Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 133: Efeitos Do Distúrbio Mágico

Engoliu em seco diante àquela pausa dramática de Lou Xhien Li.

Tinha a impressão de que sabia o que ela perguntaria e tentou levantar, porém as mãos macias da menina o prenderam ali, apertando-o contra as coxas ocultas pelo hakama vermelho curto.

O sentimento de que ali era um lugar aconchegante desaparecia a cada palavra proferida pela garota:

— Hime disse que você é um estrangeiro. — Por que aquela palavra soava como quando Elisabella Andeavor o chamara de “E.T.”? — Você pretende voltar para casa?

Arregalou os olhos em surpresa, não era aquela pergunta exatamente que esperava, mas pelo menos era algo mais simples de responder.

— Sim, eu quero voltar quando resolver tudo no Continente Oriental e no Ocidental — respondeu sem fazer contanto visual, mantendo a voz baixa.

— Vo-você mudaria de ideia se eu dissesse que eu poderia te dar um cargo muito, muito, muito importante? Vamos dizer assim… algo como o príncipe das ilhas Lou Xhien?

“Lá vamos nós novamente.” Não conseguia escutar aquilo e não lembrar das garotas que fizeram sugestões semelhantes. Quando ficou na pousada de Eragon com Flugel, ela perguntou-lhe se não gostaria de recomeçar.

Talvez ele e a líder das Amazonas Aladas pudessem ter tido uma relação realmente, já que ainda não sabia a verdadeira identidade de Amélia. Porém, aquele sonho foi roubado de ambos por Belphegor Halls e sua flechas mortais.

Não podia assumir compromissos com pessoas daquele mundo, mesmo se desistisse da ideia de retornar ao Japão. Era como Azrael disse: “A fragrância da morte lhe acompanha desde o seu nascimento.” Qualquer pessoa que se envolvesse com ele acabaria morta.

— Infelizmente, não. Eu…

— E por mim? — As palavras saíram rápidas. Desta vez foi ela quem virou o rosto. — Ficaria aqui por… mim?… Talvez, — ela apoiou um dedo sobre o outro, liberando a cabeça do jovem — talvez nós pudéssemos… Ah, sim, sim, sei o que deve está pensando, eu só tenho dezesseis anos, mas daqui a dois anos nós…

Havia um brilho diferente nos olhos de Lou Xhien, quase como o de insanidade. O corpo dela tremia conforme as palavras rápidas saíam e, dali, podia ver a vermelhidão do seu corpo e escutar as batidas pesadas do coração.

A garotinha não estava bem, provavelmente aconteceu algo quando ela viu o torii vermelho e lembrou-se de como perdeu a sua família. Ou talvez fosse apenas a influência da assinatura mágica escapando daquele portal. Mas o motivo era irrelevante, pois ela estava colocando tudo o que estava preso em seu interior para fora.

Claro, depois que tudo acabasse, cada um retornaria ao seu lar, deixando apenas Lou Xhien e suas garotas artificiais na ilha. Kurone sabia, ela era muito jovem para suportar tudo aquilo, só queria algo para se apoiar e continuar. 

Não era amor, era medo.

Sabia disso, afinal apoiou-se em suas irmãs quando esteve em uma situação similar, assim como também Teruhashi fez quando começaram a viver juntos. Como Rhyan usava Fran, a escrava loli, como um pilar, mesmo que não demonstrasse, ou Sophia com Noah. Todos os que carregavam fardos pesados precisavam de um suporte, ou não conseguiriam mais continuar.

Infelizmente Kurone não podia ser aquele suporte para Lou Xhien, não podia ser para ninguém, pois já estava em seu limite e a única coisa que ainda o mantinha de pé era Annie.

Mas o que diria para aquela garotinha que agora mais falava para si que para ele? Qualquer palavra errada ali poderia destruir o psicológico frágil dela completamente, porém não queria mentir para no fim decepcioná-la.

“Nie, que tal uma ajudinha… você tá chorando de novo?!”

[N-não! Mas não faço ideia de como ajudar essa criança. Precisamos lidar com isso com calma, ela não está bem.]

Queria que alguém aparecesse ali e interrompesse o diálogo, mas ninguém andava por aquelas partes da ilha, teria que lidar com a menina sozinho, pois não tinha como Annie intervir de qualquer forma.

