Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 143: Não Foi Um Sonho

Lentamente, a Barreira d’Água erguida por Lao Shi foi baixando, exibindo o verdadeiro estado da ilha Lou Souen. 

Bom, não era como se tivesse alguma diferença. Apenas quem estava no lado de dentro podia notar uma fina camada cinza desaparecendo nas extremidades da ilha.

Kurone sentiu a mana aprisionada vazando e perdendo-se no mar que se estendia entre todas as grandes ilhas distantes, assim como a onda de mana mais forte adentrando o local. Aquela energia vital tinha um movimento semelhante ao da respiração.

Não precisavam mais consultar Lao Shi e Alley para saberem a posição das garotas artificiais. Lá estavam elas: cinco barcos aproximando-se lentamente da ilha Lou Souen, cada um deles comportava quatro sacerdotisas de cabelos negros, todas parecidas com Lou Souen Eiai. 

Era um número estranhamente anormal se comparado ao da vez anterior, quando Kurone foi pego desprevenido pela invasão delas. Mas desta vez tinha a vantagem, Asmodeus di Laplace jamais desconfiaria que eles tinham os olhos de Alley, o familiar águia de Lao Shi, ao seu lado. 

O garoto, do alto do “templo de meditação” da Lou Souen, varria todo o cenário amarelado com o seu Olho Sagrado. Todos estavam nas suas devidas posições, incluindo a sacerdotisa que seria a peça principal daquele plano, mas não precisava usar a sua habilidade para vê-la.

Lou Souen estava ao seu lado, com a expressão fria de sempre estampada no rosto. Na verdade, parecia ainda mais fria agora.

Desde que foram para lá, não trocaram sequer uma palavra. Vendo que a tensão entre os dois era quase palpável, Lao Shi buscou outro lugar para desfazer a sua barreira, deixando apenas os jovens a sós.

Aquela sacerdotisa de cabelos negros estava irritada com algo e Kurone chutava que o motivo tivesse a ver com Inari ou Lou Xhien, não sabia dizer exatamente, pois, afinal de contas, era um homem sem nenhuma experiência amorosa.

O pé balançava com a impaciência do garoto. Queria que as garotas artificiais chegassem logo para dar início à ação, ao mesmo tempo que sentia receio em mandar a sacerdotisa ao seu lado para a toca do adversário.

Azazel van Elsie, a Presidenta do Inferno, e Belphegor Halls, o Duque do Inferno, puderam dar a ele um vislumbre de como eram os membros do Conselho, realmente era uma manobra arriscada mandar um aliado para alguém com o título de Arquiduque.

Também havia a possibilidade de perder Lou Souen para o controle mental. Ninguém sabia exatamente o motivo, mas aquela era uma garota artificial incomum, isso se tornava visível pelo fato dela não saber lidar com as emoções como as outras, e por ser incomum, ela era imune ao controle mental.

Mas só esteve imune até o momento por estar distante dele, e se isso mudasse quando estivesse em frente a Asmodeus di Laplace? Ela poderia até ser submetida à tortura para contar os seus planos se ele descobrisse a verdade.

[Está deixando suas emoções transparecerem.]

Com o comentário da sua companheira, Kurone tentou mudar a expressão tensa do seu rosto, torcendo para que a garota ao seu lado não tivesse notado. 

Olhou para o lado e notou que a sacerdotisa virou o rosto rapidamente. Ela teria percebido?

“Mestre, mestre, elas estão aqui!” 

A voz familiar fez o jovem virar o rosto rapidamente para a entrada da ilha. As garotas artificiais terminavam de amarrar os barcos e adentrar na floresta.

Ao nível de curiosidade, a voz há pouco era de Berthran, o orc de tapa-olho. Kurone descobriu no mês anterior que podia comunicar-se mentalmente com as criaturas que invocara na masmorra.

Era algo diferente dos diálogos com Annie, pois escutava as vozes dos orcs longe, se assemelhava muito a uma ligação por telefone.

