Volume 3
Capítulo 124: Arquifeiticeiro
— O que vocês acham que estão fazendo? Querem chamar a atenção do Arquiduque, seus dois malucos?! — Hime repreendeu a dupla prestes a impactar e dar inicío a uma batalha de vida e morte.
O homem baixou a magia de água e lançou um olhar calmo e sereno para a sacerdotisa, pela sua expressão, ele já a conhecia, porém Kurone não fez o mesmo e continuou encarando o seu oponente.
— Ele não é nosso inimigo, plebeu idiota — disse Lou Xhien, logo atrás de Hime. Pela respiração ofegante, ela correu ao escutar os barulhos, seus olhos verde não conseguiam se desviar do jovem.
— Perdão, mas este garoto não é um Duque do Inferno?
— Quer dizer que esse cara não é o Arquiduque do Inferno que tomou as ilhas?
Ambos se entreolharam.
Hime analisou o jovem confuso antes de responder.
Era a primeira vez que via Kurone daquela maneira: o rosto coberto por uma máscara branca, o corpo banhado em sangue, duas armas curtas em ambas as mãos, o Sigilo de Azrael aparecendo um pouco pelo quimono rasgado e a Marca da Besta no braço artificial.
— Esse menino pode ser muita coisa, mas posso garantir que ele está no nosso lado, Lao. — A sacerdotisa recebeu uma confirmação de Lou Souen e Lou Xhien. — Ele também, Kurone, é confiável. Este homem é Lao Shi, o maior feiticeiro do Continente Oriental.
O homem fez uma mesura baixando a cabeça, mas não desviou a atenção do jovem. Seus olhos arregalaram quando a máscara desapareceu e o rosto sujo do jovem foi revelado.
— Você… é aquele garoto de Eragon? Céus! Como pude esquecer do menino que matou um Espirítio Ceifador com o Fogo Infernal, era de se esperar que pudesse me fazer um ataque surpresa, mas... Hmmm, está bem diferente, o braço também está com uma aparência melhor.
— Como você sabe sobre em Eragon? — perguntou apontando a Boito .20 para Lao Shi. — Elas podem falar o que quiserem, mas uma não confio em você.
— Meu caro, eu tenho olhos espalhados pelo mundo. — Ele meneou a cabeça para Alley e o familiar voou para o seu ombro, lançando um olhar amarelado hostil para o jovem. — Alley consegue ir aonde eu não posso.
O que mais lhe incomodava naquele homem era a sua semelhança com Edward Soul Za: o rosto bonito, a expressão calma em situações difíceis e o sotaque requintado. Tudo aquilo lhe causava repulsa, pois lembrava do marquês que transferiu a própria alma para o corpo de uma criança inocente, a 17° criança raptada em Grain.
Prometeu que jamais se deixaria ser enganado pela aparência. Naquele local, só podia confiar em Lou Souen, Lou Xhien e seus orcs. Começou a desconfiar de Hime desde quando ela criou uma desculpa para não fornecer informações com o jogo de perguntas. “Ah, eu ainda tenho uma pergunta que não usei.”
O Orbe Vermelho ao seu lado tremeluziu agitado, voando de um lado para o outro como um animal perdido em um labirinto.
[Acho que ele não está acostumado com o exterior, acha que consegue guardar ele no Inventário Interno?]
Annie citou outro nome da habilidade do jovem e o fez corar, sempre sentia vergonha quando aqueles nomes eram citados em voz alta. Ele obedeceu e tocou a esfera vermelha agitada. Aquilo estava vivo?
Em poucos segunos, objeto tornou-se pequenas partículas e desapareceu, atraindo o olhar de Lao Shi e Hime.
— Um Orbe de Karllos Sophiette? Esse é bem grandinho para ser Rank F, chuto que seria um Rank E, certo? — o homem perguntou, ficando mais próximo. — Ele desapareceu como a Máscara Infernal, posso presumir que você quis fazer isso.
— Como você chegou até aqui sem ser notado? — Kurone interrompeu os questionamentos de Lao Shi com outro questionamento. Corriam o risco dele ter sido seguido caso estivesse em uma embarcação grande.
— Hã? Eu vim andando sobre as águas, embarcações só iriam atrair a atenção do demônio que tomou as ilhas Lou Xhien, não vivi por três décadas sendo um tolo, meu caro.
Arregalou os olhos ao escutar “Vim andando sobre as águas” e abriu a boca inconscientemente. Seria aquele o Messias daquele mundo?
“Nie, faz a boa aí. Não consigo confiar em nada do que esse cara fala.”
[Kurone, eu tentei, mas… não consigo, tem um tipo de bloqueio na alma dele, não consegui analisar!]
Devia ter notado isso, a análise de Annie já era algo de praxe. Assim que se deparavam com algo novo, ela examinava e falava os dados para o jovem. Engoliu seco ao perceber o nível de periculosidade daquele homem.
Lao Shi lançou um olhar de quem tentava decifrar o que o garoto pensava. Ambos tentavam ler um ao outro, porém nenhum tinha êxito.
Teriam que usar um método mais antigo: o diálogo.
— Creio que deva ser a hora de me apresentar a você e à garota que não me conhece, — virou a cabeça em direção a Lou Souen, não havia culpa na sua expressão, mesmo tendo atacado ela há pouco — meu nome é Lao Shi, Classe: Arquifeiticeiro Grau dez, trinta anos. Fui enviado pelo Monarca do Oriente para ajudar na recuperação das ilhas Lou Xhien.
As informações ditas eram precisas, no fim ele fez um sorriso que dizia “Viu? Você não precisa usar sua análise em mim”. Aquele homem conhecia sobre a habilidade de leitura de status, porém deu muitas informações por não saber qual a precisão da análise de Annie.
