Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 127.1: Duelo De Família

Ver Rhyan e Sophia relaxando após tanto esforço era satisfatório para Nakano, os dois nobres estavam dando o seu melhor para cuidar da papelada, poderia ficar ali apreciando a cena por muito tempo, isso se não fosse por dois incômodos: a presença que a espreitava e…

[Eles não deviam estar perdendo tanto tempo assim, nossa situação é crítica.]

A voz irritante que não escutava há algumas horas retornou, porém ela simplesmente deu de ombros.

O som das espadas de madeira se tocando com violência e os gritos de batalha ainda ecoavam alto quando a demônia distanciou-se da área de treinamento e foi em direção a uma árvore grande no meio do jardim de Sophiette.

Nakano parou a alguns metros do tronco da árvore, encarando a lápide cinza colocada lá embaixo. “Em memória a Kurone Nakano, o Santo dos Hereges.”

Ia ali diariamente para pensar um pouco.

Em seu interior, ainda tinha esperanças de que Kurone poderia estar vivo, poderiam salvá-lo no Continente Oriental com a medicina avançada deles, por isso confiou o corpo sem vida dele a Hime.

Não podia compartilhar aquilo com ninguém, era melhor se Kurone levasse uma vida tranquila no Oriente se sobrevivesse, longe da guerra e do derramamento de sangue inútil.

— Eu já te vi aí há muito tempo, apareça — murmurou Nakano, sem olhar para trás, sua percepção era boa o suficiente para saber que alguém se aproximava a 100 metros de distância.

— Não estava me escondendo, — começou a garota com um olhar hostil direcionado para o Demônio do Oriente — quero conversar com você. Você, seja lá quem for, me deve explicações.

A garota de pé, olhar cerrado e braços cruzados, possuía um corpo de aparência masculina, porém a roupa de treinamento — uma camisa branca e calça preta — acentuavam as curvas do seu corpo suado. O cabelo castanho curto dela cresceu alguns centímetros desde a última vez que a viu.

Era Amélia Suanggi, a cocheira mestiça. 

A mestiça tentou fazer contato diversas vezes com Nakano, porém ela sempre conseguia fugir sem dar nenhuma resposta, por sorte a cocheira estava no treinamento avançado com O’Blood Renfield, então não precisava vê-la no trieno dos jovens rebeldes.

O Demônio do Oriente ficou em silêncio, voltando o rosto para o tronco da árvore e encarando a lápide em homenagem ao jovem que perdera a vida em Eragon.

— É verdade? — começou após um longo suspiro — É verdade que você é Luna Nakano? 

— E se for? Você vai me contar quem é você de verdade, Nakano, o Demônio do Oriente? Ou devo te chamar de Kastella Andeavor?

As duas garotas de roupas de treinamento iguais ficaram se encarando por alguns momentos. Só conhecera uma pessoa chamada Luna Nakano, porém não tinha aquela aparência.

Após alguns segundos de reflexão, decidiu que contaria o suficiente para tirar Amélia do seu pé. 

[Ei, tem certeza que vai fazer isso? Pode ser arriscado contar a verdade se ela não for realmente a Luna Nakano que você conheceu…] 

Novamente, decidiu ignorar aquela voz, a voz de Kastella Andeavor.

— É como suspeita, eu sou Teruhashi Nakano, a irmã mais velha de Kurone Nakano, a pessoa que tanto andava com você no caminho de volta para casa… a pessoa que morreu naquele maldito hospital — revelou com sua expressão séria.

Amélia não pareceu surpresa com as palavras da demônia, provavelmente ela já esperava, só queria confirmar, afinal, se ela estava ali, o que impedia Teruhashi de também estar?

Ambas estavam irreconhecíveis, a jovem japonesa de aparência comum, Teruhashi, tinha longos cabelos loiros e o corpo de um guerreiro, enquanto a meia-italiana, Luna, tornou-se um tipo de tomboy.

— Algo mais que deseja perguntar? Se já respondi todas as duas dúvidas, então…

— Onde está o corpo de Kurone e de Rory? E quanto ao de Frederika? Me contaram que foi você e a Besta Negra que resgataram os sobreviventes de Eragon e corpos de alguns conhecidos, já conversei com a Dora, então tudo indica que você encontrou o corpo dele.

— Infelizmente, o corpo do meu irmão não foi encontrado, suspeito que Azazel van Elsie tenha vaporizado ele.

— É mentira, — Amélia rebateu com firmeza — a Besta Negra encontrou o manto de Santo do Kurone, não havia cinzas nem nada do tipo, apenas sangue, o mesmo sangue também se estendia formando um rastro por perto, sinal que alguém arrastou o corpo ensanguentado dele.

Ela era inteligente, Teruhashi sabia que, desde a infância, Luna fora um gênio, sempre com as melhores notas da escola, por isso ajudava Kurone nas lições de casa. 

Podia simplesmente matar ela ali mesmo se fosse outra pessoa, mas Amélia estava na guarda pessoal de Sophia, sem falar que era a sua prima, estando com um corpo diferente ou não.

— Eu não sei que tipo de monstro você se tornou neste mundo, Teruhashi, mas não acho que você teria coragem de usar o corpo do próprio irmão para experimentos estranhos.