— É hora do show, vamos. — Sinalizou para a garota artificial ao seu lado, ao que ela assentiu e ambos saltaram na floresta com árvores de folhagem rosa ao lado.

Os orcs ficaram responsáveis por buscar a sacerdotisa que mais se assemelhasse com Lou Souen entre as garotas artificiais dali.

Como ajudou na restauração e não podia fazer nada para colaborar naquele momento, Lou Xhien ficou escondida no porão, a proteção dela foi confiada a Kumiho e Inari, apesar de Kurone ter protestado sobre isso.

Porém, Inari, a deusa pervertida que levou embora a sua preciosa virgindade, não poderia fazer nada enquanto fosse escrava de Kurone, a prova disso era que sentia o poder emanando do torque cinza em seu pescoço.

“Chefe, acho que encontrei a garota perfeita.” A voz da vez era a de Bhor, o arqueiro.

“Nossa, que rápido. Onde ele tá?”

“Ela está subindo as escadas, deve chegar aí em breve, mas tomem cuidado, tem outra garota com ela.”

“Certo, continue em alerta e me diga se qualquer coisa sair fora dos planos, não podemos nos arriscar demais. Falou.”

— Tem duas garotas subindo as escadas e uma delas é o nosso alvo — Kurone sussurrou para a sacerdotisa agachada ao seu lado, por algum motivo, ela desviou o olhar dele. 

— Então, é melhor ficarmos mais próximos — ela falou ainda sem fazer contando visual e passou a se locomover lentamente.

Engatinhar naqueles arbustos sem fazer barulho era complicado, sempre havia galhos secos ou folhas para os atrapalhar. O pior era saberem que as garotas artificiais tinham sentidos aguçados, qualquer movimento em falso poderia chamar a atenção delas.

Após cinco minutos, viram duas garotas com kosodes brancos e hakamas vermelho subindo as escadas, ambas de expressões vazias. A garota que mais se parecia com Lou Souen era a da direita, com olhos rubros mortos.

Naquele caso, a melhor estratégia era deixar que elas entrassem no “templo de meditação” para agir, assim chamariam menos atenção.

Mas o verdadeiro problema era como realizar a troca sem que a outra garota artificial percebesse isso.

Enquanto tentava formular um plano, o garoto não percebeu um graveto no chão e pôs o joelho por cima dele com força, quebrando-o e provocando um barulho que reverberou pela ilha silenciosa.

Lou Souen arregalou os olhos ao olhar para trás e Kurone tapou a própria boca para evitar um grito de pavor.

Claro, aquilo não passou despercebido das garotas artificiais e eles logo escutaram o barulho dos pés ágeis aproximando-se e o farfalhar dos arbustos. Seriam pegos se não pensassem em algo rápido, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, o rosto de Kurone encostou no de Lou souen.

Ele tentou fazer força para se libertar, mas uma mão forçava que a cabeça dele e da sacerdotisa se mantivessem juntos. Enfim, o dono da mão que os segurava sussurrou:

— Fiquem em silêncio — assim dizendo, ergueu um manto cinza, ou melhor, uma barreira, ao redor deles. — Elas não vão nos perceber se ficarem quietos.

Kurone forçou os olhos para alto e viu a figura calma de Lao Shi. O homem parecia se divertir em segurar o corpo do seu discípulo e de Lou souen juntos, com pretexto de que não podiam se mover.

As duas garotas artificiais afastaram todos os arbustos e olharam fixamente para a origem do barulho anterior: um graveto seco. 

Porém, elas jamais saberiam que ele foi o causador do distúrbio, pois a Barreira d’Água de Lao Shi criava a ilusão de que tudo estava como esteve há dez minutos, ou seja, o graveto ainda não havia sido quebrado.

Elas varreram o local rapidamente e logo desistiram, o que fez o garoto suspirar. 

Caso se aproximassem, poderiam entrar na Barreira e ver o trio imóvel ali, provavelmente foi por isso que Lao Shi optou por fazê-la de um tamanho minúsculo, onde, se Kurone movesse o braço, ele ficaria visível no mundo real.

