Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 153: Fim Do Treinamento Avançado

Kurone foi arremessado e quicou dezenas de vezes antes de afundar em um pequeno lago.

No começo, foi realmente difícil sobreviver à queda naquele lago, mas ele teve que aprender a nadar para sobreviver. Rapidamente, ele emergiu gritando em fúria, fazendo vapor subir da água por conta das suas chamas.

O homem que o arremessou mantinha a sua postura calma, sabendo que o jovem não conseguiria fazer qualquer dano nele.

Já que agora estavam no interior de uma masmorra de nível baixo, podiam usar todo o poder que tinham. 

As masmorras só eram fechadas quando o “chefão” era morto, e uma criatura de nível baixo jamais ousaria sair da sua toca para atacar um daqueles homens.

Aquele era o treinamento final de Kurone: uma luta valendo tudo contra o seu mestre, Lao Shi. 

Claro, que aquele garoto fraco não conseguiria vencer o Arquifeiticeiro Grau 10, mas aquele combate mortal contra um inimigo de poder insano iria aumentar sua experiência em batalha razoavelmente.

O verdadeiro problema ali era que o garoto quase não conseguia tocar o mestre. Lao Shi ocultava-se na sua Barreira d’Água e atacava quando o jovem menos esperava. 

O último e único golpe que Kurone acertou quase custou o seu braço, mas o fato de ele conseguir esquivar dos ataques mortais era notável. Desviar da magia de água dava ao garoto a credibilidade de conseguir evitar os golpes do Arquiduque do Inferno.  

Outra coisa a se notar era que Kurone estava levando seu treinamento realmente a sério dessa vez, e como resultado, conseguiu lutar de igual para igual contra Hime. Derrotou Bhor e Berthran, apesar de ainda não ser páreo para a Defesa Impenetrável de Baltazhar.

— Vamos, meu caro, lute com mais vontade! — falou Lao Shi surgindo com uma chuva de espigões formados por água.

Como água poderia ser mortal? Kurone não queria descobrir, por isso usou também os seus próprios espigões formados por fogo. Ambos os ataques chocaram-se no ar e criaram vapor que dificultava a visão.

Pelo Olho Sagrado, captou a aproximação de Lao Shi e tentou tomar distância e preparar outro ataque com os chamas que tanto exercitava nos últimos dias.

Dentro da masmorra, sua conexão com Azrael era mais forte, permitindo que ele conseguisse usar um pouco das chamas negras. Porém a maior limitação de usá-las era o consumo extremamente acelerado da mana.

O corpo de Lao Shi parou no ar e, em seguida, uma chuva de gotas de água, com aparência de flechas, voaram na direção do garoto.

Kurone saltou, deu mortais, esquivou, bloqueou e contra-atacou desesperado, mas não conseguiu evitar ser atingido no ombro e na perna direita. 

Mal teve tempo para agonizar no chão. Ele rolou rapidamente pelo local úmido. Dois segundos depois, o Arquifeiticeiro aterrissou no local onde o jovem estivera deitado, explodindo o ar e criando uma cratera no local.

Se continuasse deitado ali, teria a cabeça estourada pelos pés do mestre. 

Levantou-se disparando contra o homem com a Boito .20 e tentando tomar distância, porém bateu a cara em uma parede invisível. O nariz fez um estalo seco e uma dor aguda percorreu a sua cabeça.

Precisou abaixar-se rapidamente para evitar um golpe de mão aberta de Lao Shi. O Arquifeitceiro mudou para combate corpo-a-corpo, o ponto forte de Kurone.

Mas, por mais que tivesse a vantagem na luta de perto, o mestre tinha uma força descomunal, um golpe do dedo mindinho dele era capaz de rachar rochas ao meio. 

Kurone afastou-se, ofegante. 

Analisou o redor e supôs que estava preso em uma variação da Barreira d’Água. Aquela era uma armadilha que impossibilitava a saída e impedia o fluxo da mana.

Ou seja, não tinham como usar magia sem acabar morto ou fugir dali, restando a única opção de lutar usando a força física.

O jovem montou a sua pose de combate baseada no estilo Sophiette, desta vez priorizando a defesa, mas posicionando os membros de maneira que a locomoção fosse mais fácil. 

Alguns golpes de Lao Shi podiam ser previstos pelo Olho Sagrado, outros eram uma enganação para Kurone fazer movimentos errados e acabar levando um chute que quebrava algumas costelas.

Sabia que os ataques favoritos do mestre eram com os membros inferiores, por isso mantinha os olhos fixos neles. 

