Volume 3
Capítulo 127: Descanso Para Dois Nobres Atarefados
— O marquês Guller e o marquês Edward saíram há alguns dias para os reinos vizinhos de Nova Cannan. Os espiões também avistaram uma carruagem saindo do castelo ontem, pelas informações de outros espiões de Fallen, a mesma carruagem deixou duas pessoas encapuzadas na praça da cidade.
— E o meu tio?
— O senhor Eliezer segue uma viagem tranquila, em breve estará em Nova Cannan… e Marta Gotjail chegou em segurança nas terras de Gotjail — Edgar concluiu, voltando os olhos para o jovem ruivo ao lado da marquesa.
Sophia soltou um suspiro aliviado ao escutar que o seu tio, Eliezer Sophiette, não teve problemas em sua viagem, os espiões foram uma ótima ideia de O’Blood Renfield, odiava admitir isso.
Sabiam que Azazel van Elsie tinha ciência da presença de espiões em suas terras recém-adquiridas, algumas vezes ela os usava para dar pistas falsas das suas ações, ou seja, não podiam acreditar em tudo que era enviado deles.
Orcus estava responsável pelos infiltrados, ele era um dos melhores guerreiros que tinham atualmente, treinava sem parar, em pouco tempo ele conseguiria força para lutar contra um capitão da Guarda Real de Andeavor.
A marquesa voltou a assinar alguns papéis, nem em meio a uma guerra ela matinha distância deles. Alguns eram registros de novo rebeldes, documentos com a assinatura, magifotografia e o status deles.
Recentemente, começaram a surgir muitos jovens rebeldes de todas as cidades de Andeavor, era certo que havia muitos espiões de Azazel entre eles, porém também tinham aquele que desejavam vingar seus entes mortos ou tomar o reino de volta.
— E quanto à situação do Continente Oriental? — questionou Sophia pondo o seu monóculo para analisar as despesas das terras de Sophiette.
— O Monarca do Oriente não é tão tolerante com espiões como Azazel, a única coisa que sabemos é que o Arquiduque está construindo um muro enorme em volta das ilhas Lou Xhien.
— Hã? Esse cara é tão forte assim? É preciso muito mana para erguer algo desse nível, ainda mais vindo do fundo do mar — comentou Rhyan, incrédulo. As mãos do jovem ruivo também estavam ocupadas por papéis de compra de armas de reinos aliados.
— Membros do Conselho do Inferno são misteriosos. — Edgar deu de ombros e pensou em encerrar o assunto, porém lembrou de algo e continuou: — Ainda falando neles, houve uma movimentação suspeita entre três membros nos últimos dias: a Duquesa Mammon von Faucher, o Duque Belphegor dé Halls e Leviathan ford Ingrid, de posto desconhecido.
— Nunca é bom quando isto acontece, tem alguma ideia do que estão planejando? — Sophia pôs a papelada no outro lado da mesa por um instante e olhou nos olhos do mordomo.
— Aparentemente, metade do castelo do Rei Demônio foi destruído em uma explosão há algumas semanas, fazendo os demônios se abrigarem em locais diversos. Belphegor dé Halls foi visto na região do norte, indo rumo ao reino de Nova Canaan, como se o flanqueasse, ele estava com o seu serviçal alado.
A marquesa e Rhyan se entreolharam, aquilo não podia ser um bom sinal, o jovem ruivo mais do que ninguém sabia o que aquele Duque do Inferno poderia fazer. Ele relatou à jovem a sua luta contra o demônio e os seus gafanhotos metálicos em Eragon.
— O cerco tá fechando, — o garoto ruivo deixou um suspiro escapar — mas ainda nenhuma notícia da galera que raptou a Fran, né? — Havia esperança no seu tom de voz?
— Infelizmente não. A garota Kawaii Kyuto, sua escrava e todos os garotos do Instituto de Eragon desapareceram, algo realmente perturbador, é impossível um grupo tão grande passar despercebido… Enfim, isto é tudo, se me dão licença, continuarei meus a fazeres.
