Volume 3
Capítulo 166: Aliança Mometânea
Kurone sentiu um incômodo no peito ao notar aquela energia esmagadora emanando do local que esteve antes.
Ele deixou Inari lá quando começou a lutar contra o Arquiduque, poderia aquela deusa ter o traído? Ela teria encontrado alguma maneira de libertar-se do pacto com o jovem? Aquele poder emanado não podia ser de outra pessoa, somente um deus teria uma força daquelas.
Apesar do seu oponente ser o Arquiduque Asmodeus, ele sentia um pequeno alívio por resolver logo aquela batalha sem derramamento de sangue. Mas claro que o mundo jamais seria gentil com Kurone Nakano.
O garoto cerrou os dentes enquanto corria pelas ruas do Distrito Urbano Shi. Inari era alguém que conhecera recentemente, tentou matá-lo e roubou sua virgindade, mas apesar de tudo, não queria acreditar que foi traído por ela.
Atrás do grupo de conhecidos, Asmodeus e Lothus seguiam também correndo o mais rápido que podiam. Eles não precisavam estar ali, afinal tudo já estava resolvido, mas decidiram acompanhá-los.
— Tem chance daquela mulher ter nos traído? — perguntou Lou Souen, a sacerdotisa corria ao lado do jovem de cabelos esbranquiçados.
— Eu prefiro acreditar que não, — a figura de Edward Soul Za passou-se pela cabeça de Kurone — mas não é impossível, e também é o mais provável.
Ele também confiou em Kawaii, no entanto descobriu sobre os planos sombrios dela recentemente, no anúncio da Voz do Mundo. Era duro aceitar, mas eram raros os amigos que tinha naquele mundo. Mesmo que tivessem lhe ajudado, pessoas como Lao Shi, Hime e Inari não eram confiáveis.
E, quando pensava daquela maneira, algo brilhante veio voando em sua direção em uma velocidade que já era quase impossível de desviar. Sabendo disso, Kurone impulsionou-se e saltou para rebater o ataque.
As feridas da luta corporal contra o Arquiduque do Inferno ainda doíam, mas não eram graves, afinal brigaram apenas como dois adolescentes arruaceiros, usando a força física. Como a Barreira d’Água de Lao Shi foi desativada, o corpo dele começou a curar-se com a mana sendo absorvida com violência do ambiente.
[Kurone, não ataque! Aquilo é…]
Ao notar o que era aquela coisa vindo em sua direção, o jovem mudou sua posição e segurou-a. No entanto, não conseguiu sustentar aquilo no céu e foi jogado contra a parede de uma das casas próximas.
— Plebeu! — gritou Lou Xhien. Ela aproximou-se rapidamente, pronta para curar o garoto, porém seus olhos arregalaram-se em surpresa ao ver o que havia atingido-o.
— Caraca, você é mais pesada assim do que pensei — ele murmurou com uma voz sôfrega, afinal agarrou o corpo de Inari caindo do céu em uma velocidade insana.
Claro que Kurone quebrou algumas costelas com o impacto, mas isso não importava no momento. A deusa-raposa ainda estava na forma conveniente de Rory que o jovem pediu para ela assumir, porém o rosto de aspecto infantil estava manchado, os cabelos bagunçados e o uniforme militar, rasgado.
— Fujam daqui, agora! — gritou a deusa, levantando-se rapidamente e ajudando o garoto que amorteceu sua queda mortal.
— Que porra tá acontecendo ali?! — berrrou Asmodeus, o demônio estava um pouco estarrecido devido à grande quantidade de energia vinda da torre.
— Tem uma aberração ali mexendo no Orbe Amarelo — respondeu Inari.
Tanto Lothus quanto Lou Xhien arregalaram os olhos ao escutarem a explicação da deusa. Pela reação delas, por mais que Kurone não entendesse o significado daquilo, podia supor que era algo muito problemático.
— Hã? Tu tá falando daquela esfera grandona do primeiro andar? Achei que aquela porra não funcionava… o que foi, mana, tua cara tá horrível! — falou Asmodeus, preocupado.
— Ninguém que não seja um Sophiette devia mexer naquela coisa… — começou Lothus, a voz quase não saía devido ao medo.
— Então essa energia está vindo do Orbe! Não, não, precisamos fugir daqui agora! — completou Lou Xhien, com uma expressão semelhante à da menina ao seu lado.
Enfim, todos entenderam o que elas queriam dizer e o horror tomou conta dos rostos de cada um ali. Alguém mexeu em algo que não devia, e esse alguém era uma monstruosidade forte o suficiente para arremessar uma deusa como Inari pelo céu como se não fosse nada.
— Será que… — Asmodeus refletiu por um momento antes de soltar um rugido furioso: — MAMON! Pirralha desgraçada!
O rugido reverberou por toda a ilha. A Duquesa do Inferno era a responsável por aquela energia que transbordava por todo o local, como esperado de um agente do caos como ela.
— Desgraça, não podemos perder tempo, todo mundo tem que cair fora da ilha, agora! Vambora, mana! — gritou o Arquiduque segurando o braço da irmã. — Hã? O que vocês tão esperando? Tão querendo morrer?!
— Irmão… a assinatura mágica é imensa. Se a Duquesa Faucher mexeu no que estou pensando, em breve o Orbe explodirá e levará pelo menos metade do Continente Oriental. É impossível fugirmos! — explicou Lothus.
— Ei, ei, ei, tá dizendo que vai todo mundo pra vala?! — perguntou Kurone, ele conseguia conter o medo por fora, mas, em seu interior, o coração quase saltava para fora. Ele mais do que ninguém sabia o poder que um Orbe Amarelo possuía, e também do terror que era morrer, jurou que jamais teria uma experiência como aquela de Eragon.