Rapidamente, Lao Shi avançou como se teletransportasse e furou a defesa do discípulo, acertando-lhe uma joelhada com vontade.

Mas dessa vez o jovem não foi jogado contra a barreira. 

Ele segurou o joelho com força e usou mana para queimar o local em suas mãos. O mestre grunhiu discretamente e o derrubou com um golpe de mão aberta na cabeça.

— Você está melhor — disse o homem passando a mão pela região que foi queimada por Kurone. — Seu tempo de recuperação também não está nada mal.

— Parece que apanhar todo dia tá fazendo efeito mesmo — Kurone brincou enquanto levantava do chão úmido.

As semanas infernais logo tornaram-se um mês. O dia do ataque à ilha principal estava próximo, isso fazia o jovem perguntar-se se estava realmente preparado. Prometeu a Annie que não iria mais se subestimar, mas aquele treinamento com Lao Shi só mostrava o quão fraco ainda era.

A barreira erguida foi desativada pelo mestre e ambos seguiram em direção a uma grande árvore de folhas rosas. 

Embaixo da árvore, estava a deusa de cabelos alaranjados e orelhas de raposa pontudas: Inari. Ela tomava conta da cesta com comida, e em seus braços estava Kumiho, sua Besta Divina em uma versão reduzida.

Jamais entrariam em uma masmorra e deixaria aquela mulher livre no exterior, por mais que ela estivesse ligada a Kurone pelo torque no pescoço de ambos — apesar daquele objeto no pescoço dela parecer uma coleira fofinha para gatos.

A masmorra onde estavam atualmente era repleta de vegetação em um tom forte, algo que lembrava o cenário de jogos do “Sonic”, tendo um lago no centro e uma densa floresta espalhando-se por todo o local. 

Quando chegaram ali, o local estava infestado de monstros semelhantes aos Lobos Cinzentos da Lua, mas de cor esbranquiçada. Foi encarregado a Kurone o trabalho de eliminar as criaturas. Com o seu nível atual, os monstros não tiveram chances contra os tiros da sua escopeta de canos cerrados.

— Eu vi tudo daqui, você melhorou muito, querido — disse a deusa em seu habitual tom despreocupado. Não importava como olhava para ela, só conseguia vê-la como uma mulher pervertida que só pensava em safadezas.

— Meu caro discípulo está cada vez melhor — respondeu Lao Shi. — Creio que já passamos tempo demais aqui, podemos retornar para a ilha assim que ele matar o chefe desta masmorra.

— Tem certeza que esse humano consegue fazer tal tarefa? — zombou a raposinha nos braços de Inari. 

Kumiho ainda mantinha sua inimizade com o jovem devido à última luta que tiveram e ao fato da sua deusa ter “relações” com ele.

Após algumas risadas discretas e pequenas provocações, o grupo iniciou sua refeição. 

Inari explicara que não precisava comer para sobreviver, afinal era uma deusa, mas fazia aquilo apenas para esgotar os mantimentos deles e porque gostava do prazer que sentia ao degustar a comida deliciosa preparada por Lao Shi.

Não podiam proibi-la de comer, então apenas concordaram em alimentá-la. Aquela deusa deixava claro que não tinha qualquer empatia pelo grupo, apenas seguia o fluxo das coisas.

Ela prometeu ajudar na batalha contra o Arquiduque indiretamente, pois ninguém poderia saber sobre a sua existência, principalmente o Conselho do Inferno, no entanto havia uma condição: eles teriam que realizar um desejo seu. 

Contanto que o desejo não fosse deixá-la livre, Lao Shi, Hime e Kurone chegaram a um consenso de permitir que ela tivesse o desejo realizado após a luta. 

Hime terminou a reunião dizendo: “Isto é, se nós sobrevivermos.”

[Ainda prefiro a comida preparada pela Lou Souen.]

“Ora, ora. Se não me engano, você me disse uma vez que ‘comida é comida’, e agora tá sendo enjoada com a que o Lao Shi fez?”

[N-não que eu esteja reclamando, é que ele exagera nos legumes.]

Tsc, tsc, a Nie não gosta de legumes, tá parecendo criança mimada.”

Apenas para provocar, Kurone engoliu rapidamente os legumes do seu prato, no entanto se arrependeu fazendo uma careta. 

Annie tinha razão, Lao Shi exagerava nos legumes. “Tem pouco sal também.”

O jovem ainda se sentia mal por fazer Annie sentir dor no treinamento, esse era outro dos motivos que o fazia prometer que deixaria o seu corpo mais resistente. A deusa se recusava a dormir enquanto ele treinava.

