Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 74: Glorifique Apenas O Meu Nome!

Tudo que Kurone via era a escuridão. O breu à sua frente inutilizou todos os seus sentidos, apesar de que ele estava congelado, então não fazia muita diferença.

Tentou ao máximo ignorar as palavras ditas por Rory, mas foi em vão. A garotinha era uma assassina, ela mesma declarou isso em alto e bom som, mas por que fez aquilo? Qual o objetivo em matar crianças inocentes? Se esse era o verdadeiro motivo para ser reencarnado naquele mundo, então devia se chamar “Loli Slayer”, pois não havia sentido em salvar crianças de nobres lolicons para matá-las em seguida.

“Ahhhhhhhhh!”, gritou internamente, pois o corpo congelado não conseguia produzir som algum.

Cecily sabia de tudo aquilo? Ela tinha ciência que se dissesse “Quero que se torne o herói que mata criancinhas”, ele não aceitaria, por isso mentiu? Todos naquele mundo eram mentirosos, porém ele tinha certeza de que Rory era inocente, aquele rosto era o de alguém que não queria matar, apenas salvar.

“Argh! Porra! Idiota!” Kurone contorceu-se, tentou se livrar das trevas à sua volta, mas também foi uma tentativa inútil. O que mais incomodava não era a escuridão em si, mas sim a melodia macabra que escutava misturada às vozes estranhas que não ouvia há tanto tempo. O jovem estava preso em um pesadelo enquanto estava acordado, não conseguia se mover, mas, mesmo que conseguisse, seria inútil.

Azazel van Elsie, Cecily, o reitor, os religiosos, os moradores de Eragon, todos eram inimigos mentirosos! Sua filosofia desde sempre foi: “É o dever de um irmão proteger as irmãs”, no entanto, ele não pôde impedir a morte da meia-irmã, morreu e deixou as três irmãs solitárias e, naquele momento, estava deixando Rory lutar sozinha.

Ele era fraco e a loli arrogante também sabia disso, por isso não o deixou ir, ela estava protegendo o jovem. Que tipo de idiota era ele? Jurou matar quem fizesse qualquer uma de suas irmãs chorar e, no momento, o mundo todo era o culpado por manchar o rosto bonito de Rory Nakano com lágrimas. Não era apenas por ela, mas também pelas outras pessoas que considerava como família. O mundo transformara Frederika em um monstro intocável, tirara a família de Amélia e matara a filha de Orcus. Todos mereciam a morte como castigo por terem mexido na nova família de Kurone, assim como o médico, assim como os três delinquentes que fizeram Raika chorar…

— O que é essa sede de sangue vinda da aberração? Que ser patético. — Uma voz vil soou em meio à escuridão e, repentinamente, a figura odiosa da deusa Annie apareceu em frente a Kurone.

O lindo corpo repleto de curvas se destacava nas trevas, como uma luz vinda para salvar o jovem afundando nos pensamentos de ódio e loucura, porém Kurone sabia que ela era apenas mais um ser que merecia uma morte dolorosa. Não sabia exatamente o motivo, mas sentia repulsa daquela mulher.

Dessa vez, Annie usava um vestido longo totalmente branco, com detalhes semelhantes aos do manto do jovem.

— Está me devorando com os olhos? — Era inacreditável como a voz daquela deusa soava exatamente como a de um demônio. — Aproveite, você é o único que pode fazer isso. Dentre milhões de pessoas no mundo, você foi agraciado com a benção de ser alguém tão sagrado, a verdadeira definição da palavra “Santo”, como se fosse um descendente direto da Primeira Santa.

— Cala a boca! — Kurone conseguiu forçar a voz. O jovem estava em seu limite.

Sem os remédios, ele era uma verdadeira bomba prestes a explodir, uma mínima mudança de pensamentos o transformava em um assassino ou um irmão afetuoso, tudo dependia de quem era a pessoa à sua frente. Naquele momento, só pensava em matar, matar para salvar sua irmã.

— Por que homens são tão lentos para entender indiretas? — A deusa suspirou.

— Já disse para ir embora! Você é só uma alucinação! — o jovem gritou em seu tom insano.

— Você descobriu a verdade e mesmo assim ainda quer salvar aquela garotinha… é impressionante e patético, por isso o ajudarei, aberração.

— O quê? Eu já mandei você…

— Você deseja poder para matar todos, não é? Quer salvar as pessoas que estão ao seu redor? Queimar todos os seus inimigos? Deseja lutar ao lado das pessoas que deseja proteger? — ela disse formando um sorriso macabro no rosto bonito.

— Eu… eu… Sim…

— Eu não escutei! — gritou em um mais insano que o do jovem. — Fale mais alto! Você não quer reduzir os Duques do Inferno a cinzas?

— Eu… eu quero!

— Mais alto! Você não quer espancar aqueles que modificaram o corpo da vampirinha?

— Eu quero!!!

— Você era um assassino incompleto, mas agora te darei o poder necessário para que se torne um verdadeiro assassino. Te tornarei um verdadeiro mago, em troca… Ame apenas a mim! Glorifique o meu nome e queime todos. Incinere aquilo que foi construído por Cecily, incendeie os súditos da deusa herege em nome de Annie! Queime suas catedrais e torture aqueles que espalham seu nome! Aceite e te nomearei o novo Santo da deusa Annie! Vamos, me engrandeça e se livre dessas trevas hereges!

