Volume 3
Capítulo 167: Sopro Do Arcano Virgem
Apesar da gravidade da situação, os jovens, demônio e humano, aproximaram-se do pátio emanando energia, com um sorriso de excitação no rosto. A sintonia entre Kurone e o Arquiduque Asmodeus era sobrenatural, como se sempre tivessem lutado juntos, ninguém jamais imaginaria que eram inimigos mortais há trinta minutos.
O plano era atrair a Duquesa do Inferno, pois não adiantava criar um conflito e impossibilitar a entrada de Lothus e Lou Xhien no primeiro andar da grande torre logo à frente.
O pátio do local estava repleto de traços de destruição devido à última luta de Kurone e o demônio ao seu lado, porém as garotas artificiais fugiram de lá, deixando a entrada deserta. Os dois jovens atravessaram rapidamente o local, chegando no interior da construção.
Asmodeus engasgou ao aproximar-se daquela fonte de mana, era como um gás vazando, a energia adentrava o corpo com violência, era quase impossível conseguir suportar, pois o movimento de entrada de energia era muito maior que o de saída.
— Hã? Deus? Você aqui? Você não devia tá brigando com os invasores? — falou alguém com uma voz infantil.
Kurone apertou os olhos e notou uma garotinha de cabelos rosas e azuis, o corpo pequeno estava dentro de um vestido negro ao estilo gothic lolita, e por estar molhado, realçava as poucas curvas do seu semblante magro, as marcas eram mais visíveis no quadril do ser.
Imediatamente, Asmodeus ficou em guarda. Ele cerrou os dentes afiados e assumiu a pose marcial usada na luta contra Kurone, algo sem beleza, mas mortal quando em contato com o corpo do oponente.
[Aquela é a Duquesa? Parece uma criança.]
“Se você tivesse visto que eu já vi nesse mundo, Nie, ia pensar duas vezes antes de falar isso.”
Devido à abundância de mana espalhando-se pelo local, Kurone não conseguia ficar muito intimidado pela presença da Duquesa, afinal ela era ocultada por toda a energia bruta. Até mesmo aquela intenção assassina emanada pelo Arquiduque foi perdida ali.
Mas a Máscara Infernal sabia do nível de periculosidade daquela demônia, por isso materializou-se no rosto do garoto de cabelos brancos. Ao ver o jovem fazendo isso, Asmodeus também equipou sua máscara, a dele cobria apenas o espaço da sua testa e os olhos.
Ao analisar melhor o local, finalmente Kurone notou o objeto que era fonte de toda aquela anomalia: o Orbe Amarelo. Havia rachaduras ao longo da esfera e a energia amarelada colapsando começava a escapar para o exterior.
— Mamon! Que diabos tu tá fazendo aí?! — gritou o Arquiduque.
— Ora, Deus, eu queria levar uma lembrancinha antes de ir embora, mas acabei quebrando o Orbe, olha que trágico, realmente trágico. — Apesar do tom dramático, a demônia mantinha um sorriso sádico no rosto. — Achei que você ia morrer, por isso ia pegar sua irmãzinha para me ajudar a consertar isso… Eu juro que ia cuidar dela quando você morresse… Ué? E quem é esse menino do seu lado? Não vai me apresentar ao seu… amigo?
Enfim, Mamon von Faucher notou o jovem mascarado ao lado de Asmodeus. Ela lançou um olhar curioso, mas logo perdeu o interesse e andou em direção a eles. Por sorte ela também não podia sentir a energia de Kurone, devido à sobreposição da mana gerada pelo Orbe.
— Sabe, Deus, vou te falar a verdade, eu vim aqui com o objetivo de roubar o Orbe Amarelo e sequestrar sua irmã. Umm? Não me olhe assim, como eu poderia deixar um poder como o da sua irmã ficar aprisionado para sempre nessa ilha??!
A Duquesa parou a poucos metros dos dois jovens e, juntando as mãos e alongando ainda mais o seu sorriso macabro, ela materializou sua Máscara Infernal.
Kurone franziu o cenho, parecia que aquela demônia não estava levando aquela luta a sério. A máscara materializada era branca, como as outras, com dois orifícios para os olhos, no entanto o que mais chamava a atenção era a boca desenhada no objeto, tinha o formato de duas presas afiadas formando um sorriso e, onde deveria fica a bochecha, estavam riscos rosados, mais precisamente, bigodes, era como a máscara de um gato feliz, faltavam apenas as orelhas.
Aquilo poderia ser chamado de “máscara kawaii de gatinho”.
— Podemos resolver isso facilmente, Deus, só preciso da sua irmã aqui, talvez eu vá até embora sem o Orbe se eu tiver ela. Essa coisa tá com cara de ser instável demais, então acho que não quero mesmo.
— Nem fodendo que vou te dar minha irmã, desgraçada! — berrou Asmodeus. O Arquiduque perdeu sua razão e avançou na demônia com sua velocidade máxima, explodindo o chão de jade em seus pés. Uma cratera foi visto no local que ele estava anteriormente.
Mas a Duquesa nem estremeceu, ela simplesmente levantou o seu braço fino e, criando um corrente de vento forte, arremessou o Arquiduque em direção à parede da torre, a qual ele quebrou e atravessou para o pátio.
Kurone arregalou os olhos com aquela cena que aconteceu em questão de segundos à sua frente. Ele esteve relaxado por acreditar que a hierarquia do Conselho do Inferno era como pensava. Em sua cabeça, era impossível alguém com o posto de Arquiduque perder para uma Duquesa, mas esteve enganado, e este engano poderia resultar em sua morte!
