Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 148: Pega No Flagra

— Isso parece problemático, o que vamos fazer, querido? — indagou Inari, movendo o rosto em direção a Kurone. Apesar de sempre estar com aquele tom desinteressado, ela mantinha o cenho franzido.

— Não faço ideia, não parece algo que nós possamos fazer alguma coisa, tipo, tamo enrolado com o Arquiduque aqui, e a Lou Souen tá lá na ilha principal, nem se a gente quisesse dava pra parar o plano, não é, mestre?

Ele esperou uma confirmação de Lao Shi, que ficou em silêncio após o anúncio de Kawaii Kyuto, a garotinha meio-humana que utilizava uma relíquia chamada de Voz do Mundo. No entanto, a confirmação nunca veio.

— É aí que você se engana, meu caro, — o Arquifeiticeiro formou um sorriso discreto no rosto — creio que já estou envolvido diretamente nisto. Se está é uma declaração de guerra, eu devo retornar para o meu Monarca o mais breve possível.

— Então vamos ter que adiantar o plano? Mas a Lou Souen…

— Não vamos poder nos adiantar muito por questões de treinamento, mas podemos entrar em contato com senhorita Lou Souen.

— Como? — questionou o jovem confuso, pendendo um pouco para o lado devido ao peso de Inari apoiada em seu ombro.

Lao Shi meneou a cabeça para uma árvore próxima, onde Alley, o seu familiar, repousava. 

— Vamos usar o Alley como o nosso porta-voz — explicou o homem fazendo um sinal para o animal aproximar-se.

— Puxa, vocês podiam ter usada a mim nessa missão. Posso assumir a forma que eu quiser com minha metamorfose, não seria muito difícil me infiltrar lá — comentou Inari com um bico.

— Não confio em você — retrucou Kurone sem hesitar.

A deusa só estava dócil daquela maneira por estar presa ao jovem pelo colar em seu pescoço, mesmo assim ele jamais confiaria a ela uma missão tão importante como aquela, ainda mais considerando que ela estaria na base dos inimigos.

— Dois meses é muito tempo — começou Lao Shi quando a águia pousou em seu braço estendido —, não podemos esperar pela outra ronda das garotas artificiais para saber das informações, mas também não podemos nos precipitar. Conversaremos com senhorita Lou Souen por intermédio do Alley.

Kurone fez uma expressão difícil. Acelerar o plano significava acelerar o seu processo de treinamento infernal, nem os músculos em seu corpo desenvolvidos ainda estavam habituados ao treinamento físico proposto por Lao Shi.

— Não se preocupe, se você se esforçar muito, te dou uma recompensa à noite — sussurrou Inari de maneira obscena no ouvido o garoto.

— Dispenso.

— Não existe esta opção.

— Certo, certo, vamos deixar a demonstração pública de afeição de lado e continuar o nosso treinamento, queridos jovens — falou Lao Shi batendo palmas devagar.

— Continuar? A Hime não tá mais aqui, ela disse que ia se retirar depois do fim do anúncio da Kawaii.

O nome de Hime e de Inri, a sacerdotisa chefe da igreja de Cecliy, foi citado pela meio-humana. Pela forma que Hime reagiu, provavelmente ela não esperava por aquilo, mas a garotinha tinha muitas informações sobre ela, a começar pelo fato dela ser um Herói Ádvena, que nem o próprio Kurone conhecia o significado direito.

— Não seja por isso, eu posso brincar com você — disse Inari soprando a parte do cabelo alaranjado que cobria o seu olho esquerdo.

— Eu ficaria grata se me permitisse fazer isso, mestra — murmurou a raposinha nos braços da deusa. 

Kumiho não podia mais voltar à sua forma original, a menos que fosse realmente necessário, devido ao consumo de mana. Apesar de ser uma fonte ilimitada de energia vital, Kurone cansava rapidamente quando outro ser consumia o poder dele, a única que conseguia fazer isso sem cansá-lo era Annie, devido ao pacto.

— Eu ainda não lutei contra ele, quero me exercitar um pouco também, por mais que eu não possa ajudar vocês — respondeu a deusa.

Ficou decidido que Inari não poderia ajudar diretamente na batalha contra Asmodeus di Laplace, afinal eles não podiam divulgar ao mundo que aquela deusa estava andando mais uma vez no mundo dos humanos.

— Não vejo problema nisso, mas reforçarei a Barreira d’Água por via das dúvidas — falou Lao Shi, afastando-se do que se tornaria o campo de batalha. Kumiho saltou dos braços da deusa e correu para se abrigar na sombra de uma árvore de folhas rosas.

— Venha com tudo, vamos ver se é melhor lutando do que…

— Calada! — Kurone interferiu a frase difamatória e saltou em cima da deusa sem perder tempo.

Entre todos os seus atributos, Velocidade e Estamina eram um grande diferencial. Ele materializou o Orbe Vermelho para potencializar estes atributos.

