Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 163: A Duquesa Vampira

Hime segurou firme a arma que tinha em mãos: sua longa espada japonesa. Apesar de não conseguir usar o fio da nodachi, ainda podia utilizá-la como um escudo contra os golpes da Duquesa do Inferno à sua frente.

A todo momento, a mulher amaldiçoava a sua própria existência fraca. Se não fosse por Baltazhar, o grande orc corpulento, ela estaria morta há muito tempo. Seus ataques eram limitados a socos e chutes, coisas que não faziam efeito em Mamon von Faucher, o Terror do Nevoeiro.

Ao redor da mulher, a batalha continuava agitada. Os orcs sofriam por conta da regra de não poderem matar as garotas artificiais, regras esta imposta por Kurone e Lou Xhien, seus superiores.

Enquanto analisava o campo de batalha, os olhos de Hime fixaram-se na cena de um monstro aliado sendo cortado ao meio por uma das garotas artificiais, aquelas sacerdotisas eram impiedosas, no entanto, apesar daquilo aparentar uma vitória para o lado do Arquiduque Asmodeus, ainda havia uma carta na manga. Pelo menos tentaria matar a Duquesa.

Se eles perdessem, Lao Shi sabia o que fazer. O plano que Kurone e a pequena Lou Xhien não conheciam era simples: o Arquifeiticeiro desativaria sua manipulação das águas e afogaria todos ali. De uma forma ou de outra, as garotas artificiais seriam libertas.

Porém, a ideia de morrer sufocada naquele mar apavorava Hime, ela ainda tinha sua vingança a realizar e a companheira que precisava salvar. Não podia se dar o luxo de morrer após chegar tão longe. Sem falar que, se deixasse Kurone morrer, o Demônio do Oriente se tornaria seu inimigo.

Com os dentes cerrados, a mulher gritou e avançou na demônia à sua frente, no entanto Mamon fez um simples gesto com a mão e transformou o ar em lâminas mortais de cor rosada, atirando-as em direção a Hime em seguida. Ela manipulava o elemento vento com perfeição.

Novamente, o grande Baltazhar saltou na frente de Hime e a protegeu com o seu escudo quase tão extenso quanto seu corpo. O som das lâminas de vento batendo contra o metal reverberou pelo ar.

O orc grunhiu, afinal segurar o ataque de alguém com posto de Duquesa no Conselho do Inferno era uma tarefa até mesmo para o mais habilidoso dos guerreiros. Mas antes que pudesse baixar o escudo, a garotinha moveu-se, acertando um chute no metal.

Baltazhar foi empurrado para trás após o golpe. As pernas da Duquesa eram finas como as de uma criança de dez anos, no entanto o seu chute teve força suficiente para amassar o escudo. 

O grande orc ficou encurralando, sentindo a água em suas costas. Até Lao Shi tinha limites, o Arquifeiticeiro não conseguiu abrir aquele caminho com espaço de mais de vinte metros. Se eles se descuidassem ali, poderiam ser arremessados no paredão de água e morreriam sufocados se não fossem rápidos o suficiente para emergirem, tarefa quase impossível devido à profundidade do mar.

Ao perceber que a intenção de Mamon era encurralar Baltazhar e matá-lo sufocado na parede de água, Hime brandiu sua espada com força. Não cortaria, mas a dor da contusão ainda era grande. Por mais que aquela demônia tivesse um poder monstruoso, a mulher ainda era alguém que fizera parte dos lendários Heróis Ádvenas.

A Duquesa voltou a atenção para a mulher, mas era tarde demais. Impiedosamente, Hime deu um golpe horizontal na barriga da Duquesa com a sua nodachi, fazendo-a se desprender do escudo de Baltazhar, onde dava socos consecutivos, e voar pelo campo de batalha.

Mamon levantou-se rapidamente, a única alteração em sua figura eram as roupas sujas devido à areia molhada. Ao redor dela, estavam espalhados corpos de orcs e animais marinhos que não conseguiram fugir quando o mar foi aberto.

Apesar de não estar ferida, a garotinha tinha uma expressão irritada no rosto, e isso fez Hime formar um sorriso discreto em seu semblante. A mulher balançou a espada e apontou para a demônia, como se a desafiasse a avançar novamente.

Hime podia ser muitas coisas, mas jamais seria descuidada. Ela sabia que, atualmente, era impossível derrotar a Duquesa com o seu poder, por isso dependia de seus aliados.

