Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 141: A Deusa Que Roubou Algo Irrecuperável

— Então… eu queria te agradecer por ter me curado durante a luta contra a Besta Divina, valeu de verdade, você me ajudou depois de tudo o que aconteceu — Kurone falou um pouco embaraçado enquanto passava a mão com ataduras no cabelo de pontas esbranquiçadas.

— Eu que devia me desculpar, eu não sei o que aconteceu comigo naquela hora… na verdade, sei, sim, maldita mulher com orelhas de raposa!! — gritou Lou Xhien pondo o dedo na cara de Inari, sua irritação era mais pelo fato da mulher estar ali, em uma conversa que deveria ser particular.

Saíram da masmorra o mais rápido possível, mas, como explicado pela mulher-raposa anteriormente, ela não poderia causar uma distorção no mundo ao sair de lá de qualquer maneira, por isso Lao Shi usou o torque fino que agora estava no pescoço de Kurone.

Segundo o homem, era um objeto capaz de transferir mana de um ser para o outro sem a necessidade de um pacto, sendo assim, ele poderia dar a mana essencial para Inari viver no mundo real sem causar grandes problemas.

Inicialmente, Kumiho não concordou, mas acabou aceitando ao ver que não tinha saída, e aquilo era uma ordem dos vencedores. Mas no fim, não era como se tivessem escolha, afinal o torque foi colocado enquanto Inari estava na mente do garoto e aquilo não podia mais ser removido.

Ao deixar a masmorra, a primeira coisa que encontraram no mundo real foram os corpos caídos dos seus companheiros, mas Kurone ficou calmo ao notar que estavam apenas dormindo.

— Eu tive que acalmá-los ou iam se matar — foi o que Lao Shi explicou, algo até lógico, porém ele continuou, como se quisesse assustar o seu discípulo de propósito: — Ao nível de curiosidade, se nós tivéssemos morrido lá, eles nunca mais acordariam.

Sim, Lao Shi era assustador, isso só se provava ainda mais pelo fato de ele carregar um colar que podia transformar os outros em escravos.

Ao perceber o olhar de repreensão de Kurone e Lou Xhien, Inari suspirou e afastou-se deles, provavelmente iria descansar, pois gastou muita mana para curar Kurone e Lou Xhien. Para economizar sua energia vital, ela deixou Kumiho no tamanho de um gato comum

— Como eu ia dizendo, valeu por tudo — o jovem comentou passando as mãos pelo cabelo rosa dela. Como todos os outros ainda dormiam, o grupo que retornou da masmorra ficou no templo principal da ilha para descansar, mas antes colocaram todos os desmaiados em um dos quartos do templo. — Acho que vou tirar um cochilo também. 

O garoto bocejou enquanto andava em direção ao quarto, ter que arrastar o grande corpo de Baltazhar foi horrível. Mesmo após tudo o que aconteceu, ele precisaria voltar logo ao treinamento, pois a ameaça e Asmodeus di Laplace ainda existia, e aquela luta contra a Besta Divina só serviu para mostrar-lhe que ainda era fraco.

— Kurone… — Lou Xhien segurou o quimono dele e o fez parar — na-naquele dia… você me disse que vai voltar para casa, cer-certo? — perguntou com o rosto corado baixo.

Desta vez, não tinha medo de falar do assunto, pois via que a garotinha estava em seu estado normal, mas também não queria ser insensível.

— Sim, eu vou. Deixei coisas muito importantes na minha casa e preciso cuidar delas para ninguém querer tomar de mim.

Sentiu as mãos seguradas em seu quimono perdendo as forças e o soltando, porém, quando a menina levantou o rosto, ele espantou-se com a expressão feliz dela. Lou Xhien disse em um tom quase sussurrante: 

— Eu já me decidi! Quero ir para a sua terra natal com você!

Ficou parado por alguns momentos, tentando processar o que a menina disse. Enfim, quando sua mente lhe deu um tipo de choque — ou teria sido um beliscão de Annie? — ele respondeu ainda com os olhos arregalados:

— Mas e a ilhas… e as garotas artificiais!? Você é tipo a princesa delas, não? Como vai deixar as coisas assim?…

— Acho que existem pessoas melhores que eu para cuidar disso tudo, talvez uma garota artificial possa fazer bem melhor o meu trabalho — a menina disse olhando para escadaria que levava ao segundo andar, fazendo uma referência implícita a Lou Souen Eiai, que repousava em um daqueles quartos.

— M-mas…

— É inútil, meu plebeu, eu já me decidi, irei com você para a sua casa e farei você se apaixonar por mim no processo, sinta-se grato! — ela afirmou no seu modo tsundere enquanto apontava para o garoto.

[Acho que é inútil tentar fazê-la mudar de ideia, ela parece gostar de você de verdade.]

Eh? Tô sentindo uma ponta de ciúmes nesse seu tom aí.”

[Pervertido!]

“Me senti um lixo só de escutar você falando isso! Perdão, minha deusa!”

