Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 162: Luta De Não-Combatentes

O corpo pequeno de Lou Xhien moveu-se rapidamente para evitar as lâminas atiradas pela irmã do Arquiduque. No entanto, não importava o quanto ela esquivasse, parecia que os projéteis mortais nunca acabavam.

A arma que tinha em mãos era a espada curta chamada de “wakizashi” por Kurone. Enquanto estivesse priorizando a sua segurança, não seria capaz de realizar nenhum ataque.

Apesar de ser alguém especializada em estratégias e magia de cura, a menina aproveitou a presença de Lao Shi na ilha para melhorar as suas habilidades de combate. Se conseguia esquivar das lâminas mortais naquele momento, era devido aos ensinamentos do Arquifeiticeiro.

Por,ém sua resistência não era das melhores. Não se passou nem dez minutos de batalha e ela já ofegava, um pouco distante da pequena casa onde foram atacados. Por sorte, a oponente ignorava os dois orcs no chão.

Tanto Bhor quanto Bramman eram guerreiros quase no nível de Kurone, mas não tinham mais forças para levantar, isso só podia significar que as lâminas atiradas pela inimiga eram venenosas. 

Lou Xhien poderia ajudar os dois guerreiros se ficasse mais próxima, porém não tinha tempo para aquilo, afinal a remoção de veneno da corrente sanguínea demorava alguns minutos, mesmo se usasse feitiços remotos, ainda dividiria sua consciência entre cura e combate.

Outro projétil zuniu em direção ao seu rosto, mas dessa vez ela não fez menção de desviar. A menina brandiu a sua espada e jogou o objeto voando para o lado. Não havia outra escolha senão atacar, e analisando a oponente, podia supor que ela também não era alguém habituada ao combate corpo-a-corpo.

Decidindo-se rapidamente, Lou Xhien bateu as sandálias de madeira contra o piso de mesmo material da ilha e correu em direção à irmã do Arquiduque. Precisava de toda a concentração ali, pois poderia acabar com uma lâmina venenosa fincada na testa se desviasse o olhar e deixasse de esquivar.

A inimiga também correu ao seu encontro, brandindo dois objetos brilhantes.

Quando finalmente estavam próximas, a wakizashi de Lou Xhien tocou as lâminas da irmã do Arquiduque com força, fazendo um tinido metálico reverberar pelo ar caótico. As duas garotas fizeram força, ficando os pés com força no chão na posição kokutsu dachi do karatê, onde as pernas eram flexionadas para dar suporte à parte superior do corpo.

Apesar de rangerem os dentes e forçarem os fios das armas, suas forças eram equiparadas, por isso deram um salto rápido, distanciando-se e fazendo as sandálias de madeira rangerem ao serem arrastadas pelo chão.

Lou Xhien e a irmã do Arquiduque voltaram às suas posições de batalha. Ambas locomoviam-se pelo campo de batalha com katas semelhantes, como se soubessem uma variação da mesma arte marcial.

As mãos das garotas seguravam armas mortais e os olhos mantinham-se fixos nos pontos vitais. A irmã do Arquiduque tinha a clara vantagem de arremessar suas lâminas, porém não parecia que ela tinha muitos projéteis à disposição àquela altura da batalha.

Certamente a demônia subestimou a princesa das garotas artificiais e gastou muitas de suas armas para terminar a luta rápido, mas percebeu que não era como pensava e ficou mais hesitante com relação a gastar o seu trunfo de maneira imprudente.

Ahh! 

Com outro grito, as duas meninas aproximaram-se novamente brandindo suas armas. A irmã do Arquiduque tentou um corte rápido na horizontal, mas ele foi esquivado por um movimento rápido de Lou Xhien que, aproveitando-se da brecha, direcionou sua wakizashi para a barriga da inimiga.

Era um golpe arriscado, pois ela poderia ser atingida nas costas ao furar a defesa da oponente, porém foi mais leve que isso, ela levou apenas um chute no queixo e rolou pelo chão de madeira sem conseguir fincar a lâmina no peito da irmã do Arquiduque.

Lou Xhien era uma guerreira forte, apesar do corpo frágil. Ela levantou-se rapidamente segurando a região atingida pela sola da sandália da oponente. Outro grande problema ali era que a sua magia de cura estava limitada somente às habilidades passivas, devido à Barreira d’Água avançada erguida pelo Arquifeiticeiro.

A menina também não podia gastar a pouca mana disponível, pois precisava curar os dois orcs aliados no chão. Quanto mais tempo se passava, mais o veneno corria e alastrava-se pela corrente sanguínea deles.

Ela encarou a irmã do Arquiduque com ódio quando uma possibilidade passou-se pela sua cabeça. Aquela demônia teria ferido Lou Souen?

Garotas artificiais tinham um organismo diferente dos humanos, no entanto Lou Souen era meio-humana. Se fosse vítima do veneno daquelas lâminas, àquela altura ela já devia estar em seu estágio terminal.

— Ei, — Lou Xhien começou ofegante — você só nos atacou até agora, certo?

A irmã do Arquiduque franziu o cenho com a pergunta repentina da menina, porém, sem baixar a guarda, respondeu em um tom sincero:

— Sim… eu estive até o momento presa ali. — Ela apontou para a pequena casa logo atrás. — Inclusive, fui aprisionada lá por um dos seus aliados.

Aliados? 

A única pessoa que poderia ter feito aquilo era Lou Souen, a menos que houvesse outro aliado desconhecido na ilha central. Lou Xhien suspirou aliviada ao saber que a sua súdita e meia-irmã ainda estava viva, naquele momento tinha mais motivos para ganhar aquela luta.

