Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 123: Parem!!

A carne colou, ossos à mostra foram retraídos, voltando ao seu estado inicial, os membros secos foram cheios de músculos novamente e, em instantes, o corpo de Kurone Nakano foi reconstruído.

As memórias daquele braço quase caindo colando-se ao corpo novamente era frescas na mente do jovem, afinal foi curado há cerca de cinco minutos, ainda sentia o corpo formigando, por mais que não houvesse dor, tudo aconteceu muito rápido.

Sentado no chão, sentiu algo metálico próximo ao seu braço recém-curado, segurou-o e reconheceu o que era.

— Acho que isso pertence a vocês — disse entregando a katana longa ao orc de tapa-olho, aquela arma pertencia a um dos seus guerreiros que morreu ajudando Kurone.

— Eu não posso aceitar, os despojos de guerra deveriam ser seus, mestre — respondeu o guerreiro empurrando a espada para o jovem e balançando a cabeça de forma negativa.

— Isso não será útil para mim, eu não sei lutar usando armas grandes como essa. Aposto que ele ficaria feliz também se a espada ficasse com você. Honre a alma dele — concluiu olhando para o cadáver do guerreiro dilacerado pelos Lobos Cinzentos da Lua. 

Fazia poucos minutos que usou o Orbe Verde, ainda andava com dificuldade, a sensação da inexistência de dor era estranha, por isso cambaleou um pouco até se acostumar.

O braço artificial colou completamente no corpo, não sabia se ele ainda possuía as habilidades de regeneração, mas isso pouco importava. Estava recuperado e podia continuar lutando!

— Que pena, queria guardar isso e usar mais uma vez, mas é de uso único — comentou encarando objeto. A energia verde colapsando dentro da esfera desapareceu após o uso. — Se bem que isso seria um negócio roubado pra caramba. Enfim, agora… — Direcionou os olhos para os seus guerreiros, cinco orcs de armadura samurai.

Desta vez apenas um morreu, diferente das últimas batalhas em que eles eram totalmente dizimados pelos inimigos. Houve uma baixa em seus guerreiros, jamais lutara sem perdas. Mas o que faria com os sobreviventes? Não tinha nenhuma opção para devolvê-los ao seu inventário?

[Penso que o melhor é deixar que eles escolham, afinal são seres racionais, não concordo com a ideia de forçá-los a algo que não queiram. Porém, tenho certeza de qual será a resposta deles.]

Os guerreiros monstros olharam atentamente para o seu mestre banhado em sangue. Ele caminhou em direção ao trono de pedra e os encarou antes de perguntar:

— Escutem, vocês lutaram bravamente ao meu lado, — a voz saía trêmula por conta da vergonha, não lembrava da última vez que falou alto para outras pessoas — fico grato. A partir de agora, vocês estão livres para escolher que caminho querem seguir, não vou obrigar ninguém a ficar do meu lado, até porque vai ser perigoso.

Mordeu a língua algumas vezes, o rosto enrubesceu e a voz oscilava, não foi feito para proclamar discursos a um exército, era acostumado a escutar os oradores, não o contrário.

— Mestre, — começou o orc de tapa-olho — creio que é óbvio a nossa decisão, nós o acompanharemos até os confins da terra, fomos tirados da morada dos mortos para lhe servir.

— Penso o mesmo — concordou a jovem orc baixando levemente a cabeça. Os outros três guerreiros fizeram o mesmo gesto. — Se não for incômodo, peço apenas uma coisa ao meu mestre.

O garoto mirou para a guerreira de joelhos olhando-o com respeito. Aquele era um sentimento novo, jamais fora tratado como líder.

Mesmo quando foi encarregado da liderança na batalha contra Edward Soul Za, ele foi tratado como um integrante qualquer das tropas, Sophia liderou todos como uma verdadeira comandante. Dar as ordens o deixava incomodado.

— E o que seria? — questionou engolindo seco.

— Desejo que nos dê um nome, é nossa única condição para servi-lo.

— C-claro… cara, isso de dar nome sempre sobra pra mim. Não sou o melhor nisso, mas ok. — Examinou mais uma vez os seus guerreiros antes de refletir sobre qual nome dar.

[Kurone! Kurone! Eu posso dar um nome para a garota orc, posso?]

“Vá em frente, assim pelo menos vão faltar só quatro para eu dar nomes.”

[Ela é forte e tem uma expressão determinada, eu sugiro Ayshla. É um nome da linguagem antiga, significa guerreira imortal.]

— … Então, você se chamará Ayshla — Apontou para a jovem orc. — E você… — fixou o olhar no guerreiro de tapa-olho — o que acha de Berthran?

— Soa como o nome de um assassino frio e impiedoso, mestre, obrigado, honrarei este nome.

Kurone balançou os braços dizendo: “Não era isso que eu queria dizer!” Foi um ato inútil, o guerreiro vislumbrava sua arma enquanto repetia o novo nome com um sorriso no rosto rude. Virou o rosto para os outros e continuou:

— Balthazar, Bhor e… Bramman. O que acham desses? Se não gostarem, posso dar outro — Kurone falou passando a mão pelos cabelos com mechas brancas.

— Tenho certeza de que todos aqui gostaram dos nomes dados pelo mestre, certo?! — A jovem orc voltou um olhar hostil para os outros, aquele olhar passava a impressão de que ela podia cortar, com o seu cutelo ensanguentado, quem dissesse “Não gostei”.

Cada um dos três orcs fez uma referência ao seu mestre, mostrando o contentamento com os novos nomes. Bhor, o arqueiro, fez uma oração para o seu falecido companheiro enquanto Kurone discutia os próximos passos com Ayshla, Berthran e os outros.

