Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 149: Tentativa De Comunicação

A cada passo, Lou Souen ficava cada vez mais impaciente. Não sabia exatamente para aonde ia, apenas seguias os passos rápidos de Lothus, a irmã do Arquiduque do Inferno.

Após cinco minutos de caminhada, uma porta abriu-se e as garotas entraram um lugar familiar para a sacerdotisa de cabelos negros: o quarto que outrora pertencera a Lou Xhien Li, a princesa das garotas artificiais.

Lou Souen analisou tudo ao redor, desde os vasos de pequenas plantas à decoração da parede, e notou que quase nada foi tirado do lugar, com exceção de alguns objetos de porcelana que foram guardados em um armário para não quebrarem.

Lothus sentou-se sobre os joelhos em uma almofada vermelha e fez um sinal para que a sacerdotisa hesitante fizesse o mesmo. 

Definitivamente, não entendia mais nada do que acontecia ali. Nas poucas horas que passou naquele lugar, percebeu que Asmodeus e sua irmãs eram demônios incomuns que tinham muita preocupação em não quebrar ou destruir o que já estava naquela ilha.

Os animais eram alimentados, as construções varridas e as árvores podadas. Apesar de não ser feito diretamente por eles, ambos davam as ordens para que as garotas artificiais realizassem as tarefas. 

Considerando tudo isso, podia supor que dar os barcos às garotas artificiais foi outra gentiliza dos irmãos demônios.

— Você conseguiu desfazer o meu controle mental, não foi? — começou Lothus em um tom calmo. — Você é uma garota artificial incomum. Qual o seu nome?

— Lou Souen Eiai — respondeu com sinceridade, sem deixar a sua preocupação transparecer na voz.

Estava tudo perdido. A irmã do Arquiduque descobriu tudo, a melhor coisa que podia fazer agora era tentar se livrar dela e esconder o corpo, assim poderia até mesmo esperar que Asmodeus culpasse a Duquesa Mamon von Faucher pelo desaparecimento da sua irmã e uma batalha entre os dois fosse iniciada.

Sem que a garota à sua frente percebesse, Lou Souen preparava-se psicologicamente para matá-la na primeira brecha. Apesar da aparência frágil e meiga, aquela ainda era a irmã de alguém com o título de Arquiduque do Inferno.

— No início, — continuou Lothus — pensei que era algum problema comigo, talvez eu estivesse fraca, por isso reforcei o meu controle mental em você, mas parece que quem não está seguindo a ordem natural das coisas aqui é você, senhorita Lou Souen.

— Desculpe?

— Não, não. Não acho que seja algo para pedir desculpas. Na verdade, fiquei mais curiosa sobre você… Uma sacerdotisa que se livrou do controle mental e tem emoções. Viu? Aí está! Não precisa fazer essa cara de espanto, eu vi toda a cena quando você esbarrou no meu irmão no corredor.

Ela entendeu tudo errado! 

Provavelmente nem se passou pela cabeça de Lothus que Lou Souen era uma impostora e que a verdadeira garota artificial foi sequestrada por eles. A sacerdotisa quase deixou um suspiro de alívio escapar ao escutar a explicação da menina à sua frente, porém conteve-se, agora estava mais alerta.

 — Então, o que fará comigo? — perguntou escondendo o temor. Mesmo que a demônia não suspeitasse que Lou Souen tinha uma missão ali, escapar do controle mental ainda era algo grave.

— Estudarei — Lothus deu uma resposta inesperada. — Sabe, eu não sou forte como o meu irmão Laplace, mas em compensação, eu aperfeiçoei o meu intelecto. Estudei tudo, desde relíquias e magias à história do mundo, e em meus estudos eu jamais ouvi falar de uma garota artificial com emoções como você. Talvez eu possa descobrir o motivo se a estudar mais a fundo.

Deveria desistir da ideia de atacar aquela menina? Talvez ela pudesse descobrir o segredo de Lou Souen futuramente se colocasse essa ideia de “estudar” adiante, mas isso também significava que, com o vasto conhecimento da garota, ela poderia descobrir a verdade sobre o seu estado incomum.

— Eu ficaria realmente grata se pudesse me ajudar com relação a isso — concordou a sacerdotisa após julgar se aquilo seria arriscado demais ou não. Desculpou-se internamente com todos na ilha Lou Souen, mas queria realmente saber o motivo de ser tão diferente das outras da sua espécie.

— Então temos um acordo. Você será o meu mais novo objeto de estudo — disse Lothus com um sorriso gentil e estendendo a mão fina.

Assim como Kurone foi um experimento, pensou Lou Souen apertando a mão da menina.

Ah, não conte isso para o meu irmão, continue agindo normalmente quando o ver, ele é meio desconfiado demais com essas coisas — explicou Lothus conduzindo Lou Souen até a porta e verificando se não havia ninguém no corredor — cuidado também com a Duquesa Mamon.

— Quando começamos o nosso estudo?

— A partir de amanhã. Por hoje, vá descansar.

Seguindo as ordens de Lothus, ela procurou por um quarto desocupado para descansar. Estava mais alerta, sempre olhando para os lado e verificando os corredores antes de atravessá-los. 

Desde que saiu da ilha Lou Souen, ela estava muito sensível, qualquer emoção forte transparecia em seu rosto, por isso que a irmã do Arquiduque percebeu que a sacerdotisa não estava sujeita ao controle mental.

