Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 154: Jantar Em Família

— Que bom revê-lo, mestre — disse Ayshla ao avistar Kurone e seu grupo.

Como Lou Souen não estava mais ali, a orc fêmea ficou com o seu trabalho de visitar o torii toda manhã. Ao contrário da sua expressão severa e as atitudes desrespeitosas com os outros, ela era alguém que tinha um extremo respeito com o seu mestre.

Ela era o orc que usava menos armadura, por isso o jovem não pôde deixar de notar os grandes músculos em seu corpo esverdeado definido. O treinamento de Lao Shi para os monstros transformou-os em verdadeiros guerreiros.

Diferente de Kurone, os outros tiveram treinamentos direcionados à sua Classe. 

Bhor tornou-se mais preciso ao atirar suas flechas, Baltazar tornou sua Defesa Impenetrável ainda mais impenetrável, Berthran aprendeu sobre estratégias de batalha e Bramman tornou-se um verdadeiro ninja nas sombras.

O treinamento de Ayshla teve foco na sua força física e técnica com o cutelo médio que carregava nas costas.

Lao Shi deu um upgrade às armaduras deles, apesar de a mudança quase não ser visível. A armadura da orc fêmea era focada na proteção dos braços e pernas, deixando a ragião do tronco, coberta apenas por um coppred negro no busto, com o tanquinho trincado à mostra.

A parte metálica com uma fusão vermelha e preta da armadura de Ayshla servia como escudo em seu ombro. 

Apesar de ser um “monstro”, ela era alguém apessoada. Os cabelos negros foram cortados para não atrapalhar na batalha e apenas as presas discreta na boca demonstraram que ela não era apenas uma garota com a pele pintada de verde.

Kurone a saudou com um aperto de mão forte — agora, com sua nova força, ele podia fazer isso sem se preocupar que a orc quebrasse alguns ossos seus no aperto.

Ela analisou o mestre com os olhos amarelados reluzentes. A guerreira sabia que chegava a hora dos preparativos para a batalha contra o Arquiduque e queria verificar o estado do garoto.

— O senhor parece ter ficado mais forte — ela comentou ao notar ele resistindo ao seu aperto de mão.

— Eu tenho me esforçado nesses últimos dias — respondeu com um sorriso.

Nem mesmo Kurone acreditava na sua evolução física. 

Quando chegou àquele mundo, ele era um jovem magro, só conseguia sobreviver às lutas mortais por conta do Aprimoramento Físico dado por Cecily.

Quando perdeu a magia passiva que o salvou tantas vezes ao morrer, viu o quão fraco era.

Os primeiros dois meses naquele mundo foram gastos correndo de um lado para o outro, na maioria das vezes em uma carruagem, a única melhoria que obteve foi quando chegou em Eragon, mas foi algo insignificante.

Seu corpo só foi moldado após o primeiro mês de treinamento com Lao Shi, ou talvez um pouco antes, quando explorou sua primeira masmorra. Agora ele podia sentir os músculos contraindo-se ao andar. 

Melhorar o corpo era melhorar o canal que absorvia mana para a alma, por isso sua absorção de energia vital também tornou-se mais rápida.

Ele suspirou ao notar a passagem do tempo. Passou dois meses e poucos dias em Andeavor e Eragon e três e mais poucos dias ali, no Continente Oriental. Quase seis meses no total.

Quando esteve na mansão Sophiette, Sophia esclarecera que estavam no mês seis da Era Mágica, sendo assim, agora deveria ser o fim do mês onze. 

O plano inicial era esperar até o retorno de Lou Souen em outra ronda das garotas artificiais no fim do mês doze, mas não tinham aquele tempo, a hora de agir chegou.

Supondo que aquele era um mundo com doze meses em um ano, assim como Edgar explicara certa vez, seu aniversário era no mês um, no começo do ano seguinte. “Eu realmente não pensei que passaria meu aniversário de vinte e um anos em outro mundo.”

O grupo, agora com a adição de Ayshla, seguiu em direção ao templo principal. A partir daquele momento, cada segundo era precioso. 

Não discutiram nada a respeito dos próximos passos por conta da ausência de duas peças principais: Berthran, o orc de tapa-olho, e Lou Xhien. Eles eram estrategistas no mesmo nível de Lao Shi, senão melhores.

Ao aproximar-se da pequena vila que se formava pelo aglomerado de alguns templos no centro da ilha, Kurone pôde ver o quão alto estava o muro sendo erguido pelo Arquiduque. 

Seria questão de tempo até que a entrada e saída das ilhas Lou Xhien fossem seladas. Lao Shi até mesmo desistiu da ideia de algum reforço da capital aparecer, ninguém conseguiria atravessar a muralha com barco, a única maneira seria subir com escadas, algo que chamaria a atenção.

A névoa ao redor do mar que separava as ilhas ainda continuava pairando o ar, demonstrando que a presença da Duquesa Mamon von Faucher não desapareceu, ela seria um empecilho em seus planos.

