Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 171: Troca Com Annie

Kurone olhou com fúria para o Orbe Amarelo à sua frente. 

Ele destruiria aquilo antes que Lou Xhien precisasse se sacrificar para salvar todos, o jovem nunca foi alguém racional de qualquer maneira.

— Esse mano aí não bate muito bem da cabeça não, né, mana? — comentou Asmodeus, porém baixou os ombros ao receber um olhar repreensivo de Lothus.

— Meu caro, creio que isso não seja uma boa ideia — falou Lao Shi. As palavras dele foram ignoradas e Kurone ficou ainda mais perto da esfera amarelada emanando energia.

“Nie, consegue pensar em algo que podemos fazer?”

[Nossa, você gritou com tanta convicção há pouco que eu achei que você tinha pensado em algo.]

“Você já devia saber que não pode acreditar em mim assim!”

[Você é o culpado de ser tão inspirador! Mas não temos tempo para discutir sobre isso, creio que nossa única opção é tentar absorver toda essa mana e refinarmos sozinhos, mas…]

“Tô ligado, eu não sou um Sophiette. Bom, não é hora de ficar com medo.”

Ele cerrou os punhos antes de lançar as mãos sobre o vidro danificado do Orbe. Kurone sentia náuseas apenas por estar próximo ao objeto, o que aconteceria se tocasse nele?

Argh! — rugiu ao ser repelido pelo poder da esfera.

Kurone foi arremessado a cem metros do Orbe e demorou um pouco para ficar de pé. Finalmente ele entendeu o que o olhar de pena dos outros queria dizer. Apenas um Sohiette poderia tocar no objeto, se qualquer um pudesse fazer isso, seria mais fácil para absorver o poder da esfera.

— Droga! — praguejou dando um soco na parede próxima. Não tinha o que fazer, se Sophia estivesse ali, ela já teria resolvido tudo, afinal era um Sophiette adulto de sangue puro.

“Porra, se a gente conseguisse pelo menos burlar aquilo…”

[Hmmm…]

“O que foi esse seu ‘hmm’, Nie? Pensou em alguma coisa?”

[Talvez eu consiga desabilitar a restrição, mas não consigo fazer nada daqui de dentro… nós teríamos que trocar de lugar para eu conseguir mexer nas configurações mágicas do Orbe.]

“E dá pra fazer isso?!”

[Não sei, é apenas uma suposição.]

“Então só bora, não temos tempo a perder!]

Ao ver um Kurone em silêncio, olhando para o nada e movendo a cabeça às vezes, um olhar de preocupação adornou o rosto do grupo próximo ao Orbe Amarelo. Provavelmente eles pensavam que a queda fritou alguns dos neurônios do jovem.

— Putz, ele não vai desistir? — murmurou Asmodeus.

Apesar de olharam com um pouco de pena, ninguém estava pensando em mais nada, eles apenas encaravam o jovem, na esperança que ele resolvesse aquela situação. E, ao sentir que todos tinham expectativas nele, o garoto soltou um rugido e aproximou-se novamente.

A energia expelida pelo Orbe Amarelo dobrou apenas por ser tocado por um não-Sophiette, isso significava que, quanto mais falhava, mais próximo se tornava a explosão que arrasaria metade do Continente Oriental.

“Pode fazer a boa, Nie!”

O jovem parou ao ficar em frente à esfera emanando poder. Ele fechou os olhos e esperou Annie trabalhar, assim como seus espectadores confiavam nele, Kurone sabia que a deusa em sua mente não o decepcionaria.

Sentiu um formigamento incomum percorrendo seu corpo e, no mesmo instante, luzes azuladas preencheram o ar ao redor dele. O grupo soltou um suspiro de surpresa ao ver as partículas aumentando a cada segundo.

Para Kurone, o sentimento era o mesmo de quando apagava e ia para o interior da sua mente. Devagar, ele notou sua consciência desvanecendo e caindo cada vez mais fundo. 

No meio do caminho, sentiu um abraço caloroso de uma luz que passou por perto da sua consciência. O abraço demorou poucos segundos e, no fim, a voz anunciou antes de soltá-lo: “Confie em mim, Kurone.”

Assim que abriu os olhos, percebeu estar na vasta imensidão que era aquele mundo conectado à sua mente. Sua fiel Boito .20 e a Máscara Infernal flutuavam pelo ar negro. E lá, no fundo da mente, reverberavam as vozes insanas, seladas, que o induziam à loucura.

Olhando para frente, ele podia avistar uma espécie de telão com a capacidade de transmitir imagens e sons do mundo real, onde estivera há pouco. 

Ele formou um sorriso em seu rosto. Annie conseguiu realizar a troca de corpo, e agora ele era o responsável por encorajá-la dali.

***

O corpo de Kurone saltou quando todas as partículas azuis ao redor explodiram, mas o que mais surpreendeu os espectadores um pouco distantes foi o jovem que estava em frente ao Orbe amarelo.

O cabelo negro médio de Kurone voltou a ser tingido de branco, no entanto, diferente da última vez, ele cresceu, ficou quase do tamanho de antes do jovem cortá-lo para ir ao campo de batalha.

