Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 94: O Sigilo De Azrael

O círculo mágico criado por Azrael no chão tinha uma enorme estrela de Davi branca no centro. Nas bordas, haviam carácteres em um idioma que Kurone não conhecia. O desenho era perfeito, afinal não foi feito por ninguém, o anjo caído estalou os dedos e o círculo apareceu.

O jovem afastou-se e começou a assistir às preparações para o ritual de longe. Ele estava ao lado de Katherine, pronto para segurá-la caso algo ruim acontecesse com Ryuu.

 

O círculo mágico criado por Azrael era totalmente simétrico, afinal ele não desenhou, apenas estendeu a mão para o vão daquela sala e ele apareceu, porém, sua aparência era a de um círculo desenhado a giz.

Cinco cruzes estavam espalhadas de maneira desordenada no interior disco, no centro havia glifos indecifráveis para Kurone, mas ele reconheceu o número 2 e o 8 ali, também ponderou a possibilidade de que um dos símbolos poderia ser o “Ri” do hiragana, mas concluiu que não era possível.

Em uma das extremidades, tinha uma palavra como “AZRAEL”, mas Kurone estava distante do local, então não podia ter certeza de que era realmente isso. Ao lado do jovem, encontrava-se a aflita Katherine, olhando atentamente para o círculo mágico

— Aproximai-vos e morrerão — advertiu o anjo caído. — Este “círculo mágico” é o meu Sigilo, ele tomará toda e qualquer mana do ser que aproximar-se.

— Então isso é um Sigilo de verdade… — murmurou Katherine. A voz chorosa da garota quase não saia e os ombros estavam tensos, toda a sua atenção era voltada para Ryuu, que se recusava a olhar para trás.

Kurone matinha-se indiferente naquela situação, quase não falando nada, mas, no fundo, admirava aquele homem pela sua coragem. Estavam fazendo aquilo por Rory, até mesmo Katherine continha as lágrimas para não fazer Ryuu sentir-se culpado e prosseguir com o ritual. Tudo era pela loli arrogante.

O homem de uniforme militar andou mais alguns passou e parou no centro do “Sigilo” de Azrael. O anjo caído começou a entoar:

— Pela autoridade presente em meu sangue divino, como descendente da Deusa da Lua, eu ordeno, distorça as dimensões, quebre as leis da natureza e concretize o desejo imbuído neste Sigilo…

Começou. Partículas azuladas vindas do círculo mágico tomaram conta do ar e crepitaram como brasas. O próprio Azrael afastou-se do local, batendo suas grandes asas negras, era a primeira vez que ele as usava. Realmente, sua aparência demoníaca lhe dava o ar de um verdadeiro “anjo caído”.

— AAAARGH! — o grito de Ryuu fez o jovem voltar a atenção para o ritual, pois estava distraído com os dois pares de asas do ser. — Porra!!! 

Luzes azuis também começara a se desprender do corpo forte do homem. Para quem estava distante, aquilo parecia algo inofensivo, mas os gritos dele diziam o oposto. Katherine arregalou os olhos e tentou parar as pernas trêmulas, ela podia desmaiar a qualquer momento.

A garota enfim notou que as partículas azuladas saindo do companheiro eram pedaços do seu ser. Azrael avisou, ele estava sacrificando sua mana para conseguir a chave, ou seja, sua existência.

Kurone parou a tentativa de segurar a garota prestes a desmaiar. Ambos voltaram a atenção para a entrada do andar. Repentinamente, o som de passos rápidos invadiu o local. Um homem corria rapidamente em direção ao grupo.

Os Ceifadores fizeram menção de matá-lo, mas o anjo caído os impediu com um gesto de mão. Ele ficou parado, encarando o invasor aproximando-se com velocidade. 

— Drogaaa! — gritou o invasor, passando por Kurone e Katherine e saltando no Sigilo criado por Azrael. 

— Não! — berrou o jovem ao perceber que o “invasor” era o supervisor.

O rosto do homem estava coberto de sangue, assim como o de Ryuu, mostrando que ele teve uma luta dura contra os Ceifadores até chegar ali. Pelas ações, o garoto diria que o supervisor estava escondido ali há algum tempo, escutando as conversas e aguardando os desdobramentos dos acontecimentos, por isso já sabia o que fazer.

— O-o que você tá fazendo!? — perguntou Ryuu com dificuldade. A voz quase não saia e era obrigado a ficar de joelhos, pois o corpo não suportava mais o próprio peso.

— E-eu fui o único covarde entre todos… abandonei aquela garotinha e fugi… nada mais justo que ajudar dessa vez! — afirmou o supervisor. Ele também ficou de joelhos, pois sua mana aparentava ser mais fraca que a do outro.

Kurone ficou paralisado, apenas escutando as palavras do homem. Já suspeitava daquilo. Assim que Rory morria, ela retornava com outro Lolicon Slayer, então, para aquele homem estar vivo na mesma era que o jovem, ele teria que ter abandonado a garotinha e fugido do local, deixando-a morrer sozinha.

Aquele rosto, liberando partículas azuladas, era o de alguém arrependido. Não tinha como odiá-lo, por mais que tivesse deixado Rory morrer sozinha, ele sofrera o suficiente por todos aqueles anos, arrependido de suas escolhas, Kurone podia sentir isso, afinal todos os Lolicons Slayers carregavam um fardo, e não era matar nobres, mas sim proteger a garotinha.

