Volume 3
Capítulo 127.2: Imprudência De Um Nakano
Rápido como o vento, era isso que Brain falava enquanto dava suas aulas particulares para Amélia. A cocheira precisou implorar muito para a amiga lhe dar um treinamento intenso secreto.
Assim que acabava seu trieno infernal com O’Blood Renfield, ia para o fundo da floresta de Sophiette e iniciava suas aulas particulares.
Brain também tinha o Tipo Elemental Vento, era mais fácil aprender com ela, isso somado ao fato de elas terem convivido juntas por um tempo considerável na mansão Soul Za, a comunicação era fácil.
As pessoas ao redor do cercado olharam assombrados para a figura de Amélia segurando a espada de madeira com destreza e Nakano na lama.
— Acho que lhe subestimei, Luna, terei que levar isto mais a séria — murmurou o Demônio do Oriente, apesar da expressão neutra, uma aura hostil vazou do seu corpo, fazendo a cocheira engolir seco.
Os pés rápidos foram na direção dela e as duas espadas de chocaram, empurrando oc corpo da cocheira. Se ainda fosse a antiga Amélia, fraca, teria quebrado o braço ali mesmo, no entanto ela esquivou com um giro e tomou distância.
Manipulava o peso do seu corpo com o vento, porém ainda tinha uma carta na manga, uma habilidade de cocheira que jamais imaginou usar em combate. Mas, como disse Brain, as melhores armas eram aquelas incomuns.
Nakano não deu descanso e investiu com um set de quinze golpes consecutivos. A cocheira esquivou da maioria, mas foi atingida nos ombros e sentiu eles inchando. Aquela espada de treinamento era uma arma mortal nas mãos da dêmonia.
— Vai ficar na defensiva para sempre?! — provocou o Demônio do Oriente, dando mais golpes consecutivos. Pessoas comuns jamais conseguiriam acompanhar a velocidade daqueles golpes. — O que é isso? — Cerrou os olhos para a oponente.
Ela percebeu.
Era outra habilidade ensinada por Brain, um campo de ar capaz de reduzir os movimentos inimigos. Com o seu Tipo Elemental, poderia aumentar a velocidade do próprio corpo e diminuir a do adversário.
Para aumentar a força, só precisava complementar tudo aquilo com o seu trunfo. Os olhos castanhos de Amélia mudaram para um amarelo vibrante, assustando ainda mais os espectadores.
A última vez que usou aquela habilidade foi quando precisou chegar rapidamente na capital e entregar a arma de Rory a Kurone, no dia que viu o nascimento do Santo dos Hereges.
— Um Olho Sagrado!? Não é possível! — Nakano apertou a espada de madeira com força, aquilo era problemático. Se ela levasse o combate a sério, Amélia não teria chance, e pior, perderia a vida.
— Não é nada tão divino assim, são os Olhos do Espírito do Vento. — Uma habilidade exclusiva da Classe Cocheira, mesclada ao Tipo Elemental Vento.
Usava os Olhos do Espírito do Vento para manipular a velocidade da carruagem, um veículo grande, por isso manipular uma espada era uma brincadeira de criança para ela.
Elas correram e impactaram novamente no centro da arena de terra batida, trocando golpes e grunhidos ao serem atingidas.
Sem os debuffs feitos pelo campo que reduzia os movimentos e a velocidade aumentada pelos seus buffs, Amélia jamais teria chance, eram pouco mais de duas semanas de treinamento contra sabe-se lá quantos anos de Nakano.
Porém, ainda não acabaram os seus truques.
— Não brinca!! — Rhyan deixou escapar com os olhos arregalados. O burburinho da multidão aumentou, todos focando em Amélia Suanggi.
O corpo da cocheira começou a flutuar. Era levitação! Magia avançada do Tipo Elemental Vento. Amélia sabia o motivo da surpresa do jovem ruivo, ela viu a escrava dele usar em Eragon, no entanto era uma versão inferior.
Era uma Cocheira, não Arquimaga, mas não iria reclamar dos dons dados pelo destino, utilizaria eles para conseguir informações sobre a pessoa que mais amava naquele mundo.
— Acho que devo levar esta luta mais a sério, certo, prima? — Nakano deixou sua espada cair na lama e estendeu as mãos. — Fuja! — Outra voz sobrepôs a da demônia, porém era trade demais.
Uma armadura vermelha de samurai, como se surgisse do interior do seu corpo, preencheu o corpo de Nakano. Uma espada se materializou na mão, a arma tinha o aspecto daquelas do Continente Oriental.
O sangue de Amélia gelou, estava perdida. Contaram-lhe que Nakano era instável e odiava perder, mas não imaginou que ela levaria um combate a sério assim.
— Amélia! — Brain chamou sua atenção. — Ganhe, mostre a ela o que ensinei. — A demônia jogou uma espada enorme no centro da arena: sua montante dada pela marquesa Sophiette.
“Maldita, ela sabia que isso ia acontecer!”, praguejou internamente enquanto pegava a arma fincada no chão de terra batida. Alguém se machucaria feio naquela batalha, e não queria que fosse ela.
Nakano investiu.
A espada curva chocou contra a montante enorme e faíscas irromperam no ar. Usou seus atributos na espada enorme que tinha em mãos, mas ela continuava pesada, afinal aquela arma tinha quase um metro.
