Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 145: Infiltrando-se Na Ilha Central

Apesar da densa neblina alastrando-se pelo mar, as garotas artificiais conduziam os barcos sem problemas, usando lamparinas para evitarem bater contra qualquer rocha.

Assim como as outras, Lou Souen Eiai mantinha uma expressão fria no rosto, no entanto o diferencial entre ela e aquelas sacerdotisas era o seu interior.

Sabia que sua princesa, Lou Xhien Li, nutria sentimentos por Kurone, e, mesmo assim, aproximou-se dele. Era errado, Lou Xhien já sofrera o suficiente e necessitava daquele jovem, mas ela o beijou.

Pensou em ignorar ele até sair da ilha Lou Souen para a sua missão, mas, no fim, acabou arrependida e voltou para pedir desculpas a Kurone.

Talvez, se tivesse deixado tudo como estava, o garoto poderia ter se afastado dela e focado apenas em Lou Xhien. Mas algo moveu os seus pés e a boca moveu-se sozinha enquanto se desculpava.

O que eram aqueles sentimentos que percorriam a sua mente e causavam um aperto em seu peito? Ela travava uma luta árdua contra o seu interior para não produzir uma expressão de tristeza. 

Atracaram na ilha Lou Thian para fazer uma busca sem sucesso por possíveis intrusos. Após dez minutos, retornaram aos barcos e, finalmente, seguiram para a ilha central, Lou Xhien Pi’yan, o antigo lar de Lou Xhien Li.

Ao longe, podia-se ver uma torre enorme repleta de luzes amareladas, apesar de apenas a parte superior estar visível, pois o resto era oculto pela neblina.

Como as águas dali eram sempre calmas, as garotas artificiais remaram mais rápido. Usar barcos era algo inútil, considerando que elas eram ótimas nadadoras e podiam prender a respiração por horas. Sem contar também que ir nadando até as ilhas dava a vantagem de pegar o inimigo de surpresa.

Por que o Arquiduque do Inferno escolheria um método de busca como aquele?

Na verdade, entre os planos discutidos, Lao Shi sugeriu que um grupo fosse nadando para espionar a ilha central, mas ele foi substituído por esse graças ao fato de Asmodeus di Laplace não desistir de buscar sobreviventes.

Lou Souen abriu os olhos lentamente quando o barco atracou no cais e todas as garotas saltaram de lá, dirigindo-se à grande torre no centro da ilha.

A princípio, era necessário andar por mais quarenta metros com a água rasa batendo nos pés. Deferente das outras, Lou Xhien Pi’yan não era uma ilha natural, ela fora construída tendo como base um chão feito totalmente de madeira e revestido de pedras após alguns anos.

O fato de ser uma ilha erguida pelas mãos humanos assustava alguns dos visitantes que temiam que a ilha afundasse a qualquer momento. Outros ficavam maravilhadas em como aquele chão de madeira conseguia o suportar o peso de tantas construções.

Aquele local era o coração do comércio do Continente Oriental, nem a capital, onde moravam os humanos que viviam naquelas terras antes do surgimento das ilhas, conseguia chegar aos pés daquela grande potencia.

As barracas de comida e de tecidos foram todas esvaziadas, provavelmente tudo foi surrupiado pelo Arquiduque.

O local onde se encontrava atualmente era conhecido como Distrito Comercial Han, logo ao lado dele ficava o Distrito Urbano Shi, onde eram concentradas as pousadas para os visitantes mais ricos.

Embora agora fossem poucas, as provas de que existiram pessoas ali há quase quatro meses ainda estavam espalhadas por todo o Distrito Comercial. 

Quando o ataque do Arquiduque começou, todos tiveram a chance de fugir por suas vidas, apesar de não poderem ter levado nada. Provavelmente, agora todos os humanos estavam refugiados em terra firme, na capital. 

“Primeiro ele deixa todos fugirem, agora também dá barcos para as garotas artificiais. O que é isso? Um membro do Conselho do Inferno gentil?”

Ninguém sabia o motivo pelo ataque, mas uma coisa era certa: era algo tenebroso.

O ataque foi algo realmente inesperado, considerando que os demônios preferiam concentrar seus ataques no Continente Ocidental. Quase ninguém ali ponderou a ideia de um dia serem atacados logo por alguém no posto de Arquiduque.

Talvez fosse porque o Monarca do Oriente mantinha relações comerciais com Andeavor? O mais provável era um ataque para diminuir a força daquele reino ocidental que, no enterro do antigo rei, a princesa regente declarou sua posição na guerra.

“Não faz sentido, se fosse assim, eles teriam atacado a capital, não as ilhas Lou Xhien.”

Apesar de ser constantemente atormentada pelas emoções que não deveriam existir em uma garota artificial, Lou Souen sempre pensava com racionalidade. 

Havia uma lógica em tudo, desde a matemática à ciência, esta era sua filosofia, algo que agora era desafiada pela irracionalidade dos sentimentos que deviam pertencer exclusivamente aos seres humanos.

Rapidamente, saíram do Distrito Comercial Han, pegando alguns atalhos, e chegaram à área restrita ao público da ilha: o grande templo da família Lou Xhien. Cinco garotas artificiais montavam guarda na frente de um muro médio.