Quando saiu de seu diálogo mental com a sua companheira meiga, percebeu que Lou Xhien não estava mais lá, provavelmente subiu as escadas para descansar um pouco.

— Caraca, eu vou descansar também, ninguém merece quase morrer tantas vezes em um intervalo de tempo tão curto.

Ele deixou a porta da entrada do templo aberta porque sabia que Lao Shi também retornaria para descansar, o homem foi apenas verificar a condição da Barreira d’Água, pois passou muitas horas distante dela.

Kurone entrou no quarto quase arrastando os pés e jogou-se no futom. Encarou o teto de madeira por alguns minutos, refletindo sobre a sua última batalha.

Agora sabia que também tinha o Tipo Elemental escuridão, mas como o usaria? Aparentemente, só conseguia conversar com Azrael quando estava em uma masmorra, o que era algo problemático.

A Máscara Infernal não apareceu mais, o que levou o seu plano de depender dela na batalha contra o Arquiduque do Inferno por água abaixo. Fogo Infernal também estava fora de cogitação, afinal aquilo despertava a sua insanidade adormecida.

— Putz, esse negócio de ser o herói que salva os outros é complicado, não tem ninguém pra me salvar quando tô em apuros.

— Eu não diria isso, sua cabeça parece ser bem barulhenta.

— Você tem um ponto… pera, quê?!

Ele olhou de relance para a porta do quarto e viu a deusa de cabelos alaranjados adentrando o local. Ela era uma mulher esbelta com pouco mais de 2,10 de altura, o que permitiu que Kurone, deitado, pudesse ver todos os “atributos” do seu corpo avantajado de baixo para cima — desde os pés alaranjados aos olhos avermelhados brilhantes.

— Por que está em pânico? Uma escrava deve estar sempre perto do seu mestre, não? — ela disse se jogando no futom e ficando ao lado dele, também olhando para o teto. 

Ficar sozinho com aquela mulher era perigoso em diversos sentidos, mas como era algo que não podia evitar, tentou ignorá-la, fechando os olhos e fingindo dormir.

Tentou, tentou e tentou ignorá-la, mas no fim abriu os olhos e viu o rosto em que o cabelo laranja cobria o olho esquerdo. O rosto de ambos estavam quase colados. Dali, podia ver o elo que os ligava: o torque.

Enquanto o colar de Kurone era um torque cinza discreto, quase sem folga, o de Inari se assemelhava a uma coleira de gatos vermelha com um tipo de sino no centro. Ela balançou a cabeça e um pequeno tilintar foi escutado.

— Sabe, — ela começou com uma voz que causava arrepios suspeitos no corpo o jovem — não tenho memórias sobre ter feito “aquilo”, isso significa que fui aprisionada como uma pobre deusa virgem, olha que mundo cruel. — A deusa aproximou ainda mais o rosto, mordendo de leve a orelha do jovem. — Como você é a pessoa que permite que eu exista neste mundo mais uma vez, e anda por cima sou sua escrava, vou te deixar ter esta honra.

Ela afastou-se e ele suspirou profundamente, como se tirasse um peso dos seus ombros. O que ela queria dizer com aquilo? Por que sentia o coração tão acelerado? Seu corpo tremeu ao escutar a porta do quarto sendo trancada pela mulher.

— Ei, ei, ei! Não tô gostando disso… mentira, mas para! — Ele olhou para a deusa engatinhando lentamente na sua direção. — Que diabos vo-você vai fazer comigo?

— Não é óbvio? Essa sua cara demonstra que também será a sua primeira vez, então iremos com calma, prometo não ir muito longe. — A mulher sorriu em deboche e passou a língua pelos dedos finos, fazendo o garoto engolir em seco. A língua voltou para a boca e ela aproximou os lábios avermelhados do rosto do garoto.

Não, não poderia ser. Poderia? Realmente era o que ele estava pensando?

— Annie, interrompe a transmissão, agora! Não olha, não importa o quanto eu grite!

[O q-quê? O que você quer dizer com isso?]

— Apenas faz o que eu tô mandan…

Mal teve tempo de terminar o grito, a mulher saltou em sua direção como um animal selvagem, envolvendo-o em seu corpo avantajado quente, arrastando-o e rolando com ele para debaixo do corredor.

Tudo estava acontecendo muito rápido, ficou até mesmo tonto e quase desmaiou, mas Inari o segurou para que ficasse acordado.

Hihi, sua expressão é a melhor — ela falou com o rosto extremamente vermelho colado ao dele e passando a língua pela bochecha do garoto. — Apenas aproveite.

A escuridão debaixo do cobertor dificultava a sua visão, mas tinha certeza que a mulher não usava mais o quimono negro, pois sentia todo o calor do corpo dela passando para o seu.

Não tinha mais o que negar, aquilo era real, precisaria se esforçar para fugir… mas para quê fugir? No fim, Kurone Nakano era um homem, e como um homem, sua luxúria sobrepôs à razão, fazendo ele apertar ainda mais aquela sensação macia em seus braços.   

Naquela noite, apenas os gemidos altos de Kurone foram ouvidos reverberando pelo templo.



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