Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 120: Necromante De Cascos Fendidos

Foram recebidos por um Lobo Cinzento da Lua Alfa zumbi.

A criatura rosnou e direcionou a bocarra aberta para a cabeça de Kurone. O jovem estremeceu, mas antes que pudesse mover a espada curta em sua mão direita, o orc de tapa-olho avançou e abriu o monstro em duas bandas com um golpe rápido, fazendo o som doentio de carne sendo dilacerada ecoar.

Kurone olhou assustado para as costas largas do monstro samurai, ele era rápido apesar do peso da armadura e do seu tamanho.

Aparentemente, o poder dos monstros era muito reduzido quando se transformavam em mortos-vivos. As duas bandas da criatura ainda tentaram se mover, mas logo foram picotadas pela jovem orc.

Não havia mais um labirinto de pilares vermelhos naquele salão, no entanto o rosnado familiar dos lobos zumbis continuava.

O lugar era um cômodo vazio, iluminado apenas no centro, permitindo que as criaturas se escondessem na escuridão dos flancos e atacassem sorrateiramente. 

Um enorme lobo negro de olhos fechados estava sentado em um trono de pedra no fim do local, ele não fez sequer um movimento com a presença dos invasores.

— Nie, acho que encontramos o nosso necromante — murmurou encarando o ser nefasto. Sentia repugnância daquela criatura que obrigava os animais lutarem até a completa extinção do seu ser.

[Necromante de Cascos Fendidos — Rank A.]

Foi surpreendido pelo nome, porém isso não era importante. Lá estava o seu objetivo, bastava dar poucos passos para alcançá-lo. Nem o “Rank A” na análise de Annie o surpreendeu.

— Deem cobertura, eu vou pegar o meu Orbe Verde! — ordenou aos seus orcs samurais.

Os dois guerreiros principais não perderam tempo e saltaram na escuridão com gritos de guerra. Dois dos orcs do círculo de defesa de Kurone o seguiram e os restantes lutaram contra os lobos que surgiam na parte iluminada.

Gritos de guerra dos orcs e o ganido das criaturas sendo fatiadas reverberou pelo lugar, porém o lobo negro sentado no trono não se moveu, nem mesmo abriu os olhos.

Um Lobo Cinzento médio surgiu para impedi-lo, porém o garoto saltou, ignorando a gravidade aumentada em 1.5x, e brandiu a wakizashi na direção da cabeça dele.

Travou a katana curta no pescoço da criatura e, para derrubá-lo, acertou-lhe uma cabeçada com força. A máscara branca quebrou o crânio do lobo com um rangido de um galho seco sendo pisado, fazendo o sangue jorrar da sua boca. 

Kurone balançou a cabeça um pouco atordoado ao aterrissar. Um golpe novo que contava com a força daquele máscara, não era algo muito esperto, mas deu um jeito na situação.

Balançou a cabeça de um lado para o outro e voltou a mirar o seu alvo. Nenhum movimento da criatura no trono. Kurone direcionou a Boito .20 e apertou o gatilho.

Pow! O chumbo entrou em contato com a carne e sangue jorrou pelo ar, no entanto não foi o sangue do necromante. Um dos monstros zumbis saltou para proteger o seu mestre.

Olhou ao redor e percebeu que a situação mudava. Mais monstros mortos-vivos encurralavam os seus orcs samurais lentamente. Lutar no território do chefão era diferente do labirinto de pilares, onde tiveram vantagem.

Duas criaturas se aproximaram sorrateiramente pela esquerda, mas o Olho Sagrado captou o fluxo de mana deles e Kurone extinguiu-os com dois tiros da escopeta de cano cerrado. Com o Ápice da Mana, as cabeças dos monstros explodiam como balões de festa.

Dois Lobos Cinzentos da Lua Alfa e um Chacal Negro de Duas Cabeças saltaram do breu em direção ao jovem. Ele viu que se aproximavam e recuou para perto dos seus guerreiros, não tinha como encarar monstros fortes como aqueles, mesmo que fossem zumbis com poder reduzido.

