Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 144: Fruto De Um Relacionamento Proibido

Ele encarou Lou Souen sendo levada pelas garotas artificiais no pequeno barco até que desparecessem no horizonte. Uma densa neblina branca começava a tomar conta das ilhas Lou Xhien.

— Neblina me causa arrepios — comentou Lao Shi parando ao lado do seu discípulo.

— Você consegue invocar uma tempestade e tem medo de uma neblina? — comentou Kurone, apesar de ser uma piada, ele forçava o seu sorriso habitual.

— Não é isso, meu caro. Eu temo aquilo que se abriga na neblina. — Vendo o olhar confuso de Kurone, ele continuou: — Há uma lenda que diz que um ser chamado o “Terror do Nevoeiro” faz neblina circular vilas para devorar a alma de crianças. As crianças somem junto ao nevoeiro.

A espinha de Kurone gelou quando ele escutou a história semelhante à do bicho-papão, no entanto Lao Shi prosseguiu como quem contava uma história de terror ao redor de uma fogueira:

— Mas todos sabem a identidade do Terror do Nevoeiro: Mamon von Faucher, a Duquesa do Inferno. Eu sobrevivi por três décadas apenas porque me mantive longe desses membros do Conselho, qualquer coisa relacionada a eles me dá arrepios.

Claro, Lao Shi já havia comentado sobre sua ambição certa vez: tornar-se um deus. 

Segundo ele, houve décadas em que humanos ascendiam à posição de deus, por isso os membros do Conselho do Inferno começaram a caçar prodígios e homens e mulheres talentosos, tudo para impedir a existência de deuses-homens.

Uma notável caçadora e aniquiladora de prodígios eram ninguém menos que Azazel van Elsie, o maior terror do Arquifeiticeiro.

— Mas não se preocupe, os membros do Conselho não conseguem trabalhar juntos, na verdade eles tentam se manter distantes o máximo possível. Ter encontrado Azazel e Belphegor em Eragon foi um grande infortúnio seu.

— Parece que eu tenho sorte pra atrair esses chefões, vou te contar, viu? Agora vou ficar com medo achando que atrai também o tal Terror do Nevoeiro.

— Procure não pensar muito sobre isso e focar em seu treinamento, temos até dois meses até a próxima ronda das garotas artificiais. Agora, se me dá licença, deixarei vocês a sós.

Hã? 

Ele nem precisou perguntar o motivo do comentário de seu mestre, pois lá estava ele, ou melhor, ela: Lou Xhien aproximava-se a passos rápidos da dupla.

Lao Shi despediu-se dele com um leve tapa no ombro e seguiu em direção ao templo principal, fazendo um pequeno cumprimento à garotinha que passou ao seu lado.

— O que aconteceu com você!? — Kurone falou ao perceber o cabelo rosa desarrumado e o kosode amarrotado da menina.

— Aquela mulher estranha tentou fazer coisas pervertidas comigo, mas dei um jeito nela — explicou Lou Xhien sentando ao lado do jovem.

— A Inari? Ei, ei, não vai dizer que você matou ela?

— N-não, só deixei ela presa no porão por algumas horas! Claro que também dei alguns chutes nela, mas não foi nada que pudesse matá-la.

Após uma troca discreta de sorrisos, ambos passaram a encarar o mar sendo tomado pela neblina e a Barreira d’Água sendo erguida novamente pelo Arquifeiticeiro.

Conversar com Lou Xhien tornou-se mais fácil desde os últimos acontecimentos, agora ela não se escondia mais atrás da máscara de uma princesa tsundere que chamava todos de plebeus nojentos, ou pelo menos com Kurone era assim.

Se, desde o início, Kurone tivesse aberto mais dos seus sentimentos a Rory, talvez ela também pudesse ser honesta com ele. Talvez eles pudessem ter se entendido e ganhado a luta contra Elsie. 

Mas agora não tinha mais o que fazer, só lhe restava retornar a Andeavor e recomeçar. O importante era saber que Rory ainda estava viva e com aliados.

— Deu tudo certo, não foi? Por isso que você está com essa cara? — questionou Lou Xhien, juntando as pernas e apoiando a cabeça nelas.

— Sim, a Lou Souen foi com elas, mas não consigo deixar de ficar preocupado.

— Eu também — murmurou a menina e, ao notar o olhar de curiosidade do garoto, ela falou: — Se eu te contar algo, promete manter em segredo?

Ele fez que sim com a cabeça e a menina, após um longo suspiro, começou com uma voz baixa, quase sussurrante:

— Eu não sou a primeira filha de Lou Xhien Xhian.

Hein? Você tem um irmão ou irmã?

— Quase isso. Esta é uma história que só eu conheço e meu pai me fez jurar que eu jamais contaria a ninguém.

— Tudo bem contar para mim? Tipo, eu não sou ninguém apesar dessa cara de idiota.

— Tudo bem se for para você, afinal você também faz parte disto. — Ela colocou os braços para trás e fitou o céu azulado da manhã. — Você sabe que garotas artificiais não podem gerar vida, certo?

