Volume 3
Capítulo 101.3: Fim Da Reunião
— Então, com o apoio da família Gotjail, teremos cavalos, mantimentos e alguns poucos homens para a guerra. Achei que seria mais pela posição daquela mulher — comentou O’Blood Renfield.
Após a saída de Marta Gotjail, a vampira tomou a palavra e deu início à verdadeira reunião.
Nakano e Dora estavam na retaguarda, dando assistência à garota. Na verdade, o Demônio do Oriente dava sua opinião e a Besta Negra murmurava “é isso mesmo!”.
— Toda ajuda é bem-vinda se for para dar um fim a Azazel van Elsie — começou Sophia.
— Acontece, humana, que estou pensando no futuro. Acha mesmo que essa é uma guerra apenas entre a Corvos e nós? O senhor veio de outro reino, certo? Entende o que quero dizer? — O’Blood finalizou apontando para Eliezer.
O homem se manteve calado até o momento, apenas observando o desenrolar dos acontecimentos, mas era fato que o seu peso equivalia ao de Marta naquele tabuleiro.
Eliezer Sophiette era, além de tio de Sophia, vice-líder da Guarda Real de Nova Canaan, reino vizinho de Andeavor, onde os governantes regiam pela força.
Conseguir o apoio de um reino de selvagens como aquele daria ao exército de Sophia uma vantagem esmagadora sobre o da Corvos, a antiga guarda real de Andeavor.
Apesar de ser a sobrinha favorita de Eliezer e líder do clã Sophiette, a marquesa precisava convencê-lo de que a batalha não seria apenas uma perda de tempo e de homens, mas não via como Nova Canaan poderia se beneficiar de imediato.
— Realmente, — começou Eliezer — alguns reinos estão pagando milhões de moedas para terem a cabeça de Azazel van Elsie e dos outros membros do Conselho do Inferno. Eles estão se sentindo ameaçados depois que um Grão-Duque tomou conta de um país do Continente Oriental.
— Em contrapartida, existem reinos que se beneficiarão com a Corvos no poder, reinos estes com governantes corruptos, manipulados por demônios ou rivais de Andeavor. Viu? Quando todos começarem a tomar um lado, estaremos caminhando para uma guerra de grande escala — concluiu a vampira.
— Na verdade, a Corvos já tem o apoio de duas nações vizinhas. Disseram que os governantes irão se encontrar com a própria Azazel para discutir os termos da aliança — explicou Eliezer.
— Quais vantagens esses reinos teriam se aliando a um demônio?! Só podem estar enganado Azazel! — bravejou Sophia irritada.
— Estou olhando para essas vantagens agora, humana — disse O’Blood apontando para a armadura e espadas da marquesa. — Os Tesouros de Karllos são cobiçados por todos, pensa que eles perderiam essa chance de obter pelo menos um deles?
Sophia finalmente compreendeu. Pensou que todos os reinos humanos estariam ao seu lado, mas esqueceu do fator principal: a ganância humana.
Um reino com qualquer uma daquelas armas seria um perigo para o mundo. Nova Canaan era um reino temido por conta de Eliezer, o homem possuía um Tesouro particular, por isso tinha um posto de importância, sem isso seria apenas um guarda privilegiado com o sobrenome “Sophiette”.
— Então não temos chance? Nem mesmo os mestiços armados teriam chance contra um exército de milhões de pessoas, eles não têm tanto tempo para treinar… — Rhyan olhou para a janela enquanto falava. Dali ele podia avistar os diversos mestiços preparando comida.
— É aí que se engana, caro humano. Eu lutei contra Azazel por tempo o suficiente para saber que ela é inteligente. Ela irá esperar um momento oportuno para iniciar seu ataque, aquela demônia sabe o perigo que os Tesouros representam — O’Blood explicou calmamente.
— De quanto tempo estamos falando?
— Um ano. — A vampira apontou o dedo fino sinalizando o “um” e prosseguiu: — Azazel van Elsie não ousará nos atacar em menos tempo que isso.
— Isso é loucura! Por que ela esperaria tanto tempo se pode nos atacar agora, enquanto somos fracos? — Sophia olhou com dúvida o dedo de O’Blood.
— A princípio, por que ela tomou o reino e deu o controle dele a um humano? Por que ela atacou Eragon? Por que ela invocou um Espírito Ceifador apenas para roubar sua foice? Por que ela matou Rory e Kurone Nakano? — A vampira começou a fazer uma pergunta a cada uma pessoa ali, apontando o dedo fino para eles. — Azazel van Elsie está além da nossa compreensão, mas é um ser tão racional quanto nós.
— Se o que você diz for verdade, então teremos tempo o suficiente para treinar os mestiços! — Rhyan lançou um olhar animado para a marquesa Sophiette.
— Talvez, meu caro humano — O’Blood olhou pensativa para a janela. — Talvez eu tenha deixado algo passar, por que Azazel não nos atacaria por agora? O que ela estaria aguardando?… De qualquer forma, não baixem a guarda.
— Espera! — Sophia levantou a mão — E quanto à princesa Elisabella? Vamos deixar ela nas mãos daquela demônia por tanto tempo?!
O que mais corroía a marquesa por dentro era o fato de ter deixado a princesa ser raptada. Na primeira vez, mandou Raul para a capital e ele a sequestrou, na segunda, viu Azazel van Gyl a levando e não pôde fazer nada por conta de Noah, precisou escolher entre a garota que considerava uma filha ou a princesa do reino.
