Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 170: Súplica Implícita

A bolha envolveu todo o corpo pequeno de Mamon von Faucher. A Duquesa debateu-se, mas foi inútil, afinal Lao Shi pegou ela de surpresa.

O Arquifeiticeiro tinha uma expressão de cansaço no rosto, mas ainda sorria. Ele montava o grande pássaro que era pai de uma criatura repousando em seu ombro direito: Alley, o familiar águia.

— Parece que cheguei bem a tempo, meu caro — falou o homem saltando do grande animal. — Ou talvez nem tanto, essa energia espalhando-se pelo ar não parece ser coisa boa, não é?

Kurone ignorou todas as palavras do homem, seus olhos mantinham-se fixos na bolha de água logo atrás dele, gritos ecoavam de lá e parecia que Duquesa tentava se libertar do Selo de Água.

— Não se preocupe, mesmo ela vai demorar vinte ou trinta minutos para se libertar do meu selo — explicou Lao Shi. — Por isso precisamos agir rápido, nem em meu ápice eu poderia ganhar ela, imagine neste estado aqui.

Lao Shi, além de abrir o mar em duas partes, possibilitando o ataque dos orcs, ergueu uma barreira mágica que impedia o fornecimento de mana para aquela ilha. 

Apesar de usar tantas magias poderosas, ainda teve poder para prender a Duquesa do Inferno em um selo, ele era impressionante, mas era claro que estava em seus limites.

Ao escutar que nem o Arquifeiticeiro conseguiria derrotar aquela demônia, Kurone estremeceu. Ele teve sorte até aquele momento de não ser atingido por nenhum golpe mortal daquela menina, tudo o que sentiu foi apenas um vislumbre do verdadeiro terror.

“Mas não tem o que fazer, o que vale é que tô vivo!”

— Onde está senhorita Lou Xhien? 

— Na torre…

Assim que tentou apontar na direção dos destroços da grande torre, Kurone sentiu uma dor fina percorrer o seu ser. Seu corpo quase caiu com tudo no chão, mas foi segurado rapidamente pelo homem à frente. A Máscara Infernal em seu rosto desapareceu na hora.

— Parece que você está em seu limite, meu caro. Tome, coma isso — O mestre entregou-lhe algo do tamanho de uma pequena pastilha verde. — É algo que consegue recuperar um pouco do seu corpo, ele não recupera as feridas, mas você vai conseguir pelo menos ficar de pé, pode pensar que é um estabilizador de mana.

Ficou impressionado novamente com o fato de Lao Shi ter sempre itens tão convenientes, mas logo esqueceu disso e engoliu a pequena pastilha. No mesmo instante, sentiu o corpo dormente e dolorido voltando a funcionar.

— Ei, mano… tem uma dessas dai pra mim também? — falou Asmodeus. O Arquiduque ainda estava de pé, mas bastava olhar para o corpo dolorido para saber que ele estava no mesmo estado de Kurone.

Lao Shi lançou um olhar de dúvida para o garoto ao seu lado, mas ele confirmou com a cabeça. Já que fora Inari que foi buscá-lo, o homem tinha ciência de que o Arquiduque tinha se unido a eles temporariamente, então ele entregou a pastilha verde ao demônio sem mais questionamentos.

Ah, bem melhor assim. Valeu aí, mano!

— Sem tempo para agradecimentos, meu caro demônio, a ação ainda não acabou.

O grupo seguiu rapidamente para a torre. Apesar do que Lao Shi explicou, nunca era bom confiar em um membro do Conselho do Inferno. Mamon poderia livrar-se do selo a qualquer momento, todos tinham ciência disso, a garantia do Arquifeiticeiro era algo que apenas os deixavam mais confortáveis.

Ao se aproximarem dos destroços da grande torre, foram pegos por uma onda de energia ainda mais forte. Bhor e Bramman montavam guarda do lado de fora do local, provavelmente não aguentaram a densidade da mana no interior.

— Mestre, ainda não conseguiram pensar em nada! — falou Bhor ao ver Kurone. — Desculpe por sermos inúteis, não conseguimos resistir à mana como as garotas.

— Não tem problema, podem sair daqui, é muito perigoso para vocês.

— Mas, chefe! — tentou protestar Bramman, porém foi Kurone antecipou-se:

— Provavelmente nós vamos ter que fugir daqui de qualquer jeito, é bom vocês já irem se adiantando. Se elas já deram um jeito no controle mental, então a luta no mar aberto acabou, preciso que vocês liderem eles para a ilha Lou Souen.

Bramman pigarreou, mas obedeceu ao jovem relutantemente. Kurone sabia que aquilo caminhava para um possível cenário em que eles precisariam fugir da ilha com uma explosão gigantes às costas deles. Quanto menos pessoas estivessem ali, melhor. Ayshla já havia partido exatamente por isso.

Assim que se despediram dos dois orcs, o grupo composto por Lao Shi, Kurone e Asmodeus adentrou a torre. O que sofria menos ali era o jovem de cabelos negros e mechas brancas, pois seu interior conseguiu armazenar toda aquela mana que absorvia.

Eles apressaram o passo ao avistarem as garotas perto do grande Orbe Amarelo que transbordava energia. 

— E aí? O que aconteceu nessa coisa, mana? — perguntou Asmodeus.

— É terrível, irmão. Mamon tentou tirar o poder do Orbe e transferir para outra coisa, isso deu muito errado.

Pela explicação de Lothus, a Duquesa parecia não ter conhecimento sobre o Orbe quando mexeu nele, ela parecia realmente uma criança mimada e curiosa. Mas aquilo poderia custar a vida deles naquele momento.