Aceitando o desafio, Mamon acelerou tomando impulso na areia molhada. Dessa vez, ela usava nada mais que as suas unhas afiadas tingidas de rosa. Mas a mulher com a espada longa não desviou.

Quando estava a três metros de rasgar o rosto de Hime com as suas unhas, a menina foi atingida por um chute violento e rolou até impactar e atravessar o paredão de água.

Quem acabava de acertar um chute preciso nas costelas da pequena demônia era o orc de tapa-olho. Aquele foi um dos motivos para Berthran ficar no campo de batalha ao invés de seguir Ayshla e Kurone.

O orc tinha a habilidade de criar uma bolha de ar ao redor do seu corpo, e isso permitia que ele corresse pelas paredes do mar aberto sem ser notado. Por todo aquele tempo, ele esteve esperando o momento certo para atacar a Duquesa.

Baltazhar acenou com a cabeça ao ver o grande líder surgindo do mar. Porém ainda não era hora deles baixarem a guarda, pois a Duquesa retornou com fúria nos olhos. Não havia manchas de sangue ou arranhões no rosto da demônia, novamente apenas sua roupa foi maculada, tornando-se molhada e destacando as curvas do seu corpo magro envolto ao vestido preto.

A Duquesa levantou a mão, mas alternou o foco dos seus olhos entre os três guerreiros mais perigosos dali. Ela sabia que eles não tinham acabado com os truques, por isso não podia matar a pessoa errada.

Mas antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, Berthran ativou sua bolha de ar e saltou novamente no paredão de água, desaparecendo no mar. Baltazhar ativou sua habilidade de Defesa Impenetrável, erguendo seu escudo para proteger seu grande corpo. Apenas Hime ficou desprotegida, encarando a pequena demônia à sua frente.

— Você não é uma humana comum, certo? Posso sentir um pouco de energia divina vindo dessa sua espada estranha, talvez eu leve essa arma, fará parte do meu tesouro particular… Espera! Agora que penso nisso, não faz sentido essa luta aqui, estamos muito distantes da ilha principal…

Ela estava pensando demais. Hime brandiu sua espada novamente e avançou, sua velocidade era equiparável à de um demônio idaten, mas lhe faltava a força para causar dano na Duquesa.

Dessa vez, no entanto, foi Mamon que não fez questão de se mover. A demônia continuou parada, com o dedo fino adornado de uma unha afiada tocando o seu rosto de aspecto infantil enquanto refletia.

— Vocês não passam de distração, não é?! — ela falou com uma voz séria e irritada. — Eu odeio ser enganada!

Hime chegou perto o suficiente para dar outra estocada na menina com sua espada longa, porém, quando efetuou o golpe, a figura da Duquesa desapareceu como se desintegrasse no ar. A mulher olhou assustada para o local que a inimiga estava anteriormente.

— Senhorita Hime, atrás de você! — gritou Baltazhar. O grandalhão estava longe demais para ajudar a aliada.

Ao olhar para trás, a mulher viu a garotinha como o vestido negro flutuando pelo ar, não, na verdade, ela caía. Hime tentou fugir, mas foi uma tentativa inútil, Mamon acertou-lhe um chute rápido nas costas e a fez rolar pelo chão.

Quando os pês da demônia finalmente tocaram o chão, uma onda de ar mortal alastrou-se por todo o campo de batalha. Alguns sentiram o perigo e foram ao chão, mas os desavisados foram cortados ao meio pelo ar em forma de lâmina expelido pela garota.

Hime, do chão, olhou horrorizada para a cena das garotas artificiais e orcs sendo partidos pela onde vento um pouco rosada. Não existia a palavra aliados no vocabulário da Duquesa.

Nem Baltazhar ficou ileso. O escudo gigante do grande orcs foi cortado ao meio e a Defesa Impenetrável, atravessada. Mas apenas um pouco do ataque atingiu a região da sua barriga, fazendo sangue de cor arroxeada vazar pela cintura dele.

E para o terror de todos, o ataque da Duquesa não acabou ali. Ela moveu a mão e um estrondo ensurdecedor foi ouvido por todo o campo de batalha. Todos os guerreiros à frente da demônia foram repelidos e arremessados pelo ar, era como uma versão — muito — melhorada da magia de repulsão de Lou Xhien.