Os lobos o encararam salivando, porém o chacal não deu brecha e avançou rosnando com as cabeças gêmeas repletas de ferimentos.

Kurone impulsionou-se imbuindo mana nos pés e brandiu a espada curta em direção à base do pescoço. Tentaria matar dois coelhos numa cajadada só, bastava ter força o suficiente e ignorar a dor que percorreria o seu membro artificial.

A trajetória do jovem foi desviada com o ataque de um Lobo Cinzento pequeno. Ele bateu a cabeça com força na barriga do jovem e o empurrou contra a parede, na escuridão. Foi rápido demais para ser captado pelo Olho Sagrado, a ausência de fluxo de mana percorrendo o seu corpo o deu ainda mais vantagem.

Grunhiu de dor ao bater as costas feridas contra a parede fria. Escorreu como tinta fresca no topo em direção à escuridão. Sentia um líquido viscoso descendo da boca e pingando no pescoço.

Tentou ficar de pé rápido, mas outros lobos médios avançaram, mordendo seus braços e pernas.

Deu alguns chutes para se desvencilhar das mordidas. Um dos monstros arrancou suas botas e mordeu com força o pé, fazendo mais sangue abandonar o corpo e banhar o chão escuro.

— Malditos! — berrou lançando chamas no interior da criatura que mordia suas mãos. Os olhos amarelados do lobo incharam e, após alguns segundos, a região da barriga foi tomada por chamas. — Vai se foder você também — rosnou batendo o lobo que segurava sua mão esquerda na parede repetidas vezes.

Sentiu os pontos na região ombro se abrindo, aumentando a hemorragia e diminuindo a vida. A criatura só o largou quando as diversas batidas na parede quebraram o seu crânio e picharam-na de miolos amassados.

Ficou de pé com dificuldade e eliminou os lobos restantes com sua wakizashi. A lâmina curta conseguia cortá-los facilmente.

Quando voltou à região iluminada, percebeu vários pontos vermelhos espalhados pelo corpo, mordidas. Algumas regiões faltavam carne e os ossos estavam quase à mostra. A visão ficou turva e viu estrelinhas estourando.

Dor percorreu todo o seu ser. Nem o fluxo de mana se movendo em uma velocidade surpreendente conseguia amenizar aquele inferno. A ardência nos ferimentos mais antigos aumentou.

Encarou os três inimigos mais fortes. Dois dos orcs lutavam bravamente contra o chacal, porém os lobos intervieram, arremessando-os como o lobo pequeno fez com Kurone.

Correu deixando uma trilha vermelha pelo chão e disparou diversas vezes na cabeça do chacal, estourando a esquerda e deixando a direita cega. Claro, os mortos-vivos não precisavam enxergar, só necessitavam da visão do seu mestre para continuarem a lutar até o desgaste total dos seus corpos.

O Lobo Cinzento Alfa avançou invisível, mas o Olho Sagrado o captou e, com a velocidade aumentada pelo Orbe Vermelho, Kurone recuou dando tiros precisos em sua cabeça e pernas.

Distraiu-se com o lobo e o chacal aproveitou-se da brecha, investindo a pata pesada na costela do jovem e rebatendo-o em seguida com sua cauda grossa. Sentiu-se como uma bola de ping-pong.

Buscou oxigênio com dificuldade, arfando enquanto se arrastava, à procura das suas armas espalhadas pela escuridão. Sentiu o metal, porém não era o da lâmina dada por Lou Xhien.

Era a katana de um dos orcs samurai, o dono jazia ao lado, ou melhor, a parte superior do dono. As pernas do orcs foram separadas do corpo pelas garras metálicas dos lobos e provavelmente devoradas.

Arregalou os olhos. Um dos seus guerreiros foi morto de maneira horrorosa pelos mortos-vivos. Mordeu o lábio e pegou a arma que pertencia ao monstro samurai, honraria o seu soldado acabando com aquelas criaturas.

