Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 101.1: Aliados

Não sabia o motivo, mas a família Gotjail não gostava dos Sophiette. Havia membros que não ligavam para essa briga, como a mãe de Rhyan, Vilma Gotjail, porém também existiam outros que odiavam os Sophiette com todas as forças. Marta Gotjail, a avó de Rhyan, era uma dessas pessoas. 

Quanto a Eliezer, seu tio, ele era alguém que não se importava com rixas, porém não aceitaria ser xingado sem revidar. Por sorte, estava ao lado de Rhyan Gotjail, talvez ele pudesse convencer a avó a colaborar, no entanto…

— Só uma observação, minha avó me odeia — comentou o jovem ruivo.

O plano de Sophia foi por água abaixo antes mesmo que ela terminasse de cogitá-lo. Na verdade, devia ter pensado nisso, todo sabiam que Vilma Gotjail não podia ter filhos, logo, aquele jovem seria um filho ilegítimo ou algo do tipo de Kaith Gotjail.

— Se fosse a minha mãe, nós não teríamos problemas, mas aquela velha é cabeça dura. A propósito, para onde estamos indo? A mansão fica para o outro lado.

— Não podemos chegar lá despreparados. Muitos podem não perceber, mas, na verdade, estão se formando diversas facções aqui, cada uma com objetivos diferentes. Infelizmente, perdemos o Orcus para a facção de O’Blood Renfield e Nakano, precisamos formar nosso próprio grupo também, senhor Gotjail, ou perderemos o controle da situação.

Sophia tentava não fazer contato visual com as pessoas espalhadas pelo jardim, ela sentia-se desconfortável com os seus olhares brilhantes e os gritos como: “Vai, lá marquesa Sophiette, confiamos em você!”

Pensou que todos estavam lhe xingando ou decepcionados, porém, estavam aguardando o seu retorno. Nenhum deles sequer cogitou a ideia de que a marquesa Sophiette havia desistido da batalha por conta do próprio egoísmo.

— Então, estamos atrás de quem? — Rhyan perguntou olhando para as diversas pessoas do jardim. Ali estava boa parte dos moradores de Grain e Fallen, os poucos que foram salvos de Eragon estavam sendo cuidados por Nui no subsolo.

— Pessoas como nós, senhor Gotjail. Pessoas que ainda desejam lutar mesmo após uma derrota humilhante. Quer dizer, estou falando por mim, não sei exatamente o que aconteceu com você, mas costumo julgar as pessoas pelos seus olhos. Seus olhos são os de alguém que perdeu algo muito importante.

O jovem tremeu o corpo ao escutar as palavras da marquesa. Normalmente, os chutes de Sophia nunca erravam, por isso nunca confiou em Edward, ele tinha os olhos de um pervertido. A única pessoa que jamais conseguiu decifrar foi Kurone, que mantinha os olhos ocultos pela franja.

— Eu deixei a minha escrava ser sequestrada por alguém que eu confiava e decepcionei o meu chefe — falou rapidamente e virou o rosto corado. Sua voz era tão baixa que apenas alguém bem próximo conseguiria escutar. 

— Mas você não me decepcionou, Rhyan Gotjail. Na verdade, eu que o decepcionei por ter confiado na Kawaii e não em você.

O jovem virou o rosto em direção à origem da voz e viu um homem enorme com diversas ataduras espalhadas pelo corpo. O sujeito mantinha uma expressão imponente no rosto mesmo naquele estado.

Rhyan arregalou os olhos ao notar que no local onde ficava o braço direito, não havia nada mais que um cotoco enfaixado. 

A marquesa Sophiette conhecia pouco sobre Eragon, porém Rhyan Gotjail, o “herói de Eragon”, e aquele homem enorme, o reitor, eram figuras populares no Continente Ocidental. Ambos trabalhavam em um instituto com crianças especiais, mas todas as crianças daquele lugar foram raptadas na batalha, provavelmente a escrava que o jovem perdeu foi levada por engano.

Mesmo sendo duas figuras com uma fama tão grande quanto o próprio poder, eles chegaram na mansão Sophiette mais depressivos do que Sophia há alguns minutos. De fato, a batalha em Eragon destruiu o espírito de todos os que sobreviveram.

Porém, para aqueles que tinham a alma de um verdadeiro guerreiro, aquilo era uma fase breve que precisavam superar, ainda fazia parte da batalha. A depressão, assim como a morte, e os guerreiros sempre andavam lado a lado.

