Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 165: "Siscons"

O andar onde caíram estava escuro, toda iluminação do local provinha do buraco aberto no terraço.

Kurone levantou-se rapidamente, em guarda e buscando o seu oponente no cômodo envolto em trevas. Assim que sentiu uma intenção assassina esmagadora, ele jogou-se no chão, desviando de um soco poderoso do Arquiduque do Inferno.

O jovem rolou pelo chão repleto de terra e levantou-se perto da escada que dava no andar inferior àquele. Era difícil lutar na escuridão, e isso era tanto uma vantagem quanto desvantagem, por isso eles lutavam longe da luz do buraco do terraço.

Ao escutar o som de passos rápidos, Kurone moveu o corpo novamente. Um estrondo ecoou pelo andar e a parede atrás do jovem, anteriormente, foi destruída. Palavrões e passos rápidos reverberaram pelo ar do local.

“Nie, acha que podemos usar o Olho Sagrado?”

[Sem chance, é algo muito arriscado! Estou falando sério dessa vez, Kurone Nakano, não ouse desobedecer ou vou ficar muito irritada.]

“Porra, agora fiquei assustado com o seu tom de voz. Então vamos ter que…”

Bastou aquele momento de distração para Asmodeus conseguir chegar a uma proximidade perigosa de Kurone. O garoto tentou defender, mas foi inútil, ele não esperava toda aquela velocidade do Arquiduque.

Booom! O som da parede explodindo ecoou pelo céu caótico da ilha. O corpo de Kurone tocou a parede do prédio com força e, atravessando-o, voou em direção ao Distrito Urbano Han. Por mais que fosse arremessado àquela velocidade que poderia destruir sua cabeça ao tocar o chão, o jovem não tinha medo.

Após forçar o seu corpo a ficar em uma posição favorável, Kurone organizou a mana desordenada em seu corpo. Ele focou em fortalecer os músculos ao máximo. Boom! Outro estrondo ressoou quando o corpo do jovem bateu com força no chão de madeira e abriu uma cratera.

Outro barulho semelhante foi escutado bem próximo dele, era inacreditável que o Arquiduque teria chegado ali tão rapidamente apenas correndo, diferente do seu oponente, que foi arremessado do Distrito Comercial ao Urbano.

A Máscara Infernal esbranquiçada de Kurone recuperou-se lentamente, com partículas azuis voando pelo ar, no local onde o Arquiduque atingiu o seu punho mortal. Aquele golpe teria quebrado toda a cara do jovem de cabelos brancos se não fosse por aquele acessório dado pelo supervisor.

— Porra, você não morre, filho da puta?! — gritou Asmodeus avançando no jovem de cabelos brancos.

Kurone riu em excitação. Era inacreditável, ele, um jovem fraco, um zé-ninguém com sérios problemas mentais, estava irritando um demônio com o posto de Arquiduque no Conselho do Inferno.

Formando um grande sorriso por trás da máscara branca com uma cruz negra, o jovem avançou. Vivia amaldiçoando-se por ser patético, jurava que aquela luta seria pior, até mesmo com ajuda da Barreira d’Água avançada, mas lá estava ele, divertindo-se naquele combate.

Sem perder tempo, Kurone atacou com três socos rápidos ao aproximar-se do demônio, no entanto o oponente o recebeu com o mesmo número de golpes. Ambos esquivaram de dois, porém acabaram com uma mão no rosto. 

Dessa vez nenhum dos dois recuou, eles deixaram as mãos no rosto alheio, um forçando a cabeça do outro para trás, na esperança que ela quebrasse.

— Nem fodendo que vou perder pra um desgraçado como você! Eu prometi que ia proteger a Lothus! — berrou Asmodeus acertando um chute impiedoso na barriga desprotegida do garoto de cabelos brancos.

— Tô ligado que você quer proteger a sua irmã, mas eu também tenho as minhas irmãs. Eu tenho três de sangue e uma loli delinquente de consideração, logo minha prioridade é maior! — retrucou Kurone com um soco certeiro no rosto do jovem de cabelos alaranjados.