Claro que as garotas artificias não deixariam um braço flutuando passar batido e, consequentemente, acabariam descobrindo eles ali, os sentidos delas eram perfeitos… 

“É isso!”

[É isso o quê?! Não me assusta desse jeito, eu tava quase tendo um negócio aqui com toda essa tensão!]

“Nossa solução! Bramman? Ayshla? Estão aí?”

“Aqui, meu mestre.”

“Às suas ordens, mestre.”

Os orcs chamados responderam respectivamente. Por obra do destino ou talvez uma premonição de Kurone, ambos estavam em direções opostas, mas bem próximos do jovem.

“Preciso que façam barulho quebrando alguns galhos para dispersar essas duas garotas, agora!”

Não obteve uma confirmação dos dois, mas soube que seguiram as suas ordens quando escutou o barulho de galhos sendo destruídos de direções diferentes. 

Como esperado, as duas garotas artificiais entreolharam-se e cada uma seguiu um rumo diferente. O grupo seguiu a garota similar a Lou Souen.

Mesmo que ela estivesse sozinha, não podiam arriscar de serem visto, por isso Lao Shi ergueu outra Barreira d’Água, posta um pouco à frente da sacerdotisa, como uma armadilha.

Bastou a garota adentrar a barreira para ser atacada, se é que aquilo poderia se chamado de ataque. 

Como seu título sugeria, Lao Shi tinha uma Classe avançada de Feiticeiro. Segundo ele, a magia do Tipo Elemental água era um brinde, pois normalmente magias como a Barreira normalmente pertenciam a Magos. Como um bom feiticeiro, ele dominava todo o tipo de magia de debuff.

Bastou o homem levantar a palma da mão e apontar para a garota que ela desmaiou. Kurone correu rapidamente e segurou o corpo que, apesar de não ser frágil, ele não queria que batesse com a cabeça no chão com força.

Sem perder tempo, Lou Souen libertou os cabelos negros que matinha presos em um rabo de cavalo e saltou para fora da Barreira, pronta para assumir a identidade daquela garota artificial, no entanto parou de repente, e ficou ali, estática, por alguns minutos.

— O que foi? Aconteceu alguma coisa com você? — perguntou Kurone, sussurrando.

Lou Souen não respondeu, ao invés disso, ela virou o corpo, demonstrando um rosto com uma expressão insegura, e correu novamente para a barreira, abraçando o garoto em seguida.

— Me desculpe pelo beijo daquele dia. Não era um sonho. Me sinto culpada por ter me aproveitado de você naquele estado — assim dizendo, ela o soltou e correu em direção ao templo de meditação.

Kurone ficou estarrecido. Quando fez menção de caminhar para tentar acompanhar a garota, seu ombro foi segurado por seu mestre, que disse com a voz calma e gentil:

— Não, você não pode ir. — Ele apontou para a escadaria. Quatro garotas artificiais aproximavam-se. — Agora só podemos esperar para nosso plano dar certo.

Lou Souen parou de correr, Kurone não podia ver sua expressão, por ela estar de costas, mas provavelmente ela voltou à sua expressão vazia de sempre, pois as outras garotas simplesmente passaram por ela.

Bem, o plano funcionou, no entanto…

“N-não foi um sonho.”

Kurone finalmente percebeu que, naquele dia em que estava muito cansado e foi dormir cedo, a garota que apareceu em seu quarto era a verdadeira Lou Souen. 

Quando acordou, não havia vestígio de que ela esteve lá, por isso imaginou que havia sonhado com tudo aquilo por conta do cansaço, e foi até melhor, pois contou coisas muito constrangedoras para ela. Mas não era.

Ele realmente disse que gostava dela e recebeu um beijo da verdadeira Lou Souen. O motivo dela estar irritada não poderia ser outro senão o fato do garoto ter ignorado ela após aquele dia.

Caiu de joelhos no meio da Barreira d’Água, vendo Lou Souen descendo as escadas acompanhada das outras garotas artificiais. Tudo que podia fazer naquele momento era desejar sorte a ela.



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