Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 135: Aposta Com A Deusa Astuta

— Va-Vassalo da Morte?! — sussurrou por conta da falta de oxigênio, os olhos arregalaram-se ao escutar o título familiar. A mulher folgou um pouco o aperto e respondeu:

— Sim, acho que sim, minhas memórias estão uma bagunça, provavelmente é culpa da Astarte, ela ama um drama. Mas por que estou falando isto para você mesmo? Foi você o desgraçado que selou o portal, não foi?

Era demais para sua mente processar, e a falta de oxigênio não colaborava. O aperto sempre diminuía quando Kurone ficava roxo, mas em pouco tempo as unhas voltavam deixar marcas em sua carne. Ela parecia gostar daquela sensação.

[Inari! O nome dela é Inari!]

— Inari?…

Hã?! Como você conseguiu usar isso? Tenho certeza que ativei uma barreira! — O aperto aumentou. — Você não é um de nós, diga logo que diabos é você e permito que tenha uma morte indolor.

— E-ei, — a voz trêmula de Lou Xhien reverberou nas costas da mulher — ele é só um plebeu burro, seu assunto não era comigo?

— Encontrei coisinhas tão interessantes hoje… quem diria, estou com pena de matar vocês, mas acho que vou começar com você, cria de Karllos Sophiette. — Ela esticou a mão livre para a menina, juntando energia nela.

Seria um golpe que Lou Xhien não poderia escapar.

Kurone não tinha mais a perder. Ele apoiou os pés no estômago da mulher e, impulsionando-se com um chute violento, conseguiu se libertar do aperto, mas não ileso. As unhas anormalmente grandes rasgaram a pele e deixaram marcas enormes no pescoço do jovem. 

— Por que você veio, plebeu burro? Depois de tudo o que eu fiz…

Pelo tom de voz, Lou Xhien havia recuperado a racionalidade quando entrou na masmorra. Esperava que os outros também não estivessem se matando do lado de fora.

— Bora deixar as discussões para mais tarde, falou? Nosso foco agora é matar essa desgraçada ou fugir daqui. Prefiro a última opção, não tenho chance de vencer ela.

[Sinto que você não devia falar essas coisas em voz alta bem na presença do inimigo.]

— Humanos são realmente brutais, isso é, se você for um. Eu não quero matar vocês, serão ótimos para eu obter informações, mesmo que seja por meio da tortura. — Inari passou a língua pelos lábios no fim. — Mas eu sou justa, por que não fazemos uma aposta?

O garoto franziu o cenho, pondo a mão em Lou Xhien. Estava pronto para jogá-la nas costas e tentar fugir dali, assim como fez com Frederika na vila dos mestiços, mas tinha ciência de que não podia dar as costas àquele ser anormal.

— Que tipo de aposta estamos falando? — perguntou materializando a sua Boito .20. — Se for alguma coisa indecente, pode esquecer, nem esse teu corpão aí vai conseguir me atrair pra uma armadilha.

— Este último comentário foi desnecessário — murmurou Lou Xhien tentando formar um sorriso para aliviar a tensão.

— É uma pena, você me cativou — disse a mulher-raposa passando a língua pelos lábios novamente —, mas não era algo assim, gostaria de sugerir um jogo, era assim que nós decidíamos as coisas antigamente.

— Plebeu, não estou com um bom pressentimento, vamos fugir logo, acho que temos…

A fala da menina foi cortada por um barulho alto irrompendo do templo. Uma criatura de pelos brancos, com mais de dez metros, largas orelhas brancas e runas vermelhas desenhadas no pelo, saltou do local e ficou ao lado de Inari.

Lou Xhien entrou em pânico novamente ao ver o monstro. Ela pôs as mãos trêmulas na cabeça e começou a gritar desesperada. 

Desta vez não tinha escolha, Kurone correu a abraçou a garotinha horrorizada com força enquanto mantinha os olhos fixos na enorme criatura aproximando-se. 

— Esta é Kumiho, minha linda Besta Divina. Creio que já a conhece, não? — Inari fez uma pausa dramática antes de continuar: — Ela tentou fugir daqui uma vez, mas um homem do clã Sophiette e a mulher dele conseguiram selá-la novamente — concluiu passando as mãos na cabeça da besta que ficou ao lado.

Claro, lá estava o motivo pelo qual Lou Xhien estava tão paranoica, não era uma criatura similar, era a mesma criatura que matou o seu pai, Lou Xhien Xhian. Estava tendo um reencontro com o passado assustador.

— Mas vamos ao que nos interessa. As regras do jogo são simples: vence quem tomar pelo menos dois membros do adversário. Valem braços, pernas e cabeças. Bem simples, certo?

Jogos novamente. Por que pessoas com poderes anormais com Inari e Lao Shi gostavam tanto deles? Começou a questionar-se sobre a idade do seu mestre quando aquela mulher falou “nós”. Seria quele homem também alguém com mais de mil anos?

— Não que vocês tenha muito escolha também… — Ela meneou a cabeça para a enorme raposa branca, que mostrou os dentes em seguida.

O jovem começou a refletir. Não tinham realmente chances de fugir, mas aceitar um jogo com aquela estranha era muito arriscado. O que Lao Shi lhe recomendaria a fazer?

— Parece justo, mas o que ganharíamos com isso? — Uma voz calma e serena chamou a atenção de Kurone e Inari. O dono da voz terminava de matar duas raposas médias que tentaram atacá-lo.

