Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 136: Vence A Chama Mais Ardente

Lao Shi e Inari posicionaram-se no alto do grande templo de pedra ao estilo asteca, cada um em uma das extremidades, sempre se encarando para verificar se não havia interferência na batalha. A tensão era quase inexistente entre eles, os dois seres conseguiam mascará-la, o Arquifeiticeiro com o seu sorriso calmo, e a deusa com o pervertido.

Kumiho, a raposa branca, foi a primeira a descer, afastando todas as outras criaturas menores do local. Aquele monstro emanava o dobro de mana que Kurone conseguiria se forçasse a sua absorção de energia. A aura dela tinha um tamanho avassalador e era capaz de interferir na mente dos outros.

Lentamente, a dupla representando Lao Shi desceu a escadaria. Lou Xhien mal andava sem tropeçar e a expressão de horror ainda estava presente em sua face. Daquela maneira, ela seria um fardo para o jovem, ele teria que se concentrar em lutar e proteger a menina.

Por mais que tivesse insistido para lutar sozinho, a mulher-raposa não permitiu, segundo ela, era para deixar o combate mais justo. Mas todos sabiam que era, na verdade, para desbalanceá-lo.

Parou ao tocar o chão de terra. A floresta coberta por densas nuvens acinzentadas, que invadiam todo o lugar agora, estava atrás de Kumiho. 

Como prometido, a raposa diminuiu e ficou com quatro metros de altura, não que isso fizesse muita diferença, considerando que o poder dela não teve baixa, o jovem até teve a impressã que a aura aumentou.

[Agora seria uma boa hora para usar aquela máscara.]

 “Parece que não vai rolar, essa coisa só aparece quanto tô quase morrendo, vou ter que me virar com o que tenho aqui.”

Apertou a única arma que tinha em mãos: a espingarda de canos cerrados. Decidiu que seria mais seguro se Lou Xhien ficasse com a sua espada, talvez isso a desse mais coragem para sobreviver à batalha.

O seu coração sempre apertava quando olhava para a menina e a via daquele jeito, apavorada e suplicando que tudo acabasse logo, nem a deusa, o ser mais perigoso ali, assustava-a tanto quanto Kumiho. 

— Declaro aqui o início deste combate, — começou Inari — as regras são simples: o jogo só termina com a morte de um dos jogadores de um time ou quando um time conseguir tirar dois membros do adversário.

Não era muito diferente dos jogos feitos por Lao Shi na ilha, com exceção de que lá era proibido matar. Quantas vezes o jovem teve o braço artificial decepado pela lâmina dos seus companheiros?

— Podem começar! — finalizou a mulher-raposa passando a língua pelos lábios.

Kumiho entrou em sua posição de batalha, com o corpo curvado e os olhos fixos na sua presa. Os pelos brancos eriçaram e saliva respingava da sua boca repleta de dentes afiados. Um brilho forte emanou das runas vermelhas desenhadas em seu pelo.

— Bora ver se acabo com isso desse jeito — murmurou estendendo as mãos para a criatura.

Lutar corpo-a-corpo, que era o seu forte, estava fora de cogitação, não podia deixar Lou Xhien vulnerável, então teria que usar tudo o que aprender nos últimos meses, ou seja, apelar para a sua magia de fogo.

Aprendeu técnicas sobre como canalizar sua mana pelos fluxos e levá-la mais rápido para o exterior, assim como feitiços, truques e ataques mágicos do Tipo Elemental fogo, sem falar dos tratamentos estimulantes que era submetido às vezes. Apesar de Lao Shi ser de um Tipo diferente, a água, ele conhecia muito sobre o fogo também.

Duas grandes bolas flamejantes irromperam o ar e dançaram em direção à besta, fazendo o calor no campo de batalha aumentar. Era um ataque que poderia ser descrito como “avançado” para um usuário de magia de fogo. 

No entanto, usar seu trunfo no primeiro golpe era algo muito arriscado.

Mesmo quando as chamas aproximaram-se, Kumiho não se moveu. Os olhos dela mal piscavam e, quando faltavam três centímetros para ser incinerada pelo ataque, abriu a bocarra e engoliu tudo, engolindo e forma audível em seguida.

Kurone arregalou os olhos ao ver que o seu ataque poderoso virou um simples lanche para a criatura. 

Mas não podia ficar estarrecido por muito tempo, as chamas logo foram regurgitadas e devolvidas para o jovem com o dobro da força, obrigando a saltar com Lou Xhien.