Olhou ao redor e avistou o seu exército sendo encurralado. O líder de tapa-olho lutava bem, mas tinha dificuldade de enfrentar uma horda de trinta lobos de vez. 

A jovem orc tinha várias feridas espalhadas pelo corpo musculoso, mas mantinha o sorriso de um guerreiro ao fatiar os seus inimigos com o seu cutelo curto e largo.

Quem mais estava em apuros era o guerreiro arremessado pelo Lobo Cinzento. Aparentemente, ele fraturou o braço dominante e não conseguia cortar direito com o membro esquerdo. Sua armadura estava aos pedaços e diversas feridas se espalhavam pelo corpo esverdeado.

Na retaguarda, os outros dois também estavam em apuros, mas conseguiam controlar bem a batalha com o seu trabalho em equipe. Um avançava como escudo e o outro pregava os monstros na parede com as flechas do seu arco vermelho.

Kurone capengou e foi ao chão novamente. Sentia vontade de chorar, não por medo ou covardia, era uma reação natural, a dor excruciante provocava lágrimas. Cerrou os dentes para suportar toda aquela ardência percorrendo o seu corpo e degustou o gosto do sangue vindo do interior da garganta.

Engoliu seco e fechou os olhos para aguentar o gosto forte do ferro.

Apoiou-se na espada para erguer o corpo e encarou o enorme lobo no seu trono com ódio. O necromante permanecia lá, imponente, majestoso, vendo a batalha como alguém jogando um videogame.

O chacal, agora com apenas uma cabeça, aproximou-se rosnando e abrindo a bocarra para abocanhar o torso do jovem. 

Kurone, juntando toda a força restante, girou a katana e fez um corte limpo na cabeça do monstro, fazendo o corpo dele rolar pelo chão e levar outros lobos que estavam na frente.

Desmoronou novamente e precisou usar a espada com apoio para encarar o necromante no trono. Ele não tinha defesa, não movia o corpo e mantinha os olhos fechados. Chegou a cogitar a ideia daquela criatura já estar morta ali.

Pegou um cantil sobressalente amarrado na cintura, ele estava completamente amassado por conta dos impactos e o líquido vazava por pequenos buracos. Abriu a tampa com dificuldade, as mãos estavam trêmulas e o sangue jorrava.

Engoliu o conteúdo de uma vez e sentiu o corpo sendo revigorado. As feridas continuavam lá, a morte por hemorragia era iminente, porém a dor desapareceu, era o suficiente para lutar.

Com velocidade, bateu os pés no chão e correu como um louco em direção ao monstro sentado no trono. Os orcs da retaguarda perceberam o seu objetivo e passaram a dar suporte, matando os lobos que se impunham no caminho do seu mestre.

Usou o cadáver de um Chacal de Duas Cabeças como rampa e saltou em direção ao necromante, pulou o mais alto que os seus pés repleto de mordidas permitiam, sentiu um estalo no osso à mostra, mas ignorou.

Era um ataque semelhante ao que usou no Hangar dos Mortos, contra o morcego esquelético, porém dessa vez tinha uma katana ao invés de um par de ossos em chamas.

Fez um corte horizontal em direção à grande cabeça do monstro, fazendo-a voar pelo ar.

Aterrissou com dificuldade, escutando o osso da perna gritar ainda mais. Quase descontrolou o corpo e bateu a testa contra a parede, porém usou a katana como apoio, fincando-o no concreto.

[Kurone, não baixe a guarda!]

Com o alerta de Annie, rapidamente, mas com dificuldade, puxou a arma da parede e a direcionou para a frente. Lá estava o lobo decapitado em seu trono.

Lentamente, o corpo enorme começou a desmoronar como uma construção sendo demolida. Toda a pele do lobo escorreu pelo chão banhado em sangue e a cabeça, ainda com os olhos fechados, rolou sem derramar uma gota de sangue.

De dentro da pele do lobo sem cabeça, saiu o verdadeiro chefe da masmorra, o Necromante de Cascos Fendidos.



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