— Não existe comparação à mana!

— Tá querendo dizer que sua irmã é melhor que as minhas, filho da mãe?!

[Eh?… O que diabos vocês… que-quero dizer, Kurone você…]

Haha, não me faça rir, desgraçado. A Lothus é melhor irmã do mundo, as suas jamais chegarão aos pés dela! Agora faça um favor e morra!

— Se ela tiver uma cara como essa sua, eu só posso sentir pena da tal Lothus.

Hã? Já se olhou no espelho? Eu que tenho pena das suas irmãs, mano! Lothus é a garota mais bonita do mundo, eu me casaria com ela se não fosse minha irmã!

— Demônio siscon maldito! Eu jamais ousaria me casar com minhas irmãs, afinal elas são deusas que jamais podem ser maculadas! Eu mataria e morreria por elas!

Cada exclamação dos jovens era seguida de socos e chutes mortais.

[... Eu não acredito… vo-vocês já esqueceram do motivo de estarem brigando?!]

Àquela altura, os socos desferidos pelos dois jovens já não estavam mais relacionados à batalha pela ilha central.  A Duquesa, o Orbe, o mar… tudo foi esquecido. Cada golpe deles era seguido por um elogio às irmãs que não estavam presentes ali. 

— A Raika é uma deusa!

— A Lothus é um ser superior a uma deusa! Ela é um fodendo ser mega ultra universal cósmico!

— Essa porra nem existe!

— Exatamente, a Lothus é a única!

Eles nem perceberam que já estavam naquela discussão há quase vinte minutos. Ambos estavam ofegantes, as roupas sujas e o sangue escorrendo das mãos devido aos diversos socos destruidores.

Apesar de terem passado todo aquele tempo, em nenhum momento eles pararam de falar qualidades de suas irmãs. Perderia naquela batalha quem tivesse a irmã inferior.

Kurone e Asmodeus di Laplace seguravam os ombros um do outro e, em um impacto violento, bateram as cabeças protegidas pelas Máscaras Infernais, fazendo um “crack” ecoar pelo campo de batalha. Os jovens rolaram pelo chão, trocando socos e chutes violentos.

— Eu vou te matar e comer a sopa deliciosa preparada pela Lothus depois como comemoração! — berrou Asmodeus dando uma sequência de socos na máscara do jovem de cabelos esbranquiçados.

— Essa porcaria nem deve se comparar ao omurice preparado pela Rin! — respondeu Kurone com um golpe no peito do jovem de cabelos laranjas. Aproveitando que o demônio caiu após a investida, o garoto sentou na barriga dele e começou a dar golpes consecutivos. — Isso é por ter xingado minhas irmãs!

— E isso é por ter falado mal da sopa da Lothus! — bravejou Asmodeus segurando os dois punhos do garoto e, como era o único membro disponível, acertou três cabeçadas na máscara dele.

Novamente, ambos rolaram pelo chão enquanto trocavam diversos ataques com fervor. Aquela luta parecia interminável, o resultado mais provável era que ambos acabariam se matando de tantas cabeçadas.

— Kurone!? — gritou uma voz familiar, no entanto o jovem não teve tempo de olhar para trás. — Lothus! Vossa Majestade, eles estão aqui! Venham logo ou vão acabar se matando.

Em um instante, aquela parte do Distrito Urbano foi preenchido por pessoas conhecidas: Lou Souen, Lou Xhien, Bhor e Bramman. Havia também uma menina de vestes azuis e olhos castanhos.

Porém, a briga não parou.

— Irmão, para com isso, nós já sabemos como resolver essa briga — falou a menina em um tom aflito.

— Já pode parar, plebeu — disse Lou Xhien de maneira arrogante.

Mas a resposta dos dois jovem saiu em uníssono quando pararam de trocar socos no chão e viraram para os espectadores: — Eu vou matar esse desgraçado que falou mal da minha irmã! 

