Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 113: Vislumbre Do Ápice

Sentiu as garras do Lobo Cinzento da Lua Alfa atravessando o tecido fino do quimono e cravando em suas costas. O calor do sangue fez o corpo formigar, mas ignorou tudo aquilo e abraçou a criatura ainda mais forte.

Era uma ideia impensada, arriscada e que poderia resultar em sua morte, ou seja, era uma ideia ao estilo Kurone Nakano.

Assim que saltou do galho e foi em direção ao lobo, puxou a wakizashi da bainha e a levou até a cabeça do oponente, no entanto ele percebeu a tentativa e esquivou, deixando a lâmina ferir o seu pescoço.

A espada curta cravou no pescoço e o jovem não conseguia mais tirar de lá, porém não teria outra chance de ficar tão perto do inimigo como aquela.

— Queime! — bravejou convocando chamas entre os dedos.

O grunhido do alfa ecoou quando sentiu os pelos robustos sendo queimados pela magia do humano. Desesperado, investiu em uma mordida no ombro direito. Sangue de ambos se espalhou pelo ar enquanto caiam livremente em direção ao chão.

Argh! Você não prestou atenção nisso, não foi? Mordeu o braço bom ao invés do artificial — comentou com a voz forçada por conta da dor aguda da mordida.

Se os dentes fossem cravados no membro artificial, teriam conseguido tirá-lo do jovem assim como fez com a mão.

Ambos estavam bem próximos do chão, mas por sorte Kurone estava por cima do monstro. Seria ótimo se o lobo morresse na queda, mas imaginou que ele não fosse tão patético assim.

O garoto e o lobo se desvencilharam ao tocar o solo, os corpos repletos de sangue foram para direções opostas e respiraram com dificuldade. 

A wakizashi permaneceu fincada profundamente na carne do lobo. Conseguiu feri-lo, mas o preço foi alto, as feridas nas costas e a mordida no ombro direito derramaram liquido vermelho sem cessar. 

Já estava fraco por conta da hemorragia que teve ao perder a mão esquerda, agora esse quadro só piorou. Se continuasse se cortando, morreria por sangramento antes que o monstro conseguisse lhe dar um fim.

Passou a escopeta de cano cerrado para o braço bom e olhou com voracidade para a criatura, o medo anterior desapareceu completamente, dando espaço à vontade de sobreviver.

— Não é possível que isso seja apenas um monstro normal dessa masmorra, olha pra como essa desgraça é roubada!! Eu tenho muito azar de atrair chefões.

[Não adianta reclamar agora, precisamos dar um jeito de acabarmos com ele agora.]

— Droga… saudades da Autorrecuperação.

[Eu consigo concentrar o seu fluxo de mana para o local ferido, assim você vai se curar mais rápido, mas isso vai desviar muita mana do resto do corpo.]

Enquanto conversavam, o Lobo Cinzento rugiu, saltou e desapareceu no chão como se o atravessasse. Novamente aquela tática.

— Tinha esquecido que ele fazia isso. Nie, desista da ideia de manipular o fluxo, eu vou precisar usar o Olho Sagrado.

[Não exagere… Tenho que repetir isso toda vez, não é?]

Sentiu a mana percorrendo as veias e vindo toda em direção ao olho esquerdo. O rosto ficou quente e, gradualmente, começou a ver o mundo pela lente amarela.

— Te encontrei, desgraçado! — bravejou apontando a Boito .20 para o local.

Primeiro pensou que o lobo entrava no subsolo como uma minhoca, porém logo descartou essa ideia absurda. O monstro saltava daquela maneira para fazer a vítima pensar que entrava na terra, no entanto sua verdadeira habilidade era…

Pow! O tiro passou bem perto de atingir a criatura. Ele podia ficar invisível, isso tornava o plano de subir em árvores para se proteger inútil.

Invisibilidade não era o único problema, sua velocidade dobrava quando ativava aquela habilidade. Era um inimigo perigoso, um aventureiro comum jamais conseguiria derrotá-lo, como aquela podia ser uma masmorra de nível baixo?

Contudo, conhecia as regras daquele mundo. Tinha a experiência de outras batalhas. Não existiam habilidades perfeitas, todas tinham um preço para serem utilizadas, não seria diferente com aquele monstro.

Em meio ao mundo amarelado, Kurone visualizava a silhueta completamente branca do lobo. Podia ocultar seu corpo, mas não a aura.  O jovem ficou intrigado com algo diferente na criatura, além do fluxo de mana, via um pequeno núcleo vermelho no lugar onde ficaria o seu coração.

Deu mais alguns tiros para impedir o oponente de se aproximar e começou a pensar. A única chance de matá-lo era dando um golpe com força na cabeça, mas o monstro era muito rápido.

— Parece que essa vai ser uma luta difícil…

{Permita A Celestial recuperar seu corpo, ele ainda está fraco.}

[Eh?! I-isso não fui eu! Juro! Que medo!]

A voz sombria vinda do fundo da sua mente fez todo o corpo se arrepiar. Tremeu de pavor como se um demônio tivesse acabado de sussurrar em seu ouvido. Porém, tinha noção do dono ou dona daquela voz, por isso não hesitou em responder:

— Não sei o que você quer, mas se for para ajudar, então eu aceito.

[Kurone!]