“Meus parabéns por completar a sua primeira masmorra. Você tem trinta minutos para deixar este local antes que ele se perca nas fendas dimensionais. Espero que consiga prosseguir sua jornada agora… Kurone.”

A pequena reunião foi interrompida pela voz de Karllos Sophiette. Os orcs puxaram as armas e montaram guarda, porém logo relaxam ao perceber que se tratava de uma gravação.

Kurone ficou paralisado. Aquilo era uma gravação, com certeza, mas como ele conseguiu dizer o seu nome? Um sistema com uma variável para o nome do aventureiro? Parecia inviável. Não, sentiu como se aquele final fosse direcionado a ele, apenas aquelas últimas palavras não foram uma gravação.

— Chefe, precisamos sair daqui, sinto o fluxo de mana se despedaçando — advertiu Bhor terminando a sua prece pelo companheiro.

Kurone fez que sim com a cabeça e eles começaram a correr sem perder tempo. Não quiserem coletar qualquer despojo, precisavam fugir antes do lugar desaparecer. Sua missão principal estava cumprida.

Correram como se sua vida dependesse daquilo, atrás deles sentiam a mana sendo sugada para um tipo de buraco. O garoto recém-recuperado corria como um atleta olímpico, mas os orcs não ficavam para trás.

A garota orc saltava pelos galhos das árvores secas, Berthran corria ao lado do mestre e o escudeiro Balthazar, o maior dos orcs, carregava os outros dois nos braços.

Não demorou muito para avistarem o torii vermelho. Receberam um aviso do tempo, faltavam cinco minutos.


Trinta minutos foram o suficiente para fugirem da masmorra, no entanto, quando pensou em relaxar, Kurone sentiu uma presença ameaçadora vinda do exterior.

Puxou as armas e se preparou para a batalha. Saltou o portal pronto para abater o seu inimigo…

— Foi algo inesperado, eu realmente me descuidei — comentou o homem batendo a poeira do quimono branco com partes azuis. Ele mantinha um sorriso repugnante no rosto, algo que lhe fazia lembrar do marquês de Soul Za.

Ayshla, a mais cabeça-quente dos orcs, avançou brandindo sua katana na direção do pescoço do oponente, porém ele mal se amedrontou.

O homem direcionou a mão para a orc com um movimento suave, fazendo pequenas bolhas de água subirem no ar. As bolhas dançaram graciosamente e, no fim, seguiram para a guerreira.

Ela tentou cortar o ataque, mas não acompanhou a velocidade. O corpo esverdeado repleto de músculos foi arremessado por reles gotas d’água e a orc rolou pelo chão.

Bhor carregou o arco com três flechas e as lançou, todas foram evitadas por giros graciosos do homem que fazia o tecido azul do longo quimono subir como a cauda de um pavão. 

Gracioso e mortal, estas eram as palavras que o descreviam.

As bolhas de água desta vez foram evitadas pelo escudo que Balthazar carregava nas costas, contudo bastaram cinco ataques para quebrar a defesa do orc gigante e o jogar no meio da floresta enquanto praguejava.

A pedido de Kurone, Berthran manteve-se ao lado de Lou Souen. O orc de tapa-olho aceitou a ordem com relutância, ele queria lutar ao lado do seu mestre, mas era alguém obediente.

— Que garoto traiçoeiro, não? — murmurou o homem, esquivando-se do corte de uma espada média e atingindo a barriga do atacante. 

Bramman, o orc que quase não chamava a atenção, andou sorrateiramente e tentou um ataque surpresa, porém aquele inimigo era ágil demais, conseguia detectar a mais baixa das auras, Kurone só conseguiu fazer o ataque surpresa por pura sorte.

Excluindo Berthran, protegendo a garota artificial machucada, todos os orcs samurais foram ao chão. O estranho olhou para eles como alguém vendo seres inferiores, no entanto seus olhos azulados se encontraram com o jovem de cabelo com mechas brancas.

— Você não é um monstro, mas parece ser o líder deles, — o homem pôs o dedo no queixo e franziu o cenho — como fez aqueles orcs selvagens o obedecerem? Ah! Você é aquele jovem que o Alley me mostrou, qual o seu nome?

Kurone seguiu os olhos do homem e avistou a figura da águia assistindo à batalha de um tronco. Era o familiar que viu no antes de entrar na masmorra. Soube imediatamente qual a identidade do seu inimigo: o Arquiduque do Inferno, Asmodeus di Laplace.

A própria máscara sentiu que aquele homem era uma ameaça e partículas azuis surgiram dando forma ao objeto branco no rosto de Kurone. 

— Um Duque do Inferno — comentou o estranho cerrando os olhos e mudando o tom de voz par algo mais sério. — Parece que terei que dar um fim em você, meu caro, pelo meu bem.

— Eu ia dizer a mesma coisa, mas não com umas palavras tão educadas assim — respondeu apontando a escopeta de cano cerrado para o homem e deixando a lâmina da wakizashi ao contrário próxima ao seu peito.

— Esta arma… não me diga que matou a princesa Lou Xhien Li e a roubou? — murmurou com os olhos arregalados. Suas mãos rápidas direcionaram diversas bolhas de água para o jovem mascarado.

O Ápice da Mana de Kurone agora, com o seu corpo recuperado, fazia jus à palavra “ápice”. Esquivou de todos os ataque e aproximou-se do oponente, pronto para cortá-lo.

— Parem!! — gritou a sacerdotisa de cabelos loiros, Hime.



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