Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 114: Analisando O Novo Item

— Parece que só o grandão tinha uma coisa dessas — murmurou encarando o Orbe Vermelho flutuando ao seu lado. A cada passo que dava, o objeto o acompanhava como um leal cão de caça seguindo o caçador.

Usou a lâmina de Lou Xhien para cortar o corpo dos outros Lobos Cinzentos da Lua na região do coração, mas tudo o que saiu de lá foram os órgãos pulsantes e sangue dos monstros. Era como Hime explicara, Orbes eram objetos raros.

— Não posso desperdiçar isso, se vocês não vão usar, eu vou pegar.

Com a wakizashi, começou a tirar a pele dos lobos. A tarefa foi bem fácil por conta da ausência da cabeça das criaturas, mas nem um pouco confortável para o jovem. 

— Annie, só olhe quando eu mandar. — Sentia repulsa ao escutar o som da espada curta cortando a carne dos monstros. Ocasionalmente, sangue jorrava em seu quimono ou na máscara branca. Não queria que a deusa visse aquela cena horripilante.

Terminou de tirar a pele dos animais e as pôs para secar penduradas em uma árvore, a mesma que usou para fugir do ataque do alfa. Enquanto o sangue pingava lentamente no ladrilho acinzentado, procurou a sua mochila.

Arremessou o objeto com muito força quando tentou fugir da emboscada dos Lobos Cinzentos, provavelmente quebrou as coisas mais frágeis de lá, mas o importante era a comida e a água.

Rapidamente, pegou a mochila marrom e vasculhou o seu interior. Cordas, um quimono reserva e uma faca foram retirados e postos de lado, seu objetivo era uma pequena caixa vermelha no fundo.

Ataduras, precisava parar o sangramento nas costas e no ombro antes que morresse de hemorragia, por sorte Hime carregou aquela caixinha vermelha com um monte de ataduras.

Uma quantidade considerável de sangue se espalhou pelo ladrilho ao retirar a parte superior do quimono. O vento frio tocando as feridas o fez gemer com a sensação de ardência gelada. Passou as ataduras brancas pelo ombro direito com dificuldade, sentindo a região dos pontos no membro artificial esquerdo pulsar.

Ponderou lavar os ferimentos, mas água era algo muito importante ali, preferia morrer por uma infecção a agonizar de sede.

Grunhiu de leve ao passar algumas ataduras no corpo, a ardência agora era insuportável pela falta de adrenalina. Decidiu colocar o resto das bandagens no estojo novamente, sabia que ainda precisaria muito delas no futuro.

[Concentrarei o fluxo de mana nas feridas, mas você precisa ser mais cuidadoso! Nunca mais faça algo arriscado como aquilo, promete?]

— Ai, ai, eu sei… achei que ia conseguir matar o chefão pulando nele e metendo a espada na cabeça, mas acabei ferrando o ombro do meu braço bom, foi mal, não vou mais fazer isso.

Pequenas partículas azuis tomaram conta do seu campo de visão. Sentiu a brisa suave e fria tocar o seu rosto e levantar os cabelos de mechas brancas. Passou tanto tempo que esqueceu da máscara demoníaca em seu rosto.

Ela desapareceu assim como surgiu: misteriosamente.

[Ela não falou mais… nem agradecemos pela ajuda.]

— Tá bom assim, só preciso de você sendo a única voz na minha cabeça. Mas eu sei que ela pode me escutar do Inventário Interno, então… obrigado por tudo!

Não recebeu e nem esperava uma resposta. Aquela era a segunda vez que a máscara dada pelo supervisor o ajudou, teria morrido dessa vez se não fosse por ela.

Sem o objeto no rosto, sentiu uma dor insuportável vinda do peito. O mundo tremeluzia e a gravidade o puxava para os ladrilhos cinza. Aquele objeto era capaz de o levar ao seu ápice, no entanto o preço era pago ao retirá-lo. 

Estava melhor que a primeira vez, quase morreu ao colocar a máscara em Eragon e escutar um turbilhão de vozes emergindo do interior da mente. Pensou que jamais conseguiria usá-la.

A oscilação entre fraqueza e força deixava o seu corpo confuso, afinal ainda não estava totalmente recuperado do retorno à vida, desde que acordou estava forçando muito o corpo.  

Sentou embaixo de uma árvore enquanto as peles de lobos secavam e encarou aquele objeto vermelho. Conseguiu sentir energia emanando do interior da esfera, se quebrasse era capaz de gerar uma explosão em toda a masmorra. 

Naquela vez em Eragon, Rory pegou diversos Orbes para enfrentar Azazel van Elsie. Eram Orbes azuis e, se assim podia supor, eles geravam mana para a loli arrogante lutar. Não era pouca energia vital, considerando que a garotinha era um tipo de vampira de mana.

Aquela pequena esfera vermelha poderia fazer o mesmo? 