Um chute do Demônio do Oriente foi reduzido pelo campo de ar de Amélia, porém ainda atingiu a cocheira e ela voou pela arena, parando ao impactar com a cerca de madeira.
Apesar de a batalha ter ficado séria, os espectadores não recuaram, pelo contrário, o número parecia aumentar a cada momento e os gritos de excitação cresceram juntos.
— [Wind Spike]! — entoou a cocheira direcionando a mão para a inimiga. Sua magia ainda era fraca, mataria um demônio com dificuldade, mas serviria de distração para se aproximar.
Com os pés fora do chão, sua velocidade dobrou e ela saltou em Nakano com um ataque rápido na direção da sua cabeça. Não pretendia matá-la, afinal suas informações eram importantes, só precisava encurralar e rendê-la. Em outras palavras, buscava um xeque-mate.
Os olhos amarelados de Amélia arregalaram quando a outra defendeu seu golpe com a mão coberta pela armadura vermelha e preta. O Demônio do Oriente a puxou para perto, ainda segurando a lâmina da montante, e deu dez socos consecutivos com a mão livres.
Jogou Amélia, que via o mundo girando, contra a cerca e encheu o seu rosto de socos metálicos, o metal arranhado tirava sangue e saliva da cocheira que só pôde limitar-se a grunhir de dor.
Cambaleou tonta pela arena, mas Nakano não a deixou em paz, acertou um chute com a bota metálica em seu ouvido, derrubando-a na lama.
Caiu com um zumbido no ouvido esquerdo e sentindo liquido escorrer do interior dele. Tentou se mover, mas foi pressionada contra a terra molhada pelo pé pesado da oponente.
Lentamente, Nakano abaixou o corpo na direção do ouvido bom de Amélia e sussurrou:
— A verdade, — apenas a cocheira conseguiria ouvir naquele tom de voz — a verdade é que eu nunca gostei de você. Seu pai trouxe desgraça para sua família e a sua mãe odiava o Kurone. Você devia ter ficado longe dele, jamais devia ter saído da Itália, talvez ainda estivesse viva se tivesse feito esse favor. — Ela mais cuspia do que falava aquelas palavras.
Finalmente escutou a opinião de Teruhashi Nakano sobre ela.
Normalmente, a irmã mais velha de Kurone era reservada e não conversava muito com ela, porém agora sabia o que aqueles olhares significavam.
Nakano aliviou o pé das suas costas. A batalha acabou? Mal tinha forças de mover o corpo, no entanto forçou, mas foi impedida por um chute doloroso na barriga.
Amélia rolou para o outro canto da arena, quicando diversas vezes no chão de terra batida.
— Não levante, tenha a mínima honra de admitir a sua derrota, Luna. Obedeça pelo menos desta vez e não acabará morta.
Mesmo sentindo aquela pressão, Amélia usou a magia de vento para levantar o corpo sem forças. Encarou a oponente com dificuldade, os socos recebidos deixaram seu rosto bonito inchado e repleto de hematomas roxos.
— O Kurone… — começou com a voz arranhada — ele ficaria decepcionado se visse o monstro que a sua irmã se tornou. Não vou permitir que fique com o corpo dele, nem que eu precise te torturar…
A fala da cocheira foi interrompida pela aproximação de Nakano, a demônia desferiu golpes no rosto, estômago, chutes nos joelhos, nas costelas e um gancho no queixo. Tudo foi tão rápido que ela sentiu toda a dor de uma só vez, seus olhos vazando lágrimas não conseguiram acompanhar.
Quando percebeu, era segurada pelo pescoço pela garota com a alcunha de Demônio do Oriente.
— Entenda, eu só tomo as melhores escolhas para os meus irmãos. O Kurone não vai se envolver mais com esta guerra, vou mandar ele para casa quando tudo isso acabar. Este mundo está destinado à destruição, você sabe sobre a “Missão Raifurori” e a profecia de Karllos Sophiette, certo? É algo inevitável.
Amélia praguejou baixinho e, tocando o peito da armadura de Nakano com a mão trêmula, a arremessou com magia de vento. “Wind Push” era o nome da habilidade.
— Você não desiste mesmo, idiota?! — praguejou ficando de pé.
— Já chega, Nakano, essa batalha acabou, acalme-se — falou Sophia, segurando o braço esquerdo da demônia.
Rhyan segurava o outro e braço e Orcus, os ombros.
— Não… acabou ainda — pigarreou Amélia cambaleando. Mal podia ver o rosto das pessoas que seguravam Nakano devido à visão turva, mas queria terminar aquela batalha.
— Acho que já chega, criança. — Uma mão tocou o seu ombro gentilmente. Olhou para trás e viu sua nova mestra, Brain. — Você lutou bem, mas se continuar, vai morrer. Se quer vencê-la algum dia, precisa viver para ficar forte.
A visão da cocheira ficou ainda mais embaçada devido às lágrimas escorrendo sem parar. O rosto repleto de hematomas e sangue ardia quando soluçava. Não chorava pela dor física, mas sim porque era fraca. Achou que estava forte, mas se enganou.
Perdeu aquela batalha e poderia nunca mais saber onde estava o corpo de Kurone Nakano. Porém, no fundo, também chorava porque, pela maneira que Nakano falou, ele ainda estava vivo, apesar de não estar nas melhores condições.
A imprudência dos Nakano era algo extraordinário.