— Sou Kurone Nakano, — começou ainda com as armas nas mãos prontas para tacar a qualquer momento — minha Classe é Missionário, vinte anos. Também tenho o título de Santo dos Hereges e Vassalo da Morte. — Jogou informações para assustador o homem, precisava mostrar que também era alguém perigoso.
— “Vassalo da Morte”?… Faz um tempo que não escuto este termo, mas e esse coração demoníaco batendo em seu peito? Disseram que você não é um demônio, mas… — O tom de voz saiu sério, ele ficou irritado por conta da ocultação de um detalhe que nem o jovem sabia. — Por que esta expressão? Não me diga que não sabia que você tem o coração de um demônio batendo aí?
Tocou o peito por reflexo.
Foi naquele local que Azazel van Elsie atravessou sua mão e retirou o seu coração ainda pulsando. Viu ela apertar e destruir o órgão e motivo de ainda ter um coração batendo era um mistério até hoje. Foi também onde Azrael o tocou e estampou o seu Sigilo, teria algo a ver com isso?
Lou Souen disse que, quando chegou na ilha, ele já estava com um coração no corpo, só não havia a existência de uma alma. Ter o órgão pulsante foi o motivo para que o retorno à vida tivesse êxito, senão ficaria preso no Hangar dos Mortos.
— Esta marca no seu braço esquerdo é o símbolo de um pacto com uma Besta Divina, pelo padrão suponho que foi com a Besta Negra, certo?
Kurone confirmou balançando a cabeça. Começava a sentir medo da dedução daquele homem, ele poderia dizer os lugares que uma pessoa visitou durante o dia apenas olhando para o sapato dela.
— A Besta Negra — Lao Shi continuou — é conhecida por ser um monstro que possui cinco corações. É preciso destruí-los para matar o monstro. Se você fez realmente um pacto, e este foi um pacto de modelo antigo, selado com um beijo, então um dos corações dela agora é seu. Antes da Presidenta do Inferno o atacar, havia dois corações no seu corpo.
Em Andeavor, sentia que os seus batimentos estavam mais acelerados após o pacto, mas jamais suspeitou disso. Tentou manter uma expressão séria para não deixar sua surpresa transparecer, no entanto isso era difícil.
— Acho que você tem algo para me entregar, não? — Lou Xhien interveio. A garotinha apontou para o objeto que Kurone segurava com força, a sua katana curta. — Espero que não tenha nenhum arranhão… E-ei! O que é isso!?
Ela parou imediatamente com o rosto vermelho quando o jovem ficou de joelhos e ofereceu a arma a ela como se fosse um cavaleiro jurando lealdade.
— Kurone Nakano sempre cumpre com suas promessas — brincou esperando a princesa pegar a wakizashi estendida.
Vendo o respeito do seu mestre direcionado à garota, os orcs, já de pé e sem nenhum ferimento, também ficaram de joelhos reverenciando a garotinha e cabelos rosas curtos, que corou ainda mais. Kurone soltou um riso discreto ao ver os orcs levando aquela brincadeira a sério, por um segundo esqueceu da presença de Lao Shi.
— Eu não acredito, é a espada de Lou Xhien Xhian. Lembro quando tentei comprar isso da senhorita princesa e ela me expulsou do templo. Você deve ser um homem muito querido para ela, meu caro — comentou o homem analisando a arma curta repleta de sangue de monstros.
Lou Xhien pegou a espada sem encarar os dois homens e prosseguiu em direção ao templo a passos largos. O garoto suspirou, ela conseguiu aliviar a tensão do ar ao lembrar da sua wakizashi.
— Vocês dois tem muita coisa a explicar — falou Hime olhando em volta. Primeiro seu olhar passou pelos orcs ficando de pé e, em seguida, repousaram sobre Lao Shi e Kurone. — Aqui não é um lugar seguro, vamos para o templo, a sacerdotisa peituda vai preparar uma xícara de Camélia para todos.
— Tenho que servir até a esse homem desagradável? Talvez eu deva colocar veneno.
Garotas artificiais tinham uma recuperação incrível, concluiu ao ver a sacerdotisa, que estava no chão há pouco, caminhando como se nada tivesse acontecido.
— Gostaria que não me odiasse, eu gostei muito daquele chá. Vamos recomeçar, senhorita Lou Souen, não é? Normalmente as garotas artificiais têm o nome da ilha que vivem, então presumo que seja isso mesmo.
O trio seguiu em direção ao templo, com a garota artificial ignorando as palavras do Arquifeiticeiro e mantendo a expressão fria no rosto. Hime consolou Lao Shi com alguns tapinhas nas costas.
Kurone ficou para trás. Tocou o peito devagar, lembrando que ali habitava um coração que não lhe pertencia. Agora as palavras de Brain faziam sentido.
“Você terá que arcar com as consequências”, ela disse quando os lábios dele e da garotinha de pele parda se separaram. A expressão chocada de Rory mostrava que ela também soubera o que aconteceu.
Isto significa que ela sabia que ele sobreviveria após a batalha contra Elsie?
— Mestre — Berthran tocou em seu ombro, fazendo-o voltar à realidade. Ainda tinha resquícios da Síndrome do Pensamento Acelerado em seu corpo, mesmo Annie tendo tentado controlar tudo — não deveríamos seguir os outros?
— Ah, sim, vamos. — Ela começou andar a passos velozes, porém parou, olhou para os seus guerreiros e disse: — Não confiem naquele homem, fiquem de olho nele o tempo todo.
Jamais confiaria em alguém que tanto o lembrava de Edward, no entanto seu inimigo era cem vezes mais esperto do que aquele marquês, pois ele tinha olhos espalhados por todo o lugar, como aquela águia encarando o jovem e seu grupo de orcs fixamente.