Salvar Elisabella Andeavor era questão de honra, não poderia deixar a garota ficar na mão de Elsie por um ano.
— É aí que entra o senhor humano Orcus, nosso espião. Nos infiltraremos na capital lentamente para tentarmos salvar a princesa e corromper algumas pessoas de lá — explicou a vampira apontando para o guarda no canto da sala que concordou balançando a cabeça.
— Preciso de um tempo para pensar antes de me posicionar, pode ser? — Eliezer olhou para as duas peças principais ali, Sophia e O’Blood, aguardando uma confirmação.
— Faça como quiser, terá o prazo de uma semana para nos dar sua decisão. Creio que é isso por enquanto, alguma dúvida?
Como ninguém se pronunciou, a vampira, Orcus e as duas demônias foram em direção à saída da sala. Apesar de dizer que teriam o prazo de um ano, ela colocou guardas nas estradas para Sophiette e constantemente ia lá para obter informações sobre a movimentação.
Era inacreditável a maneira como todos acreditavam nela, mesmo após se apresentar como A Condessa Hematófaga do Caos, bastou citar o nome de Kurone para as pessoas confiarem, como aquela pessoa tão poderosa podia dizer “tenho uma dívida com Kurone Nakano”? No entanto, Sophia não confiava nela e nem em Nakano.
No máximo, acreditava que Dora tinha boas intenções, mas poderia ser manipulada facilmente pelas duas. Era o mesmo para Orcus, o homem tinha o melhor dos propósitos, mas se aliou às pessoas erradas.
Em seguida, quem saiu foi um homem que representava os mestiços e metade do grupo de Sophia.
Todos ficaram surpresos quando aquele homem chegou nas terras de Sophiette dizendo: “Senhorita Brain, Kurone Nakano nos mandou para saldar sua dívida.” Por sorte, Amélia e Orcus os reconheceram e explicaram a situação deles.
Os mestiços ficaram admirados ao ver que o grupo de Kurone foi em Eragon e chegou ali mais rápido que eles, mas era tudo graças à Besta Negra, ela transportou os sobreviventes em suas costas na forma bestial. Engolir o Orbe Verde lhe deu muita mana, mas Sophia ficou irritada ao descobrir que ela era a ladra.
Após alguns minutos, ficaram apenas Sophia, Rhyan, Eliezer e…
— Continue fazendo um bom trabalho, marquesa Sophiette — disse Brain descruzando os braços com um sorriso. — Você também, senhor Gotjail. Se me dão licença, irei me juntar aos outros.
— Espere, — Sophia a chamou puxando algo da cintura — Edgar me contou que você quebrou a sua arma, então queria te dar isso. — A marquesa entregou o que parecia ser uma espada na bainha.
— Agradeço, mas não sou boa com lâminas.
— Não é uma espada, veja.
A arma desembainhada tinha uma longa corrente presa no guarda-mão semelhante ao de uma espada. Edgar contara que a antiga arma de Brain era um chicote, então ela poderia usar aquele Tesouro na batalha sem problemas.
— Pode parecer curto, mas a corrente aumenta de acordo com a quantidade de mana do usuário — explicou a marquesa enquanto entregava a arma.
— Dá para matar inimigos de longe com essa arma, que excitante… que-quero dizer, obrigado. — A empregada escondeu o rosto corado e aceitou o presente.
Aquilo não pagaria a dívida de Sophia com a mulher, era apenas um presente bobo se comparado à ajuda dada por ela — mesmo sendo por meio de ameaça.
Brain saiu da sala apreciando sua nova arma e cantarolando. Realmente, jamais entenderia os demônios, mesmo sendo seres tão cureis e terríveis, eles tinham sentimentos como os humanos… talvez não exatamente.
— É bom ver que fez amigos, minha sobrinha, agora você não tem mais medo de ficar sozinha nesta mansão enorme — comentou o tio, abrindo um sorriso. — Pensei que você fosse ficar isolada igual o seu pai, mas vejo que me enganei.
— Sim, tio Eliezer, ter amigos é melhor do que imaginei… eles me ajudaram muito.
— Tem até um rapaz bonito ao seu lado, talvez…
— Acho que está indo longe de mais, não?! — A garota atacou a cabeça do homem com um soco rápido, mas forte o suficiente para fazer ele grunhir.
Rhyan mostrou um sorriso amarelo e afastou-se para não acabar com um galo na cabeça como Eliezer.
— Enfim, na verdade, eu pensei o mesmo que a Marta e vim aqui decidido a ajudar, afinal você é minha sobrinha.
— Tem certeza que pode tomar uma decisão tão egoísta assim? Digo, o senhor está representando Nova Canaan…
— Ah, depois me resolvo com aqueles velhos!
Todos os Sophiette eram assim? Tomar escolhas como aquelas poderia prejudicar aos outros, Sophia sabia disso muito bem…
— Não, tio, vamos fazer do jeito certo. Eu quero uma reunião com os líderes de Nova Canaan, discutiremos os termos de guerra e se nenhum de nós sairá prejudicado. Eu não quero tomar mais decisões egoístas sem ver o impacto que isso vai causar.
— Nossa, minha sobrinha amadureceu mesmo. Como queira, mas eu vou ficar do seu lado na hora da reunião, e se não concordarem faço um barraco.
— Eu também vou falar com os aliados de Gotjail, não sei se vão me escutar, mas se eu usar o nome da minha avó no meio eles vão ficar intimidados — afirmou Rhyan.
Assim, a primeira reunião teve o seu fim com a confirmação do apoio da família Gotjail e o de Eliezer Sophiette.