— … En-então, plebeu, diga, tem alguma garota que você gosta? Não me importo de você ter outra esposa, claro, vai precisar me tratar como prioridade, afinal sou a primeira princesa, mas não sou ciumenta, não, de jeito nenhum, ciúmes não é um sentimento nobre. Posso permitir que você passe a noite com as garotas artificiais que quiser, mas não acho que a Lou Souen vá concordar com isso, ela é a mais inteligente das minhas subordinadas, mas não se preocupe, as outras lhe servirão da maneira… da maneira que desejar até que eu atinja os dezoito anos e possa gerar os seus filhos, dando continuidade à linhagem dos descendentes de Karllos Sophiette…

Kurone afastou-se um pouco da menina, estava começando a ficar com medo dela falando sem parar, lembrando-lhe um jogo que gostava em sua adolescência. Não recordava mais o nome, porém tinha certeza que havia a palavra yandere no título.

Pena, medo, empatia… nem sabia exatamente o que sentia em relação a Lou Xhien naquele estado, mas precisava acabar com aquilo logo.

— Lou Xhien — A voz saiu mais baixa e covarde do que pensou.

— S-sim, querido plebeu? Pode me chamar de… com era mesmo? Ah! Lou Li, não teremos mais problemas com esse nome agora.

— Lou Xhien, essa não é você, não percebe? É essa assinatura de mana, ela tá mexendo com sua cabeça! Você jamais…

— O que está tentando dizer? É claro que sou eu, veja, — ela bateu as mãos no próprio rosto com muita força, fazendo um estalo ecoar no ar e deixando uma marca vermelha em formato de mão no local — Como pode dizer que não sou eu?

O brilho dos olhos aumentava conforme sua respiração se tornava ofegante e as palavras jorravam como a água. Ela só queria um abraço, que alguém dissesse que tudo ficaria bem no fim, mas fazer isso era o mesmo que dizer que aceitaria a proposta dela.

— Você n-não vai aceitar a minha proposta… vai embora quando tudo acabar… me deixar aqui… — a voz eufórica foi perdendo cada vez mais força — não é isso que você está querendo dizer, é? Você não teria essa coragem, teria?

Kurone fez que sim com a cabeça, sem fazer contato visual com a menina. Pelos longos fungados, podia supôr que as lágrimas começavam a aflorar no canto dos olhos dela. Sentia-se terrível fazendo aquilo, mas aquilo que aconteceu com sua prima repetia-se em sua mente junto às palavras de Azrael.

— Ei, Lou Xhien, escuta…

— NÃO! Eu não vou escutar! — os gritos da garotinha saíram arranhados devido ao choro. As emoções dela estavam à flor da pele devido à estranha quantidade de mana alastrando-se pela Barreira d’Água de Lao Shi. — Você é como todos, como pude pensar que talvez você se importasse comigo, que talvez me visse como algo além de um poder político.

— Não é bem assim! A Lou Souen e a Hime são suas amigas, não seja idiota assim! — bravejou fazendo o corpo trêmula da garotinha recuar. — Não, pera aí, — pôs a mão na cabeça por um momento — tem algo errado aqui mesmo, até eu…

[Deve ser a pressão se espalhando pela ilha, nem você consegue evitar. A barreira que o seu mestre criou ao redor da ilha está prendendo a energia saindo do portal aqui, não lembra que vimos algo assim naquele livro?]

“Nossa, sua memória é boa mesmo… Mas assim o estado da Lou Xhien só vai piorar.”

[Vamos com mais calma.]

— Olha, foi mal, eu não queria gritar com você, é sério. Vem, bora voltar pro templo e conversar com calma — disse envergonhado enquanto estendia a mão, porém o que recebeu foi o impacto de um empurrão violento, algo semelhante àquilo que sentiu quando a encontrou pela primeira vez.

Magia de repulsão.

— Fique longe de mim, seu plebeu traidor!

Lou Xhien o arremessou três vezes contra uma pedra, fazendo-o apagar ao bater o cocuruto na terceira vez. A última coisa que viu foi a garota chorosa correndo pela floresta.

Tudo que viu por alguns minutos foi a vasta escuridão, mas logo recobrou os sentidos e acordou. A visão estava turva e sentia uma dor aguda percorrendo toda a parte de trás da sua cabeça. Passou a mão e sentiu algo molhado lá, talvez fosse sangue, mas nem parou para verificar, correu quando lembrou de Lou Xhien.

Atravessou a floresta com dificuldade por conta dos seus músculos ainda doloridos. 