— O corpo de Rory não foi encontrado, estou dizendo a verdade, o mesmo para o da garotinha que você chama de Frederika. Mas prefiro não dizer o que aconteceu com o do Kurone, é melhor para todos — falou em tom quase sussurrante.

Nakano fez menção de virar as costas e deixar o local, porém escutou os passos da cocheira às suas costas. Ela virou-se e viu uma espada de madeira apontada para si.

— Eu a desafio para um duelo, — confrontou Amélia de expressão séria — se eu vencer, você me conta o que quero saber.

— E se eu vencer? Não tenho interesse em qualquer informação que você tenha.

— Transfiro minha lealdade de Sophia para você. O que acha? Terá um cachorrinho, assim como O’Blood e Sophia têm, serei os seus olhos e ouvidos onde você não estiver, uma boa oferta, não?

O Demônio do Oriente pôs a mão no queixo e passou a pensar. Amélia era uma cocheira, os músculos em seu corpo magro começaram a se formar há alguns dias, não tinha experiência de batalha, só estava sendo imprudente, assim como fora ao decidir que Kurone era alguém especial e perdeu a vida por isso.

Um espião nas conversas pessoais de Sophia não seria nada mal, poderia saber qual a verdadeira intenção dos humanos e se podia confiar neles realmente.

Jamais perderia para uma cocheira, mesmo sem a sua Arma Lendária, uma espada de madeira seria o suficiente para derrotá-la em menos de três minutos.

Este era o problema, a maldição da família Nakano: imprudência. Por isso Kurone morreu, o mundo não era como aqueles mangás de fantasia, onde força de vontade bastava para vencer, não importava a determinação, a força e inteligência eram o grande diferencial, coisas que ela tinha de sobra.

[Não está sendo arrogante? Pessoas não arriscam a lealdade de maneira tao imprudente assim. Pense antes de agir, lembre-se que você também é alguém dessa “família de imprudentes”.]

— Silêncio — murmurou atraindo o olhar de Amélia. — Muito bem, eu aceito o seu desafio, mas não volte atrás na sua palavra quando perder, ou lhe mato.

A mestiça sorriu e apertou a mão da garota, sinalizando a firmação da proposta de duelo.

Seguiram para a área de treinamento, o diálogo delas durou mais de vinte minutos, tempo suficiente para Sophia e Rhyan se cansarem de lutar e retornarem aos seus a fazeres no interior da enorme mansão Sophiette.

Amélia apoiou-se na cerca de madeira e pulou para o chão de terra batida da área de treinamento. Nakano pegou uma espada de treinamento de uma caixa próxima à entrada.

Alguns dos jovens humanos e mestiços, alunos do Demônio do Oriente, aproximaram-se da cerca para assistir à luta prestes a começar, finalmente veriam sua mestra em ação.

Mesmo sabendo quem era a sua oponente, Amélia mantinha uma expressão de confiança no rosto, como se tivesse um trunfo na manga, algo que usaria no fim do combate, quando estivesse beirando a morte.

O burburinho no cercado aumentou, assim como o barulho de passos de pessoas chegando para assistir ao combate. Analisando o rosto deles, reconheceu a bruxa Rank B da vila Grain, Ana, e o guarda responsável pelas operações de espionagem, Orcus. Ambos tinham uma expressão de preocupação no rosto.

Surpreendeu-se ao ver as figuras de Rhyan e Sophia na outra extremidade da cerca, pensou que eles retornaram para a mansão, mas pararam na sombra de uma árvore para descansar.

A dupla estava suja de lama e os rosto com hematomas por conta dos ataques poderosos das espadas de madeira. Nakano não fez contato visual com eles e focou em Amélia, no outro lado do cercado.

Elas colocaram as posições de batalha e um silêncio mortal pairou no ar. Amélia usava o estilo ensinado por O’Blood Renfield. O de Nakano era uma mistura do estilo da Guarda Real de Andeavor e o dos guerreiros do Oriente, aprendido com Lao Shi, o Arquifeitceiro — ela e Hime compartilharam o mesmo mestre por um tempo.

Os pés começaram a se mover e as espadas de treino impactaram no meio da arena, aquilo era uma aproximação perigosa para Amélia, porém a expressão de confiança no rosto dela era imutável.

Olhou para Sophia e viu a mesma expressão de confiança no rosto dela, algo estava errado, Amélia era apenas uma cocheira, como podiam achar que ela conseguiria enfrentar alguém com o título de Demônio do Oriente?

Decidiu acabar aquilo com apenas um golpe para tirar aquele sorriso do rosto delas, no entanto, quando procurou a mestiça à sua frente, não encontrou, só sentiu um golpe de espada de madeira batendo nas suas costas.

Como ela pôde se mover tão rápido?

Gritos de excitação ecoaram pelo ar após o primeiro golpe que levou Nakano para a lama. 

Enfim, ao levantar da lama, seus olhos se encontraram com um vermelho brilhante nas pupilas de uma garota com aura ameaçadora e um sorriso de quem se divertia com aquele espetáculo. Era Azazel van Brain, ela trocava olhares suspeitos com Amélia.



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