— Será? Se for um daqueles Orbes que aumentam o poder, vai ser algo inútil pra mim. Droga, bem que podia ser um Orbe Verde… Ei, Nie, não dá pra você dar uma olhada nisso não?

[Eu consigo, mas estou sempre usando a análise mais básica, algo mais aprofundado vai consumir muita, muita, muita mana.]

— Essa sua habilidade é uma coisa bem interessante…

[É algo que nós, os seres divinos, chamamos de “Sistema”, nem eu entendo direito como funciona. Tem certeza que quer arriscar? Você já usou muita mana por hoje, não pode forçar o corpo assim.]

— Eu não vou ficar sossegado até descobrir a verdade sobre isso aqui, pode ir fundo.

[Ahhhh! Você precisa ser mais prudente, Kurone! Só farei isso porque acho que você tem mana suficiente, senão eu nem teria explicado sobre o Sistema.] 

O jovem sentiu sua mana percorrendo todo o corpo em uma velocidade insana e indo em direção ao cérebro. A pressão caiu e a visão ficou turva, mas conseguiu se manter ciente para escutar a resposta da deusa:

[Orbe Vermelho — Kurone Nakano. É um Orbe auxiliar capaz de aumentar a Velocidade e Resistência conforme o seu Rank.]

[Rank atual: F.]

[Atributos: +15% em Velocidade, +10% em Resistência.]

[O Orbe Vermelho pode ser melhorado ao ser fundido com outros Orbes de mesma cor. Ele seguirá o dono para onde for, pois seu auxílio só funciona se estiver no raio de 30 centímetros do dono.]

Kurone rolou pelo chão ao receber as informações. 

O que viu foi algo bem diferente do esperado, era algo similar a uma tela de explicações tão presente nos videogames, mas muito dolorosa.

Sentiu a cabeça queimando só de ler aquelas informações, a dor superava muito aquela sentida quando usava o Olho Sagrado irresponsavelmente. Devia ter ficado apenas com a análise simples de Annie, com sua voz doce, mas embora a cabeça doesse como nunca, aquilo valeu a pena.

— É… algo até que útil… Argh! Ai, que dor desgraçada…

[Puxa, o que eu faço com você? A cada minuto você se machuca feio!]

O garoto deitou e encarou o céu rosado tornando-se laranja lentamente. Sentia as veias da cabeça pulsando em um ritmo acelerado. Claro, a noite existia até naquela masmorra. Não sabia se devia se sentir seguro ou não, pois a escuridão podia esconder os monstros mais vorazes dali.

Esforçou-se para ficar de pé e montar uma fogueira simples com gravetos e sua magia de fogo. Usou uma das panelas da mochila para cozinhar um pedaço e peixe. Infelizmente, Hime colocou muitos alimentos perecíveis na sua bagagem, em breve não teria mais o que comer.

— Droga, não gosto tanto assim de peixe, mas é melhor comer logo esses que podem estragar rápido. Você também sente gosto, não é?

[Sim, mas não sou exigente. Comida é comida e você precisa comer, senão não vai ter força para praticar suas irresponsabilidades.] 

— Às vezes você me lembra muito a minha irmã, a Raika — comentou jogando sal no peixe, pelo menos Hime foi atenciosa o suficiente para pôr alguns temperos na mochila. — Ela sempre me obrigava a comer peixe.

[Você ainda não me contou sobre sua família, como ela era? Eu quero saber tudo.]

— Tem certeza? Quando começo a falar das minhas irmãs eu me empolgo muito e acabo esquecendo de parar…

[Tudo bem, tudo bem. Passei anos trancada naquele piso do Hangar dos Mortos, escutar a voz de alguém é muito agradável para mim, a menos que você não queira.]

— Então tá, mas tem uma condição, você vai ter que me contar também sobre você, ok?

[Agora sou eu que pergunto se você tem certeza. Minha vida não foi tão agitada, quer escutar uma história entediante dessas mesmo?]

Yep! Quero conhecer tuuudo da minha companheira fofa, desde o mais banal aos seus segredos mais íntimos e você também saberá os meus. 

Kurone passou o peixe fumegante para um prato de porcelana e encarou o céu alaranjado. Não importava o local, sempre sentia aquela paz ao conversar com Annie. O que seria da sua vida sem ela?

Era uma deusa e ele um humano em um pacto temporário, mas queria que aquilo durasse para sempre. Quando encontrasse o Seol dela, talvez pudessem continuar juntos, não queria realmente se afastar dela. 

Moldou um sorriso largo no rosto e começou:

— Então eu vou te contar da vez em que eu levei a Raika no cinema e nós ficamos presos lá por causa de um terremoto…

[Terremoto?]

— Sim, é tipo um tremor de terra muito forte que consegue fazer muita destruição nas cidades japonesas.

[Magia de terra avançada?]

— Não é exatamente magia, mas você pode pensar assim se quiser. Enfim, a história começa assim…



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