Ambos rolaram pelo chão e foram empurrados quando as bolas de fogo explodiram contra a parede do templo. 

Sentiu-se um idiota ao perceber que aquele simples ataque da raposa possuía o dobro de poder do seu ataque mais forte. As chamas da esperança de vencer a batalha foram apagadas, ou melhor, engolidas por aquele monstro.

Haha, tolinho, não sabia que Kumiho também pertence ao Tipo Elemental fogo? Em uma batalha, o mago mais forte do elemento sempre vence — comentou Inari triunfante.

— Então creio que a senhora cometeu um equívoco, pois o mago mais forte ali é o meu caro discípulo — disse Lao Shi com uma expressão calma no rosto, irritando a oponente.

Kurone levantou-se rapidamente e preparou-se para esquivar outra vez, pois a raposa branca preparou uma salva de esferas flamejantes. Por sorte, a criatura ignorava Lou Xhien, a garotinha tremia no canto do campo de batalha.

Fogo e mais fogo pairava pelo ar, a temperatura no campo de batalha estava insuportável, obrigando até mesmo Lao Shi a erguer uma barreira. Se continuasse daquela maneira, Lou Xhien poderia morrer desidratada. 

Decidiu agir novamente. O brilho do Orbe Vermelho balançava de um lado para o outro conforme ele desviava dos ataques, porém foi atingido pela força do rugido da raposa e bateu as costas contra o templo de pedra.

Olhou para o alto e viu o sorriso malicioso da deusa raposa e, ao lado dela, o seu mestre ainda calmo. Ele tinha confiança em Kurone mesmo ou conseguia ficar daquele jeito até nas situações mais difíceis? Talvez o Arquifeiticeiro estivesse horrorizado por dentro. 

— Preste atenção na batalha — falou o homem apontando para a raposa que preparava outra salva de chamas. Ele realmente tinha algo em mente?

Confiando em seu mestre, o garoto saltou e correu para o outro lado, precisava de mais espaço para desviar ou o seu oponente conseguiria prensá-lo contra a parede.

Foi seguido por uma onde de chamas e, para rebatê-la, liberou o máximo que conseguia do seu poder. Fogo bateu contra fogo, um tentando empurra o outro, mas no fim o de Kurone foi subjugado e o jovem precisou erguer uma [Fire Wall] para se proteger.

A onda flamejante lançada por Kumiho tomou conta do corpo de Kurone e o varreu para trás, quebrando metade da muralha erguida e queimando metade do corpo dele. Nem a Barreira d’Água erguida por Lao Shi saiu ilesa, ela rachou alguns centímetros por conta do ataque da raposa branca.

Kumiho mal saiu do lugar enquanto o jovem foi arremessado para os quatro cantos do campo de batalha, sua magia também não se equiparava à dela, desse jeito não teria como vencer. O que feria? Não via sequer uma brecha, era uma simples formiga tentando evitar ser pisada por um humano. 

— Não acredito que é tão fraco assim, esperava que pudesse pelo menos atingir a Kumiho, mas com essa ínfima magia de fogo, vai morrer em poucos minutos — desprezou Inari.

Lembrou-se da última deusa que falou “ínfima magia de fogo”. Cecily dissera-lhe que jamais conseguiria fazer nada mais que materializar uma pequena flama no dedo. Seu elemento era realmente o pior de todos?

[Não é hora para ficar se lamentando, se não nos movermos agora, seremos carbonizados!]

A raposa branca cuspiu outra onda de fogo, porém desta vez ela seguiu em direção à garotinha amedrontada no chão. Lou Xhien apenas gritou e fechou os olhos.

— Merda! [Fi-Fire Wall]! 

Reuniu toda a mana disponível para serpentear o fogo pelo chão e, quando ele estava ao redor da garotinha assustada, ergueu uma barreira flamejante, segurando o ataque da raposa. Se perdesse a concentração por pelo menos um segundo, Lou Xhien poderia ser tostada.

A cabeça começou a girar conforme a energia vital saía do seu corpo e sustentava a defesa. Doía, mas não foi nada comparado à dor dos momentos seguintes. Kumiho aproveitou da sua brecha para atacá-lo com outra salva de bolas flamejantes, queimando-o profundamente e fazendo-o rolar pela terra. Kurone foi ao chão novamente.

