Volume 3
Capítulo 112: Lobo Cinzento Da Lua Alfa
[Para aí, é uma armadilha!]
Kurone bateu as botas no ladrilho e, após escorregar um pouco, diminuiu a velocidade. No mesmo instante, um dos lobos menores saltou em sua direção, por sorte, conseguiria defender da sua posição.
Novamente, Annie salvou sua vida. Se tivesse seguido em direção ao alfa, seria fatiado pelas garras do seu companheiro. Os dentes vindo de encontro à carne do jovem foram parados pela lâmina curta.
Kurone fechou os olhos e arrastou a espada reduzida pela mandíbula da criatura, cortando a boca e parando ao perceber que sua força não lhe permitia prosseguir.
Quando puxou a arma de volta, sangue jorrou por todo o seu quimono branco. O corpo do Lobo Cinzento foi ao chão, morto. Mal conseguia olhar para o que fizera, a criatura caiu com o corte enorme na boca à mostra, se tivesse mais força, teria cortado fora a cabeça do lobo na horizontal.
Seu corpo tremeu ao presenciar o poder daquela wakizashi, sem a sua insanidade não conseguia matar sem hesitação, no entanto o instituto de sobrevivência sobrepunha o medo.
Balançou a espada curta de um lado para o outro, limpando o sangue. Estava tremendo tanto de medo quanto de excitação, mas ainda não podia baixar a guarda e comemorar a vitória, afinal, contando com o que matou em um tiro da escopeta, só se livrou de dois lobos.
Sentiu o formigamento vindo da mão arrancada passando por todo o corpo como uma corrente elétrica. O ladrilho estava se tornando um mar de sangue por conta do ferimento.
Imbuiu mana no ferimento ardendo… que péssima ideia! Sentiu o local queimar como nunca, quase soltou um grito, mas decidiu aguentar a dor mordendo os lábios.
Os olhos arregalaram-se quando percebeu partículas azuis subindo pelo ar e dando forma a uma mão humana.
Primeiro formou ossos e os conectou com o braço, materializou as veias, músculos e pele. Estava ali novamente! Sua mão foi recuperada e estava ali como se nunca tivesse sido arrancado por uma mordida.
[É um braço bem… peculiar? Nenhuma magia consegue recuperar membros assim.]
— Isso doeu pra caralho! — praguejou abrindo e fechando sua mão para testar os movimentos. — Parece que tô virando uma quimera mesmo.
Os lobos olharam horrorizados para a recuperação anormal do humano. Viram um braço sendo reconstruído após ser engolido pelo seu líder, nem um monstro teria uma habilidade profana como aquela.
O garoto mirou o Lobo Cinzento Alfa com ódio. O sangue da sua antiga mão ainda pingava na boca do monstro.
Concentrou-se e, em sua mão recém-recuperada, materializou a escopeta de cano cerrado novamente. Ficou curioso sobre como o lobo sentiu-se quando a arma no estômago foi reduzido a nada mais que partículas azuis.
A espingarda e a mão estavam de volta, sua mordida foi em vão.
[Cuidado, não vamos ter a mesma sorte se ele morder outro dos seus membros, por sorte ele atacou o braço artificial, se ele tentar vir para cima, já sabe o que fazer.]
— Prefiro evitar perder mais partes do corpo, podendo recuperar ou não!
O diálogo com a deusa foi interferido por dois dos Lobos Cinzentos ordinários, um pela esquerda e outro pela direita.
Pow! O chumbo da escopeta preencheu o ar, porém a criatura desviou. Ela deslizou pelo chão, provocando um barulho irritante das garras arranhando os ladrilhos. Quando olhou em direção à sua vítima, tudo que vislumbrou foi o fio brilhante da espada curta.
Desfez-se da mochila para ter maior velocidade. Kurone saltou e, com gritos de adrenalina, fincou a espada no crânio da criatura — ela tentou resistir, mas foi inútil, o jovem acabou o seu sofrimento com um tiro da escopeta.
O outro lobo que atacou em conjunto hesitou ao ver seu companheiro sendo morto pelo humano. Ele buscou a ajuda dos outros, mas esses também estavam acovardados nos arbustos, exceto o líder, que continuava encarando o garoto em uma pose imponente.
Como que inspirado pela posição do alfa, o Lobo Cinzento rosnou e, arrastando as garras pelo ladrilho, correu em zigue-zague para o jovem.
Kurone montou uma forma mais fechada para se defender, cruzando os braços e pondo a pequena katana sobre o cano da escopeta. Era uma combinação de armas incomuns que deu certo.
[Vocês dois são lutadores de curta distância, não ataque enquanto ele não estiver perto o suficiente.]
O lobo saltou ao chegar bem próximo. Girou no ar e mostrou os dentes, o corpo do garoto ficou trêmulo por alguns instantes ao encarar os dentes afiados, mas logo se recompôs e usou o cano da Boito .20 como escudo.