Quando entrava em sono profundo, ela não podia sentir as emoções de Kurone. A única vez que ela obedecia era quando Inari aparecia no quarto do jovem para a sua sessão de atos libidinosos, ele jamais poderia permitir que Annie visse aquilo.

O sentimento de culpa percorria o seu ser quando pensava que já nem resistia mais à perversão de Inari.

— Bem, estou satisfeito, pode fazer as honras, meu caro? — falou Lao Shi recostando-se no tronco da árvore com folhas rosas.

Era hora de eliminar o chefe da masmorra. Kurone suspirou profundamente e subiu a montanha repleta de gramíneas, materializando sua Boito .20 no caminho. Era um masmorra de nível baixo, se o “chefão” não fosse um monstro consciente, ele conseguiria derrotá-lo sem problemas.

Usava o Olho Sagrado para buscar a assinatura mágica da criatura, e não demorou muito para encontrá-la. O monstro estava dentro de uma toca razoavelmente grande, pular ali dentro seria suicídio, o garoto sabia disso.

Sua velocidade de pensamento aumentou após os estudos com Lou Xhien, apesar dele ainda não ser tão esperto quanto aquela garotinha de cabelos rosas. 

Kurone tomou distância da toca da criatura e, estendendo as mãos, arremessou uma bola de fogo no buraco.

Não demorou três segundos para o monstro emergir do seu esconderijo com os pelos em chamas. Era um lobo negro de quase quatro metros de altura, a aparência feroz da criatura fazia com que fosse difícil de acreditar que ela estava se escondendo do garoto.

[Lobo Negro da Lua — Rank D.]

Após a análise de praxe de Annie, Kurone buscou pelo ponto fraco: a cabeça. Precisou esquivar rapidamente de uma investida do monstro com as garras, mas aquela criatura era muito lenta para o atual Kurone Nakano.

Pow! Ele rolou pelo chão repleto de grama e disparou contra a cabeça da criatura, fazendo miolos espalharem-se por todo o cenário bonito.

Com passos rápidos, aproximou-se do corpo da criatura, que fez um barulhão ao cair no chão, e o perfurou com a sua mão, na esperança de encontrar um conteúdo além de matéria orgânica ali.

Um sorriso formou-se em seu rosto com manchas de sangue ao sentir algo duro em meio ao sangue quente do monstro. Rapidamente, segurou e puxou o objeto.

— Annie! Faz a boa!

[Orbe Vermelho Rank E — Sem dono. Finalmente!]

Sem perder tempo, ele materializou o seu Orbe guardado no Inventário Interno e fez a fundição com aquele que tinha em mãos. 

Durante o tempo que treinara nas outras masmorras, conseguiu reunir algumas outras esferas de Rank F, mas não foram o suficiente para evoluir o seu item especial. Agora, finalmente, conseguira upá-lo para um Rank mais alto.

Um brilho vermelho pairou pelo ar e desapareceu em seguida. O garoto usou a Análise no seu Orbe, o seu coração batia desordenado devido à excitação, sentia-se como um colecionador que conseguiu evoluir o seu monstro de bolso para outro estágio:

[Orbe Vermelho Rank D — Kurone Nakano.]

Gostaria de pedir uma análise mais detalhada, mas, apesar de ter se tornado tão forte, ainda não suportava aquela habilidade divina sem sofrer de uma dor de cabeça infernal. Mesmo se pedisse, Annie não permitiria.

Mas o importante era que agora estava mais forte, a velocidade era crucial no seu estilo de luta.

“Parabéns por completar a masmorra…” A voz de Karllos Sophiette ecoou pelo ar, assim como nas outras vezes que matou os chefes das masmorras. Ignorou aquilo, sabia que seu nome não seria citado novamente.

Ele virou as costas, pronto para voltar até a árvore onde Lao Shi repousava. Assim que saísse daquela masmorra, começariam os preparativos para a batalha contra o Arquiduque do Inferno. Preparados ou não, eles não tinham mais tempo.

— Eu sei que falei isso tantas vezes, mas… valeu por tudo, Nie, sem você eu não teria acordado pra vida e ainda ia tá me lamentando por ser fraco… não que eu tenha deixado desse mal costume totalmente.

[E eu já te falei tantas vezes, não precisa agradecer. Você não tem jeito mesmo, viu? Eu vou estar sempre ao seu lado. Vamos?]

E exalando o ar que mantinha preso em seus pulmões, Kurone andou em direção a Lao Shi e Inari, podia ver a saída brilhante da masmorra dali.



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