho do Inferno, mas não podia viver focando nisso, havia outras coisas que precisava fazer.

— Nie, eu sempre prometo que vou proteger as pessoas e falho com essa promessa, mas se você disser que sim, então dessa vez, nem que eu morra de verdade, eu vou proteger a Lothus, preciso cumprir o último desejo do Asmodeus.

— Puxa, quantas vezes eu já falei que eu sempre irei te apoiar, Kurone? Aconteça o que acontecer, eu vou estar ao seu lado para te apoiar, então, enquanto você se esforçar, eu também me esforçarei — a deusa disse estendendo as mãos para o jovem.

Ah, era aquela paz novamente que Kurone provava, há quanto tempo não se sentia leve daquele jeito?

O garoto pôs as suas mãos sobre as da deusa e ambos tocaram as testas, e ficaram olhando para baixo por alguns minutos, apenas apreciando aquele momento de paz pós-caos. Kurone sempre pensava aquilo: se não fosse por Annie, ele já teria caído no desespero há muito tempo.

— Mas não podemos perder tanto tempo assim! — Annie disse de repente. — Posso não ter mais tanta raiva, mas ainda não perdoei o Lao Shi, você precisa dar alguns socos nele!

— Sim, Nie, eu já tô indo, valeu por tudo… E você também, obrigado por me ajudar — ele falou tocando a Máscara Infernal em seu rosto. — Eu sei, agora, que aquele tempo que você desapareceu foi para me mostrar que eu não podia ficar dependendo do seu poder.

A máscara era capaz de lhe dar acesso ao Ápice da Mana, uma forma que elevava o nível do seu poder ao divino. Kurone pensara que poderia usar o objeto como trunfo na batalha contra o Arquiduque do Inferno, por isso a máscara sumiu por um tempo.

[Retribua impedindo o renascimento do Vassalo da Morte.]

Era a terceira vez que escutava a voz daquela máscara. Na primeira vez, foi algo violento, como se o objeto rejeitasse Kurone; na segundo foi em um tom mais sombrio, mas naquele momento, o jovem podia discernir que era uma voz divina feminina.

— E-ela falou de novo! — gritou Annie, surpresa.

[Ellohim, o nome é Ellohim. Ambos são dignos de conhecê-lo. Sempre que quiser o meu poder, lembre-se de gritar por Ellohim, A Celestial. Um dos primeiros passos para tornar-se um membro do Conselho do Inferno é saber o nome da sua máscara.]

E o objeto ficou em silêncio novamente, Ellohim era alguém que falava apenas quando era necessário. Naquele momento, outra pessoa depositou sua fé em Kurone.

— Ellohim… sinto que conheço esse nome — murmurou a deusa. — Mas sem minhas memórias, não tenho como saber de nada mesmo.

— Vamos ficar agradecidos por sabermos o nome dela por enquanto… Mas, bem, eu tô pronto, Nie!

— Vá com cuidado!

— Você também, toma cuidado.

As rachaduras no céu não desapareceram, na verdade até aumentaram, e de lá uma fumaça roxa inundava aquele local, aquilo devia ter algo a ver com o renascimento do Vassalo da Morte.

Kurone concentrou-se e, no mesmo instante, partículas azuis tomaram o ar e o seu corpo ficou translúcido novamente. Annie assistiu à cena até que o jovem desaparecesse completamente.

***

— Ele está vivo ainda? — perguntou Hime.

— Sim, parece que vai despertar agora — respondeu Inari. 

O cenário ao redor deles voltou a ser o da masmorra de alto nível. 

Toda escuridão que os cercava há alguns minutos foi puxada para o interior do corpo de Kurone, o que assustou todos.

Quem teria vencido? Não seria realmente perigoso ficar próximo ao corpo dele se o Vassalo da Morte estivesse no controle? Mas todos ali tinham confiança que o jovem sairia vitorioso.

Assim que deu os primeiros espasmos, Inari, Hime e Lao Shi olharam com atenção para o corpo. O que veio a seguir foi um golpe tão rápido e inesperado que nenhum deles teve tempo de acompanhar.

Em instantes, o corpo do garoto saiu do chão e o seu punho foi em direção ao Arquifeiticeiro. Lao Shi foi pego de surpresa e não conseguiu se defender, recebendo todo o impacto da mão pesada em seu rosto.

— Desgraçado! — vociferou o jovem.

Kurone nem precisou ser segurado pelas duas mulheres ao seu redor, apenas aquele soco foi o suficiente para descarregar a raiva que sentia daquele covarde.

— Que socão! — comentou Berthran, assoviando em seguida.

— Berthran, você tá vivo!

— A Duquesa achou que ia me matar apenas me arremessando no ar, mas ela se esqueceu que sou um guerreiro do mestre Kurone.

O garoto sentiu um alívio apenas ao saber que o orc de tapa-olho ainda estava vivo. 

Era triste que muitos outros orcs e garotas artificiais tivessem morrido, mas antes desconhecidos que um amigo seu. Porém, o sorriso do garoto sumiu com o próximo comentário de Inari:

Darling, essa tatuagem no seu peito está se espalhando pelo seu corpo?

Ele analisou o local. 

De fato, o Sigilo de Azrael já estava enraizando-se na altura do seu pescoço, havia veias roxas subindo aquela parte. 

Um arrepio inexplicável percorreu todo o corpo do garoto e os seus olhos se arregalaram.

— Meu caro, isso não é bom. Parece que está tatuagem que você porta em seu corpo agora tornou-se um contador… para o renascimento do Vassalo da Morte — explicou Lao Shi limpando o sangue do seu nariz. — Aparentemente, se não estou enganado, demora o total de um ano para esses padrões dominarem o corpo.

[Lascou.]

“Fodeu.”



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