Apesar da aproximação repentina do oponente, Inari manteve-se parada, em sua postura relaxada, onde o quimono negro e curto que vestia caía pelos ombros.

Ela formou um sorriso no rosto antes de levantar a mão direita e erguer uma barreira de terra que bloqueou o chute do jovem. Kurone apoiou-se no paredão de terra, mas quando foi impulsionar-se para retornar ao local que estava anteriormente, foi recebido por um chute rápido de um homem musculoso.

Ele rolou pelo chão um pouco atordoado e parou ao bater as costas contra outro paredão de terra. O [Earth Wall] de Inari estava em um nível avançado, demonstrando que ela não era uma deusa à toa.

Ele encarou a figura que lhe atacou, agora não era mais um homem musculoso, mas sim uma garotinha com um sorriso travesso no rosto dando uma sequência de socos rápidos no garoto.

A grande vantagem da habilidade de metamorfose de Inari era que ela conseguia usar os atributos dos corpos que assumia, como a força descomunal de um homem musculoso ou a velocidade de uma garotinha.

Apesar de ela ter os poderes reduzidos, Kurone não era pário contra milhares de anos de experiência de combate de uma deusa.

Levantado e batendo a roupa suja de terra, ele materializou sua Boito .20 e avançou com mais determinação. Não entendia o motivo, mas ficou inquieto após o anúncio de Kawaii. 

Se o que se aproximava era uma guerra mundial, então ele precisaria estar preparado, em um nível de alguém que poderia derrotar uma deusa facilmente, só assim conseguiria proteger as pessoas que o seguiriam em sua jornada.

***

Após o anúncio bizarro que houve pela manhã, Lou Souen conseguiu escapar dos olhos daquela menina, apesar dela a seguir constantemente pelos corredores da torre.

Como não podia se aproximar de maneira descuidada da sala do Arquiduque do Inferno, onde ele discutia a cada minuto com a Duquesa Mamon von Faucher, a garota artificial limitou-se a vagar pela torre.

No quinto andar, ela notou um movimento incomum: um tipo de águia aparecia e desaparecia da vista, como se esperasse ser notada pela sacerdotisa. Como não existiam mais animais por ali, aquela ave só podia ser o familiar de Lao Shi.

Ficou tentada a sair da torre e ir encontrar o familiar, porém não podia levantar suspeitas, por isso resolveu esperar até que Hipérion, a lua azul, estivesse no topo do céu.

Desatenta, ela virou um corredor, visando chegar à escada que dava acesso ao quarto andar, porém esbarrou em outra pessoa. Os olhos dela arregalaram-se ao notar quem era a pessoa: o Arquiduque do Inferno.

— Perdão — falou rapidamente, sem fazer contato visual e contendo o medo aflorando no interior do seu peito volumoso.

— Ô, vê se fica mais atenta, menina artificial… Epa, você é a menina que a Lothus tava falando, não é, a dos olhos avermelhados?

Lothus era o nome da menina que Lou Souen encontrou mais cedo e, aparentemente, ela era irmã do Arquiduque. Tirando as garotas artificiais, os únicos três outros seres naquela ilha eram Asmodeus di Laplace, o Arquiduque, Lothus, sua irmã, e Mamon von Faucher, a Duquesa.

Não havia indícios que a irmã daquele demônio fosse um membro do Conselho do Inferno, mas nunca era bom subestimá-los. Lou Souen estava desesperada, precisava contar aos outros que a Duquesa Mamon também estava na ilha, mas ficou mais aliviada ao ver Alley voando por ali.

Conhecendo Lao Shi, certamente ele conseguiu arranjar um jeito de estabelecer uma comunicação entre eles por meio do familiar. Ela imaginava qual foi a maneira criativa da vez.

— Que cara é essa? Achei que as meninas artificiais não faziam expressões — comentou o Arquiduque encarando-a mais de perto.

Tola. Ela deixou o seu alívio transparecer na frente do seu inimigo.

— Perdoe-me, minha cabeça começou a doer depois que retornei das ilhas.

Ah, é? — Asmodeus a encarou bem de perto, analisando ela de cima para baixo. Os olhos afiados mostravam a sua desconfiança, porém logo desviaram ao verem os seios avantajados da sacerdotisa. — P-pois vá descansar, então, não tô afim de ver ninguém morrendo no meu corredor — disse afastando-se dela.

Lou Souen esperou até ele virar o corredor para suspirar profundamente. Era estranho como aquele demônio falava como Kurone, mas decidiu ignorar aquilo por ora e focar em retornar ao seu quarto.

Na verdade, elas não tinham quartos específicos, dormiam no que estivesse desocupado, por isso precisava se certificar de trancar tudo antes de tentar fazer comunicação com Alley.

Quando desceu ao quarto andar, escutou um som de passos vindo de suas costas. Ao se virar, avistou Lothus, a provável irmã do Arquiduque do Inferno.

— Eu vi tudo o que aconteceu agora, — ela disse olhando para a sacerdotisa com um olhar mais interrogativo que acusador — sacerdotisa com emoções.



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