A boca do monstro prendeu na arma e ele começou a se mover com a intenção de atacá-lo com as garras. Girando rapidamente, Kurone arremessou a criatura para um dos arbustos e, sem esperar que ficasse de pé, deu dois tiros com a escopeta.
O braço ardia a cada disparo por conta do coice, mas aquilo era o de menos para alguém que teve a mão arrancada há alguns minutos.
— Faltam só seis agora — murmurou ao encarar os outros Lobos Cinzentos escondidos nos arbustos, nenhum parecia querer avançar, olhavam com espanto para a arma estranha na mão do humano banhado em sangue dos seus companheiros.
— Se vocês não vêm, então eu vou para cima! — Balançou as armas para se livrar do líquido vermelho antes de avançar.
Não seria piedoso, afinal aquela era uma masmorra de nível baixo e estava sofrendo para dar fim a dez lobos, ou seja, atualmente era mais fraco que um aventureiro comum.
Perder o pacto com Cecily foi o mesmo que perder 80% do seu poder, precisava compensar aquilo sendo mais corajoso e inteligente.
Ao ver a aproximação do humano, três lobos recuaram e os outros três avançaram com fúria nos olhos amarelos.
— Engulam isso aqui desgraçados!
Embainhou a wakizashi e, estendo a mão em direção às criaturas, convocou uma pequena bola de fogo. Não era nada comparado ao Fogo Infernal da falsa Annie, mas conseguiu dispersar os lobos.
Ficou no meio dos três monstros. Se todos atacassem de uma vez, teriam uma chance, no entanto estavam receosos devido à performance do oponente ao matar seus outros companheiros.
— Hã? Não me digam que ficaram com medo? Que coisa, infelizmente vou ter que matar todos para prosseguir a minha jornada!
Pow! Mirou a escopeta para o lobo da frente, mas quando ele saltou, atirou na cabeça do monstro da direita, o desavisado ganiu e se esperneou antes de morrer. Foi plano não muito honesto, mas funcional, porém sabia que não funcionaria mais.
[Isso foi cruel…]
— Eu sei, mas é a única maneira dos fracos sobreviverem, compensando a falta de força com a trapaça.
Ódio tomou conta dos outros dois lobos, porém ainda hesitavam em se aproximar. Lamentavam pelo companheiro, mas temiam pela vida.
Tanto Kurone quanto os monstros voltaram os olhares para o alfa. Ele finalmente resolveu entrar na batalha e lutar contra o humano.
[Entendi! Todo esse tempo ele estava te analisando.]
— Lamento ter te decepcionado, mas sou um macaco de poucos truques — brincou direcionado as duas armas para ele.
Diferente dos outros, o Lobo Cinzento Alfa aproximou-se com cautela, sempre de olho nas mãos do garoto. Sua guarda passava a ideia de que não atacaria, era exatamente isso que queria que o inimigo pensasse.
O jovem o encarou no fundo dos olhos, como aquele podia ser um monstro inicial? Sempre teve sorte em atrair “chefões”, mas se toda criatura daquela masmorra fosse daquela maneira, não sabia se sairia inteiro dali.
O líder parou a oito metros do oponente, os outros dois lobos menores vislumbraram o alfa com respeito e se afastaram do campo de batalha, acompanhando os outros três que fugirem há pouco.
— No fim das contas, você também se preocupa com a sua família, acho que isso é comum em todos os seres, mas eu não teria coragem de usar minhas irmãs para analisar o meu oponente — concluiu entrando em posição de batalha.
O monstro permaneceu estático por alguns momentos e, quando finalmente moveu um passo, desapareceu, como se tivesse sido sugado para o solo.
— Droga! De novo!
[Procura um lugar alto, agora! Estou sentindo ele se aproximando!]
Mal esperou a desesperada Annie terminar de falar para correr em direção a uma árvore próxima. O esforço foi ainda maior para subir por conta da gravidade aumentada, como Hime conseguia saltar com facilidade?
O monstro emergiu do solo ao perceber que não poderia mais usar aquilo como uma vantagem. Como disse Annie, eram lutadores de curta distância, não poderiam lutar sem se aproximar.
O Lobo Cinzento da Lua Alfa cravou as garras no tronco da árvore e começou a subir rapidamente. Se pulasse dali, quebraria algumas costelas, por isso o garoto apenas esperou a aproximação do inimigo.
[Ei, Kurone, você está pensando em fazer o quê?]
— Annie, você confia em mim, certo?
[Não, não confio!]
— Então você vai me odiar muito por isso!
Ele saltou do galho e foi ao encontro do lobo escalando o tronco da árvore. O monstro abriu a bocarra repleto de dentes afiados e o jovem brandiu a escopeta e a wakizashi em queda livre.