Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 159: Atacados No Ar

Kurone ficou estarrecido ao ver a força do seu mestre. As águas agitadas do grande mar à sua frente separavam-se em duas partes, abrindo passagem para o exército atravessar em linha reta até Lou Xhien Pi’yan, a ilha central.

Alguns animais marinhos podiam ser avistados debatendo-se na terra molhada e, quando o caminho até a outra ilha foi finalmente formado, Kurone viu a extremidade dela.

Aquela habilidade de Lao Shi consumia muita mana e ele precisaria mantê-la ativada até o fim da batalha, porém o Arquifeiticeiro ainda se esforçaria para erguer uma Barreira d’Água avançada na base inimiga.

O jovem sentiu um profundo respeito àquele homem que flutuava no alto da ilha Lou Souen, ele também dominava a lendária técnica de levitação do Tipo Elemental vento. 

— Kurone! Atenção, não podemos perder tempo — falou Hime.

Ele deu alguns tapas no próprio rosto para se recuperar e olhou para o exército de orcs logo atrás. Assim como os outros quatro orcs mais velhos obedeciam a Berthran, aqueles monstros consideravam o jovem orc com o machado nas costas como um líder.

— Atenção, os nossos inimigos têm o controle sobre as garotas artificiais, elas virão nos atacar, mas vocês não devem matar nenhuma delas! Os nossos inimigos são o Arquiduque Asmodeus, a Duquesa Mamon e a irmão do Arquiduque! — gritou Kurone em uma voz sofrida. Ele não levava jeito mesmo para liderar tropas.

Ao escutarem as palavras do seu mestre, os orcs deram um grande grito de guerra e começaram a se mover pelo caminho aberto pelo mar, seus pés afundavam a areia molhada com vontade. Alguns dos monstros tocaram o grande paredão de água para verificar se aquilo era real mesmo.

Kurone olhou para a outra extremidade da ilha. Lou Xhien, Bramman e Bhor saíram por lá com um barco improvisado, eles não podiam chamar atenção indo pela trilha feita por Lao Shi, pois a missão deles era resgatar Lou Souen e tentar libertar as outras garotas artificiais do controle mental.

Lao Shi também se mantinha furtivo ali, apesar de estar levitando. Ele usou um pouco da sua força restante para erguer uma pequena Barreira d’Água ao redor do seu corpo, que o tornava invisível aos olhos de quem estava distante, assim não chamaria a atenção dos inimigos e poderia acompanhar toda a batalha, embora tivesse os olhos de Alley à sua disposição.

O coração do garoto palpitava desordenado no peito. Os orcs levariam pelo menos trinta minutos até chegarem perto da ilha, claro que eles não a alcançariam, afinal seriam abordados pelo exército de garotas artificiais.

Os monstros tinham uma extrema desvantagem, pois as garotas artificiais poderiam matá-los sem dó. Em contrapartida, era muito difícil deixar uma daquelas sacerdotisas desacordada.

— É melhor não morrer ou eu vou ficar encrencada — disse Hime antes de correr em direção à marcha dos orcs. O jovem pensou em responder com um “você também, não morra”, mas a voz não saiu.

Após cinco minutos, quase todos os guerreiros dirigiam-se ao campo de batalha, apenas Kurone e Lao Shi permaneceram na extremidade da ilha Lou Souen. Por precaução, decidiram que a garota artificial que se uniu a eles recentemente ficaria ao lado do Arquifeiticeiro.

O homem era muito importante para ser deixado sozinho ali, se algo acontecesse com ele, a barreira ao redor da ilha principal iria se desfazer e as águas voltariam ao seu estado original, matando tanto o exército de Kurone quanto as garotas artificiais.

— Acho que chegou a nossa hora de ir, não é?

[Ai, ai, ai, que nervosismo!]

O garoto olhou para a figura de duas mulheres aproximando-se: Ayshla e Inari. A orc fêmea mantinha uma expressão séria no rosto esverdeado, enquanto a deusa tinha a sua descontração usual.

— Podemos ir? — questionou a deusa-raposa.

— Sim, tô pronto.

Não tinha sentido em Kurone acompanhar o exército de orcs e acabar se envolvendo na batalha no meio do caminho, seu alvo era o Arquiduque, então precisaria tomar outro caminho.

Hmm, preciso dar um jeito no meu rosto antes. Tem alguma sugestão?

O jovem olhou para a deusa descontraída, mas, quando ia pedir rudemente para ela levar aquilo mais a sério, uma ideia passou-se pela sua cabeça e ele aproximou-se da deusa, sussurrando algo no seu ouvido em seguida.

Inari ficou pensativa por um momento, mas logo deu de ombros e iniciou a sua técnica de metamorfose. A deusa não podia participar da luta com aquela forma, até mesmo sua participação foi reduzida a curar Kurone quando necessário, pois ela era alguém muito problemática para que outras pessoas tivessem conhecimento da sua existência.

Lao Shi, do alto, olhou com interesse para a forma que Inari assumiu, era algo realmente incomum. 

A deusa de mais de dois metros e dez ficou quase com a metade da sua altura, com um rosto um pouco infantil, cabelos prateados e olhos vermelhos-carmesins. O que mais chamava atenção naquela forma era o uniforme negro incomum.

Kurone suspirou com aquela aparência familiar, apesar de Inari ter errado na roupa. Não podia culpá-la, afinal aquela deusa nunca vira um uniforme militar antes, principalmente algo tão incomum como aquele de Rory, costurado à mão por Ryuu Toshiro, o primeiro Lolicon Slayer.

Inari assumir a forma de Rory era algo que ele pediu apenas para se sentir mais confortável, não lembrava da última batalha como aquela que teve sem estar ao lado da loli arrogante.