Todos fizeram uma expressão confusa ao escutarem aquilo, Lou Souen suspirou em seguida como se visse algo deplorável. 

Nenhum daqueles dois jovens brigava mais pelo controle da ilha central, provavelmente até esqueceram disso, era uma batalha entre dois loucos que levavam a relação familiar a um nível extremo, beirando o bizarro fetiche siscon.

— Fa-façam alguma coisa, é o mestre de vocês que está brigando! — gritou Lothus aos dois orcs que apenas assistiam à briga do mestre com admiração.

— Desculpe-me, senhorita Lou Xhien, mas não podemos interferir em uma luta do chefe — respondeu Bramman, ele parecia estar maravilhado por ver seu líder em batalha contra o Arquiduque.

— Desgraçado! Vai falar mal da sopa da Lothus de novo?! — berrou Asmodeus acertando cinco socos na barriga de Kurone, um líquido vermelho pôde ser visto escorrendo da máscara do garoto de cabelos brancos, mas ele revidou.

— O omurice da Rin é o melhor! — retrucou acertando uma cotovelada e derrubando o demônio com um golpe de arte marcial ensinado por Lao Shi. — Agora diz aí, desgraçado, quem é a melhor irmã? — perguntou ele em tom provocativo enquanto torcia o braço do oponente.

— A Lothus! — respondeu Asmodeus libertando-se do golpe e segurando o garoto pleo pescoço.

A expressão de preocupação no rosto de Lou Xhien e Lothus foi transformando-se lentamente em algo diferente. Ela se encararam e acenaram ao decidirem algo.

Lou Xhien precisou apenas estender a mão, sem usar muita mana, para empurrar dos dois jovens cheio de sangue e prendê-los no chão. Aquilo não era nem 10% do poder total da sua “magia de repulsão”, havia a limitação imposta pela barreira, mas funcionou por os oponentes estarem fracos e distraídos.

— Irmão, você precisa se acalmar!

— Você também, plebeu burro.

Apesar de ser um pedido das duas meninas, Kurone e Asmodeus ficaram presos no chão por dez minutos, um xingando o outro e contando vantagem sobre as suas irmãs.

— Por que irmãos são assim?... — suspirou Lothus escondendo o rosto em vergonha.

— Na verdade, esses dois são pervertidos da pior espécie, eu garanto que irmãos normais não agem dessa maneira — falou Lou Xhien com um olhar de desprezo direcionado aos dois jovens e outro de culpa para Lou Souen. — Enfim, acho que temos assuntos a resolver, pervertidos ou não, eles são fortes…

— Te-tem razão…

Eles não podiam perder mais tempo, então começaram a explicar sobre a situação atual para os dois delinquentes brigões ainda presos no chão por magia de repulsão.

— Entenderam? Podemos resolver tudo isso se conversarmos como pessoas normais — falou Lou Souen.

Hã? Acham mesmo que vou negociar com esse humano desgraçado que xingou a Lothus?! — protestou Asmodeus.

— Eu não posso simplesmente matar esse demônio?! Ele faz parte do Conselho… e falou mal do omurice da Rin…

— Mestre, acho que resolver pacificamente pode ser uma boa ideia, não? — comentou Bhor.

Os dois jovens refletiram por um momento, o orgulho de irmãos deles competia com a racionalidade. Resolver aquilo sem derramar sangue era bom, mas se o sangue fosse de alguém que insultava irmãs, não havia problemas também.

Mas antes que pudessem concluir qualquer coisa, a Barreira d’Água de Lao Shi foi desfeita, algo que provocou arrepios em todos. Aquilo sozinho já era algo incomum, porém o que mais os assustou foi uma energia violenta que se alastrou por toda a ilha, e a origem dela era…

— A torre… — balbuciou Lou Xhien olhando em direção à construção que pertencia à sua família, seu antigo lar.



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