Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 79: Eu Avisei

Kurone ficou sem palavras e caiu de joelhos, sentia a dor queimando seu peito lentamente e o sangue vazava da boca em abundância, no entanto ainda estava vivo.

— Desculpa, é um mau hábito meu, nunca deixo o meu oponente morrer sem sofrer um pouco, mas não sou um monstro, não, não. Você pode escolher.

— Hã…?

— Enquanto estiver parado, estará vivo, mas se tentar se mover, você vai morrer da maneira mais dolorosa possível. A escolha é sua, viu como sou boazinha?

O jovem olhou com desespero. O que era aquilo? Como um ser podia ser tão forte? Ninguém poderia derrotá-la? 

— Não fique triste, nem mesmo aquele homem grandão e a Reencarnação de Astarte conseguiram me derrotar, e olha que eles são fortes — a demônia disse enquanto sacudia as mãos ainda manchadas de sangue. — Na verdade, meu único objetivo era conseguir essa arma — ela apontou para a foice —, no entanto, a garotinha ficou no meu caminho. Claro, também fiquei irritada e assustada quando você matou meu novo bichinho, sabe o trabalho que tive para invocá-lo?

Azazel falava andando de um lado para o outro e gesticulando de maneira exagerada. O tom de voz permaneceu sádico e obsceno, Kurone sentiu que “reencarnação de Astarte” era alguma referência a Rory e falou:

— Rory… — a voz estava arranhada devido à quantidade de sangue na garganta — cadê a Rory?…

— Ah, não se preocupe, ela ainda está viva, mas provavelmente vai morrer de hemorragia em breve. Foi patético ela achando que ia conseguir te proteger, ai, ai.

Por um segundo, o jovem pensou em saltar na demônia e agarrar seu pescoço, no entanto, o corpo covarde não obedeceu, no fim ele ainda queria viver. Jurou nunca mais deixar uma irmã para trás, e lá estava ele novamente, prestes a morrer e fazer outra garotinha chorar. “Patético! Patético! Patético!” Mais sangue escorreu da boca com a mordida que deu nos lábios.

— Não se preocupe — Azazel começou —, eu vou acabar com o sofrimento dela em um único golpe, dessa vez ela morrerá definitivamente — a demônia disse enquanto girava a grande foice com habilidade.

“Não é a primeira vez dela nesse mundo…” As palavras de Cecily se passaram pela cabeça do garoto. No início, decidiu ignorar aquilo, mas foi impossível. Imaginou diversas possibilidades. Talvez Rory fosse uma looper e voltasse no tempo toda vez que morresse, mas como Azazel poderia lembrar-se dela? A segunda possibilidade era da garotinha ser imortal e retornar a vida assim que fosse morta, a palavra seria “renascer”, assim como o protagonista de uma webnovel que acompanhava toda semana. Essas duas eram as possibilidades mais plausíveis.

Kurone não podia fazer nada para evitar a morte dela? Era uma menina condenada ao infortúnio toda vez que voltasse à vida? 

— Não é como se eu gostasse de matar os outros, mas é o meu dever. Acho que já deu, pelo seu rosto você não aguenta mais, não é? Vou dar um fim rápido em um único corte…

Quando Azazel tentou se aproximar do jovem ajoelhado, sentiu algo segurando a barra do seu uniforme. A demônia virou o rosto coberto pela máscara e soltou um som de surpresa ao ver uma garotinha de olhos vendados.

— O que é essa coisinha? — perguntou curiosa.

— …! D-deixa… o… o Kurone… — a garotinha trêmula disse.

— Frederika! Saí daí! — gritou Kurone desesperado, derramando uma quantidade insana de sangue.

Ele havia confiado em Fran para cuidar dela, o que aconteceu na Catedral? O jovem novamente teve o impulso de levantar, mas as pernas ainda se recusavam a obedecer.

— Nossa, você gosta mesmo de estar na companhia de garotinhas, essa é tão fofinha, vai ser uma pena matar — provocou Azazel.

— Para, Elsie! Para com isso agora! Desgraçada! Deixa ela em paz, por favor! — implorou com a voz arranhada.

— Ela parece ser bem importante para você… — ela falou em seu tom obsceno. 

— Não! Não! Não! Frederika, saí daí agora! Foge!

Mesmo gritando desesperado, a garotinha recusava-se a soltar o uniforme de Elsie, ela cerrou os punhos e se aproximou ainda mais. Kurone enfim percebeu qual era o objetivo dela e gritou o mais alto que as cordas vocais ensanguentadas permitiam:

— Não faz isso! Para, Frederika!

Sem hesitar, Elsie pegou a garotinha pela garganta e levantou o corpo magro rapidamente, a deixando na altura de sua máscara. Ela encarou a menina por alguns minutos.

— Vou esmagar seu pescoço, isso vai acabar bem rápido, olha só, o Kurone tá chorando, que alegria! Você deve ser amada por ele… Ah, esse pervertido!

A garotinha trêmula virou o rosto para o jovem e derramou ainda mais lágrimas. O jovem que a salvou estava com um orifício enorme no peito, manchando todo o manto branco de vermelho. O rosto dele também estava sujo, o líquido vermelho misturado às lágrimas vazava do olho esquerdo e da boca. — Não! Não! Não! Não! Não! — gritava sem parar.