— Eu…

— Escolha sabiamente, se aceitar meu poder, terá que destruir tudo que a Cecily construiu em troca. Decida-se, aberração!

Kurone sabia que seria um peão novamente. Annie estava apenas o usando para realizar seus objetivos ocultos, ela estava mentindo como todos. “E daí?! Eu só preciso usá-la também para alcançar os meus objetivos!”

O jovem lançou um olhar afiado para a deusa e disse no tom mais insano que já falou na vida:

— Eu…


Repentinamente, as trevas desapareceram e Rory pôde ver o mundo mais uma vez. A garotinha tentou acompanhar a dupla que saiu antes dela, mas não conseguiu. 

Ela correu em direção ao local onde viu Azazel van Elsie pela primeira vez. Kawaii e Bishop podiam cuidar do Edward e dos outros, o foco de Rory, naquele momento, era matar a demônia e manter Kurone a salvo.

Não se importava mais em esconder seus verdadeiros sentimentos atrás de uma expressão fria, pois havia chegado no mesmo estágio novamente, sempre era daquele jeito, o ciclo estava se repetindo, e se repetiria eternamente se não fizesse nada. O encontro com Elsie era mortal e inevitável, porém ela jurou que a derrotaria dessa vez.

A garotinha apertou o Orbe Azul roubado, correu e saltou com agilidade pelas construções, precisava encontrar a demônia o mais rápido possível, aquele monstro não podia ficar vivo por mais tempo, quando assim pensou, viu um objeto enorme caindo à sua frente.

— Que porra — praguejou enquanto entrava recuava alguns passos. O objeto caído era, na verdade, o corpo enorme de um homem musculoso conhecido.

— Enfim você chegou — Avios Bishop falou, ele saltou e ficou logo ao lado do corpo enorme, toda a sua atenção estava voltada para a demônia no alto.

— Ele conseguiu me pegar — disse Azazel van Elsie.

A inimiga estava presa em um tipo de bolha mágica criada por Bishop, Rory podia sentir o ar sagrado naquela esfera. Aparentemente, o Santo e o reitor uniram suas forças para tentar pará-la, mas ela não estava perturbada, pelo contrário, a demônia continuava fazendo suas piadas mesmo aprisionada.

— Você! Acabe logo com ela! — ordenou Bishop a Rory. 

Quando a garotinha fez menção de atirar na oponente, a esfera quebrou-se e ela estava livre novamente.

— Vocês acharam mesmo que eu ficaria aprisionada em uma coisa tão idiota como essa? Façam-me o favor, haha! — a demônia debochou em seu tom obsceno. — Eu só não esperava que esse homenzinho fosse imune à minha magia — completou olhando para Bishop.

O reitor contraiu os músculos e tentou ficar de pé. Havia sangue por todo o corpo, mas ele não se importava, seu único foco era a oponente.

Ratatatatatata!

— Não dessa vez!

Uma salva de tiros mortal se aproximou do reitor, porém foi repelida por um grande escudo invocado pelo homem. Por um segundo, surpresa tomou conta do rosto de todos, afinal…

— O que é isso? Traição no meio da batalha, que interessante! — comentou Elsie. 

A origem dos tiros que poderiam ter transformado o reitor em uma peneira vieram de uma pequena arma negra conhecida e, segurando essa arma, estava a garotinha de orelhas felinas.

Nyah! Eu errei! Como o vovô reitor consegue ser tão rápido mesmo estando ferido? — disse Kawaii. 

— Semi-humana, o que acha que está fazendo? — perguntou Bishop irritado.

— Eu ia me aproveitar a luta e matar o vovozinho, mas não deu certo… — A garotinha fez uma pausa e continuou com um tom de voz que não condizia com o rosto fofo: — Acabou, reitor… ou devo dizer Eymonn Grandschwert, o Algoz das Cem Lâminas? Eragon agora será nossa! 

Ao término da fala, um grupo de trinta homens cercou todo o local, cada um deles possuía uma arma diferente, variando desde armas brancas até grandes escopetas.

— Então a senhorita era a nossa traidora todo o tempo? Fui tolo, eu desconfiava do jovem Gotjail — disse o reitor em um tom sôfrego, no entanto, o homem levantou o corpo gigantesco e invocou mais dez armas brancas. — Criança! Não me subestime, essas pessoas serão apenas mais armas para minha coleção.

— Aíííí! Estão esquecendo de minha presença? Que garotinha insolente!

Azazel levantou a mão, girou o pulso graciosamente, estalou os dedos e, em instantes, os corpos dos homens explodiram, tornando-se nada mais que minúsculos pedaços de carne flutuando pelo ar.

— Pronto, pronto, agora podemos continuar.

Nyaaah! Su-sua monstruosidade! — berrou Kawaii recuando vários passos.

— Senhor Bishop — disse o reitor —, ainda consegue fazer outra daquelas bolhas? Eu… Senhor Bishop, qual o problema?

— Não é possível. Não é possível! 

— Senhor Bishop, qual o problema?

— Eu… eu… eu… eu acabo de perder meu título de Santo! — gritou o Avios desesperado.

— Reviravoltas e mais reviravoltas, é tudo tão incrível e excitante! Essa batalha fica mais interessante a cada momento! No entanto, preciso ir em breve, terminarei isso em um único golpe! — ela disse levantando a mão para o céu novamente.



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