Feridas desapareciam, mas as cicatrizes ficavam para lembrar aos guerreiros suas duras campanhas no campo de batalha, no entanto, Sophia tinha a mania de sempre mexer em seus ferimentos, de modo que eles nunca se cicatrizavam, essa era a diferença dela para pessoas como Orcus.

— Estávamos esperando a senhorita — comentou a garota ao lado do homem enorme, aquela ali era outro exemplo de bravura e superação.

Bastou Sophia ver um pouco de interação entre eles para saber que tipo de sentimentos aquela garota, Amélia, nutria por Kurone. Não conseguia imaginar a dor que ela sentiu ao ver alguém tão especial morrendo. A marquesa não sabia o que faria se tivesse perdido Noah naquela luta no castelo.

Ao lado da cocheira, estava alguém que não simpatizava, o ex-Santo Àvios Bishop, porém Sophia tivera o título de “Santa da Espada” e se sentiu infeliz quando o perdeu por ser muito covarde.

Por último, lá estavam o antigo mordomo da mansão Soul Za e a mestra de guilda de Grain. Edgar e Linda guardavam muitos segredos entre si, mas ela não queria saber do que se tratavam, os olhos deles eram de pessoas confiáveis. 

Sophia não viu o fim da batalha do mordomo contra o demônio que se alegava ser o seu irmão, porém, por mais que tivesse retornado vivo, Edgar tinha uma expressão tão depressiva quanto o resto dos guerreiros.

A única que conseguia mascarar suas emoções era aquela aventureira rank B sentada ao lado da fogueira. Apesar de não demonstrar, tudo o que Ana queria era proteger seus amigos e seu lar. A marquesa viu o ódio da bruxa quando ela soube que Grain fora tomada pelo novo governo de Andeavor.

— Parece que nem precisamos procurar muito por eles — disse Rhyan olhando para o grupo ao redor de Sophia.

— Na verdade, nós estávamos procurando pela marquesa e acabamos nos encontrando ali — explicou Edgar.

— Nossa, você é mesmo aquele desgraçado que nós conhecemos em Eragon? — Amélia perguntou surpresa ao ver o estado de Rhyan.

Pelo que ouviu, Rhyan Gotjail era um dos maiores narcisista do Continente Ocidental, sempre enfatizava a palavra “eu” em seus diálogos. Sophia duvidou desses rumores quando viu aquele jovem de espírito tão derrotado.

— Pelo jeito, você não é das maiores fãs do senhor Rhyan, Amélia. Aconteceu algo entre vocês em Eragon?

— Nada de mais, o Kurone quebrou a cara dele porque ele atirou em uma garotinha e me insultou — ela explicou lançando um olhar afiado para o jovem.

A marquesa ficou surpresa com a história, talvez os rumores não fossem mentira e aquele Rhyan ali era mesmo um fruto da batalha, o seu antigo espírito provavelmente fora destruído quando perder a sua escrava. Sophia retomou o foco da conversa dizendo: “Bem, passado fica no passado”.

— Creio que todos que estão aqui querem lutar, certo? — começou elevando a voz — Não posso garantir nossa vitória, mas lhes darei a minha liderança, têm certeza querem confiar em uma espada tão covarde?

— A marquesa tem a minha velha espada e o meu pouco conhecimento de batalha — disse Edgar levantando a mão com ataduras.

— Não sou combatente, mas consigo conduzir a carruagem como ninguém! — afirmou Amélia pondo seu chapéu com pena na cabeça.

— Tem a minha força, marquesa Sophiette! — bravejou o reitor.

Um por um, todos juraram lealdade a Sophia. Não era o grupo mais forte, mas a marquesa podia confiar em todos que estavam ali. 

— Se estão todos comigo, então é hora de irmos. Vamos nos encontrar com Marta Gotjail e Eliezer Sophiette, se eles não quiserem nos ajudar na guerra… que se ferrem! Nós lutaremos com ou sem apoio exterior.

Tsc, eu já conversei com a Marta Gotjail, ela provavelmente está espumando de raiva por dividir a mesma sala que um demônio — comentou Àvios Bishop olhando para a mansão.

Mesmo naquela distância, ainda podiam sentir a presença sufocante de O’Blood Renfield e Nakano, porém não sentia aquela mesma opressão de quando estava isolada no quarto em que Noah dormia profundamente.

Não sabia se conseguiria olhar para os olhos de pessoas tão poderosas quanto aquelas na sala de reunião da mansão, mas não recuaria dessa vez, afinal estava ao lado de pessoas ainda mais fortes, mesmo não sendo fisicamente.



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