Aquele Orbe presente em Eragon era minúsculo, no entanto segurava toda a cidade-estado no céu. Pelo que Lou Souen explicara, o Orbe Amarelo daquela ilha era uma esfera enorme, o que dava vida às garotas artificiais dali.
— Não tem um jeito de cancelar o que ela fez? — perguntou o garoto a Lou Xhien. Só podia ser brincadeira, logo quando pensou que a briga acabou, aquilo aconteceu. O destino queria tanto assim vê-lo morto? Azrael tinha razão quando disse que ele era contaminado pela “fragrância da morte”?
— Talvez… O que você para usar o Orbe Amarelo e controlar a mente das garotas artificiais? — Lou Xhien perguntou a Lothus, alguém que tinha o mesmo nível de conhecimento que ela sobre aquele assunto.
— Usei uma fórmula arbitrária, mas não mexi muito, porque sabia que isso podia acontecer. Tocar no Orbe Amarelo sem saber como ele funciona é loucura — respondeu a demônia.
— Não tem como resolver nada daqui, precisamos chegar na torre, mas a Duquesa ainda está lá, certo? — Lou Xhien perguntou, ao que Inari respondeu com um aceno positivo com a cabeça.
Lothus e Lou Xhien eram as únicas que podiam fazer algo, no entanto o poder de ataque delas era o mais baixo ali exatamente por serem estrategistas, seria suicídio se arriscassem aproximar-se da Duquesa Mamon von Faucher.
Sabendo disso, Kurone lançou um olhar sugestivo para o Arquiduque de cabelos laranjas espetados. De um jeito ou de outro, ele mataria um membro do Conselho do Inferno naquele dia.
Vendo a chama da batalha acedendo-se nos olhos do garoto, Asmodeus abriu a boca, formando um sorriso que revelava seus dentes afiados anormais.
— Mano, eu ainda não te perdoei por ter falado mal da sopa da Lothus, e ainda não resolvemos nossa briga, mas tô ligado que essa situação é tensa, então…
— Eu também não te perdoei pelo que você falou das minhas irmãs… mas vamos nos unir, apenas por um tempo, pra arrastar a cara da Duquesa nesse chão sujo, depois faço isso com a sua — falou Kurone. Ambos os jovens deram uma gargalhada alta e apertaram as mãos, um fazendo força para que o outro soltasse um grito de dor, mas pararam ao ver o olhar de repreensão de Lothus e Lou Xhien. — Eu e o Arquiduque aqui vamos abrir caminho, vocês vão dar uma olhada no Orbe.
— Me-mestre, nós também podemos… — Bhor tentou falar, no entanto foi parado por uma ordem rápida de Kurone:
— Protejam a Lou Xhien e a Lothus. Inari, você consegue ir buscar o Lao Shi? Vai ser mais rápido se você for voando sozinha.
— Tem uma maneira de chegar mais rápido, você me permite?
Kurone hesitou por um momento, mas lembrou que duvidou da deusa há pouco, sentia-se culpado por aquilo, por isso resolveu dar uma chance a ela. Ele fechou os olhos e, suspirando, assentiu para Inari na forma de Rory. — Só dessa vez, tá ok?
— Obrigado, darling! — ela falou saltando e dando um beijo na bochecha do garoto. — Kumiho, Kumiho acorde! É hora de trabalharmos! — A raposinha no tamanho de um gato saltou das costas da deusa e aterrissou no chão com destreza. — É melhor se afastarem um pouco, isso é, se não quiserem ser esmagados.
Todos obedeceram e, no mesmo instante, partícula azuladas rodearam o corpo da pequena raposa branca, fazendo-a aumentar para o tamanho de dez metros. Kurone sentiu aquela mana sendo sugada do seu ser, mas não se importou, não era nada, afinal naquele momento ele podia absorver a energia do ambiente de novo.
Sem perder tempo, Inari montou na criatura e deu a ordem para ela correr. Atualmente estavam no centro da ilha, por mais que Kumiho corresse o máximo possível, Lao Shi só chegaria ali quando o confronto com a Duquesa estivesse no seu clímax. “Mas antes tarde do que nunca, né não, Nie?”
[Você parece estar bem relaxado para quem estava levando um surra há pouco.]
“Argh!”
— Nós vamos agora, é melhor tomarem cuidado com minha irmão, viu?! — falou o Arquiduque para os dois orcs responsáveis por proteger as meninas que seriam a peça principal naquela missão. — A Duquesa é um demônio sádico e insano, tá pronto pra comprar briga com ela mesma? Ou tu quer ir ao banheiro antes? — Ele olhou com um pouco de dúvida para Kurone.
— Não é a minha primeira vez enfrentando alguém assim — o garoto respondeu com um sorriso excitado no rosto, lembrando-se da sua luta contra Azazel van Elsie.
— Então fechou, mano, bora abrir caminho!
Apesar da gravidade da situação, um sorriso de alívio pôde ser visto no rosto de Lothus. Ela suspirou e comentou:
— Ai, ai, é tão bom ver meu irmão fazendo amigos.
— Quem diabos disse que esse desgraçado é meu amigo?! — berrou Kurone.
— Digo o mesmo, e não grita com minha irmã, filho da puta! — respondeu o Arquiduque, furioso.
— Não fala assim da minha mãe, desgraçado! Tá querendo alterar a ordem da surra com a Mamon?!
O grupo que assitia àquela interação não conseguiu controlar a risada, até mesmo Lou Souen começou a rir discretamente. Após uma última encarada, os dois jovens começaram a correr em direção à grande torre, a fonte de toda aquela energia anormal que inundava toda a ilha.
Finalmente era hora de Kurone conhecer o verdadeiro “chefão” do nível.