— Eu prometi voltar vivo, se tenho a chance de vencer, não posso recusar.

O Lobo Cinzento aproximou-se em zigue-zague. Era muito rápido, o Olho Sagrado não conseguia acompanhar o fluxo de mana se espalhando pelo ar.

Sentiu algo quente tomando conta da sua face. Partículas azuis conectaram-se uma após a outra e deram forma a uma máscara branca com uma cruz negra invertida na testa. 

O monstro hesitou e desativou a invisibilidade. Seus pelos eriçaram ao olhar para o seu inimigo com um novo objeto no rosto.

Ele estava banhado em sangue dos seus companheiros, segurando uma arma estranha e emanando uma aura perigosa. Não podia ver os olhos dele por conta da máscara, mas um brilho intenso amarelo reluzia do interior da cavidade esquerda.

Os cabelos negros com mechas brancas estavam agitados por conta do vento, porém aquela brisa foi criada pela mana do jovem ao se espalhar por toda a masmorra.

Ele estava oprimindo tudo e todos com sua mana abundante espalhada por todo o lugar.

[Seu corpo foi completamente recuperado… então essa é a extensão da sua mana, não tem limites! Kurone, vo-você é como um Deus da Mana agora!]

O jovem não respondeu sua companheira e deu alguns passos em silêncio. Conforme andava, o lobo recuava com um ganido quase inaudível. Podia ver o medo nos olhos amarelos daquela criatura.

Ele tentou ficar invisível para fugir, porém cambaleou e foi a chão ao receber dois tiros nas patas dianteiras.

Ganiu e se esperneou para continuar correndo, mas era tarde demais, seu algoz mascarado chegou onde estava. Ele encarou-o, o amarelo saindo da cavidade esquerda da máscara o deixou horrorizado, era como se houvesse uma monstruosidade selada atrás daquele objeto branco.

Lentamente, levou sua mão ao ombro do Lobo Cinzento e retirou a lâmina fincada lá sem piedade, fazendo a criatura rugir alto e mover as garras em vão. Só havia o grito de desespero ecoando pelo ar.

Os outros lobos sobreviventes apareceram rugindo ao ver seu líder sendo oprimido pelo humano. O corpo das criaturas remanescentes tremiam por conta de toda aquela aura que tomava conta do ar.

Bastou uma sequência de cinco tiros para eliminar todos os Lobos Cinzentos com a escopeta de cano cerrado. 

O recuo da arma estava maior, assim como a velocidade e a qualidade das balas. Ao invés de abrir um ferimento, o chumbo estourou a cabeça dos monstros, fazendo uma imensidão de sangue jorrar por todo o local.

Ao se certificar que eliminou todos os Lobos Cinzentos ordinários, olhou para o líder se contorcendo no chão. O sangue vazando do pescoço e das patas tomava conta de todo o ladrilho acinzentado.

— Sabe por que você está aí e eu aqui? — começou com uma voz sombria abafada pela máscara — Porque subestimou um humano pela sua aparência, achou que eu nunca havia enfrentado monstros mais fortes que você? 

Aproximou-se como se estivesse saboreando cada palavra.

— Não se culpe, esse é o instinto de um lobo, você mata os fracos e foge dos fortes, errou apenas no seu julgamento. Você é apenas um lobo, por isso perdeu — concluiu o discurso roubado de Azazel van Elsie com um único tiro na cabeça do Lobo Cinzento da Lua Alfa.

Na verdade, aquilo era mais para si do que para a criatura. 

Enfim, entendeu como funcionava realmente aquele mundo. Reconheceu que era fraco, a mais fraca das criaturas, não era nada sem a sua insanidade como aquele lobo não era nada sem o seu instinto. 

Era uma idiotice sua achar que não precisava da habilidade dos outros, mas só estava daquela maneira, transbordando mana em toda a masmorra, por aceitar a ajuda da máscara.

Não conseguiria chegar longe se fosse depender da própria força. Mesmo treinando o corpo com o mais árduo e infernal dos treinos, jamais chegaria a 30% do poder da demônia que tirou a sua vida em Eragon.

Assim pensando, dirigiu-se ao corpo do lobo sem cabeça. Toda aquela região se tornou um verdadeiro mar de sangue por conta do sangue — ele escorregou pelos ladrilhos e foi se juntando até preencher todo o chão.

Kurone usou a wakizashi banhada em líquido vermelho para perfurar o peito do monstro. Queria se certificar de algo que viu ao ativar o Olho Sagrado. Da região cortada, uma esfera vermelha do tamanho de um punho fechado saltou para fora.

[Orbe Vermelho — Sem dono. Rank F.]

As análises de Annie ao se deparar com qualquer coisa estranha se tornou algo de praxe, quase inconsciente.

Pegou o objeto e olhou de perto. Energia avermelhada estava contida por uma esfera de vidro. Algumas gotas de sangue vindas do seu ombro desceram e caíram sobre a esfera.

O objeto brilhou e a energia contida nele se agitou, como se pudesse quebrar sua capsula de vidro a qualquer momento.

De repente, o Orbe Vermelho começou a flutuar. Kurone recuou alguns passos assustado, no entanto a esfera o seguia conforme se afastava.

[Orbe Vermelho — Kurone Nakano. Rank F.]

— Que diabos é isso… — deixou escapar ao escutar a atualização do objeto na análise de Annie.



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