O desespero invadiu a sua mente ao ver que aquela era uma demônia no mesmo nível de Azazel van Elsie — tanto no poder quanto na psicopatia.
— Puxa, o Deus é muito esquentado quando se trata daquela irmã dele, aquela menina tem o nível de uma Pregadora da Razão, ele não devia ficar tão preocupado com ela… — comentou a Duquesa olhando para as unhas afiadas. — Ah, e você, quem seria? Gostei do seu estilo, mas tem branco demais em sua roupa.
O jovem decidiu engolir aquele medo e responder sem hesitação:
— Meu nome é… Loright, Loright al Mare.
— Então, senhor Loright, por que não fazemos um trato? Diga-me onde está a irmã do Deus que prometo ir embora daqui, permito até que ela conserte o Orbe ali pra não fazer “boom” e mandar todos pro inferno.
Podia parecer um absurdo, mas Kurone refletiu. Era uma maneira simples de resolver aquele conflito, aparentemente, ele teve sorte de encontrar dois membros do Conselho que podia conversar e negociar.
Mas aquele pensamento foi sobreposto pela figura de Asmodeus berrando. Ele poia ser um demônio, mas seu amor pela irmã e vontade de protegê-la era equiparável ao de Kurone. Não, não podia fazer aquilo.
Sem falar que odiava todos os membros do Conselho do Inferno, matar um ali era o mesmo que livrar o mundo de uma praga que devastava plantações preciosas.
— Foi mal, mas não vai rolar, Duquesa — Kurone falou assumindo sua posição de combate. A mana ao redor não era capaz de dominá-lo, afinal o treinamento fez com que ele acelerasse a absorção de energia do ambiente, e o seu armazenamento quase infinito não o deixava cansado, não importava o quanto absorvesse do exterior.
E para completar, havia também o fato de Annie conseguir gerenciar a mana do seu interior, ela movia a energia vital para os pontos mais importante e possibilitava que ela saísse mais rápida quando o jovem precisava.
O garoto suspirou fundo antes de avançar, mas diferente de Asmodeus, ele manteve a guarda alta, correndo pelas bordas da torre e efetuando golpes rápidos com as mãos e pés, porém eles eram rebatidos facilmente pela demônia. Kurone dava um ataque e recuava para não ser pego.
Se mantivesse distância, poderia estender aquele duelo até a chegada de Lao Shi, mas havia a possibilidade do Orbe Amarelo explodir antes disso.
Ao olhar para um canto da entrada da torre, notou a figura de Lou Xhien Li fazendo um sinal com a mão. Eles estavam ali, mas o Orbe encontrava-se logo atrás da Duquesa, isso era um problema.
— Isso tá divertido, mas por que não vamos tomar um arzinho? — falou Kurone saltando pelo buraco criado quando Asmodeus foi arremessado, sua velocidade estava boa mesmo sem ter ativado o Orbe Vermelho Rank D ainda.
Chegou ao pátio rapidamente, mas ficou um pouco desesperado ao notar o atraso da Duquesa. A demônia não o seguiu para o exterior, ela poderia ter notado alguma coisa?
— Cadê a desgraçada da Mamon?! — perguntou o Arquiduque, ele levantava da cratera criada por sua queda. Apesar de ter sido um arremesso poderoso, Asmodeus não tinha quase feridas no corpo além daquelas que conseguiu na luta contra Kurone.
— Ela não veio, você acha que devíamos…
A fala de Kurone foi cortada por um golpe de ar violento. Ele rolou pelo pátio e parou ao impactar contra o muro, logo ao lado de onde Lou Souen caiu mais cedo.
— Pobre de mim, pobre de mim, são dois rapazes contra uma pobre garotinha fofa, vocês não têm vergonha disso?
Aquele drama exagerado na voz da demônia começava a irritar Kurone, parecia que todo membro do Conselho falava de uma maneira estranha. Elsie tinha sua piadas sujas e o tom sádico anormal, Belphegor falava a todo momento de segurança e diligência, enquanto Asmodeus tinha o sotaque de delinquente boca porca.
— Consegue me acompanhar? — perguntou Asmodeus, ao que o jovem de cabelos brancos respondeu com um aceno afirmativo de cabeça.
Se fosse apenas na velocidade, não teria problemas, afinal ele tinha o Orbe Vermelho Rank D, e, a partir do momento que seu cabelo mudou para aquele branco, sentia mais força percorrendo seu corpo.
— Então bora lá, não precisa ter piedade! — berrou o Arquiduque indo em direção à garotinha de cabelos rosados misturados ao azul.
Kurone também apressou o passo, eles foram por lados opostos e encontraram-se onde Mamon estava, porém a garotinha moveu-se rapidamente ao notar que não conseguiria defender-se de um chute combinado dos jovens.
Boooom! A poeira subiu quando o Asmodeus e Kurone atacaram onde a menina estava há pouco, mas eles não pararam e a seguiram dando saltos. Aquela demônia tinha a vantagem de dominar o Tipo Elemental vento e conseguir flutuar, mas isso era compensado pela altura dos saltos da dupla oponente.
Vendo que não poderia mais apenas esquivar, Mamon direcionou suas mãos para os dois jovens. Kurone sentiu um arrepio na espinha no mesmo momento, mas não conseguiu mais esquivar. Ele só pôde ficar horrorizado ao escutar as palavras seguintes, era algo familiar e que seria seguido pelo caos e a destruição:
— 3° Magia Abismal: Gimmel. Sopro do Arcano Virgem.