— Obrigado, Edgar, você tem sido de muita ajuda nesses últimos dias.
— Fico lisonjeado, dona Sophia, mas eu que fico contente de poder ajudar, apesar da minha idade avançada. — Edgar fez uma pequena mesura e saiu da sala.
— Não se preocupe, nós vamos encontrá-la. — A marquesa pôs a mão direita no ombro de Rhyan.
Ela sabia como era perder alguém próximo, mas no seu caso, Noah estava em coma no seu quarto secreto, sendo constantemente examinado por Nui, o médico meio-humano, não em posse de uma garotinha com orelhas de gato.
Após uma breve pausa, voltaram e mexer nos papéis. Nakano era uma boa guerreira, estava a cargo do treinamento dos novos rebeldes e dos mestiços. O’Blood Renfield era uma estrategista e cuidava do treinamento mais avançado, tendo como melhores alunos Orcus, Ana e Amélia.
Com eles treinando as novas tropas, a parte “chata” sobrou para os dois únicos nobres especialistas em economia. Sophia aprendeu tudo com a sua tutora, Maria, a empregada mais velha da mansão, e Rhyan, com os professores do Instituto de Eragon.
Passaram os últimos dias ali, porém a papelada não diminuía, pelo contrário, parecia aumentar a cada minuto, sempre dobrava de tamanho quando Selena, a esposa de Orcus e assistente temporária deles, trazia novos papéis.
— Não podem viver aqui, vão ficar com os músculos rígidos — disse a jovem encostada na parede.
Os cabelos loiros dela estavam presos em um rabo de cavalo e suor escorria da testa à mostra. As roupas de treinamento, camisa branca e calça preta, também estavam encharcadas pela transpiração.
— Quer ficar no meu lugar e me deixar treinar as tropas, Nakano? — Sophia perguntou em tom brincalhão.
— Dispenso, marquesa Sophiette, filei todas as aulas de economia quando era Kastella.
Apesar de estar do lado deles, muitos pontos e interrogação ainda pairavam a figura de Nakano, o Demônio do Oriente. Ela comentou que tinha outro nome: Kastella Andeavor, ou seja, era a irmã desaparecida de Elisabella Andevor, mas não explicou o motivo de ter mudado de nome, nem o porquê do seu nome ser o mesmo daquele jovem que morrera em Eragon.
Kasttella, ou Nakano, frequentava as reuniões do Conselho do Inferno por conta do seu título de “Demônio do Oriente”, era um direito que tinha, assim como Dora, a Besta Negra. Essas foram as poucas informações que fornecera.
— Minha coluna tá destruída — Rhyan murmurou ficando de pé e estalando as costas, produzindo um barulho satisfatório.
— Acho que podemos fazer uma pausa mesmo, meus olhos estão ardendo… Se fecharmos a sala, a Selena não vai conseguir entrar — sugeriu piscando um olho para o jovem ruivo, que concordou com um sorriso travesso.
— Sabia que iam querer, por isso preparei o campo de treinamento para vocês, venham. — Ela apontou par o fim do corredor e foi na frente da dupla.
Entre as três demônias, Nakano era a que tinha mais contato com eles. O’Blood acolheu Dora como seu cachorrinho, elas viviam trancadas no quarto e, quando saíam, quase não conversavam com os outros. A ideia de que estavam fazendo algo suspeito passou-se pela mente da marquesa.
Àquela hora, os mestiços estavam almoçando no outro lado do jardim, onde os cozinheiros abriram uma cantina ao ar livre.
Nakano apontou o local com os dedos finos e jogou duas espadas de madeira para os nobres.
A última vez que pegou em uma espada para lutar foi na batalha contra Edward. Naquele dia, aprendeu a lição de nunca usar uma armadura de metal contra um usuário do Tipo Elemental Raio.