 — Kurone! — Lou Xhien saiu do templo correndo e o recebeu com um abraço. Devido a um pouco de amadurecimento em sua mente nos últimos dias, ela não tinha mais vergonha de demonstrar seu afeto pelo jovem publicamente. — Você ainda está viva? Jurei que iam te deixar na masmorra desta vez. — E nem de demonstrar sua hostilidade com Inari.

— Meu querido mestre jamais me deixaria em uma masmorra, quem iria esquentá-lo nessas noites frias se ele fizesse isso? — provocou a mulher-raposa.

Kurone apenas riu discretamente ao notar a interação comum entre as duas. Seu peito se aquecia ao ver Lou Xhien daquele jeito, mas também ficava aflito ao lembrar que ela participaria da batalha contra o Arquiduque.

— E então, você está pronto? — a menina perguntou finalmente, seus olhos continham um pouco de súplica.

— Não tô no nível do Lao Shi, mas posso te garantir que fiquei fortão! — afirmou em tom brincalhão mostrando o muque. 

— Eu espero mesmo, senão vou ter que te carregar nas costas durante a batalha! — Lou Xhien provocou apontando para ele.

O jovem suspirou ao vislumbrar o item dourado nos dedos delicados. Era um anel que ele encontrou em um baú de uma masmorra. O baú estava cheio de moedas de ouro, mas ele deixou tudo para Lao Shi e Inari, pegando apenas aquela pequena peça para si.

No início, não sabia exatamente o que fazer com o anel, mas Hime o avisou, há duas semanas, sobre o aniversário de dezessete anos de Lou Xhien. Não tinham tempo para qualquer comemoração, mas a menina ficou feliz ao receber aquele presente de Kurone.

Ao notar o olhar do garoto, Lou Xhien escondeu rapidamente a mão nas costas e sugeriu que todos entrassem no templo para descansar.

Os sentidos aguçados de Kurone notaram o cheiro da comida preparada por Bramman, aquele orc era um cozinheiro de mãos cheias.

O grupo seguiu para o templo principal, no caminho risadas foram escutadas após um ronco monstruoso de Ayshla, mas todos ficaram em silêncio quando ela sacou o seu cutelo. Em segundos, todos “esqueceram” do ocorrido e continuaram em silêncio.

Um sentimento estranho dominava o jovem. Aquela agora era a sua grande família, e como em toda família, a falta de um membro fazia falta. Ele olhou para o laguinho e lembrou da figura de Lou Souen.

A sacerdotisa adorava passar seu tempo encarando a água calma, quando não estava lá, podia ser encontrada em seu templo de meditação. Ele achava até mesmo cômico o rosto inexpressivo dela.

Aquele pedido de desculpas da garota artificial antes de ir para a ilha principal ainda ecoava em sua mente. 

Quando a reencontrasse, talvez tentaria conversar com ela. “Mas vai ser uma saia justa quando eu contar que a Lou Xhien vai para casa comigo, ahhh…

[Você tem sérios problemas com as mulheres. Me pergunto como a Lou Xhien se sente sabendo que você faz coisas com a Inari.]

“Puxa, Nie, assim você me deixa ainda mais pra baixo. Eu não tenho o que fazer com a Inari.”

[Um-hum, sei.]

— Bem-vindo de volta, mestre — saudou Berthran quando o jovem abriu a porta.

Atrás do orc, uma mesa repleta de iguarias preparadas por Bramman exalava um aroma delicioso. Hime já havia tomado o seu lugar, mas não começou a comer nada. Apesar de ser alguém sem respeito, ela também apreciava um jantar em família.

Baltazhar e Bhor acabavam de voltar do banho na fonte termal, isso era visível pelos cabelos molhados. Os dois saudaram Kurone ao vê-lo e tomaram seu lugar à mesa. 

[Ai, ai, ai, essa comida está me dando água na boca!]

“Tenho certeza que é por conta da carne. Será que eu devo pedir para o Lao Shi preparar um prato especial para nós?”

[Não se atreva, Kurone!]

Assim como ele ganhou hábitos com a deusa, provavelmente Annie também acabou pegando o seu mau-costume de ser seletiva com a comida. Mas não importava, ele adorava quando tinha aqueles momentos “fofos” com a deusa. Desde que começou o seu treinamento, não a encontrou mais em sua mente.

Após alguns minutos, todos se sentaram ao redor da mesa recheada de pratos de aparência deliciosa. Kurone precisou reconhecer, aquela comida estava divina, a de Lao Shi jamais se compararia a ela.

Sabia que precisavam discutir sobre os próximos passos, o tempo era curto, mas também não queria estragar aquele momento. Sua mãe ensinou a nunca discutir sobre coisas ruins durante a refeição.

Todos tiveram a mesma ideia e o assunto discutido durante o jantar foi algo banal: o coque duplo do Kurone estava ridículo. O jovem riu e sentiu-se ofendido com algumas opiniões, mas conseguiu esquecer por algum tempo de todas a suas preocupação, tinha a impressão de que aquele era apenas mais um jantar em família de domingo que tinha constantemente com a sua família.

Aquela sensação fez ele querer que aquele momento fosse eterno.



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