“Falando no Diabo.”

Lá estava o seu mestre, com a postura relaxada, mas ereta, e o semblante calmo de sempre. Ele carregava uma xícara de Camélia quente em uma das mãos pálidas, a outra estava estendida após usar a magia que decepou a cabeça das raposas.

Inari e Lao Shi encararam por longos minutos, provavelmente um tentava quebrar a barreira do outro para ver suas estatísticas, mas suas expressões demonstravam que não tinham êxito.

A mulher-raposa fez um sinal com uma mão a sua criatura, Kumiho, não atacar ainda. Até aquela monstruosidade notou que Lao Shi era alguém perigoso, talvez estivesse acima do seu nível, era difícil dizer sem a Análise de Annie.

— E quem seria você, humano? — questionou Inari cerrando os olhos para o homem de quimono branco e azul.

— Não vem ao caso, só quero saber agora o que ganharemos nesta sua… aposta? Você fala como se tivesse certeza que vai ganhar, minha cara, isto é, no mínimo, suspeito.

Ele chegou ali de repente, atrapalhou a conversa e começou a questionar sobre a proposta de Inari. Lao Shi era um homem em outro nível, alguém que Kurone jamais se equipararia — e talvez nem quisesse se assemelhar mesmo.

— Você tem coragem… Pois bem, caso ganhem, terão minha submissão total, mas se eu ganhar, vocês que se tornarão meus escravos.

Hã? Quem não garante que você vai matar a gente se perder? — protestou o jovem.

— Ela é uma deusa, meu caro, — interferiu Lao Shi — e deusas nunca mentem quando se trata de jogos, pelo menos não deveriam mentir. Eu também cumprirei com a nossa parte se formos os derrotados.

Ambos deram uma única encarada antes de ficarem um distante do outro. Lao Shi olhou feio para a horrorizada Lou Xhien e, em seguida, fez uma expressão difícil para Kurone. O que teria acontecido no exterior?

A mente do garoto estava muito cheia, mas não deixou de notar que o seu mestre não estranhou o fato de estar de frente a uma deusa e uma Besta Divina, mas decidiu não esquentar a cabeça com aquilo por enquanto.

— Sendo assim, minha representante será Kumiho — anunciou a deusa. — Reduzirei o tamanho dela para quatro metros, assim terão uma luta equilibrada.

— Então, neste caso…

O homem deu um passo à frente, porém foi impedido por um sinal de Inari. A mulher-raposa explicou:

— Não, não, não, você não pode. Eu escolho os outros dois ali como seus representantes.

— Um segundo, você não explicou que o adversário que escolhia o representante do outro — protestou Lao Shi.

— Foi um erro meu. Vocês também podem escolher, mas…

Entre a deusa e a Besta Divina, o melhor era a Besta, aquela mulher provou que era muito perigosa para ser confrontada por alguém que não fosse Lao Shi. Talvez a situação fosse diferente se o homem fosse lutar, mas Kurone teria mais chances de derrotar o monstro.

— Espera, nós dois?! — O jovem olhou para Lou Xhien, era impossível ela conseguir lutar daquela maneira, mal conseguia ficar de pé. 

— É para equilibrar a batalha — respondeu Inari com um sorriso maldoso. Claro, em sua mente, mesmo que não vencesse, ela venceria e mataria Lou Xhien no processo. — Começaremos em dez minutos, o campo de batalha será aquele. — Ela apontou para a parte inferior do templo, o chão de terra, repleto de raposas brancas. 

O trio reuniu-se no canto do templo, onde Inari não podia escutar seus planos. Na verdade, o corpo trêmulo de Lou Xhien foi arrastado pelo garoto até lá. 

O Arquifeiticeiro começou:

— Tente focar na velocidade. Tome, — ele jogou um objeto para o jovem — achei que ia precisar, por isso trouxe.

Era a lâmina de Lou Xhien, algo que seria útil se o seu oponente não fosse um monstro de quatro metros. Com certeza não conseguiria usar as estratégias que usou no Chacal Negro de Duas Cabeças ou no Lobo Cinzento da Lua Alfa.

— Ei, o que aconteceu com os outros? — Kurone questionou finalmente. 

— Percebi que havia uma anomalia vinda do portal e coloquei todos para dormir. Não me olhe assim, eles acabariam se matando se eu não fizesse nada.

— Entendo… espero que não tenham a ideia de pular aqui quando acordarem.

— Na verdade, — Lao Shi olhou para todos os lados antes de continuar: — eu atualizei a magia de selamento aqui. Se eu morrer, a saída será selada eternamente em poucos minutos, por isso, não importa o que aconteça, se ela conseguir me matar, quero que fuja daqui o mais rápido possível, não importa quem for ficar para trás. — Ele fez um sinal para Lou Xhien.

— Isso se eu não morrer antes. Não tô confiante que essa deusa aí vai cumprir com a palavra dela.

— Não se preocupe, posso garantir que não deixarei ela matá-lo, meu caro… Agora, temos que dar um jeito no seu corpo. — Lao Shi examinou o sangue escorrendo pelo pescoço do jovem. — Consegue curar isso, senhorita Lou Xhien?

— S-si-sim… con-consigo… — Mesmo com medo, ela se esforçava ao máximo para ajudá-los. 

Mas será que seu esforço seria suficiente para sobreviver a uma batalha contra o monstro que matou os seus pais?



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