Hipérion, a lua azul, estava um pouco inclinada para o centro do céu, demonstrando que se passou um tempo considerável desde que a viu pela última vez. Para onde aquela garotinha instável teria ido? A ilha não era exatamente das maiores e a assinatura mágica confundia os sentidos.

Foi em direção de um burburinho que escutou ao chegar na parte iluminada da ilha, era próximo ao templo de meditação de Lou Souen.

Estranhou a multidão reunida lá, não parecia ser uma coisa boa pelas expressões nos rostos de Berthran e Hime. Lao Shi estava tentando parar a discussão, mas tinha que lidar com Ayshla falando palavrões na entrada do templo.

O jovem desacelerou e ficou cauteloso ao ver Lou Souen, a garota artificial segurou Lao Shi pelo colarinho e o jogou contra uma árvore, nunca viu uma expressão de fúria como aquela no rosto da sacerdotisa, na verdade raramente via uma expressão naquela face.

[Deve ser efeito do portal de novo, achei que não afetaria garotas artificiais… é mais grave do que pensamos. Vou tentar deixar você consciente, mas não se estresse muito.]

“Ok, bora acabar com essa farra logo.”

— Ei, ei, que bagunça é essa aqui, tão achando que aqui é a casa da mãe Joana? — tentou brincar, mas foi recebido por um rugido de Lou Souen, a garota estava muito alterada.

— É culpa sua! — Ela colocou o dedo fino no peito do jovem, pressionando-o com força. — O que você fez com Vossa Majestade?! Nós confiamos em você e…

— Do que diabos você tá falando?! — Não teve êxito em conter o grito e o deixou escapar muito alto.

— Meu caro, receio que teremos que mantê-lo em cativeiro até que esse assunto seja resolvido, está muito perigoso aqui e nós, pessoas racionais, estamos em desvantagem.

— Ninguém toca no mestre ou eu mato! — berrou Ayshla ficando ao lado de Kurone e apontando o seu cutelo médio para Lao Shi.

Ela não estava brincando sobre brandi-lo.

O homem estava aparentemente calmo, mas mantinha um olhar hostil fixo em Lou Souen. Todos estavam alterados devido ao portal, por isso precisava pensar bem no que iria falar.

— A Lou Xhien chegou aqui chorando e dizendo que a culpa era sua, ela estava desesperada, tinha uma marca vermelha de tapa na cara e berrava muit alto — Hime falou com ódio. — As roupas dela estavam todas rasgadas…

— Eu sugeri que foram rasgadas nos galhos da floresta, talvez ela tivesse se enganchado em alguns arbustos para vir aqui, mas não acreditaram — completou Lao Shi. — Encontramos sua assinatura mágica no corpo dela, na região das coxas, mas não é muita prova considerando a relação próxima de vocês — o homem concluiu segurando os braços de Kurone para trás, como uma policial algemando alguém.

— Eu não fiz nada do que tão pensando! Onde ela tá, ela pode falar a verdade se…

— Kurone, a Lou Xhien pulou no portal quando tentamos fazer muitas perguntas — disse Lou Souen em seu tom inexpressivo.

A tensão naquele local era quase palpável.

Um silêncio mortal pairou pelo ar. Kurone voltou os olhos arregalados para o torii vermelho ao seu lado. 

— N-não pode ser — balbucio o jovem.

— Eu mandei largar ele! — Ayshla empurrou Lao Shi e deixou Kurone livre, aparentemente até os orcs eram afetados pela mana emanada do portal. O jovem cambaleou sem forças, mal podia se manter de pé depois de escutar aquilo.

Rapidamente, os cinco membros do exército pessoal do jovem ficaram ao seu lado.

— Entenda, nós precisamos…

A discussão retornou. Lao Shi era imparcial, pendendo para a racionalidade, Hime e Lou Souen queriam prender Kurone e fazer um interrogatório, mas os orcs jamais permitiriam. Apesar dos berros ao seu redor, ele só conseguia encarar o portal por onde Lou Xhien se jogou.

Podia imaginar a cena da garotinha desesperada saltando lá, talvez ela pensasse que se matar era melhor do que viver sozinha ali, cercada de “traidores”.

— Mas não é, sua idiota! — bravejou correndo em direção ao torii. Lao Shi tentou impedi-lo com magia, mas foi tarde, ele saltou como um louco para a morte certa, não deixaria mais uma pessoa morrer após imaginar um futuro junto a ele.



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