Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 83: Família Nakano

A dor de pouco tempo atrás desapareceu e tudo que Kurone sentia era o frio do local onde estava. Onde exatamente? Na tênue linha que separava a vida da morte? Ele não sabia, mas esse era seu palpite.

Sabia que antes de deixar realmente o mundo, sua alma passava pelo que chamavam de "purgatório". A mente não ia antes de relembrar todos os seus arrependimentos e torturar o espírito com memórias que deveriam ficar para trás assim que cessasse a respiração. Na primeira vez, Kurone lembrou das irmãs e de sua promessa de nunca deixá-las só, pensou nisso até abrir os olhos e encontrar Cecily.

O que seria dessa vez? Veria os últimos momentos com Rory e lamentaria por sua impotência? As vozes que reverberavam em sua cabeça o provocariam por ser um louco fraco que deixava as irmãs morrerem? 

De qualquer forma, estava preparado para a torrente de pensamentos infernais…


Havia um motivo para o sobrenome Nakano ser conhecido no Japão. O pai de Kurone era um homem poderoso, tinha tanto dinheiro quanto mulheres. Na verdade, todos na família eram assim.

O tio do jovem se envolveu com uma mulher casada e teve que passar dois anos escondido na Itália, quando retornou estava casado com uma linda mulher de cabelos loiros e era pai de uma garotinha, Luna Nakano.

Diferente do irmão, o pai de Kurone era um homem mais perigoso, se fosse ele naquela situação, teria mandado matar o esposo e casado com a viúva. Ele conheceu a mãe de Kurone quando ambos eram jovens, de acordo com a mãe, foi amor à primeira vista.

No entanto, esse amor foi impedido pelos pais da mulher. Eles conheciam a fama dos Nakano e não gostariam que sua filha se envolvesse com eles, mas foi inútil. Após uma discussão, a mãe de Kurone foi expulsa e deserdada. Porém, ela estava feliz, afinal o homem pelo qual se apaixonou sempre estaria ao seu lado… essa felicidade durou dois meses.

Quando a mulher engravidou, o senhor Nakano disse que precisava fazer uma viagem e desapareceu por nove anos, quando retornou, estava ao lado de uma mulher estranha e uma garota de quinze anos.

— Poderia me fazer o favor de cuidar dela? — ele disse. — Não se preocupe, o dinheiro que eu mando todo mês para você será dobrado. 

A mãe de Kurone simplesmente concordou. Por que não concordaria? Durante nove anos, só sobreviveu por conta do dinheiro enviado todo mês para sua conta. Ela tinha um filho, Kurone Nakano, precisava do dinheiro para cuidar dele.

— Onde está o Kurone? 

— Vendo animes no quarto.

— Diga a ele que eu mandei um abraço.

— E-espera, não vai até lá?

— Estou sem tempo, talvez na próxima vez.

Após aquele dia, o senhor Nakano desapareceu por algumas semanas, porém a garota deixada para trás não chegou a perguntar nenhuma vez sobre ele. Era uma menina calma, com longos cabelos negros e olhos sombrios, quase não falava, ela tinha quinze anos e seu nome era Teruhashi Nakano.

A casa de Kurone e sua mãe era simples, tinha apenas dois andares e dois quartos, então Teruhashi precisou dividir o quarto com o garoto. Nos primeiros dias, ela não falava nada, chegava da escola, jantava e dormia para repetir o mesmo ciclo no dia seguinte. Porém, isso mudou em um domingo ensolarado.

— Hã? Você também gosta desse mangá? Posso te emprestar se você quiser — disse o garoto. — Meu pai me deu na última visita… quer dizer, o nosso pai.

Naquela época, Kurone era uma criança de cabelos curtos e pele mais clara que atualmente. Tinha grandes olhos brilhantes e sempre estava com um longo sorriso estampado no rosto.

— S-se não for muito incômodo, e-eu aceito… — falou Teruhashi com o rosto corado. Pela maneira de falar, estava claro que ela não era habituada a falar com outras pessoas.

As poucas palavras que trocavam durante o dia foram aumentando conforme o tempo passava, normalmente conversavam sobre mangás ou animes, mas em determinado momento a garota começou a contar sobre seu dia na escola e a perguntar como havia sido o do irmão.

Um dia saíram para fazer compras juntos, o corpo magro e branco de Teruhashi era sensível à luz do sol, por isso vestia roupas longas quando saía de casa. Kurone usava uma camisa com seu personagem favorito estampado e um short marrom. A conversa sobre qual a garota mágica mais forte foi interrompida por duas garotas.

