Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 105: Banho Do Plebeu Fedendo A Plebeu

Cinco minutos descendo a escadaria de pedras pareceram uma eternidade para o corpo desacostumado aos movimentos do jovem.

Devido ao silêncio predominante no local, o som de passos ecoava facilmente por toda a floresta de árvores rosas.

Na parte inferior da ilha, havia um pequeno lago, mas não via sinal de vida de nenhum peixe. Animais, fossem aquáticos, terrestres ou aéreos, não existi a sinal de vida de qualquer um deles naquela ilha.

O local de destino estava logo à frente, um enorme templo vermelho e preto. Ele tinha um torii vermelho semelhante àquele do pequeno templo acima da escadaria. Aquela parte estava mais iluminada devido às inúmeras tochas espalhadas por todo o santuário.

O quarteto atravessou a pequena ponte vermelha e parou diante ao portão. Kurone ainda estava impressionado, todo aquele cenário o lembrava de um santuário xinto do seu mundo.

— É aqui que você vai dormir — falou Hime apontando para a enorme construção. — Eu vou ficar ali. A propósito, não adianta me chamar no meio da noite, eu tenho o sono de uma pedra.

— Você não vai dormir aqui? Parece ser bem grande…

— É um templo sagrado, as sacerdotisas dormem no outro — explicou Lou Souen. — Não se preocupe, visitantes podem ficar nele, por isso tem vários quartos de visita.

— Antes do ataque do Arquiduque do Inferno, as ilhas de Lou Xhien eram o melhor ponto turístico do mundo. Pessoas vinham de todos os países para conhecer os templos e as garotas artificiais e ficavam hospedados aqui por semanas. — Hime suspirou profundamente com nostalgia.

Enquanto desciam a escadaria, a mulher explicou que as “garotas artificiais” eram criações de um homem chamado Karllos Sophiette, que viveu por ali na Era dos Deuses. Elas foram criadas para administrar as diversas ilhas da região, cada uma com um nome do meio diferente. 

“Souen” eram as garotas responsáveis pela ilha medicinal, no entanto, agora só restava Lou Souen Eiai, que conseguiu se esconder e não ser raptada pelo Arquiduque do Inferno.

Lou Xhien era descendente do tal Karllos Sophiette, o posto dela era de princesa das garotas artificiais, por isso estava tão preocupada em salvá-las. 

Hime não contou muito sobre ela mesma, aparentemente tinha muitos segredos, mas estava decidida a ajudar Lou Xhien no resgate das garotas artificiais e na derrota do demônio.

— Boa noite, Vossa Majestade e Kurone Nakano. Irei me recolher.

— Eu também vou, boa noite… ahhh! — Hime bocejou exageradamente e seguiu Lou Souen em direção ao outro templo, um menor que aquele na frente do jovem.

Dividir o mesmo templo que Lou Xhien não seria uma tarefa fácil, mas teria sorte se não precisassem se comunicar muito lá, embora esse não fosse seu o objetivo. Se seriam parceiros, precisavam se dar bem.

Kurone entrou no local após a garota. Ela era bem dedicada ao seu papel de princesa. Antes de atravessar o portão, curvou-se e fez uma curta oração.

Como era um estrangeiro ali, não precisava se preocupar com formalidades, porém isso não evitou que fosse alvo do olhar repreensivo da menina. Ao entrar, tocou o pé por reflexo para tirar o sapato, mas lembrou estar descalço.

O primeiro andar do templo era quase vazio, apenas uma longa mesa pesava sobre o piso de madeira. A luz da lua verde misturada à das tochas adentrava fracamente pelas janelas pequenas.

— Os quartos ficam no segundo andar — disse Lou Xhien. pegando algo em cima da mesa. — Pegue, tome um banho e vista isso, plebeu. — Ela jogou roupas brancas no rosto do jovem. — São feitas do melhor material das ilhas, aposto que alguém como você jamais viu um quimono tão caro.

Lentamente, retirou o quimono do rosto e o observou. Era quase todo branco, mas tinha pequenos detalhes em ciano nas mangas e a faixa era roxa. Havia uma calça preta também.

— Tomar banho…

— Sim, você está fedendo a plebeu, plebeu!

[Ela tem razão…]

“Você também tem olfato?!”

Não lembrava qual a última vez que tomou um bom banho. Era um verdadeiro apreciador, mas o Continente Ocidental não tinha o costume de tomar banho. Talvez fosse algo reservado apenas aos nobres.

“Se aqui é algo equivalente ao oriente que eu conheço, então!…”

— Aqui tem um fonte termal!?

— Ha! Era de se esperar essa sua surpresa, pobre plebeu. Lou Souen é conhecida por suas grandes fontes termais com poderes de recuperação.

— Cara, era só dizer sim. Não importa, nada pode tirar a minha excitação! Onde ela fica?

— Entre por aquele corredor, ela te levará até a fonte termal masculina.

— Ok! — Ele correu para a direção apontada. 

Sua animação se devia ao fato de nunca ter visitado uma verdadeira fonte termal no Japão, tornou-se um verdadeiro recluso social após alguns traumas e odiava dividir o banho com outros homens pelados.

No entanto, teria ali toda a privacidade, afinal só ele usaria a fonte. Atravessou o corredor rapidamente e parou quando percebeu que já estava fora do templo, iluminado pela enorme lua verde.