Além dos cabelos longos e esbranquiçados, outra coisa que mudou sua coloração foi os olhos. Não era nem o castanho e nem o dourado do Olho Sagrado, suas pupilas brilhavam em um púrpura forte, quase brilhante. A expressão do jovem também mudou, ficando um pouco corada.

Quem mais ficou surpreso foi Lao Shi ao ver a aura divina que competia com a energia emanada do Orbe Amarelo.

“Kurone! Kurone! Eu consegui!”

[Sim, Nie, você conseguiu. Nossa, é bem estranho falar daqui…]

Ignorando o comentário despreocupado do garoto, Annie, no corpo de Kurone, deu um passo à frente. Ela parou a poucos centímetros da esfera liberando energia descontroladamente. Ali estava a oportunidade de ser útil.

A deusa estendeu as mãos, sem tocar no Orbe e, no mesmo instante, uma energia amarelada tomou conta de todas as salas. Mas o importante era aquilo logo à sua frente: um tipo de tela formada pela energia dourada.

Na tela, diversos fios mágicos amarelados estavam emaranhados e símbolos de runas de diversos tipos flutuavam ao redor deles. Era aquilo que estava por trás da misteriosa mana, algo que conseguia ser programado pelas divindades.

Porém, mesmo Annie tinha dificuldade em entender aquele sistema mágico, ainda mais considerando sua perda de memória. Ela sabia que, se movesse o fio ou tocasse na runa errada, tudo ali poderia ir pelos ares na mesma hora.

“Kurone, eu precisarei usar Análise Avançada, se prepare.”

[Si-sim!]

A aura divina ao redor da deusa no corpo do jovem aumentou. A única vez que usaram a Análise Avançada quase foi mortal para Kurone, por isso Annie precisava ser o mais breve possível, cada segundo usando aquela técnica custava a vida do seu companheiro.

Quando ativou a habilidade, a mente compartilhada deles quase explodiu e lágrimas tomaram conta das extremidades dos olhos, mas Annie engoliu o choro e encarou novamente o sistema mágico à sua frente. Ela, agora, podia ver os fios dourados de diversas cores e as runas com traduções para as línguas que conhecia, era um sistema legível para ela, apesar de estar em seu nível mais baixo, em que até o mais experiente dos deuses temeriam tocá-lo.

Aquilo tornou sua tarefa mais fácil. Forçando o corpo já cansado, a deusa começou a fazer suas alterações no sistema do Orbe Amarelo. Ela só precisava quebrar a restrição feita ali e permitir que Kurone pudesse absorver a mana.

Mas ela finalmente encontrou o verdadeiro problema daquela coisa: a modificação feita para que Lothus pudesse controlar as garotas artificiais. A irmã do Arquiduque deixou tudo emaranhado, tornando o trabalho de Annie mais difícil. Uma palavra que descrevia o que Lothus fez era “gambiarra”.

A deusa enxugou o suor pingando do seu rosto e continuou a fazer modificações. A cabeça parecia que ia explodir, mas ela continuava a manipular os fios mágicos e mudar os “códigos” das runas flutuando ao redor.

— Não mexa aí se não quiser explodir tudo. Mova o outro fio mágico — falou uma voz ao lado de Annie. A deusa quase gritou, mas se acalmou ao notar que era Lao Shi.

O Arquifeiticeiro estava próximo a Annie, mas não ousava aproximar-se do Orbe Amarelo. O homem tinha ciência que ele poderia danificar o sistema se ficasse muito próximo, mas pelo menos poderia ajudar à distância.

— Ele precisa se aprofundar mais naquele emaranhado de fios! — gritou Lothus. A demônia também decidiu ajudar ao ver qual era a intenção de “Kurone”. Aparentemente, ninguém notou que aquele não era mais o jovem, e sim uma deusa gentil.

— Não precisa desativar a restrição. Você vai precisar colocar seu sangue quando encontrar o fio que foi posto para a restrição, então vai conseguir a permissão, é um método bem mais simples, ainda tem mana suficiente para isso? — perguntou a irmã do Arquiduque.

Annie apenas assentiu com a cabeça. Ela passou tanto tempo isolada que não conseguia abrir a boca para falar com outras pessoas além de Kurone. A deusa balançou a cabeça para se livrar das distrações e voltar a focar no sistema logo à sua frente.

O nariz derramou uma quantidade imensa de sangue no sistema, então ela não precisou se preocupar com o que Lothus falou. Mas a cabeça da deusa girava sem parar, ela poderia perder a consciência a qualquer momento, mas resistiu até o fim.

— Coma mais uma dessas — disse Lao Shi pondo uma pastilha verde na boca de Annie. Dessa vez aquilo quase não fez efeito, mas serviu para curar a visão turva da deusa. Ela forçou a sua visão até a parte mais profunda do sistema, passando pelo emaranhado de fios e usando os Olhos Sagrados como auxílio para acompanhar o fluxo de mana.

— Encontrei! — ela gritou ao finalmente conseguir avistar um círculo mágico envolto por runas intraduzíveis. Lá estava a parte do sistema mágico do Orbe Amarelo que impossibilitava pessoas que não fossem Sophiette de usar o Sistema.



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