Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 93: O Primeiro E O Último Lolicon Slayer

— É melhor começar a explicar, já tô sem saco pra essas charadas de vocês, caralho — Kurone disse irritado enquanto apontava a escopeta para a cabeça de Azrael. O dedo prestes a pressionar o gatilho mostrava que não estava blefando.

Desde que teve a vida ceifada por Azazel van Elsie, esteve apenas acompanhando o fluxo dos acontecimentos, viu um passado que não queria relembrar e agiu naturalmente diante dos estranhos que carregavam o mesmo fardo, no entanto cansou ao escutar as palavras incompreensíveis do autoproclamado “Suserano da Morte”.

— Não sentes alegria? Tu és abençoado pela minha graça, és meu fiel subordinado, estive contigo desde o teu nascimento — Azrael continuou em seu tom calmo. — Qual outro título poderia atribuir a ti se não Vassalo da Morte?

— Eu nunca vi essa sua cara feia antes, tá achando que é quem?! — gritou fazendo menção de apertar o gatilho. Ignorou aquele medo inicial e substituiu o sentimento por ódio. 

Azrael não se intimidou com o garoto irritado e aproximou mais dois passos, fazendo barulho ao bater as grandes asas negras. Quando Kurone tentou recuar, sentiu a dor do corte nas costas e quase gritou.

— As emoções negativas tomaram conta da tua cabeça — falou olhando fixamente para o garoto. As pupilas brancas em meio à escuridão foram de encontro aos olhos ocultos pela franja do jovem. — Podes não lembrar, mas tu sabes… no fundo, sabes que sempre esteve andando com a fragrância da morte… Quantos morreram para que tu pudesses viver mais um dia? 

— Não faço ideia do que tá falando, mas não tenho tempo para isso de qualquer forma. Faça os Ceifadores voltarem, eles vão matar meus amigos! — exclamou apontando para o portão. Por um segundo, esqueceu que Ryuu, Katherine e os outros serviram de isca para chegar até ali. Patético! Eles poderiam estar mortos a essa altura.

— Eles não os matarão, afinal, sem a “Falx do Ceifador”, nenhum deles têm o poder de apagar uma alma… tu conheces o poder daquela arma, não? — Ele fez uma pausa sugestiva e inclinou a cabeça para os espectros flutuando, lembrando a Kurone os cortes dolorosos causados a Rory pela foice de Azazel.

— Quem me convocou até esse lugar? — perguntou um pouco mais calmo, mas sem baixar a espingarda de cano cerrado. Pelo menos, poderia dialogar para obter informações, isso, claro, se não deixasse a raiva o dominar.

O que mais o irritava naquele ser era a maneira como falava, nunca se viram antes, porém ele usava um tom casual, quase paterno com o jovem. E mesmo nunca vendo ele antes… aquela voz lhe era familiar.

— Se te disser que fui eu?

— É mentira, eu posso sentir o “chamado” vindo de outro lugar — Kurone falou olhando para um portão no fundo da sala. — Você disse que esse é o andar noventa e nove, não é? Então…

— Haha, como esperado, você é muito inteligente… De fato, existe outro andar além desse, o centésimo piso do Hangar dos Mortos é o motivo pelo qual o próprio Hangar foi construído. — O ser fez uma pausa dramática e olhou para o mesmo local que Kurone. — É como tu suspeitas, o ser que te convocou está lá e eu tenho a chave para abrir aquele portão, contudo…

Azrael fez outra pausa e, antes que Kurone pudesse perceber, o anjo caído já estava em sua frente, com pouco mais de 1 cm de distância entre as faces. O jovem foi obrigado a encarar aqueles olhos demoníacos, porém também não ficou intimidado.

Podia não ter mais suas antigas habilidades, mas enquanto tivesse a Boito .20 em mãos, lutaria até o fim. Ele cerrou os olhos e falou lentamente:

— Eu vou pegar a chave, nem que eu tenha que enfrentar você. — Enfim descobriu o porquê de odiar tanto aquele ser. Azrael tinha as ações de Elsie, o tom semelhante ao de Edward e os olhos de Annie, ou seja, portava três das coisas que Kurone mais odiava naquele mundo.

— Claro, — começou quase tocando os lábios aos do jovem — é por isso que estou aqui, aguardei por todo esse tempo dia em que alguém surgiria para acabar com tudo isso. Existe apenas uma condição… Sua alma — concluiu colocando o dedo com uma unha negra afiada no peito do jovem, o local sangrou, pois era exatamente onde havia o coração roubado por Azazel.

Kurone engoliu seco, recuando alguns passos, porém foi seguido por Azrael. 

— Então era uma aberração dessas que vivia aqui, — uma voz rude reverberou pelo local, chamando a atenção tanto da dupla quanto dos Ceifadores — tsc, e eu achando que era um demônio fodão ou algo assim.

Um homem adentrou o local, o uniforme militar e o rosto estavam repletos de sangue, porém ele matinha um sorriso satisfeito no rosto corado pela adrenalina.

— Bem que você falou, garoto, essas coisas não são tão fortes assim, haha! — Ryuu bravejou olhando com desprezo para os Ceifadores. — Foi mal, mas eu não vou deixar você levar a alma do garoto Kurone.