Quando restaram poucos guerreiros caídos no campo de batalha, Mamon andou calmamente em direção à ilha central. Ela era uma demônia esperta, provavelmente supôs que havia outras pessoas invadindo a ilha para enfrentar o Arquiduque.

E pelo pouco que conhecia aquele ser, Hime podia dizer com certeza que ela pretendia ajudar os invasores a matar o Arquiduque e, em seguida, matar esses invasores. Aquela era uma demônia que vivia apenas para provocar o caos.

Hime ficou de pé. A mulher não permitiria que a Duquesa interferisse na luta já difícil do discípulo de Lao Shi. Porém, assim que ficou de pé, ela foi recebida por uma onde de vento violenta e arremessada para longe, muito longe.

Enquanto quicava pela areia molhada, sentiu alguns ossos do seu corpo quebrando. Ela optou por proteger a sua cabeça, para evitar traumas graves, mas teve que serrar os dentes para suportar a pele sendo arranhada com força.

No caso de Baltazhar, foram necessários seis golpes de ar consecutivos para arremessar o grandalhão para longe. Com aquilo, restava apenas Berthran para a Duquesa preocupar-se.

A demônia olhou atentamente por todo o cenário. Os orcs e garotas artificiais no chão se recusavam a levantar, sabendo que poderiam acabar mortos, mas o foco daquela menina era especificamente o orc de tapa-olho.

Enfim, ela escutou algo se aproximando pela parede d’água esquerda. Ela lançou três lâminas de ar seguidas para cortar aquele monstro ao meio, porém o que saiu de lá foi apenas a espada do orc em uma velocidade impressionante.

Mamon arregalou os olhos em surpresa. Mesmo ela não esperava que alguém arremessasse a espada dali. E para completar a surpresa, o orc que ela esperava saltou da parede direita, logo às suas costas.

A Duquesa recebeu duas lâminas de ar em suas costas. Diferente das usadas por ela, as de Berthran eram pequenos arcos de ar transparentes que não causavam nem um terço do dano que ela infligia.

Berthran aproveitou-se da brecha e sacou duas lâminas curtas e fincou-as nas costas da Duquesa em seguida. Apesar da menina ter uma aparência infantil, o orc não teve piedade em esfaqueá-la e, ao pegar sua espada, perfurou seu corpo caído várias e várias vezes na região do pescoço, criando uma ferida grotesca ali.

O orc finalmente parou ao dar dez golpes no pescoço da menina, ele deixou a espada fincada lá e olhou em direção a Hime, aliviado. A mulher estava muito distante dele, ela podia ver todas as pessoas ali apenas como pontos coloridos. 

Ignorando a dor dos ossos quebrados e a pele rasgada, Hime levantou-se com um sorriso satisfeito. Apesar de ter sido de uma maneira brutal e repugnante, a Duquesa do Inferno estava morta finalmente. Talvez Berthran pudesse tomar o título de “Duque” para si, assim como Kurone faria com o de Asmodeus, ao matá-lo.

Mas a alegria deles durou pouco. Todos olharam horrorizados para o local onde o corpo da demônia estava caído, de lá ecoava uma risada macabra.

Mamon apoiou a mão no punho da espada fincada em seu pescoço e a puxou com força, fazendo muito sangue respingar no chão úmido. Ela levantou com o grande buraco naquela região ferida, era algo que impossibilitaria a fala, mas ela continuava gargalhando.

Enfim, a Duquesa passou a língua pelas duas presas em sua boca e levantou as mãos. Pequenas partículas azuis rodearam o pequeno corpo dela, curando-a instantaneamente. O buraco aberto em seu pescoço simplesmente desapareceu.

Hahaha! Foi uma boa tentativa, mas não vai conseguir me matar com uma espada de metal simples como essa! 

— U-uma vampira?! — gritou Hime. — Berthran, sai daí!

O aviso da mulher foi tarde. 

A demônia apenas levantou a mão e arremessou o orc de tapa-olho violentamente. Foi um ataque ainda mais forte que aquele usado em Hime. Provavelmente, Berthran só pararia quando chegasse à ilha Lou Souen, a muitos metros distantes deles. Era impossível ele sobreviver àquilo, por mais forte que fosse.

Após o ataque, a demônia continuou a caminhar tranquilamente em direção à ilha principal, decapitando alguns dos orcs deitados no chão, com medo, ocasionalmente.



Comentários