— Ryuu! — Katherine gritou indo em direção ao companheiro, ela tropeçou e caiu nos braços dele ao chegar no círculo mágico.

A garoto derramou uma torrente de lágrimas ao sentir o calor do homem desaparecendo lentamente, a dor de perdê-lo era muito maior que aquela causada pela perda de mana.

Kurone também andou alguns passos, indo em direção ao Sigilo de Azrael, mas parou ao sentir uma mão em seu ombro. Ele virou a cabeça e viu dois rostos desconhecidos. Um deles era um jovem loiro de olhos verdes brilhantes e o outro rosto pertencia a uma garota bonita de cachos negros.

— Não precisa fazer isso, nós somos os companheiros com mais mana que a Astarote já teve… quer dizer, a Rory — disse o garoto loiro em um sorriso confiante.

— Minha Arma Lendária era uma metralhadora, eu conseguia atirar duzentas balas sem cansar, com certeza vou dar conta disso — afirmou a menina de cachos negros e pele bronzeada. 

A dupla andou tranquilamente até onde Ryuu e os outros tinham a mana drenada pelo círculo mágico.

— Aí, — o loiro parou e voltou-se para Kurone — se um dia você encontrar uma garota chamada Azazel van Brain, diz pra ela que eu ainda sou amarradão naqueles olhos afiados — ele completou corado e, em seguida, acompanhou a menina.

Os cinco Lolicons Slayers abraçaram-se e olharam uma última vez para o garoto, eles engoliram a dor e formaram um sorriso sincero no rosto, como sinal para que ele não se preocupasse. O supervisor acenou para o garoto com a mão transparente, era a primeira vez que Kurone o via sorrir. 

— Cuide bem dessa coisa… — o supervisor apontou para a escopeta do garoto — cuide bem daquela outra coisa… — fez um gesto no rosto, referenciando aquela máscara que lhe dera — e, por último, cuide bem da garotinha, diga a ela que sinto muito — concluiu fechando os olhos. Ele havia confiado tudo que tinha àquele jovem.

O menino não respondeu, apenas observou a cena em silêncio, com os olhos ocultos pela franja marejados. Internamente, despedia-se dos seus antecessores, prometendo que não deixaria que suas mortes fossem em vão.

Uma por uma, as figuras no centro do Sigilo de Azrael foram tornando-se cada vez mais transparentes, até desaparecerem pelo ar como partículas azuladas. O local ficou escuro novamente quando a última pessoa, o garoto loiro, desapareceu.

Todas as partículas unificaram-se em uma única esfera azulada minúscula que Azrael pegou em mãos e absorveu, a pequena esfera deu lugar a uma chave dourada com pouco mais de cinco centímetros. 

— Conseguiram… — comentou o anjo caído um pouco impressionado. Teria a até mesmo ele ficado comovido com a cena? — Aqui, ela é tua — disse indo em direção ao chão e entregando o objeto ao garoto.

Kurone pegou a chave com as mãos trêmulas, ainda estava mal por conta do que acabara de acontecer, mas se esforçou para continuar forte. Ali não era o fim, mas sim o remoço. Agora precisava realizar os desejos daquelas pessoas que morreram em sua frente.

Assim que pegou o objeto, sentiu um leve choque e arregalou os olhos ao perceber que a chave havia desaparecido.

— Podes ficar calmo, a chave ainda está contigo. Vês a diferença entre nós? Eu não sou digno de portar esta chave, já tu… — explicou Azrael indo em direção ao seu trono novamente.

O jovem fechou os olhos e concentrou-se, ele sabia onde a chave estava, ela era como a Boito .20 que tinha em mãos, estava no local que apelidou de “Inventário Interno”, no interior de sua mente.

— Eu não consigo pegar — comentou ao perceber a impossibilidade de pegar a chave assim como fazia com a arma.

— Nem precisas, podes ir em direção à porta, a pessoa que te convocou o aguarda — Azrael falou calmamente enquanto sentava em seu trono.

O garoto cerrou os punhos e caminhou lentamente ao local indicado. O piso estava silencioso e seus passos ecoavam pelas paredes cavernosas. Os Ceifadores o encaravam com extremo respeito, saindo da sua frente quando se aproximava.

O portão para chegar ao centésimo andar era imenso, com glifos estranhos e algumas imagens bizarras esculpidas. Não pensou duas vezes, apenas pôs a mão na maçaneta e o portão abriu-se automaticamente, provocando um som semelhante ao ribombar de um trovão.

À sua frente, estava um corredor escuro. Da sua posição, não podia avistar o fim, mas sentia o “chamado” ainda mais forte que antes. Ele olhou para trás antes de pôr o pé no corredor.

— Não te preocupes, nos veremos novamente, afinal tu és o meu querido Vassalo da Morte — Azrael comentou fechando os olhos, sinalizando que não tinha mais nada a dizer.

O garoto também nada disse e tocou o primeiro pé no local. Ao se certificar que era seguro, começou a andar com mais tranquilidade.

Kurone só percebeu o significado daquelas palavras ao entrar no corredor. Havia uma tatuagem roxa brilhando em seu peito, no local onde aquele ser tocara com a unha afiada. Era uma tatuagem do Sigilo de Azrael. O jovem ponderou voltar, mas quando virou a cabeça, escutou o barulho ensurdecedor do portão fechando. Naquela pequena fresta, antes que os dois pisos fossem separados completamente, viu o sorriso maligno do Suserano da Morte em seu trono de pedra.



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