— Vocês são uns desgraçados mentirosos. Vou matar cada um de vocês para proteger o meu irmão! — gritou a irmã do Arquiduque com ódio, atirando uma das suas lâminas em Lou Xhien e sacando outra na sequência para substituir a que acabou de ser lançada.

Foi um ataque realizado por conta da fúria, ou seja, não tinha técnica ou cálculo naquele golpe, então Lou Xhien conseguiu desviar facilmente do projétil que se fincou em uma parede de uma casa próxima.

— Eu não vou errar na próxima! — ameaçou a demônia.

Aquela expressão da inimiga fez Lou Xhien pensar que Lou Souen fizera algo terrível a ela. O corpo da irmã do Arquiduque não tinha outros arranhões além daqueles obtidos naquela batalha, o que a sacerdotisa teria feito além de trancá-la na pequena casa?

As garotas fizeram outras três investidas, no entanto nunca conseguiam abrir feridas letais. Na primeira vez, enquanto recuava, Lou Xhien teve o ombro atingido de raspão por uma das lâminas, aquilo provocou uma extrema ardência no seu corpo e a deixou tonta por alguns segundos, mas sua habilidade passiva começou a trabalhar rapidamente.

Na segunda investida, trocaram alguns socos e afastaram-se com os rostos manchados de hematomas. 

Foi na terceira investida que Lou Xhien levou vantagem, conseguindo cortar de leve a perna direita da demônia com a sua wakizashi. 

Àquela altura, ambas estavam ofegantes e com o suor banhando o rosto, porém nenhum queria desistir. Para duas garotas que não eram guerreiras habituadas à batalha, aquela era uma luta excepcional. 

O olhar delas tinha uma concentração sobrenatural, porém essa concentração foi quebrada quando escutaram o barulho de sandálias de madeira aproximando-se rapidamente dali.

Inconscientemente, elas voltaram o rosto para a direção da origem do barulho e arregalaram os olhos ao verem a figura que chegava ali correndo em uma velocidade surpreendente.

— Lou Souen!? — as duas meninas gritaram em uníssono. Uma encarou a outra após o grito.

Lou Souen, a sacerdotisa de longos cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo, kosode branco e hakama vermelho, saltou e aterrissou no meio do campo de batalha, entre Lou Xhien e a irmã do Arquiduque.

— Não posso permitir que briguem — ela falou em um tom frio e firme, o seu rosto estava mais inexpressivo que o de costume.

— Traidora! — gritou a irmã do Arquiduque, arremessando uma de suas lâminas na direção da garota artificial. Foi um golpe rápido, porém a sacerdotisa conseguiu interceptá-lo segurando o projétil com a mão direita.

O olhar de Lou Souen alternava entre a princesa das garotas artificiais e a irmã do Arquiduque. Ela mantinha uma postura calma, considerando que estava no meio de um campo de batalha.

— Lothus… — a garota artificial começou com uma voz triste — peço perdão por tê-la enganado, mas só queria mantê-la segura. 

Lou Xhien olhou confusa para a interação entre as duas garotas, ela até chamava a demônia casualmente pelo seu nome.

— Ei, sacerdotisa, você não está nos traindo, está? — perguntou Lou Xhien com uma voz irritada.

— Vossa Majestade, garanto que estou do seu lado, mas não posso permitir uma luta entre vocês. Lothus é uma pessoa tão boa quanto Vossa Majestade, e apenas ela consegue acabar com esta batalha antes que o Kurone e Asmodeus se matem.

Lou Xhien cerrou os dentes ao escutar o nome da pessoa que amava. Ela sabia que, àquela altura, Kurone já havia iniciado a sua luta contra o Arquiduque do Inferno. Com a mana reduzida na ilha, ficava difícil identificar onde ocorria a batalha. 

— Lothus e Asmodeus são demônios bons, Majestade, — continuou a garota artificial — eles só queriam um lugar seguro para viver. Asmodeus tentou negociar com o Kurone, mas não acabou bem… Lothus! — o tom dela tornou-se suplicante — Podemos acabar com esta batalha sem precisarmos derramar sangue inocente.

A expressão de Lou Xhien e Lothus mudou conforme a sacerdotisa de cabelos negros falava. A princesa das garotas artificiais não gostava de guerras, por isso mantinha sempre sua posição neutra em conflitos do Continente Oriental, se houvesse uma chance, ela gostaria de resolver aquilo sem precisar de um conflito que arriscasse a vida de Kurone.

— Por que eu deveria confiar em você de novo?! — questionou Lothus — Você pode muito bem estar mentindo para me fazer baixar a guarda! 

— Porque, — falou Lou Souen com uma expressão séria — se não acreditar, uma pessoa especial para mim ou seu irmão podem acabar mortos na batalha. Seu irmão pode ser forte, mas o Kurone não conhece limites quando se trata de salvar os outros.

Uma tensão tomou conta do lugar. O silêncio foi tão grande que o barulho delas engolindo em seco pôde ser ouvido, porém o suspense foi quebrado com um comentário inesperado de um dos orcs:

— Escuta, — Bhor balbuciou, arrastando-se pelo chão — será que poderiam nos ajudar antes de decidir qualquer coisa? Não se sintam pressionadas, mas saibam que esse veneno pode nos matar a qualquer momento.

— Pelos deuses, esqueci de vocês! — gritou Lou Xhien correndo rapidamente para ajudar os dois orcs.

Lothus arregalou os olhos ao ver a menina deixando o campo de batalha para ajudar seus companheiros. Um misto de alívio e um pouco de hostilidade direcionada a Lou Souen foi visto em seu semblante, no entanto sua vontade de prosseguir aquela batalha desapareceu. 

— Eu espero que você não esteja mentindo novamente, Lou Souen.



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