— Que diabos é isso!? — Azazel gritou e jogou a garotinha que gemeu ao tocar o chão com violência. — Minha mana… — murmurou enquanto encarava a mão.

Nem mesmo a poderosa Azazel van Elsie tinha mana o suficiente para tocar em Frederika por mais de um segundo, mas era admirável ela continuar em pé depois de tantos segundos. 

 — Que companheiros estranhos você tem, Kurone.

— Foge, Frederika!! 

A garotinha não conseguia mais levantar, com aquele corpo infantil frágil, provavelmente havia quebrado alguns ossos ao ser arremessada pela demônia com força. 

Bam! Bam! Bam! Pela primeira vez, Elsie sangrou ao receber os disparos. Ela era forte, por isso não demonstrava, mas havia perdido no mínimo 70% de sua mana, por isso sua defesa estava fraca.

— Eu… vou te matar! — berrou a garotinha saindo do beco.

Rory estava em um estado que Kurone jamais imaginou vê-la, além de diversos cortes nos braços e pernas, ela estampava o sangramento de uma ferida enorme na cintura com a mão. A expressão da menina era de dor, o corpo estava trêmulo e o uniforme militar rasgado. 

— Então voltou para brincar pela última vez? Olha, seu companheiro não está no melhor estado. — Ela apontou a mão sangrando para o jovem ajoelhado.

— Não se mova, eu vou fazer aquele cachorro idiota te curar quando matar essa desgraçada — Rory disse em tom sôfrego. O corte era profundo, era impressionante como ela não havia desmaiado de dor.

— Rory, pega a Frederica e foge agora, nós…

— Cala a boca, eu vou matar essa desgraçada hoje. Fica quietinho aí e me dá sua mana que tudo vai dar certo. [Ice Spike]!

Elsie foi obrigada a se movimentar novamente para esquivar dos espigões de gelo indo em sua direção, alguns foram cortados pela foice negra. Rory não deu trégua e iniciou uma sequência de magia elementar e tiros.

Após cansar de esquivar, a demônia investiu com a foice, mas a loli arrogante conseguiu esquivar em alguns saltos, porém não saiu ilesa, mais duas feridas foram criadas em seus braços. Apesar de serem armas de ataques, ambas também utilizavam o fuzil e a foice como escudos para se defenderem de golpes que eram impossíveis de serem evitados.

— Cure! Cure! Cure! Cura logo, porra! — ela gritava enquanto saltava de um lado para o outro rapidamente, com Elsie em sua cola. Rory não podia sair da área de alcance do Compartilhamento de Mana.

— …! E-eu…

A atenção de Kurone voltou-se para uma garotinha gemendo de dor no chão. Frederika forçou os braços e pernas e ficou de pé, cerrou os punhos e cuspiu um dente quebrado com um pouco de sangue. Era visível a irritação da menina. 

— Frederika, volta! — Os gritos do jovem foram inúteis, ela continuou avançando para o local onde Elsie e Rory batalhavam mortalmente.

A garotinha ignorou a dor e aumentou o passo, correndo exatamente na direção da demônia com a foice que estava ocupada se defendendo dos tiros das M16A2.

— Não dessa vez! — Azazel disse quando percebeu a aproximação da garotinha e saltou para o alto de uma casa aos pedaços. 

O cenário estava devastado. Não havia pessoas e muito menos as construções feitas por elas, tudo foi reduzido a escombros. A pressão feroz continuava espalhada pelo ar, no entanto nem Frederika ou Rory eram afetadas por ela.

— Dois contra um? Desculpem, estou muito fraca no momento para esses atos selvagens, só aguento um de vez, apesar de ter duas entradas. — A demônia fez outra piada suja.

Vosh! Ela golpeou o vento com a foice e o ar se tornou uma lâmina mortal indo em direção a Frederika.

— Argh! — A garotinha tentou correr, mas suas pernas curtas não permitiram e o corpo recebeu o golpe em cheio. Sangue espalhou-se por todo o lado quando o golpe diagonal cortou a menina.

Kurone viu tudo em câmera lenta, as duas bandas do corpo da garotinha caindo um distante do outro. Não havia como ela se recuperar de um golpe daqueles, na verdade, tudo era uma loucura desde o início. Como uma menina fofa derrotaria um demônio? A própria Azazel disse que enfrentou inimigos mais fortes antes, mesmo estando com menos de 30% da mana, era uma loucura pensar que seria derrotada por uma garotinha de aparentemente dez anos.

— Não! Não! Não! Não! Não! Não! — O garoto gritou cuspindo e chorando sangue. — Queime ela, queime ela! — Ele ignorou o aviso de Elsie e moveu o braço em sua direção. — Traga seu julgamento aos seres demoníacos! [Bæwylm Eftwyrd]!

Crack! Um som doentio reverberou após a ativação da Magia Sagrada e Kurone viu seu braço coberto em líquido vermelho passar em frente aos seus olhos. Uma dor excruciante invadiu seu cérebro, fazendo-o berrar, nem quando seu coração foi tomado sentiu tanta dor. Mas o que importava era que Azazel havia sido consumida pelas chamas.

— Hahaha! — ela gritou dissipando as chamas com a foice, girando o objeto tão rápido que ele parecia a hélice. — Eu avisei, eu avisei…

— Ahhh! — como se as palavras de Elsie fossem um gatilho, Rory gritou furiosa e foi para cima da oponente mais uma vez. — Eu não vou perder dessa vez!



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