— Que forma incomum, então é disso que você gosta? — perguntou a deusa olhando para ele de forma sugestiva.

O jovem baixou os ombros em frustração, Rory jamais faria uma expressão pervertida como aquela, mas não tinha problema, bastava aquela figura familiar para lhe dar forças.

 — Desejo boa sorte a vocês, meus caros — falou Lao Shi, vendo Kurone, Ayshla e Inari ficando próximos.

Repentinamente, os três corpos começaram a levitar. Aquela era uma técnica especial de Inari. Como uma deusa, ela podia voar, sua habilidade permitia que ela amarrasse uma “corda” invisível em seus companheiros e compartilhasse sua técnica de levitação.

Algo a se notar era que tanto Kurone quanto Ayshla eram conduzidos pela mulher-raposa, eles não faziam nenhum esforço para controlar a levitação. Se a deusa quisesse, poderia simplesmente cortar o laço invisível e os derrubar no meio do mar ou no campo de batalha.

Apesar de um pouco tonto e tenso, o garoto suspirou e acreditou que Inari estava do seu lado. Ao olhar para baixo, ele avistou o campo de batalha, os orcs encontraram o grande exército de garotas artificiais no meio do caminho criado pelo Arquifeiticeiro.

O exército do Arquiduque tinha cinco vezes mais guerreiros que o de Kurone, ainda havia outra desvantagem, pois, pelo que Hime explicara, as garotas artificiais da ilha Lou Xhien Thian eram especialistas em artes marciais.

Ainda olhando para o caos abaixo, os olhos de Kurone encontraram com os de uma pequena garota de cabelos rosas. Calafrios tomaram conta do seu corpo quando ele viu que a menina, apenas com um golpe, matou cinco orcs que a cercavam.

A menina levantou a mão para o céu, exatamente na direção do jovem e, no mesmo instante, todo o cenário foi tomado por uma espessa névoa branca. Se aquela garotinha não era a irmã do Arquiduque, só poderia ser…

— O Terror do Nevoeiro! — gritou o jovem assustado.

— Droga… não consigo ver nada… vamos precisar… Argh! — A voz despreocupada de Inari foi cortada quando um clarão rosa, vindo do chão, acertou o seu corpo pequeno com força.

Kurone sentiu algo largando o seu corpo e, sem perder um minuto, começou a gritar. Eles estavam caindo em linha reta para o mar, uma queda dali seria mortal!

— Inari! Faz alguma coisa! Inari! — ele gritou afobado, mas não obteve resposta. O campo de visão estava tomado pela neblina, só sabia que a deusa e a orc fêmea ainda estavam caindo ao seu lado por conta dos gritos.

Porém, antes que pudessem tocar a água gelada do mar ou a areia úmida do campo de batalha, eles foram aparados no ar por uma ave de quase oito metros. Kurone não teve tempo para pensar, seus instintos apenas o obrigaram a agarrar o que parecia ser as penas da criatura.

Após alguns segundos, escutou a risada excitada de Inari gritando diversas coisas, mas só pôde escutar o fim:

—  … Que eu não me divirto tanto! Hahaha! Isso, sim, é uma batalha de verdade!

 O jovem forçou os olhos e viu, ao lado de Inari, Ayshla. A orc fêmea tinha uma rara expressão de pavor no rosto e segurava desesperadamente as penas do monstro como o garoto.

“Eu sabia que algo assim poderia acontecer, então solicitei a ajuda de um amigo próximo…”, disse uma voz vinda das costas do jovem.

Olhando para trás, mas sem largar as penas que segurava com tanto desespero, Kurone viu Alley, o familiar de Lao Shi, preso com as garras em suas costas, apesar disso, o jovem não sentiu dor, pois ele não apertou as garras. Em uma das garras da ave, havia um “conchafone” emanando a voz meio robótica de Lao Shi.

“Este é o pai de Alley, um conhecido de longa data”, explicou o homem. “Ele deixará vocês no seu destino, então apenas aproveitem o passeio.”

— Desgraçado, você não podia ter usado ele logo!? — gritou Kurone, o rugido foi mais por estar quase surdo devido ao vento que pela indignação.

“Assim iriam derrubar vocês de qualquer jeito, meu caro, agora a Duquesa acha que o derrubou no mar e seu caminho está livre. E também uma adrenalina sempre é bem-vinda, não?”

***

— Puxa, essa batalha não tá tão divertida — comentou a Duquesa Mamon von Faucher. — Achou que vou voltar, vai que eles resolvem querer matar o Deus.

A garotinha deu apenas alguns passos quando sentiu uma aura assassina em sua direção. Rapidamente, ela deu um salto gracioso e segurou a cabeça do seu atacante, prendendo-o contra a parede de água ao seu redor. Ele seria sufocado pela água se não posso pela intervenção de outro aliado.

Um orc enorme saltou na menina, obrigando-a a recuar.

A Duquesa estendeu a mão e lançou um ataque de energia rosa, mas ele foi anulado pela defesa anormal do grande monstro que segurava um escudo quase com o tamanho do seu corpo.

Cof, Cof! Obrigado, Baltazhar… Cof! Cof! — falou a mulher que quase morreu sufocada na água.

— Sem problemas, senhora Hime — respondeu o grande orc com uma voz firme. — Esta parece ser perigosa, devemos fugir?

— Acho que não temos essa opção — comentou a mulher olhando feio para a Duquesa.

— Finalmente uns brinquedinhos divertidos! — gritou a menina expandindo sua aura. Por um segundo, todos os guerreiros tremeram de medo ao sentir aquilo.



Comentários