O vapor à sua frente lhe chamava, podia sentir os músculos relaxando apenas ao olhar para as águas aquecidas.

[Ah!]

“Nie! Por favor, feche os olhos e só abra quando eu mandar, ok?”

[S-sim!]

Sua empolgação o fez esquecer que carregava a alma de uma deusa em seu corpo, mas não era uma deusa qualquer, Annie era uma menina tímida e de voz fofa. 

Seria um verdadeiro pecado mostrar o corpo nu de um homem para ela.

Antes de entrar na água, ele parou em frente a um espelho semelhante àquele do pequeno templo, com o rubi e a moldura de dragão. Ficou impressionado com o próprio corpo, o abdômen e as pernas estavam repletos de músculos.

Por sorte, não herdou os ferimentos de quando estava no Hangar dos Mortos. O peito que fora profanado pela mão vil de Azazel van Elsie e teve o coração roubado estava completamente curado, sem nenhuma cicatriz, nem mesmo marcas das balas da sniper de Rhyan Gotjail no ombro, apenas o Sigilo de Azrael estava estampado nele.

Jogou o quimono sujo sobre o espelho e entrou na água lentamente. Primeiro tocou a ponto do dedo do pé…

[Uh! É quente!]

Esteve de olho nisso desde mais cedo. Ao que tudo apontava, Annie sentia muitas coisas que ele também sentia. Estavam compartilhando muita cosia além da mana e emoções.

“Pode abrir os olhos.”

[Ah, sim, obrigado.]

No meio da fonte, um grande muro de madeira separava a área masculina da feminina. Kurone apoiou as costas na lateral e relaxou os músculos tempos. Respirou e inspirou, era uma sensação boa, diferente daquela de quando teve os pulmões destruídos na luta contra o morcego esquelético.

[Eu ainda não agradeci por ter me salvado, não foi? Aconteceu tudo tão rápido que quase não conversamos muito.]

— Não precisa agradecer, eu não podia deixar você lá e nem te matar, essa foi a melhor escolha.

[Olha, Kurone, sei que você é alguém bom, mas entenda que não dá para salvar todo mundo. Me prometa que você não vai fazer escolhas precipitadas para ajudar Lou Xhien.]

— Não se preocupe, Nie, você é minha prioridade. Eu sei que não tô mais vivendo sozinho, tenho que me responsabilizar por você até encontrar seu Seol.

[Não tenha pressa, vamos resolver uma coisa de cada vez.]

— A propósito, você conhece a Hime? Ela parecia saber sobre eu e você…

[Desculpe, é algo que prefiro não comentar, acho errado falar algo assim sem ter a permissão dela. Mas não se preocupe, Hime não é mau, eu posso afirmar isso, então não esquente a cabeça… mas não confie tanto nela.]

— Não sei se eu fico tranquilo ou assustado com o que você falou! 

— Ei, plebeu, você tem problemas sérios, sabia?

Kurone olhou ao redor ao escutar a voz de Lou Xhien, mas parou ao perceber que vinha do outro lado do muro de madeira. 

— Lamento lhe decepcionar, mas não tenho interesse em dividir a fonte termal com plebeus, a única que pode vislumbrar este meu corpo nu sou eu mesma. Nem adianta procurar buracos no muro, não tem!

— Seria realmente triste se eu não tivesse uma habilidade de ver através do muro.

— Q-quê?! Es-está brincado, não é?! Qual número estou mostrando agora com minha mão esquerda?! Responda ou vou achar que é mentira! — ela gritou inúmeras vezes com um misto de vergonha e raiva na voz.

— Talvez eu esteja brincando…

“Precisamos ter cuidado com as nossas conversas. Eu baixei a guarda.”

[Tem razão, mau-caráter.]

“Eu fico triste sempre que você fala isso!”


Passou uns vinte minutos na fonte termal. Precisava aproveitar, pois não sabia se estaria vivo no dia seguinte para aproveitar os prazeres de um banho quente acompanhado da doce voz de Annie.

Quando voltou para o templo, já vestido em seu novo quimono, foi alvo do olhar irritado de Lou Xhien. Ela acreditava que ele tinha mesmo uma habilidade capaz de ver através do muro.

Conversaram pouco, na verdade, discutiram. A menina mostrou ao jovem onde era o seu quarto e saiu rapidamente dizendo: “É melhor ir antes que você não resista a minha beleza e queira me levar para baixo do futon.”

O garoto ignorou os comentários ofensivos e caiu sobre o futon, olhando para a janela do quarto. Podia ver um pouco das pequenas grades do para-peito e a luz da lua verde. Apesar de dormir por uma semana, seus olhos estavam pesados, sentia muito sono.

O quarto era pequeno, nem quente e nem frio demais. Os únicos objetos ali eram o colchão, uma mesa marrom e um pequeno armário de mesma cor. 

O silêncio reinava em toda a ilha, estava tudo tão calmo que conseguia escutar os prováveis roncos de Hime. Podia imaginá-la dormindo em uma pose rude, segurando a espada e roncando como um animal. Formou um sorriso no rosto ao pensar naquela cena cômica.

Toda aquela tranquilidade fez o sono chegar rápido. Quando percebeu, já estava quase adormecendo, porém, lembrou de algo importante que precisava dizer à sua companheira:

— Boa noite, Nie…

[Boa noite.]

— …Boa noite, Rory e pessoal… — murmurou inconscientemente antes de fechar os olhos completamente.



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