Talvez pudesse enganar Asmodeus, mas sentia que a coisa seria diferente se a Duquesa Mamon von Faucher suspeitasse que ela era uma garota artificial diferente das outras.

Ao notar a porta de um quarto aberta, ela rapidamente adentrou e a trancou, parando um pouco para suspirar aliviada, seus ombros caíram com força e o coração acelerou. Chegou em segurança a um local, mas como faria o contato com o familiar de Lao Shi?

Ela foi até a pequena janela no canto do cômodo e a encarou, vendo o céu azulado ganhando um aspecto escuro. Um nevoeiro esbranquiçado cobria boa parte do mar, tornando a visão das ilhas mais distantes impossível. Aquele era o motivo pelo qual chamavam Mamon de “Terror do Nevoeiro”.

Os olhos avermelhados da sacerdotisa procuravam impacientemente pelo familiar, mas como ainda havia muitas garotas artificiais no lado de fora, Alley não podia arriscar ser visto. Ao notar que só teria sorte à noite, Lou Souen sentou-se no centro do quarto.

Ela meditou um pouco sobre tudo o que aconteceu até o momento. Entre os acontecimentos intensos e o anúncio da voz estranha no céu lhe deixou levemente incomodada. Alguém teria conseguido encontrar a lendária relíquia conhecida como Voz do Mundo?

Se fosse o caso, por mais que conseguissem recuperar as ilhas e derrotar o Arquiduque do Inferno, o trabalho de Lou Xhien não acabaria, ela precisaria se preparar para uma grande guerra que viria em seguida.

Aquela menina já não tinha problemas suficientes? Por que logo naquela época alguém usaria a Voz do Mundo para anunciar uma guerra? 

Para passar o tempo, Lou Souen decidiu fazer alguns dos exercícios que aprendeu com Lao Shi. Ela também lutaria ao lado de Kurone, então precisava de mais força física, apesar de saber que treinamentos comuns eram inúteis, pois já tinha uma força inumana devido ao seu corpo de garota artificial.

Ela tentava conter a sua respiração, não queria atrair a curiosidade de alguém que estivesse passando pelo corredor naquele momento. Só o ato de controlar a respiração já deixou o seu treinamento mais pesado, pois precisava ordenar os movimentos conforme a inspiração e expiração.

Enfim, notou que o céu passou de seu azul brilhante para o laranja-avermelhado do pôr do sol  e, em seguida, para a púrpura da noite. Raios azulados de Hipérion, a lua azul, começavam a iluminar todo o quarto pela pequena janela.

Os músculos de Lou Souen ficaram tensos devido ao longo tempo fazendo exercícios, mas ela ignorou aquilo e correu para a pequena janela no canto do quarto.

Seus olhos inquietos varreram mais uma vez o cenário, na esperança de encontrar a águia de penas marrons e brancas sobrevoando a noite, mas não teve êxito. Quando estava prestes a desistir, escutou o barulho de asas batendo logo ao seu lado.

Ela olhou para a origem do barulho e notou o familiar de Lao Shi em frente à janela de um quarto vizinho. Provavelmente uma sacerdotisa dormia lá e a ave a confundiu com Lou Souen.

— Ei, aqui! — ela sussurrou para não chamar a atenção da sua vizinha. 

Quando notou a sacerdotisa, Alley voou rapidamente para lá e adentrou o local, parando logo ao centro do quarto. Em seu bico, havia algo que ele deixou cair e afastou-se para que a sacerdotisa pudesse pegar.

Sem perder tempo, Lou Souen apanhou o objeto. Era uma pequena concha de tamanho médio, mas o que mais chamava a atenção nela era o chiado alto vindo do seu interior. Quando a aproximou do ouvido, escutou vozes familiares.

“Senhorita Lou Souen? Consegue nos escutar?”

Era a voz de Lao Shi, aquela concha provavelmente era outro dos seus objetos incomuns, como o torque que deu para Kurone transformar Inari em seu escrava.

— Tem um pouco de chiado, mas consigo ouvir perfeitamente — falou em voz baixa.

“Perfeito, perfeito, a interferência é por conta da Barreira d’Água da nossa ilha, mas não podemos perder tempo com essas curiosidades fúteis, vamos direto ao ponto, tudo ocorreu bem?”

— Lao Shi, preste atenção, tomem muito cuidado, tem outro membro do Conselho do Inferno aqui.

“Nem fodendo! Eu disse que sou um ímã para esses chefões!”

“Acalme-se, meu caro, precisamos saber de quem se trata. Senhorita Lou Souen, diga-nos quem é.”

A sacerdotisa distraiu-se um pouco ao escutar a voz de Kurone vinda da concha. Podia imaginar o rosto dele preocupado ao escutar que havia outro demônio do Conselho ali.

— É a Duque…

Antes que pudesse completar sua fala, Alley notou um movimento estranho e, rapidamente, tomou a concha das mãos de Lou Souen com suas garras e voou pela janela, deixando a garota com a mão próxima à orelha, na posição que estava ao falar com os seus companheiros.

Antes que ela pudesse abaixar as mãos, a porta trancada foi forçada, produzindo o barulho da maçaneta de metal balançando e fazendo o corpo da sacerdotisa tremer de medo.



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