“Não posso engravidar, mas sou capaz de copular”, foi o que Lou Souen dissera-lhe certa vez em um tom sugestivo. Claro que ele não contaria aquilo a Lou Xhien, então limitou-se apenas a balançar a cabeça afirmativamente.

— Acontece que meu pai se apaixonou por uma garota artificial. Era comum que os homens usassem elas algumas vezes para saciar… saciar os se-seus desejos sexuais, mas com meu pai foi diferente, ele me disse que realmente se apaixonou por ela.

— Então eles começaram a se relacionar em segredo — ela continuou com o rosto corado após as palavras anteriores. — Mas os dois desejavam gerar uma vida, e essa ambição levou meu pai a estudar formulas antigas e maneiras de burlar as leis da natureza.

— Então dá tipo pra mudar as configurações de uma garota artificial? Caraca, que bizarro.

— Eu também não entendo como ele fez aquilo, mas ele conseguiu fazer a garota artificial engravidar. A gestação dela foi como a de qualquer outra mulher, mas na hora de dar à luz…

— Posso adivinhar o desfecho disso.

— Ela morreu assim que o bebê nasceu, deixando o meu pai abatido. Apesar de tudo, toda aquela situação nunca foi de conhecimento do público, então meu pai teve que esconder o fruto da relação deles para não ser acusado do crime de ir contra as leis da natureza.

Enfim entendeu onde ela queria chegar. Um pai jamais ficaria longe da sua filha, ainda mais se essa filha fosse a prova de que ele e a mãe da criança se amavam o suficiente para correrem aquele risco, por isso…

— Ele deixou a filha bem próxima, fingindo ser o mestre dela.

Aquela filha era Lou Souen Eiai, não houve dúvidas quando Lou Xhien respondeu-lhe com um sim um pouco desanimado.

— Lou Souen é a minha meia-irmã, no sangue dela corre tanto o sangue de uma garota artificial quanto de um Sophiette. Claro, ela não sabe disso.

— Você nunca contou?

— Como eu teria coragem de dizer isso? Mas sei também que ela deve estar sofrendo muito, garotas artificiais deviam ser imunes às emoções, mas ela é diferente, você viu no rosto dela, não foi? Ela é como nós, ri, fica triste ou animada, ama e odeia como qualquer humano, apesar de não demonstrar isso.

Podia imaginar como foi difícil a vida de Lou Souen, ela provavelmente cresceu como alguém que não se encaixava naquela sociedade.

— Provavelmente este é o motivo dela não ser afetada pelo controle mental como as outras garotas artificiais, então vai ficar tudo bem, você não precisa ficar com essa cara de plebeu deprimido.

— Pe-pera, você contou toda essa história só para eu não ficar preocupado com a Lou Souen?!

Humpf, interprete como quiser, mas não conte a ninguém sobre esta história, ainda estou esperando momento oportuno para contar a ela… e esse momento vai ser quando eu for voltar com você para a sua terra natal.

— Você ainda não desistiu dessa história?

— Lou Souen é a herdeira por direito do trono, ela é a verdadeira princesa das garotas artificiais, não eu, sou apenas uma impostora que está com esse título porque sou filha da segunda esposa de Lou Xhien Xhian. Quando ela assumir o trono, estarei livre.

Ali estava a resposta para aquilo que lhe perturbava. Após a declaração de Lou Xhien, ficou pensando sobre como ficariam as garotas artificiais se ela realmente fosse embora, mas ela já havia pensado em tudo.

A menina ficou de pé e estendeu a mão para levantar o garoto ao seu lado. 

Quanto mais tempo convivia com ela, mais Kurone admirava-a por sua força de suportar tudo aquilo por tanto tempo. 

Ela poderia ter simplesmente contado a verdade para Lou Souen após a morte do pai e ter fugido das responsabilidades, mas pensou primeiramente na meia-irmã e sobre como ela reagiria após saber a verdade.

— Lou Li! — o jovem gritou a garota que já estava afastando-se do local. — Minha mãe vai adorar conhecer você!

Lou Xhien não respondeu nada, apenas virou o rosto corada e apressou o passo em direção ao templo principal da ilha.

[Kurone, tem ciência de que está aceitando assumir a responsabilidade por ela, certo?]

“É, eu sei, mas talvez eu possa salvar pelo menos essa garotinha. Não que eu tenha qualquer interesse suspeito nela. É mais admiração que qualquer outra coisa, apesar de eu saber que ela pode ficar chateada por eu não amá-la.”

[Mesmo? Nenhum interesse suspeito?]

“Bem, se eu for voltar realmente para o Japão, eu quero tentar uma chance com a senhorita Kanade. Passei por tanta coisa aqui que perguntar se eu teria uma chance com ela não é nada.”

[E isso enquanto a Lou Xhien mora na sua casa? E você ainda tem coragem de dizer que vai levar aquela menina para a sua casa e se declarar para outra bem na cara da garota que mais gosta de você? E-e ainda fez aquilo com a Inari! E tem a Lou Souen! Cafajeste! Pervertido! Sem escrúpulos! Mulherengo!]

“É, eu mereci essa, mas não tenho culpa de viver cercado por mulheres bonitas!”

[Não fala mais nada que a sua situação só piora.]



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