Apesar da dor insuportável das queimaduras de segundo grau, sua prioridade ao levantar foi procurar pela garotinha horrorizada. Suspirou ao perceber que ela fugiu antes que a barreira fosse quebrada.

[Por favor! Eu sei que você pode me escutar! Ajude o Kurone!]

Era inútil, a Máscara Infernal não se manifestava há um tempo considerável, esperar pela ajuda dela poderia significar a morte de Lou Xhien ou a sua. Mesmo sendo fraco, precisava dar um jeito de vencer, as vidas das pessoas de fora da masmorra também estavam em risco.

— Também não posso arriscar perder isso — murmurou desmaterializando o Ore Vermelho, o calor não estava fazendo bem para ele. — Vamos ter que ser só nós, Nie.

[Kurone… não acha melhor tentar negociar com ela novamente? Às vezes desistir pode ser a melhor opção se for para continuar vivo.]

— Pode esquecer, não vou desistir.

Sabia que a garotinha acabaria morta, afinal Inari só precisava de um deles. O seu oponente era uma Besta Divina como Dora e aquele morcego esquelético que enfrentou no Hangar dos Mortos, criaturas que Kurone conseguiu derrotar em suas últimas lutas, então sua vitória não era algo impossível, só precisava se esforçar ao máximo. Não, não, precisava esforçar-se como nunca!

Mais chamas o atacaram de todos os lados, algumas conseguiam queimá-lo, outras não, mas ele não conseguiu segurar nenhuma com a sua barreira fraca. Era inútil usar chamas contra um especialista do Tipo Elemental fogo.

— Ele é duro na queda, mas não vai durar mais do que três ataques — comentou Inari, a mulher mal piscava o olho, vidrada no campo de batalha.

— Cinco ataques, — começou Lao Shi — em cinco ataques teremos uma reviravolta.

Hmmm, está bem confiante, o que te faz pensar isso? Ele tem alguma carta na manga que não consigo perceber? Só consigo vê-lo como um humano qualquer.

O homem balançou a cabeça de forma negativa e respondeu:

Ele não vai deixar o Kurone morrer.

Inari não questionou sobre quem o homem estranho estava falando e continuou a prestar atenção na batalha. Ele disse cinco ataques, mas com apenas dois o jovem estava preste a morrer, mais um acabaria com ele.

Ahhhhh! — Kurone berrou como nunca enquanto erguia outra barreira de fogo. Sentia todo o corpo formigando por conta das queimaduras e, na perna direita, a carne em aspecto preto estava exposta.

Não sentia uma dor daquelas desde quando saiu da masmorra de nível baixo, era impressionante como ainda estava de pé, afinal seu oponente lá foi um necromante que seria morto por aquela Besta Divina em questão de segundos.

No fim, sua barreira perdeu e foi arremessado mais uma vez, mas não demorou para ficar de pé, arfando, e correr em direção ao monstro. Não podia dar uma brecha para que Kumiho pudesse atacar Lou Xhien.

Na sua mente, a voz de Annie tornou-se chorosa, ela implorava a cada instante para que a máscara ajudasse, mas era uma tentativa inútil. Por fim, a deusa ficou em silêncio por alguns momentos. 

Foram quatro golpes desde que Lao Shi prometeu uma reviravolta.

O quinto golpe estava sendo preparado para incinerar todo o corpo do jovem, não tinha mais saída, a menos que a máscara se materializasse na hora que o fogo estivesse a centímetros de lhe atingir. Devia arriscar naquilo? Poderia acabar morto.

Mas das últimas vezes foi assim que ela apareceu…

— Parece que vamos depender da sorte de no…

[Eu não posso deixar você fazer isso… Não me odeie por isso, mas entenda, eu só queria manter você bem, por isso escondi isso por tanto tempo.]

“Nie, o que você…”

Entendeu o que Annie queria dizer quando sentiu algo vindo do fundo do seu ser. Era uma sensação familiar que causava um arrepio na espinha. Sentir aquele poder lhe recordou daqueles lábios perversos colados aos seus, dos gritos de fúrias e da risada maligna dela: aquilo que percorria o seu ser era o poder do pacto com a deusa Lucy, a falsa Annie de Eragon.

Aparentemente, ele não perdeu o pacto com aquela deusa ao ter a vida ceifada por Azazel van Elsie.

[Use esse poder maldito que selei e ganhe, Kurone!]



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