— Correção, nós não vamos — completou Katherine, as mãos delicadas da garota estavam direcionadas para Azrael, prontas para lançar uma magia poderosa a qualquer momento.

— Senhor Ryuu, é perigoso…

— Bobagem, eu já falei: vivo ou morto, nenhum Lolicon Slayer fica pra trás. Prometi à loli que ia proteger vocês, então pode esquecer a história de vender sua alma pra essa coisa — disse voltando um olhar hostil ao anjo caído.

O clima da sala mudou rapidamente com a chegada de Ryuu, o homem possuía uma aura de delinquente semelhante àquela de Rory. Pessoas portadoras daquela aura desprezavam o inimigo por mais forte que ele fosse. “Por isso ela se machucou…”, pensou apertando os punhos.

— Eu não pretendia vender a alma pra ele de qualquer maneira — Kurone começou apontando a escopeta para Azrael novamente. — Se você tem a chave, então só preciso te matar e pegar ela, simples, não? 

— Irá me matar? Assim como fez com todos que estavam ao seu redor? — comentou em tom provocativo. — Mesmo se conseguir tal feito, não terás a chave. Como eu disse, — prosseguiu indo em direção ao seu trono de pedra — sou seu aliado, não pretendo te prejudicar. Não preciso exatamente da tua alma, apenas da mana. És um ser que nasceu com uma quantidade ilimitada de mana…

“Então é isso que vocês querem?” Cecily, Annie, a Besta Negra, e, agora, Azrael, todos buscavam o dom incomum do jovem.  — O que vai acontecer se eu te entregar minha mana? — perguntou com um tom que tentava esconder a raiva aflorando lentamente em seu interior.

— Sua mana será minha e terei poder suficiente para invocar a chave que tu necessitas para atravessar o portão — explicou apontando mais uma vez para o local mencionado. — No entanto, caso consiga retornar ao mundo dos vivos, não terás mais a capacidade de utilizar mana.

— Não vai rolar, — respondeu sem hesitar — a minha mana já pertence a umas lolis aí, então preciso dela — terminou em tom brincalhão. 

Azrael ficou pensativo por alguns minutos, olhando fixamente para o garoto à sua frente. O silêncio foi quebrado pela voz ensurdecedora de Ryuu. O grito repentino fez todos saltarem assustados. O homem começou:

— Se o problema é mana, então eu posso dar um jeito nisso.

— Ryuu, no que você está pensando, você está com cara de quem vai fazer besteira — Katherine disse preocupada.

Desde a primeira vez que os viu, Kurone percebeu que a garota considerava Ryuu como um irmão, mesmo ele sendo rude e tendo um ar de delinquente. O jovem podia dizer isso apenas olhando a interação deles por alguns segundos, afinal ele e Rory também tinham uma relação semelhante.

— Sinto-me obrigado a explicar algo, — começou Azrael — existe uma grande diferença entre o senhor e meu querido vassalo, creio que já devem ter percebido que ele está vivo, diferente de vocês, oferecer sua mana significa oferecer aquilo que mantém sua existência neste plano…

— Não! — gritou Katherine. — Eu não vou deixar você fazer isso, nem sabemos se podemos confiar nessa coisa… Não vale a pena! Nós podemos chamar o Marcell… ele pode…

A garota voltou um olhar choroso para Kurone, buscando apoio dele para fazer Ryuu mudar de ideia, porém o menino nada fez, apenas olhou com hostilidade para Azrael.

— Se há algo que sobrou em mim após minha queda, foi a honestidade, dou a minha palavra que falo a verdade. Pensas mesmo que se eu tivesse a oportunidade de ter a chave em minhas mãos, já não teria feito isso? — explicou o anjo caído pondo a mão no peito.

— Então, — Ryuu tomou a palavra — eu vou fazer isso, mas, garoto, por favor, cumpra sua promessa. Diga àquela loli arrogante que eu mandei um abraço, é a única coisa que peço.

— Tem a minha palavra — Kurone afirmou em tom firme. Conhecia aquele brilho nos olhos de Ryuu, afinal também era um Lolicon Slayer que jurou proteger a garotinha com o fuzil. Se houvesse uma oportunidade de ajudar Rory mesmo após a morte, faria o que quer que fosse, ele imaginou que isso estaria se passando na cabeça do homem.

— Então começaremos, — disse Azrael — mas saiba que se tua mana não for suficiente, tu morreras em vão.

— Não seja idiota, coisa feia, estamos sempre prontos para morrer em nosso trabalho, não é, garoto!? — ele bravejou olhando para Kurone, — Bora fazer isso logo… Desculpa aí, Katherine, mas é pela Luminus.

— Não é justo… — ela falou com a voz chorosa — não é justo, eu sei que isso vai salvar a Lux, mas não quero deixar você se sacrificar para isso.

— Eu vou ficar bem, mas me prometa que você vai cuidar dos outros, apesar de que nenhum outro Lolicon Slayer vai morrer mais — lançou um olhar de expectativa para o garoto antes de concluir: — Lembrem-se bem dessas palavras, pois podem ser as minhas últimas: Kurone Nakano será o último Lolicon Slayer e será lembrado como o homem que salvou aquela loli arrogante, eu, o primeiro Lolicon Slayer, afirmo isso aqui!



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