— Olha só, a morta-viva também saí de casa, nossa, achávamos que você só ia para a escola porque era obrigada.

— O que é isso? Não me diga que você é uma daquelas shotacon. Há! As quietinhas sempre são as mais esquisitas.

Sem motivo, as garotas que aparentemente eram colegas de Teruhashi começaram a provocá-la na rua. A menina não respondeu, apenas segurou firme a mão de Kurone, que por sua vez rugiu:

— Já deu hora de vocês irem se vender por aí, não?

— Quê?!

— Eu me enganei? Não é por isso que vocês andam com essas roupas coladas mostrando a bunda? — comentou em tom de provocação. Talvez nem soubesse exatamente o que estava falando, mas viu aquilo funcionando em um mangá.

— Escuta aqui, moleque…

— Deixa o Kurone em paz — bravejou Teruhashi finalmente. A garota colocou-se entre o menino e as duas colegas, uma delas tremeu repentinamente ao ver uma faca na mão da garota.

— Eh… Só estávamos brincando, n-não é?

— Sim, sim. Olha só, foi mal, nós já estamos indo.

Rapidamente, as duas garotas desapareceram. Teruhashi suspirou profundamente e guardou a faca que deviam levar ao amolador.

— Pfff…. Hahahaha! — A garota caiu na risada ao perceber o que havia feito.

— Elas ficaram com muito medo mesmo… hahaha — Kurone também começou a rir.

— Não conta isso para a sua mãe, ok?

— Tá! Vamos logo antes que o amolador e o supermercado fechem.

Após aquele dia, houve outras vezes que os dois saíram. As visitas do senhor Nakano também aumentaram, no entanto ele sempre aparecia quando os dois filhos estavam dormindo. Um dia, Kurone acordou com a notícia de que sua mãe estava grávida. O pai nunca mais foi fazer visitas, mas aumentou outra vez o valor mensal enviado para a mulher. 

Durante a gestação, o garoto ficou responsável pela limpeza da casa e a garota pela comida. Não faziam nada da maneira certa, mas a mãe sempre se divertia ao ver o arroz queimado ou uma montanha de lixo embaixo do tapete. 

— O nome dela será Eriko, Eriko Nakano — a mãe respondeu quando Kurone perguntou qual seria o nome da sua nova irmã.

— Kurone, não vá se esquecer de mim quando ela nascer — comentou Teruhashi inflando as bochechas.

A garota estava com um rosto mais vívido se comparado ao de quando chegou, havia ganhado um pouco mais de massa e normalmente estava sorrindo. O pai era um assunto que tocavam raramente, afinal mal lembravam do rosto dele.

Sabiam que da próxima vez que vissem o senhor Nakano, provavelmente ele traria outro irmão ou irmã para a mulher cuidar.

No fim, passou-se um ano e raramente o homem visitou os filhos nesse tempo. Eles ouviam boatos ou algumas reportagens sobre ele, mas quase nunca prestavam atenção nisso, até…

— Ei, Kurone, não é o nosso pai na televisão?! — gritou Teruhashi.

A foto do homem estava estampada em um pequeno quadro, ao lado da apresentadora, e legendas em kanjis ilegíveis para o garoto.

— Mãe, aumenta o volume!

…Nakano foi roubado por sua companheira, a qual era casado por três anos. A mulher sacou 87% do valor na conta e fugiu do país, deixando a empresa em uma enorme crise e o senhor Nakano com uma filha de 3 anos. Agora, estamos aqui na empresa administrada pelo senhor Nakano, onde falaremos com um de seus funcionários…

A notícia parecia ser algo exatamente sério, porém eles ignoraram aquilo como faziam com todo o resto relacionado ao homem. Kurone voltou a ler seu mangá e Teruhashi foi cozinhar. A nova irmã deles, Eriko Nakano, havia nascido há alguns meses e a mãe estava focada em cuidar dela.

O garoto ia para cama quando escutou alguém tocando a campainha. Ele correu e atendeu rapidamente.

— Hã? — suspirou surpreso ao ver o homem do outro lado.

O visitante usava um chapéu negro que ocultava o rosto e um terno de mesma cor. Uma barba mal-feita crescia no texto e ele carregava uma garotinha dormindo agarrada em seu ombro.

— Olá, Kurone, sua mãe está?

— P-pai!? — Kurone raramente via seu pai, nem lembrava do rosto dele, mas aquele sentia que aquele homem era ele por algum motivo. — O que tá fazendo aqui?

— Vou voltar a morar com vocês, dessa vez não vou mais embora — disse em tom baixo para não acordar a garotinha em seu ombro.



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