— Então vocês já devem saber o que precisa ser feito e estão buscando outra forma, certo? — disse Lao Shi. O Arquifeiticeiro lançou um olhar suspeito para Lou Xhien, ao que menina acenou com a cabeça.

— Como assim? — Kurone perguntou confuso.

— Podemos dizer que esta esfera pode ser “configurada” com a mana de um Sophiette, assim como a senhora Sophiette fez para selar a Besta Divina que atacou as ilhas no passado e matou Lou Xhien Xhian, mas…

Bastou aquela fala de Lao Shi para Kurone entender o que ele queria dizer. A esposa de Lou Xhien Xhian morreu após usar o poder do Orbe Amarelo.

— Tem que outra maneira! — ele gritou sem pensar duas vezes.

— Até teria, — começou Lothus — mas eu usei alguns truques para mudar as “configurações” do Orbe para controlar a mente das garotas artificiais e erguer o muro ao redor da ilha, isso acabou sendo problemático agora, porque Mamon desconfigurou tudo e deixou o sistema mágico emaranhado.

Kurone não entendia quase nada do que ela queria dizer, mas entendia que estavam em uma situação crítica e, se não encontrassem uma solução rapidamente, Lou Xhien teria que se sacrificar para conter o poder do Orbe Amarelo.

— O verdadeiro problema é que senhorita Lou Xhien herdou a genética da mãe, que tinha um armazenamento de mana limitado, esse foi o motivo pelo qual ela morreu ao usar o poder do Orbe. Se senhorita Lou Xhien fosse pelo menos mais velha, ela teria mais chances de sobreviver ao tentar absorver e refinar o poder do Orbe Amarelo — Lao Shi explicou olhando para a grande esfera.

— Eu não posso fazer isso?! Tipo, eu consigo absorver muita mana sem problema, só precisam me dizer o que faço para refinar essa coisa — sugeriu Kurone.

[Kurone, isso é muito perigoso!]

“Escuta, não posso deixar a Lou Xhien se arriscar assim.”

— Lamento que não, meu caro, apenas um Sophiette pode mexer nessa coisa. Ele teve tantos problemas exatamente porque a Duquesa mexeu nele. Se você tocar, talvez seu corpo possa explodir, ou o Orbe.

— Mas a irmã do Arquiduque mexeu nele sem problemas!

— É diferente nesse caso, ela provavelmente teve muito cuidado ao tocar o Orbe.

O jovem cerrou os punhos por não poder fazer nada. Não adiantava fugir e ele não conseguia ajudar Lou Xhien, mas não deixaria ela morrer, nem que precisasse ficar ao lado dela para receber a energia do Orbe Amarelo ou algo assim.

— Espera… e se houvessem dois Sophiette? — Kurone perguntou de repente.

— Isso iria depender de como seria o segundo Sophiette — respondeu Lothus. — Mas, pelo que vejo aqui, se o segundo Sophiette for alguém mais velho que Lou Xhien, temos uma chance, se não for, eles só conseguiriam reduzir o alcance da explosão. Seria algo realmente útil, mas eles ainda morreriam no segundo caso. O caso aqui é que os Sophiette precisariam absorver, refinar e devolver a energia para controlar a esfera, não é qualquer um que está apto a fazer isto.

Era uma esperança. Talvez, com a ajuda de Lou Souen Eiai, Lou Xhien poderia conter a energia do Orbe Amarelo. Mas ao olhar para a princesa das garotas artificiais, Kurone sentiu uma pontada no peito, pois ela balançava a cabeça de forma negativa.

— Kurone, posso conversar com você? — questionou Lou Xhien.

— Andem rápido, por favor, não temos muito tempo — falou Lothus, os olhos dela indicavam que ela sabia que se tratava de uma conversa delicada. A demônia voltou a verificar se não havia outra alternativa para conter a energia do grande Orbe.

Kurone e Lou Xhien foram para um canto mais distante do grupo, em uma parte da parede.

— Escute, — começou a princesa das garotas artificiais — sei o que você está pensando, mas ela não vai fazer isso. — Ao perceber a surpresa no rosto do garoto, ela continuou em uma voz baixa: — Se Lou Souen souber da verdade, ela vai querer ajudar sem pensar duas vezes… e assim nós duas vamos morrer.

— Mas a Lothus disse que…

— Lou Souen é apenas metade Sophiette, o sangue de garota artificial dela iria interferir na configuração do Orbe, entende? Se apenas uma de nós precisar morrer para que vocês vivam, então esse alguém serei eu.

— Não, tem que ter outro jeito!

— Você é muito teimoso, plebeu burro — ela falou gentilmente. — Me prometa apenas que só contará a verdade a ela quando tudo isso acabar e vocês já estiverem a salvo.

— Chega! — Todos os outros voltaram a atenção para o jovem após o grito. — Eu já falei que tem de ter outra maneira! Você é quem vai contar a verdade, porque todo mundo vai sair daqui vivo, nem que eu tenho que jogar essa esfera nas costas e saltar no mar, entendeu?! Porra! Eu fico só com medo e não faço nada, é era de servir pra pelo menos alguma coisa nesse mundo! — ele falou indo em direção ao Orbe Amarelo, uma expressão de determinação podia ser vista em seu rosto.

Lou Xhien não tinha o que dizer, ficou lá, parada e vendo o jovem dirigindo-se à esfera. Lágrimas discretas desciam do seu rosto. Kurone percebeu que a expressão daquela menina era a de quem queria viver, não se sacrificar para salvar todos, pois o sonho dela era acompanhá-lo em sua jornada para retornar ao Japão.  

— Plebeu burro…



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