O grupo passou por elas sem falar nada, provavelmente elas estavam ali apenas como um enfeite, não teria como alguém atacar a ilha onde se encontrava o Arquiduque do Inferno Asmodeus di Laplace.

Poucas árvores embelezavam o pátio do grande templo, e no canto do muro estava o local para estacionar carruagens.

Apesar de fazer algum tempo que Asmodeus tomou aquelas terras, os cavalos ainda presos nas carruagens de seus mestres estavam bem alimentados. Quanto mais via o estado daquela ilha, mais pensava que o demônio que a tomou era alguém muito estranho.

O chão também estava limpo, imaginava que havia uma garota artificial cuidando da limpeza do local, e esta também alimentava os cavalos.

A porta do templo foi aberta por uma garota de cabelos curtos. Quem estava na liderança do grupo de Lou Souen era uma sacerdotisa de longos cabelos negros separados em duas tranças. Pelo seu físico de guerreira, era uma habitante da ilha Lou Thian.

Quando as portas foram completamente abertas, o corpo de Lou Souen foi preenchido pelo poder. Uma luz amarelada irradiava do interior daquele lugar, como se puxasse todas a garotas artificiais.

Não precisava andar muito para avistar a fonte daquela anomalia de energia: o grande Orbe Amarelo. A relíquia que existia em Eragon, a Cidade-Estado flutuante que agora não passava de destroços, era uma reles esfera minúscula se comparada àquela.

O objeto possuía aproximadamente cinco metros de altura, preso em um pedestal de ouro no centro do primeiro andar do templo. Aquela era a fonte de vida das garotas artificiais, um presente deixado por Karllos Sophiette.

Como apenas membros da família Sophiette conseguiam acessar o poder daquela esfera, o Arquiduque provavelmente não viu utilidade naquilo e deixou ali mesmo.

As garotas artificiais ao redor suspiraram profundamente, apreciando o poder emanado por aquela esfera. Lou Souen também aproveitou aquele momento, passou realmente muito tempo longe dele.

Naquele andar, a presença de tochas era desnecessária devido à luz emanada do grande Orbe Amarelo. Diferente dos governadores de Eragon, os antigos líderes das ilhas Lou Xhien decidiram usar o poder da esfera em poucas coisas, como a iluminação mais básica.

Eles jamais confiaram em deixar coisas importantes funcionando à base do Orbe. Se as pessoas de Eragon também tivessem esse pensamento, a ilha flutuante não teria desabado quando o seu Orbe Amarelo foi roubado.

Uma porta no fim do corredor com piso de jade foi aberto, chamando a atenção de Lou Souen. Após o rangido, o som de pés calçados em sandálias de madeira ecoou por todo o ar.

As garotas artificiais baixaram a cabeça ao notar que uma figura notável aproximava-se. Para não levantar suspeitas, Lou Souen fez o mesmo, apesar de ter alguns minutos de atraso.

Quando levantou a cabeça, avistou uma menina em longas roupas extravagantes de tom azul. Suas feições eram as de alguém um pouco mais velha que Lou Xhien, talvez uns dois ou três anos, mas todo o rosto era delicado e de aspecto pálido.

As roupas dela não podiam ser chamadas exatamente de quimono, a abertura na parte inferior revelavam uma minissaia e um par de botas negras nas pernas um pouco finas demais. 

Os olhos avermelhados dela exalavam ternura.

O que mais chamou a atenção de Lou Souen foram os cabelos castanhos com algumas mechas naturais alaranjadas. Enfim, ao parar um pouco distante do grupo, a menina falou em um tom calmo e delicado, quase angelical:

— Meu irmão aguarda o relatório de vocês no salão do terceiro andar. — A voz dela ecoou por todo o templo silencioso, no entanto ela olhou fixamente para Lou Souen, que tentava se camuflar atrás das outras sacerdotisas. — Hã?…

Lou Souen notou o olhar curioso dela e manteve sua expressão imutável, era a única maneira de não levantar suspeitas. Ela acompanhou o grupo que começava a caminhar para a escada, com o objetivo de chegar ao segundo andar.

Quando passavam ao lado da menina de roupas extravagantes, as garotas artificiais faziam uma pequena referência e continuavam a sua trajetória em silêncio. 

Houve uma mudança quando foi a vez de Lou Souen.

— Espere um momento… — Ao passar pela menina, o kosode da sacerdotisa foi segurado por ela. 

Ficou imóvel, sem olhar diretamente para os olhos da menina. O coração começou a bater em ritmo desordenado. “Péssima hora para isso.”

Lentamente, Lou Souen voltou os olhos para a menina… apenas para notar que o foco dela era um rasgo no seu hakama. Provavelmente ele foi rasgado enquanto treinava com Lao Shi e não percebeu.

— Seu hakama está rasgado, pegue outro no depósito e depois vá à sala do meu irmão — ordenou apontando para a direção do depósito.

Por conta do susto e também por não saber como as outras garotas artificiais reagiriam naquela situação, Lou Souen apenas baixou a cabeça e seguiu para a direção apontada.

Aparentemente, ela descobriu por que a ilha e as garotas artificiais eram tratadas de maneira gentil.



Comentários