Rhyan balançou o corpo para eliminar a tensão dos músculos, o corpo de guerreiro dele ansiava por movimento, não era passivo como Sophia. A precisão também diminuía a cada dia, nem se lembrava da última vez que materializou sua sniper.
— Então, marquesa Sophiette, vamos ver se você é tudo que as lendas dizem mesmo — provocou tirando o sobretudo azul por conta do calor.
— Vou ter que ensinar as crianças a respeitarem os mais velhos? — Sophia fez o mesmo com o seu sobretudo, deixando ele em cima de um banco de madeira improvisado.
Nakano afastou-se do campo de batalha, cruzando os braços e prestando atenção no combate próximo a começar, um sorriso presunçoso estava estampado em seu rosto. A Santa da Espada enfrentaria o herói de Eragon.
As posições de batalha foram montadas, a guarda baixa e os ombros relaxados do estilo Sophiette deixavam a espada na altura dos joelhos.
No estilo Gotjail, defesa era a prioridade, Rhyan mantinha a espada próxima ao rosto, todos os pontos fracos do corpo estavam, aparentemente, protegidos pelos membros mais fortes.
Como mandava a etiqueta dos cavaleiros, ambos se encararam por alguns minutos antes de darem os primeiros passos para o centro da área de treinamento.
A grama daquele local foi removida, deixando apenas a terra batida, com lama em alguns locais, ele era cercado por uma cerca de madeira, Nakano estava apoiada na cerca enquanto assistia à luta.
Em poucos passos, os jovens aproximaram-se e bateram as espadas de treinamento, fazendo-as gritaram, por sorte eram feitas de um material especial, perfeito para treino de lutadores habilidosos.
Sophia possuía mais força física, no entanto a postura fechada de Rhyan o dava mais estabilidade. O jovem investiu com um soco, mas a marquesa recuou alguns passos e o encarou.
— Nada mal, coroa, ainda tem movimentos rápidos e músculos bem definidos! — provocou o ruivo ofegando, o pouco esforço que fez tentando empurrar a garota o cansou.
— Eu nem coloquei força ainda — retrucou indo em direção ao garoto.
Rhyan teve dificuldade para esquivar da sequência de golpes da oponente, ele girou, saltou, rolou e defendeu com as costas da sua espada, porém sentiu-se encurralado, ela era muito rápida.
Normalmente, ele lutava dependendo da cobertura de Fran e sua mira perfeita com a sniper, percebeu que tinha dificuldade no corpo-a-corpo ao lutar contra Kurone no Instituto.
Quando pensou em usar magia, recebeu um golpe de joelho no estômago e bateu as costas com força nas cercas de madeira. A desvantagem da marquesa era magia, algo que ele dominava o básico de cinco Tipos Elementais, porém não tinha chances de usar.
— Não me decepcione, menino Raul, pega ela, você consegue! — gritou Nakano com sarcasmo.
— Não desvie os olhos do inimigo em uma batalha! — A voz da marquesa o alertou e ele tirou o corpo, bruscamente, do caminho da espada de madeira. — Vai brincar de pega-pega agora? — Ela sorriu brandindo a arma e correndo atrás da vítima.
Rhyan se meteu em um problemão, e Nakano sabia disso, não era a toa que ela possuí o título de Santa da Espada, aquela marquesa poderia matar um demônio com um único golpe de espada de treinamento.
Apesar de ser passiva, Sophia acabava se empolgando muito quando começava uma batalha, aquele sorriso no rosto e os olhos brilhando indicavam que ela estava levando a luta a sério.
O jovem ruivo levou os olhos para Nakano e a viu gargalhando enquanto assistia à cena de dois nobres correndo pela lama com espadas de treinamento como crianças.
Um largo sorriso formou-se no rosto do Demônio do Oriente, porém desapareceu em segundos ao sentir a presença de alguém incômodo que começou a segui-la nos últimos dias.